Capítulo 44

128 4 0
                                    

A fila não estava muito grande, e eu demorei mais ou menos meia hora até entrar no Jokey Club. Nunca tinha ido pra lá, então comecei a achar tudo o máximo, menos a lama (tinha chovido muito nos dias anteriores, estava um pouco complicado, mas ainda bem que eu vim de botas), mas esse era o menor dos problemas.

Rodrigo estava com uma galera logo na portaria principal, já bebendo cerveja e rindo algo de alguma coisa. Nesse contexto, ele não parecia mais tão esquisito, e chamava muito a atenção das meninas que passavam ali por perto. Achei engraçado porque, no estúdio, Rodrigo era um pouco esquisito e, ou ele era visto como um cara gato ou uma aberração. E hoje, ele com certeza era o cara gato.

- Giovanna! - ele me viu parada (juro que não estava atolada na lama) e acenou um pouco empolgado demais, acho que a Heineken já estava fazendo efeito - Vem pra cá.
- To indo, to indo - eu ri e vi os amigos dele virarem as cabeças e me encararem, até eu chegar mais perto - Oi, tudo bem?
- Nem acredito que você veio mesmo - ele sorriu e me deu um beijo no rosto - Galera, essa é a menina que eu falei, a fotógrafa de Londres.
- Ahhhhhh - um coro de cinco marmanjos um pouco bêbados me fez rir.
- Gi, esses são os caras da banda cover que eu te falei - Rodrigo me abraçou pelos ombros e apontou para os amigos - Lucão, Vitão, Cezinha, Palinha e Marco.
- Oi, meninos - falei dando uma olhada em cada um deles.

Cinco meninos em Londres que faziam parte de uma boyband eram bem diferentes desses cinco que estavam aqui. Lucão era o baterista, um pouco moreno e com o estilo bem largado, tipo Jack Sparrow em Piratas do Caribe. Na verdade, ele tinha o olho delineado, pulseiras e colares no estilo Jack. Vitão era alto e era o baixista, devia ter uns trinta e cinco anos, mas se vestia de forma jovem e era muito engraçado, meio doido, mas um bom doido. Cezinha era um dos guitarristas, era um pouco mestiço e um pouco quieto, mas uma gracinha de educação. Palinha - que, na verdade, era o apelido - era o guitarrista principal, e era um amor! Também devia ter uns trinta anos, cara de moleque, se vestia como moleque e parecia ligado nos 220v, porque, desde que eu me aproximei deles, ele não parava de falar, e eu estava achando o máximo. Então, tem Marco, vocalista. Ele era a versão 1992 do Eddie Vedder, mas não tão magrelo quanto o Eddie. Ele usava uma camiseta do Ramones que eu podia jurar que já vi em algum dos outros meninos (One Direction), tinha o cabelo bem comprido e liso, loiro escuro, e um rosto lindo. Marco era muito bonito, e o fato dele ser o vocalista da banda me fez ficar curiosa demais, queria muito ouvir a voz dele cantando Pearl Jam.

- Estamos fazendo uma aposta - Rodrigo disse, depois de me apresentar os amigos e de uns dez minutos de conversa - Com qual música eles vão começar o show.
- Ah, isso é praticamente impossível de saber - eu ri - Com qual música vocês costumam começar o show de vocês? - perguntei aos meninos.
- Depende - Marco falou, e nossa, a voz dele era fantástica - Depois do show de 2011, nós começamos a abrir com Release, mas as vezes o público pede uma coisa mais pesada, então abrimos com Save You ou Go, as vezes com Even Flow. Na moral, depende mesmo.
- Viu - dei um tapa de leve em Rodrigo - Nem a banda cover tem uma ideia de como abrem o próprio show, você acha mesmo que nós vamos conseguir adivinhar que música o Eddie escolheu? Ainda mais Eddie Vedder, a pessoa mais indecifrável desse planeta.
- É só pensarmos um pouco - Rodrigo disse - É um festival, eles vão tocar as músicas mais conhecidas, não pode rolar muito lado B, então...

E então eu parei de dar minha opinião e fiquei apenas ouvindo aqueles caras conversarem. E era tudo tão incrível, porque eu entendia perfeitamente do que eles estavam falando e me senti tão confortável e tão em casa por estar lá. Eu não tinha que parecer ser outra pessoa, não precisava me esforçar em ficar bonita, em erguer mais minha coluna pra ficar mais magra, a falar baixo ou ficar preocupada que algum fotógrafo aparecesse por ali e minha cara estivesse estampada em uma revista de fofoca ou algo assim. E, esse grupo, bom, ninguém sabia da existência de One Direction ou boybands britânicas, porque eles estavam preocupados em aproveitar a vida, ouvir música que tivesse sons de guitarra e bateria, beber uma boa cerveja e sair de casa aos sábados e durante a semana, se possível, ao invés de perder a vida em frente ao computador querendo saber "qual o próximo passo de sua celebridade favorita". Eles não viviam em prol de ninguém, a não ser de si mesmos. Não eram adolescentes babacas que ficavam falando de bandas e de "quem era o integrante mais lindo" ou "meu Deus, em que hotel eles vão estar porque eu quero falar com eles", não era uma vida fútil. Eles olhavam as garotas de verdade que passavam ao lado deles, paqueravam-nas com o olhar (e que olhar, devo dizer) e não se preocupavam com absolutamente nada; em parecer legal, em parecer cult, em querer causar impressão, eles eram pessoas reais.

O tempo que passei em Londres eu tenho plena certeza que foi a realização de um sonho, mas também acho que eu ainda estava sonhando, por quase quinhentos dias. Era tudo muito surreal e ao mesmo tempo muito fácil e difícil. O que eu quisesse, e por mais que batesse o pé, Gustavo me proporcionava. Não tinha o frio na barriga do desafio, porque tenho certeza que eu conseguia as coisas por causa dele. Sei que coloquei muitas das minhas prioridades de escanteio por causa dele, por causa de um sentimento que eu julgava ser o mais real e verdadeiro possível. Será que era? Eu, que nunca fiz nada, virei celebridade por estar ao lado dele, me vi ser odiada de forma gratuita por estar namorando "um ídolo", fui julgada da pior maneira possível e ouvi as coisas mais baixas e feias de adolescentes que passam o dia em frente ao computador sonhando com um casamento com o ídolo! Essas que, na minha frente, nunca falavam nada (algumas eu já cheguei a conhecer em filas de shows dos meninos etc.), essas que, protegidas pelo anonimato, se comportavam da forma mais rude e perversa que eu já vi, e elas nem tinham idade suficiente pra beber ou pra ir a uma faculdade.

Ao mesmo tempo que foi a melhor coisa que já me aconteceu, eu preciso admitir que foi uma das piores experiências da minha vida. Era tudo muito extremo, era tudo muito feliz ou muito triste, muito doido ou muito normal. Em nosso mundo particular, Gustavo e os meninos eram as criaturas mais adoráveis e verdadeiras, mas sei que quando estávamos em público, eles tinham que se comportar e conversar de forma diferente. Não os julgo, porque eles possuem a necessidade de passar uma imagem para o mundo - imagem essa que é comprada por todos, e é essa imagem que faz as meninas se apaixonarem, e não os meninos de verdade - mas eu não consegui acompanhar e levar uma vida dupla, e quando tentei, quase acabei me matando. Lutando por um corpo perfeito, imagem perfeita, namorada perfeita, eu me perdi no meio disso tudo. Gustavo se importava, claro que sim, mas ele também tinha tanta coisa na cabeça, e pensar em como se comportar ou o que falar em sua próxima entrevista, que por muitas vezes eu passava batida por ele. Ele nunca teve culpa disso, claro que não, nunca eu vou culpá-lo de nada, na verdade, a grande culpa disso foi minha.

Olhando novamente para o grupo que eu estava, me senti completamente normal. Ser normal, agir de forma normal, beber, falar, andar, rir, sorrir, piscar, espirrar, coçar o nariz, morder os lábios... NORMAL! Sem ter a preocupação de ver no tumblr "Giovanna espirra no Lollapalooza... QUE NOJO, viu o jeito que ela espirra? Parece que o cérebro vai sair pelo nariz. Por que não morre logo de uma vez e deixa o Gustavo sozinho?". É, não sinto saudades disso.

- Ei, ei, ei - Marco estralava os dedos na minha frente e eu pisquei assustada - Ainda tá nesse mundo?
- Desculpa, fiquei meio aérea - sorri - Do que vocês falavam?
- Que estamos com sede e vamos pegar um cerveja, tá a fim?
- Opa!

Marco, junto com os outros meninos, começaram a caminhar. Rodrigo esperou eles estarem uns passos a frente pra vir até mim; me abraçou de lado e depositou um beijo carinhoso em meus cabelos.

- Estava pensando no seu boyband e em Londres, estou errado?
- Não - ri pelo nariz e começamos a andar em direção ao bar Heineken - É impossível não me lembrar dele ou de todo o resto. Eu começo a fazer comparações em minha cabeça o tempo todo, tentando achar erros e acertos, é um saco.
- Então pare de fazer isso, oras! - Rodrigo disse - Tem como mudar alguma coisa que você já viveu? Não, e isso é óbvio e clichê. Tem como mudar o que você ainda vai viver e a pessoa que você vai se tornar? Ah, isso tem.
- Alguma coisa parece que ainda me puxa pra Londres, como se eu não tivesse terminado tudo lá. Mas, ao mesmo tempo, eu não sei se quero voltar, é complicado.
- Vamos combinar uma coisa? - ele parou na minha frente, colocando as mãos em meus ombros - Por hoje, vamos esquecer Londres e seu ex-namorado? - ele sorria e suspirava - Dá uma olhada onde você está. Melhor que isso, só a noite do Rock in Rio com Metallica! - gargalhamos - Que, por falar nisso, nós vamos, ou você prefere uma noite melequenta com John Mayer?
- Nem conheço as músicas dele - dei de ombros.
- Ótimo, então vamos pro Metallica - ele riu - Voltando pra Sampa... Você está no Lollapalooza! Noite do Pearl Jam, o cara vai fechar o festival, fechar a noite. Tá, hoje é domingo de páscoa, mas quer noite melhor que essa?
- É que...
- É que nada, Giovanna. Pensa no seu presente, pensa aqui. Agora não tem como você ir pra Londres, não tem como você ver seu ex, não tem como você controlar o que está acontecendo no universo. Então, pra que se preocupar? Vai se preocupar com algo que não está ao seu controle? - ele tirou as mãos dos meus ombros - Meu Deus, quantas coisas na vida você já perdeu por ficar se preocupando com os outros ou com que os outros vão pensar, ou o que você fez e não fez. É isso o que importa, você, então fecha os olhos e aproveita esse domingo lindo.
- Fechar os olhos?
- Ou fica com eles abertos, dane-se - ele ria - Vou te pegar no colo de qualquer jeito, porque os caras estão lá na frente na fila da cerveja e eu to aqui pagando de terapeuta com você.
- Me pegar no colo?
- Você é lerda pra caralho, Giovanna.

E, dito isso, ele me pegou pela cintura e agora eu estava em seus ombros, sendo carregada como se fosse um saco de batata. Não fiz esforço ou gracinhas do tipo "Ai, Rodrigo, me soltaaaa", porque eu estava achando essa situação toda muito engraçada.

Assisti todos os shows, correndo de um palco ao outro a cada uma hora e cinquenta. Depois de quase três horas, eu não conseguia mais saber o que estava acontecendo, e perdi as contas de quantos copos de Heineken eu tomei durante o dia - e quantos cigarros acabei fumando, já que todos os meninos fumam e eu entrei na onda. Tenho plena certeza que hoje estou longe de ser a menina modelo da minha mãe ou garotinha exemplo pra namorar o Gustavo Torres. E lá vou eu de novo lembrar dele!

O show do The Hives começou por volta das seis da tarde, ou seis e alguma coisa, e eu não estava mais em condições de ficar em pé pulando ou beber de novo. Durante os shows eu fiquei boa parte nos ombros de Marco e ele é bem alto, o que incomodava bastante as pessoas que estavam atrás de nós, mas eu não estava nem aí, e nem estava nas melhores condições de uma discussão ou conversa. Apesar dessa visão privilegiada, eu estava cansada e não conhecia nenhuma música do The Hives, o que me dava a vontade de querer sentar em um cantinho e esperar pelo Pearl Jam. Mas, em todos os cantos só tinha lama ou pessoas deitadas na lama - eu juro que vi algumas em seu próprio vômito - e não via um espaço pra encostar minha bunda, nem que fosse por cinco minutos. Como eles queriam curtir o show, tive que ficar com eles mesmo, não tinha muita opção. Me encostei em Rodrigo - que também estava muito bêbado, mais que todos nós - e peguei meu celular, rolando em mensagens antigas e me controlando pra não abrir as que foram trocadas em Londres no ano passado. Sabe quando você está meio altinha - não totalmente bêbada, mas meio alta que metade de você tem consciência do que está fazendo e a outra está totalmente entorpecida - e você acha que pode fazer o que está na sua cabeça? E todo mundo conhece a regra número um de quando se bebe: nunca, jamais, ever deixe um celular na mão de um bêbado. E quem aqui tirou o celular da minha mão? Ninguém!

O sinal não era dos melhores, o som estava alto demais, mas mesmo assim eu achei que podia ligar pra Gustavo, não contando com o preço caro que eu ia pagar de telefone e também foder com meu emocional. Fui andando aos tropeços até o banheiro químico e me apoiei em um muro de concreto que tinha ao lado. Ninguém estava interessado em mim, só queriam chegar ao banheiro logo, ou que a fila andasse mais rápido. Achei uns dois tijolos ali e sentei-me em cima, colocando o celular bem perto do meu ouvido e abaixando a cabeça, sentindo meu estômago dar umas voltinhas desnecessárias. Ótimo, eu quero vomitar.

- Gi?
- Torres...
- Gi, é você? Que barulhão.
- Gustavo, sou eu! Tá me ouvindo? - me encurvei mais ainda, literalmente colocando minha cabeça entre meus joelhos, e isso não ajudava em porra nenhuma no enjôo.
- Você tá legal? Tá tudo bem?
- Gustavo... - estalei os lábios - Eu sinto muito.
- Você tá bêbada? - ele riu, o filho da puta estava rindo - Nunca te vi bêbada.
- Claro que já, eu bebia com você! - bufei - Quer calar a boca e me ouvir?
- Ok, ok. Mas, quer que eu te ligue? Essa ligação vai ficar uma fortuna pra você.
- Deixa eu pagar alguma coisa nessa vida, Gustavo.
- Gi, eu deixaria você pagar qualquer coisa, mas uma ligação pro Reino Unido de um celular vai ficar muito caro. Eu não vou desligar na sua cara, só quero te ligar de volta, posso?
- Não, não pode! - eu não consegui distinguir se ele ria ou reclamava - Eu tenho Claro Conta então fica mais barato, não são créditos.
- Que é isso? Claro Conta?
- Gustavo, me escuta, por favor - ergui minha cabeça com tudo e as pessoas na minha frente pareceram borrões - Ai porra, vou vomitar.
- VOMITAR?

Estiquei meu braço direito segurando o celular longe de mim, dei duas suspiradas longas, sentindo a cerveja vir parar na garganta e aquele gosto amargo vir junto. Não podia vomitar com Gustavo no telefone, e muito menos ali na frente de todo mundo, mas que merda. Suspirei pesado e de forma longa mais umas três vezes e engoli o gosto ruim, sentindo meu corpo tremer e arder ao mesmo tempo. Um cara qualquer passou na minha frente e deve ter visto que estava passando meio mal; me ofereceu um copo de água que ele segurava e eu tive que aceitar, nem pensei se ele tinha colocado alguma coisa nessa água ou não. Bebi quase tudo de uma vez, e o que sobrou, joguei um pouco no rosto e na nuca, sacudindo a cabeça e torcendo pra sobriedade voltar logo. Eu tinha um show pela frente e meu ex no celular.

- Dá pra me explicar o que você está fazendo? Onde você está? Eu to falando sozinho tem uns cinco minutos, Giovanna, e eu não sei se desligo o telefone e espero você me ligar, ou se eu desligo e te ligo, ou se fico aqui na linha esperando você aparecer e me falar que não tá desmaiada na própria merda!
- Não to desmaiada na própria merda, na verdade, se eu fosse desmaiar, seria na lama ou no meu vômito.
- Onde você ESTÁ!?
- No Lollapalooza - respondi cantarolando - Desculpa.
- Me explica, pelo amor de Deus, o que foi?
- Gustavo... - mordi os lábios e suspirei - Eu não vou me lembrar dessa conversa amanhã, ou vou fingir que não me lembro, mas eu precisava te ligar, porque se eu ficar tendo esse tipo de pensamento sozinha vou ficar doida! E o Rodrigo fica me podando, ele não deixa eu pensar em você, ele fala pra eu pensar no meu presente, mas meu presente não está o mesmo se você não está aqui. Mas agora você está namorando, e eu queria ficar feliz e superar, mas não dá! E eu juro que o Marco deu em cima de mim, eu não sou mais tão idiota como eu era, sabe? Se eu fosse essa Giovanna de hoje um ano atrás, eu com certeza ia saber que você me queria no London Eye, eu era tão burra! Tão burra.
- Amor, respira...
- Você ainda me chama de amor depois de tudo isso? Ah!
- Gi - ele riu meio fraco - Se concentra e me fala, por que você me ligou?
- Eu acho que quero te esquecer - solucei. Nem eu sabia que estava com vontade de chorar - Não é porque eu não te amo, não foi nada do que você fez, eu só sinto que eu preciso te esquecer...
- Gi?
- Oi?
- Tudo bem.
- Tu-tudo bem? - solucei mais alto - Como assim "tudo bem"? Eu estava me preparando pra uma briga, ou... - parei pra pensar - Você já me esqueceu, não foi?
- Não! Claro que não, tá doida?
- Então, por que isso? Essa reação tão rápida?
- Porque eu sabia que essa decisão ia sair primeiro de você do que de mim, porque você ia conseguir superar isso muito mais rápido do que eu - eu sabia claramente que ele sorria, e eu não gostava disso - É claro que eu ainda te amo e claro que eu sei que não está sendo fácil, mas um de nós tinha que dar o primeiro passo, soltar a corda primeiro.
- Não me deixa sair como a vilã da história, por favor.
- De jeito nenhum, quem disse que você é a vilã? - ele riu - Como sempre, você está me superando, gênio. Porque você está se colocando de novo em primeiro lugar, sabendo o que é melhor pra você e me deixando ir, deixando esse nosso sentimento ir embora.
- Eu não sei o que está acontecendo comigo, e eu não sei por que cheguei a essa conclusão. Eu te amo, você sabe que eu te amo, que tudo o que vivemos ano passado foi mais do que eu mereço e eu nunca quis dizer adeus a nada disso. Mas eu precisei, eu preciso deixar você ir, porque eu não consigo sair do lugar, Gustavo! Eu me encontro presa a você, a um mundo que eu não faço mais parte.
- Isso não faz de você uma má pessoa, Gi. Até que demorou demais pra esse dia chegar, cada vez que meu celular tocava eu tinha medo de ser você.
- Por que você não fez isso primeiro?
- Eu fiz, não fiz? Eu que te deixei ir, eu que fiz você voltar pro Brasil. Não posso te prender ao meu lado sendo que o mundo é seu, sabendo que você é muito maior que uma fotógrafa pseudo-londrina ou namorada de um cara de uma boyband - ele gargalhou - Pra muitos, eu sei que é status, pra você é um peso. E você não merece esse peso, tem que ser livre, tem que ser feliz. Você está feliz?
- Eu ainda não sei - suspirei - Porque eu não parei pra pensar em mim sem você.
- Então pensa, mas pensa com carinho. Não é você sem mim, Gi, porque eu continuo aqui. Posso não ser mais seu namorado, e não vou mais estar com você vinte e quatro horas por dia, mas eu estou aqui e vou sempre estar.
- Eu amo você! - apertei minha bússola, porque eu nunca a tirava - Eu te amo, eu ainda te amo e não sei quando isso vai passar.
- Também te amo, gênio - a voz dele embargou um pouco - Agora faça um favor a nós dois e desligue esse celular e vai curtir sua banda favorita, por favor.
- Gustavo, não me esquece. E não mude, não me decepcione, eu não quero ficar aqui longe me preocupando porque você está se comportando como um completo babaca.
- Eu? Me comportando como um babaca? Eu sou o legal da banda, tá me confundindo com o Dhiego ou Lucas?
- Não sei, mas vai que você vai na onda deles e começa a ser um babaca? Se vocês se meterem em mais uma briga pelo twitter, eu vou ficar do lado do The Wanted.
- HEEEEEEEEY! Pode não ser minha namorada, mas bom senso é bom em qualquer situação, Giovanna.
- Tá, tá, que seja - eu ri - Gustavo...
- Eu sei, você precisa ir.
- Sim, eu preciso - eu sorri para Marco e Palinha, que caminhavam ao meu encontro com uma cara de interrogação - Dois amigos meus já estão chegando pra me chamar pro show.
- Amigos? Masculino?
- Sim - eu ri - Mas tá de boa.
- Agora você é solteira, pode fazer o que quiser.
- Relaxa, que nenhum deles é vocalista da maior boyband do mundo - nós gargalhamos - Ele só é vocalista de uma banda do Pearl Jam.
- O CARA É COSPLAY DO EDDIE VEDDER?
- Cosplay? Que cosplay, garoto!
- To ferrado - ele gargalhou - Vai lá, e não seja idiota.
- Não vou ser.

Desliguei o celular e me levantei, indo até Palinha e Marco, que me olhavam com uma cara um pouco curiosa. Marco deu uma olhada em meu celular, depois pra mim, depois pro meu celular de novo, como quem quer saber com quem eu estava conversando. Palinha deu uma risada, querendo disfarçar a situação, e depois tossiu alto, chamando um pouco atenção; eu apenas sacudi a cabeça e coloquei o celular no bolso do short jeans e sorri para eles.

- Tudo bem? - Marco perguntou com um meio sorriso - Você sumiu no meio do show do Hives.
- Estava meio enjoada - suspirei - Muita cerveja, não estou acostumada a fumar e ficar pulando o tanto que nós pulamos...
- Mas tá melhor?
- Aham - sorri - Obrigada.
- Bom, então vamos mexendo, povo? O show dos caras já acabou e precisamos dar um jeito de chegar perto do palco.
- Os fãs do Hives vão sair agora, não vão? - perguntei, já caminhando com eles pra perto do palco.
- Estamos torcendo pra eles saírem, agora, se eles vão, é outro papo - Palinha riu.
- Com quem você estava falando? - Marco cutucou de leve meu braço, e eu comecei a rir, assim como ele - Foi mal, só estou curioso.
- Com o meu ex - respondi tranquilamente - Sabe como é, não se pode deixar um celular com uma bêbada carente e sozinha.
- Sempre dá merda, sempre dá merda! - Palinha falava e ria - E tá tudo de boa?
- Sim, eu só precisava colocar um ponto final em algumas coisas, e acho que chegamos a um senso comum - sorri - Estamos "de boa".
- Melhor assim - Marco me abraçou de lado - Pra curtir um show desses, a cabeça precisa estar vazia, longe dos problemas.
- E ela está, eu prometo - o abracei também e continuamos andando, até acharmos os outros meninos.

Rodrigo já estava pulando ao som da música que tocava ao fundo, e Lucas estava junto, tão doido e bêbado quanto ele. No final das contas, nós três tivemos que carregar esses dois até o meio da multidão pra tentar chegar a um lugar apropriado e assistir ao show. Não conseguimos grade, e o povo já se amontoava e empurrava muito, mas conseguimos achar um lugar uns cinco passos longe da grade e mais ou menos no meio, na direção do Jeff e do próprio Eddie. Onde eu estava parecia perfeito, porque eu conseguia ver o palco todo sem precisar ficar na ponta dos meus pés.

Cinco minutos ali esperando pelo show e eu já estava transpirando e morrendo de sede. Os seguranças começaram a jogar copinhos de água para a plateia, mas eu não sou grande o suficiente para conseguir um, então os meninos me ajudaram, pegando uns quatro ou cinco copinhos e os guardando pra mim. Não acho que vou tomar algum durante o show, mas é sempre bom ter uma reserva.

- Então, já sabem com qual música ele vai começar? - Lucas perguntou, quase não conseguindo terminar de formar a frase - Voto em Why Go.
- Ele não vai começar com Why Go, é impossível! - eu respondi - Acho que Got Some.
- Backspacer? Nem pensar, vai ser alguma do lado B.
- E do Ten, vai ser alguma do Ten.
- E aí, galera?

De repente nós calamos a boca e olhamos pro palco. Eddie Vedder estava ali! EDDIE VEDDER ESTAVA ALI! A multidão começou a se aglomerar um pouco mais, a empurrar mais ainda, mas eu praticamente enterrei meus pés naquele lugar e decidi que não ia me mexer até acabar o show, estava tudo lindo demais. O palco todo se iluminou e eu vi lá atrás a art do Backspacer e os escritos "Pearl Jam Twenty", e a partir desse momento eu já comecei a gritar e quase chorar. Todo mundo já gritava e meu coração estava na boca, me preparando para escutar pela primeira vez a voz de Eddie ao vivo e escutar qual era a porcaria da música que ele ia abrir o Lolla. Pearl Jam é sempre muito imprevisível...

- One, two, three, two, four...

- ELDERY WOMAAAAAAAAAAAAAAAN!

Nós gritamos quando Eddie "contou" ao microfone, porque ele sempre contava desse jeito antes de começar a cantar "Eldery Woman Behind..."; eu NUNCA imaginei que ele fosse começar bem com essa música. Pelo amor de Deus.

I seem to recognize your face
(Pareço reconheçer seu rosto)
Haunting, familiar, yet I can't seem to place it
(Obsessivo, familiar, perece que eu não consigo encaixá-lo)
Cannot find the candle of thought to light your name
(Não consigo encontrar a luz do pensamento para iluminar seu nome)
Lifetimes are catching up with me
(Memórias estão me alcançando)
All these changes taking place, I wish I'd seen the place
(Todas essa mudanças acontecendo, gostaria de poder vê-las acontecer)
But no one's ever taken me
(Mas ninguém nunca me levou)

Estava chorando um pouco mais do que devia. Alguma parte de minha cabeça não lembrava muito da letra da música, mas assim que Eddie Vedder começou a cantar as palavras, elas vieram até mim como um soco gelado em meu estômago, e tudo o que fora conversado com Gustavo parecia fazer o efeito entorpecente e dolorido agora. Parecia que um filme dos meus dias passava em minha cabeça, me assombrando como se fosse um sonho mergulhado numa neblina densa, e eu não conseguia mais ver de forma clara. Elas doíam ao passo que chegavam, mas sempre no meio da neblina eu via uma luz clara, como se fosse uma mudança que se aproximava, alguma coisa boa que me aquecia no meio daquela neblina gelada.

Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)

Cantei baixo o refrão, mais murmurando para mim mesma como se fosse um mantra. Tudo ia acabar desaparecendo um dia ou outro, de um jeito ou de outro. A única coisa que fiz foi agilizar o processo, foi o curativo mais rápido, assim como a Phoebe fez mostrando pra Rachel que ela devia logo "superar Ross". Por que eu sempre me lembro de Friends nessas horas?

I swear I recognize your breath
(Eu juro que reconheço sua respiração)
Memories like fingerprints are slowly raising
(Memórias, assim como digitais, vão aparecendo devagar)
Me, you wouldn't recall, for I'm not my former
(Você não se lembraria de mim, porque eu não sou mais o mesmo)
It's hard when, your stuck upon the shelf
(É difícil quando você está preso sobre a prateleira)
I changed by not changing at all, small town predicts my fate
(Eu mudei ao não mudar... Uma cidade pequena prediz meu destino)
Perhaps that's what no one wants to see
(Talvez seja isso o que ninguém quer ver.)

Eu não cantava mais, parecia que cada linha da música se encaixava perfeitamente ao que eu estava sentindo e isso me matava. É como se eu pudesse ver minha vida daqui dez anos, ou daqui vinte anos. Será que eu continuaria a mesma, ou será que Gustavo continuaria o mesmo? Tinha plena certeza que tudo o que vivemos ia ficar preso em minha memória e em algumas situações elas iam aparecer para mim "como digitais", bem devagar, até ficar totalmente claras. Balancei minha cabeça como se eu quisesse esquecer tudo isso, mas a única coisa que aparecia para mim era o sorriso de Gustavo, que as poucos ia se transformando nele chorando no dia do natal, e depois ele chorando em Ilha Bela e poucos segundos sua voz dizendo "tudo bem" em colocar um ponto final e darmos a nós dois o direito de viver as nossas vidas, de nos conformarmos com a distância e que não tinha mais como ficar preso a um relacionamento que, claramente, chegou ao fim.

I just want to scream...hello...
(E eu só quero gritar... Olá!)
My god its been so long, never dreamed you'd return
(Meu Deus, faz tanto tempo, nunca sonhei com sua volta)
But now here you are, and here I am
(Mas agora aqui está você e aqui estou eu)
Hearts and thoughts they fade...away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)

Será que nos veríamos de novo? Algum dia eu vou poder parar e encarar Gustavo na minha frente e falar "now here you are and here I am", como se fosse um milagre? Como se o universo estivesse de novo nos dando uma chance? Ou que fosse por uma hora, um minuto, eu só quero ter essa sensação, de que tudo não foi em vão, de que tudo não foi perdido. Sei que meu coração e meus pensamentos vão se perder, que com o tempo vou acabar esquecendo de muita coisa, vou me focar na minha atual realidade e ter que tapar meu passado com uma peneira, e tudo ficará confuso e nebuloso... Mas nós vamos ter uma segunda chance?

Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)
Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)
Hearts and thoughts they fade, fade away...
(Corações e pensamentos desaparecem... somem)
Hearts and thoughts they fade...
(Corações e pensamentos desaparecem...)

As coisas iam sumir de meus pensamentos e meu coração, elas iam. Sem minha permissão, sem eu perceber, uma hora ou outra, elas iam ir embora. Apertei minha bússola e fechei meus olhos, tentando captar a energia do lugar... As palmas, os gritos, a voz de Eddie agradecendo ao público. Em seguida ele começou a tocar Why Go e ouvi Lucas reclamar ao fundo "porra, por uma música!". Ri comigo mesma e alonguei minha cabeça para a esquerda e a direita; eu tinha um show pra curtir e uma vida para seguir. Dependia de mim, apenas de mim.


O show acabou perto da meia noite, e eu estava completamente esgotada. Foi como uma experiência incrível, e foi de longe o melhor show que eu já fui em minha vida, nunca mais vou esquecer, nunca mesmo. Assim que acabou, fomos pegar mais umas cervejas com o que havia sobrado do nosso dinheiro e saímos - quase nos rastejando - até um ponto de táxi, e dali rumamos para o metrô. Marco e Rodrigo foram comigo até a minha estação, e me acompanharam até o apartamento de meus pais. Os dois estavam cansados e com muito sonos, mas disseram que era perigoso demais eu sair da estação e ir até minha casa sozinha. Foram dois cavalheiros bêbados, e eu achei uma graça, de verdade me senti segura, porque eu não estava nem um pouco confortável em andar sozinha por aí. Rodrigo me fez prometer que no dia seguinte eu estaria no estúdio e Marco anotou meu celular, dizendo que da próxima vez que os meninos tocassem no Manifesto Bar em São Paulo era pra eu ir. Agradeci meio sonolenta - pra fazer esse trajeto todo, demorou quase duas horas - e entrei em meu prédio, dando um olá meio bêbada para o porteiro.

Quase cai dura no chão quando abri a porta da sala e vi minha mãe e meu pai acordados, vendo Domingo Maior na Globo. Minha mãe estava com o rosto inchado e dava pra ver que ela chorava a umas boas horas, meu pai parecia um pouco mais sereno, mas suas mãos que seguravam um envelope pardo tremiam um pouco. Mil coisas passaram por minha cabeça, como um exame médico do meu pai, alguma notícia de um tio ou da minha avó ou alguma outra coisa muito ruim, pra deixá-los acordados até essa hora da madrugada. Ainda mais meus pais, que vão dormir as nove da noite já achando que estão super madrugando.

- Pai, mãe?
- Giovanna, senta do lado da sua mãe, por favor.
- Aconteceu alguma coisa, pai?
- Aconteceu.

Ok, o problema era comigo.

Sentei ao lado de minha mãe, que mal olhava em minha cara e parecia sentir câimbras no corpo porque eu estava ao seu lado. Meu pai me entregou o envelope pardo e minha mãe fez cara de raiva, eu a vi fechar os punhos e endurecer as pernas e o rosto. Por meio segundo eu tive medo de saber o que era aquela carta.

"Londres, 20 de março

Querida Giovanna,

Eu realmente espero que sua vida esteja linda no Brasil, porque você merece isso e muito mais. Pelo que eu ando vendo no website da Miriam, seus trabalhos estão ótimos, mas vejo que você não está dando cem por cento da sua capacidade, o que me preocupa um pouco. Mas, nada que não possamos conversar.

Essa carta na verdade não tem nada a ver com isso, estou mandando em nome da London College e como sua professora e orientadora. No próximo mês de maio estaremos concluindo as turmas, e isso inclui a turma que você estava se formando. É muito triste não ter você aqui conosco, mas eu entendo que foi por um bem maior; porém, mesmo sabendo disso, fazemos questão de sua presença na nossa formatura anual.

A formatura será realizada em dezembro deste ano, no Royal Albert Hall, às oito horas da noite. Pensei em fazer uma chantagem e dizer que você precisa vir aqui, caso contrário não receberá o seu diploma, mas isso é errado demais e não me vejo fazendo isso com você. Por isso, apenas digo que você precisa vir, como aluna e convidada. Lugar pra ficar sei bem que você tem, e dinheiro nós damos um jeito. Segue anexo sua passagem para Londres no dia 10 de dezembro, e abaixo data e horário da sua formatura.

Será um enorme prazer vê-la novamente. Grande abraço.

Formatura da 101º turma de Fotografia da London College

Dia: 13 de dezembro
Horário: 08:00pm
Local: Royal Albert Hall

Vestido de gala/longo
Masculino: esporte fino

Favor, confirmar presença até o dia 13 de novembro com a professora Olivia."


- Londres? Estão me chamando de volta pra Londres? - eu sorria, e MUITO! - Pai, é pra formatura, por favor.
- Giovanna, eu não sei se é uma boa idei...
- É ÓBVIO QUE NÃO É UMA BOA IDEIA! - minha mãe alterou a voz - Demos duro pra te trazer de volta ao Brasil e agora essa professora acha que pode te levar de volta pra lá? Eu sei muito bem que se você for não volta mais, vai se enroscar naquele moleque daquela bandinha de merda...
- MÃE!
- VOCÊ NÃO VAI, VOCÊ NÃO VAI! Se eu pudesse voltar atrás, eu nunca teria autorizado você a ir pra Londres, em primeiro lugar. Você fez tudo as escondidas e ganhou essa bolsa ESCONDIDA de nós. Vai saber o que mais você andou fazendo por lá.
- Puta merda! - falei alto demais e meus pais se assustaram - Eu com certeza fiz muita merda em Londres para a minha professora mandar uma carta pra mim me convidando a ir a formatura. Meu Deus, que tipo de filha eu fui, hein?
- Giovanna, não é esse o ponto.
- Pai, eu não vou discutir isso com vocês! - peguei a carta e vi as duas folhas anexadas, passagem de ida E VOLTA - Ela pensou em tudo, Olivia sabe muito bem que eu tenho uma vida no Brasil, tanto que eu estou com uma passagem para ir e voltar da Inglaterra, eu não vou ficar lá pra sempre e muito menos me envolver com Gustavo de novo - olhei pra minha mãe - O nome dele é Gustavo, você deveria saber disso a essa altura do campeonato.
- Que seja.
- MÃE!
- PAREM, VOCÊS DUAS! - meu pai ergueu a voz e se ergueu do sofá - Giovanna, vem aqui, por favor.
- Pai - eu chorava - Pai, eu volto, eu juro que eu volto, eu não tenho nem dinheiro para me manter em Londres, e eu sei que vocês não podem pagar nada. É só a formatura, eu juro, é só a minha formatura.
- Você vai - ele sorriu - É claro que você vai.
- SÉRIO? - solucei alto - Pai, meu Deus, jura? - o abracei e chorei mais ainda.
- Isso, mima ela bastante, deixa ela fazer o que ela quiser.
- O que aconteceu com você, mulher? - meu pai repreendeu minha mãe - É da nossa filha que estamos falando, do maior orgulho dessa família. Você já a trouxe de volta, já tirou parte da felicidade ela, vai querer tirar isso também?
- Obrigada, pai - suspirei, abraçando ele mais forte e chorando em seu colo - Eu não vou te decepcionar - soltei meu pai e olhei pra minha mãe - Eu também não vou decepcionar a senhora.

Ela me encarava com um olhar triste e totalmente de repreensão, nada feliz com isso. Não senti vontade de abraçá-la, sabia que esses meses fora de casa foram difíceis para ela e meu pai, mas eu não tinha culpa nisso, tinha?

- Vou voltar, prometo - olhei meus pais - Prometo, prometo.
- E mesmo se não voltar - meu pai me segurou pelos ombros - Eu vou entender, é a sua felicidade, filha.
- Eu amo você, pai - sorri e encarei minha mãe - Amo você também, mãe.

Não houve resposta, apenas um olhar triste e então ela virou as costas para mim e meu pai, indo na direção do quarto e batendo a porta com força. Meu coração ficou pequeno, eu queria muito a aprovação de ambos, pra que esse ódio todo?

- Já sabe o que tem que fazer? - meu pai chamou minha atenção.
- Fazer? Tenho ainda um ano todo pra planejar isso, pai.
- Não - ele deu um beijo em meu nariz - Você precisa avisar seus amigos, especialmente uma pessoa.
- Pai - eu ri - Hoje mesmo eu e ele terminamos tudo, e agora vou falar que estou voltando pra Londres?
- E quem disse que vocês vão namorar de novo? Vocês vão se ver, só isso.
- Vou voltar pior ainda.
- Impossível - meu pai me abraçou - Não desperdice as chances que a vida te dá, e se você tem essa segunda chance de falar que ama alguém, fale! Não fique presa a uma pessoa que te faz mal e que você não fala que ama a anos - ele suspirou. Sabia que estava falando da minha mãe - Aproveite os momentos que a vida lhe fornece.
- Eu vou - apertei mais meu pai - Hey, quer ir comigo pra Londres?
- Não, não dou certo em país frio - ele riu - Agora vai, avisa seus amigos.
- Ok, ok - beijei meu pai no rosto e já fui pegando meu celular no bolso.

Destinatários: Matheus Mathew, Dhiego Lizaro, Lucas Tunner, Miguel Thompson, Amanda Colaneri, Tom Fletcher, Danny Jones, Dougie Poynter, Judd the Drummer e Gustavo Torres:

"Volto pra Londres em dezembro"

ENVIADO!

500 Days in LondonWhere stories live. Discover now