Capítulo 35

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Com o passar dos minutos eu fui ficando mais calma. A entrevista não era tão tensa como eu pensava, e as duas eram simpáticas até demais, perguntaram não apenas as coisas óbvias, e não editavam nossas respostas. Pelo menos eu gostava de achar que elas não seriam editadas. Um prato e meio de frutas depois e alguns copos de suco pra mim e café pra Gustavo, nós finalmente chegávamos aos minutos finais.

- Eu sei que vocês já responderam essa pergunta algumas vezes, em especial o Gustavo, mas o jeito que vocês se conheceram é, de verdade, muito peculiar. Alguém já fez algum comentário a respeito?
- Eu escuto comentários disso o tempo todo - Gustavo riu - Falam que foi combinado, forçado, algo como 'ah tá, ele estava do nada na praça e resolveu fazer gracinhas pra menina e eles se apaixonaram' e similares.
- E não foi assim que aconteceu?
- Foi e não foi - eu sorri - One Direction ainda não era muito conhecido no Brasil no começo do ano, então eu não conhecia os meninos. Quando eu vi o Gustavo fazendo gracinha pra minha câmera, eu achei diferente. Tem um lugar em São Paulo, chama-se Praça da Sé. Lá, se você resolver tirar foto, vai passar muita gente na sua frente fazendo graça igual ao Gustavo; então quando ele começou a fazer isso eu achei o máximo, me senti em casa.
- Só a parte da paixão que gostam de florear um pouco mais do que devem... - Gustavo olhou pra mim e piscou.
- Por quê? Como aconteceu?
- Gosto de responder essa pergunta citando um casal conhecido: Jack e Rose - por um momento pensei que Gustavo fosse citar alguém de verdade - Aquela cena que ele a vê pela primeira vez é muito bonita. E consegue convencer todo o público de que ele se apaixonou por ela naquele instante, naquele segundo. Parece ser clichê, mas aconteceu. Por que, quando isso acontece na vida real, as pessoas possuem tanta dificuldade em aceitar? Eu me apaixonei pela Gi no instante em que a vi, assim como aconteceu com Jack e Rose, Romeu e Julieta...
- Quem nunca amou, quem nunca sentiu isso, tem esse certo preconceito - eu falei.
- O fato de vocês serem jovens não é ruim para a aceitação?
- Romeu e Julieta viveram um romance ao extremo com treze anos - falei, sorrindo, as duas abriram o maior sorrisão do mundo.
- Ela é incrível, Gustavo.
- Sei disso - ele sorriu, feliz - E isso também é algo que incomoda um pouco algumas pessoas.
- O fato de ela ser incrível?
- De ela ser boa em tudo que faz.
- Como assim?
- Bom... - segurei na mão de Gustavo, pedindo autorização para eu falar - Quando a bolsa de estudos saiu, eu sabia que seria uma oportunidade única de mostrar meu trabalho e minhas qualificações. Repetia pra mim mesma que eu vim pra Londres com um propósito, de ser a número um em tudo e nunca falhar. Consegui grande parte do que eu queria, e isso parece incomodar porque ninguém nunca é cem por cento bom no que faz. Quando as coisas começam a dar certo, o efeito imediato é de alimentar suspeitas, as pessoas ficarem intrigadas e, em alguns casos, com inveja.
- Uau - ela desligou o gravador - Desculpa, eu pensei que os comentários maldosos eram por culpa do seu namoro com o Gustavo.
- Não vou dizer que aprendi a lidar com isso, de vez em quando ainda leio alguma coisa que me machuca, mas é mais fácil administrar essa parte. Agora, quando começam a falar do meu trabalho e de como eu conquistei as coisas, eu viro uma leoa e não penso muito nas consequências. Lutei muito pra chegar até aqui, não permito que falem mal do que eu amo.
- Caramba - uma delas sorriu pra mim e pra Gustavo - Quantos anos você tem, mesmo?
- Dezoito.
- Tenho certeza que tudo o que você conquistou foi de grande merecimento. Parabéns!
- Obrigada - sorri.
- Enfim, podemos continuar? - ela ligou novamente o gravador - Gustavo e Gi, qual a frequência de brigas?
- Nossa Senhora! - ele passou as mãos nos cabelos e começou a rir - Briga feia ou briga tonta?
- Tanto faz, briga é sempre briga - as duas riram.
- Gênio? - ele olhou pra mim e eu já estava rindo - Tá, eu respondo. Nossas brigas nunca duram mais que quarenta e oito horas.
- Como assim?
- É muito raro eu passar um mês inteiro com a Gi, às vezes ficamos semanas longe. Então não gostamos de perder tempo brigados; já não nos vemos direito, se for pra ficar afastado um do outro, então nem compensa.
- Nosso tempo juntos é muito curto pra ser desperdiçado brigando, eu não vejo necessidade nisso - acrescentei.
- Vocês são dois fofos - a moça falou e nós dois sorrimos um para o outro.
- E quando há uma briga, como vocês se reconciliam?
- Starbucks e muffin pela manhã - Gustavo respondeu e nós rimos - Mas às vezes a amiga dela precisa dar uma força, a Gi é muito orgulhosa.
- Sou mesmo!
- Gustavo Torres te trazendo café da manhã depois de uma briga e você ainda consegue ser orgulhosa?
- Tem que fazer um charme, pra dar mais certo - sorri, vendo a cara de sapeca de Gustavo ao meu lado - E pelo visto, tá dando.
- Bom, eu vou fazer mais uma pergunta que eu vi algumas fãs comentando. Você, Giovanna, foi vista no começo como uma menina que não se interessava nem por One Direction e nem pelo próprio Gustavo. Algumas criticavam o seu comportamento como namorada, parecia que você não queria estar fazendo parte disso. Como você se sentiu ao ler essas coisas a seu respeito?
- Então... - sorri, nervosa, e estralei meus dedos, olhando para Gustavo - Eu não conhecia One Direction, não sabia nada sobre eles. Assim sendo, eu não conhecia o Gustavo e, pra ser sincera, acho que isso ajudou no nosso relacionamento. Eu gostei dele, me apaixonei por ele, e não pela bagagem que vinha junto. Não precisava saber da banda ou da música pra eu ser mais ou menos apaixonada por ele, não via necessidade disso. Assim como ele não soube tudo da minha vida quando me conheceu, foi algo que fomos conquistando e conhecendo aos poucos. Assim é um relacionamento, você não fica sabendo tudo da vida da pessoa no primeiro mês, você descobre.
- E nunca te passou pela cabeça procurar alguma coisa dele no google? Dar uma de stalker e saber do Gustavo ou da banda?
- Ah, não? - eu cocei a cabeça e ri - Sei lá, confesso que algumas vezes eu entrei no sites feitos por fãs pra ler coisas sobre os meninos, mas tudo eu acabei descobrindo depois. Algumas vezes, entrei mais pra saber o que falavam de mim do que do próprio Gustavo.
- Sério? - ele me encarou com um sorriso de lado - Estão vendo? Disso eu não fazia ideia.
- Se decepcionou com alguma coisa?
- Ah, várias - eu sorri - Mas passou, depois de um tempo. Mostrei pro Gustavo e pros meninos, tudo virou uma grande piada depois.
- E vocês conhecem fanfics? As fãs costumam escrever muito sobre como elas imaginam um relacionamento com vocês ou até "entre vocês".
- Cara, tem muita fic gay que as fãs escrevem! - Gustavo bateu a mão na testa e nós começamos a gargalhar - Não sei de onde surge tanta criatividade pra escrever tanto absurdo, dá até medo. Será que os pais dessas meninas sabem o que elas estão fazendo?
- Muita coisa absurda?
- Olha, demais! Tem umas coisas muito absurdas, meio impossíveis - eu estava ficando constrangida só de imaginar, comecei a rir ao vê-lo ficar vermelho de vergonha.
- Dá pra contar alguma coisa pra gente?
- De jeito nenhum, eu passo os links depois dos que eu lembro, mas contar aqui, agora? Nem pensar!

Ao final da entrevista, as perguntas mais clichês e normais voltaram a aparecer. Coisas como: o novo CD, quando começa a turnê, se ele e os meninos estavam ansiosos para o Madison Square Garden, se eu ia - coisa que não vai dar -, planos pro ano que vem, planos pra nós dois e essas coisas. Confesso que eu gostei muito de poder falar um pouco sobre assuntos que pouca gente tem noção. De certa forma fiquei aliviada e uma parte meio insana está bem curiosa pra ver qual vai ser a reação das fãs ao lerem a entrevista. Foi-me perguntado sobre os rumores de eu estar passando por uma crise, porque eu visivelmente tinha emagrecido muito desde o começo do namoro até agora... Minha resposta foi vaga e, em off, eu disse que não queria falar muito do assunto para menos boatos surgirem. Me respeitaram, e a única coisa que elas me asseguraram que será publicado, será que eu passei por uma crise e algumas dificuldades, mas que no momento eu estava bem.

Bem, uma parte já estava pronta, agora vinha a segunda. Photoshoot!


- Você disse tudo isso, mesmo?
- Aham - fechei os olhos, uma das maquiadoras estava tentando grudar alguma coisa junto com a maquiagem, nem sei o que era - Nem quero imaginar qual vai ser o título da entrevista.
- "O recalque bate na minha bússola e volta na cara das vadia" - Mands falou e nós duas começamos a gargalhar, tive que pedir desculpas pra moça que cuidava de mim.
- Porra, genial! Posso dar essa ideia pra elas?
- Certeza! Aproveita e tira uma foto mostrando essa bússola Tiffany LINDA e ainda faz cara de malvada, as fãs vão te detestar.
- Mais?
- Acredite, é possível. Ainda mais depois dessa entrevista, vai chover ameaça de morte, corre pras colinas e se benze, amiga.
- Você tem um dom de me deixar tão tranquila, Amanda - eu sorri - Desculpe, posso levantar rapidinho?
- Tá falando comigo?
- Não, com a moça que tá me maquiando.
- TEM ALGUÉM TE MAQUIANDO?
- Aham, eu vou fazer as fotos daqui a pouco com o Gustavo.
- Eu to chorando sangue de inveja - a ouvi suspirar e sorrir - Tá sozinha agora?
- Sim, sim - respondi, me olhando no espelho e quase não me reconhecendo - Pai Amado, eu estou outra pessoa.
- Gata?
- PERUA!
- Tá valendo - nós rimos - Já sabe se vai vestir algum estilista famoso? Morro de vontade de fazer aquela cena de "Uma Linda Mulher".
- Ainda não - dei uma olhada em volta - Estou vendo várias roupas aqui, mas não sei se são pra mim e nem sei de quem são. São descoladas, pelo menos eu curti.
- Detalhes, Gi, detalhes!
- Ai, tá... - me levantei e fui dar uma olhada nas peças de roupas que estavam nas araras - Calças jeans, camisetas, casaquinhos, hm... Sapatos...
- DE QUEM?
- Ah, estilista?
- Claro, ou você achou que esse "de quem" era, sei lá... - a ouvi gargalhar - Não consigo pensar numa resposta engraçada agora.
- Que seja! - eu ri - Diesel, Coca, Dolce...
- DOLCE? Fala sério, você vai usar Dolce?
- Channel...
- Filha da puta sortuda do caralho.
- Oi, linguajar peculiar de Bolton! - eu comecei a rir, sempre me divertia quando Mands soltava mil palavrões de uma só vez.
- Me deixa colocar pra fora toda a minha inveja, por favor. É tudo o que me resta nesse mundo sombrio.
- Que drama, sabia que estão querendo fazer um photoshoot com toda banda? E isso inclui eu e você nos bastidores?
- Bastidores? Eu quero estar na frente - ela riu - Mas já fico feliz em ser lembrada.
- Drama, drama, drama.
- Faço mesmo - a ouvi bufar - Enquanto você tá no seu dia de princesa, eu vou com os meninos pra um ensaio em um "lugar secreto", pelo menos foi isso o que eles postaram no twitter oficial.
- Vai tirar fotos?
- Não, só como acompanhante do Matheus mesmo, hoje é meu dia de folga e quero mimar meu namorado, e não ficar trabalhando.
- Ahá, muito bem. Acho fofo vocês dois juntos de novo, não aguentava mais seus choros na madrugada.
- Eu nunca chorei pelo Matheus!
- Ah, não?
- Tá... Esquece - ela fazia careta, eu tenho certeza.

Antes de eu formular novamente alguma frase, vi Gustavo entrar no camarim onde eu estava. Simplesmente lindo, e ele mal usava maquiagem e nem precisava de muita roupa! SÉRIO! Uma calça jeans, tênis qualquer, camiseta que me parece ser familiar e uma camisa azul jogada por cima. Abriu um sorriso quando me viu ali, e só foi então que percebi que eu estava de roupão branco, pantufas, cabelo pra cima e uma maquiagem ainda não finalizada.

- Amanda, meu namorado acabou de entrar - falei com um sorriso nos lábios, Gustavo riu.
- Ai, sendo trocada pelo Gustavo, de novo!
- Tá, quando chegar em casa te conto como foi o dia.
- Ok, se cuidem e me mandem fotos de forma clandestina, não vou aguentar esperar a revista sair pra eu morrer de inveja, mais ainda.
- Farei o possível.
- Obrigada - ela riu - Beijos, divirtam-se.
- Você também - desliguei o celular e o encarei - Tá gatinho, Torres.
- Curtiu? - ele abriu a camisa e deu uma rodadinha sexy - Saint Kidd.
- SABIIIIA! Conheço os trabalhos de Dougie Poynter - eu ri, indo até ele e vendo a camiseta mais de perto - É linda, to doida pra comprar uma.
- Comprar? Só pedir pro Dougie.
- É estranho eu "só pedir pro Dougie" - imitei a voz dele de um jeito babaca, o fazendo rir e dar um beijo de leve em meus lábios.
- Entããããoo... Não vou nem perguntar se você está pronta, porque...
- Acho que elas precisam arrumar meu cabelo, terminar a maquiagem e colocar uma roupa em mim - apontei pro roupão.
- Você está usando só isso? - ele mexeu nas pontinhas do roupão - Tipo, Rose Dawnson?
- Que você tem hoje com essa coisa de Titanic, hein?
- Nada, só uma comparação - ele me mostrou a língua - Mas você ainda não respondeu a minha pergunta, Gi.
- É, to sim - dei dois passos pra trás - Agora, vaza daqui que eu vou escolher a roupa, ou pelo menos dar uma olhada nas minhas opções.
- Não posso nem ficar pra ajudar?
- Não, Torres - eu ria, empurrando ele pra fora - Me espera lá fora.
- Ok...

Antes de ir, ele parou na soleira da porta, com uma mão em cada extremidade, me encarando daquele jeito brincalhão e mordendo os lábios. Tentei fazer careta de quem não estava gostando nada daquilo e que, de verdade, ele atrapalhava o andamento da minha produção, mas foi tudo em vão. Ele se aproximou um pouco mais, encostando de leve o nariz dele ao meu e, aos poucos, nossos lábios. Começou apenas roçando de um jeito brincalhão, me fazendo rir, depois passou a mão pela lateral do meu rosto até meu queixo, puxando-o pra cima e encaixando nossos lábios, me beijando. Coloquei minhas mãos no bolso traseiro de sua calça jeans, apertando de leve sua bunda e fazendo, sem querer, nós dois rirmos durante o beijo, quebrando-o ao fim. Tirei minhas mãos dali e as coloquei ao redor do seu pescoço, brincando com seu cabelo ali e dando selinhos que, por mim, poderiam ser intermináveis.

- Se eu te contar uma coisa bem tosca, você promete que não fica brava?
- Vixi! - eu ri - Conta.
- Sonhei com uma coisa estranha noite passada.
- Sonhou? Hm, você nunca me conta dos seus sonhos.
- Geralmente são babacas, mas ontem... Fiquei me sentindo estranho, porque, se isso acontecesse com você, aquela seria uma reação que eu nunca teria. Não entendi o motivo do sonho.
- Você tá me assustando.
- Desculpa! - mais um selinho - Eu sonhei que você voltava pro Brasil.
- Hã? - é, mas um "hã" digno de cara de psicopata - Como assim?
- Na verdade, você não voltava. Você recebia uma proposta pra voltar, e quando vinha contar pra mim eu te proibia de ir e... - ele fez careta - Me deixar. Tá, eu sei, foi bem egoísta e eu nunca faria isso.
- Gustavo...
- Nunca tinha sonhado nada do tipo, e fiquei mais chateado com a minha reação do que com o sonho em si.
- Por quê? Você me deixaria ir embora? - falei, sentindo um leve aperto no coração, como se nesse momento eu estivesse contando pra ele sobre a proposta da Miriam.
- Se isso fosse pra te fazer feliz e você crescer profissionalmente, não vejo motivos pra te prender aqui - Gustavo passou a mão em meu rosto, me segurei pra não abrir a boca nesse momento - Não há nada que me deixaria mais frustrado do que saber que você perdeu uma oportunidade de crescer por minha causa.
- Você não abriria mão de nada, por mim? - perguntei baixo, mesmo já tendo alucinações de como ele responderia.
- Essa é a vida que eu tenho, Gi, é quem eu sou. Você já faz parte dela, querendo ou não. Não tem como eu crescer mais, entende? Claro, vou continuar com a música, viajando e conhecendo nossos países, mas é isso - ele sorriu - Você, não! Sua vida não se limita a Londres e nem a um curso que vai acabar daqui uns meses, ainda existe muita coisa a ser conquistada. Eu quero estar com você, mas se não der, o que vamos fazer?
- Vamos ficar juntos, é isso o que vamos fazer.
- E eu volto a perguntar - ele suspirou fundo - E se não der?

É isso, eu vou falar agora. Vou falar da proposta da Miriam e de como eu não quero voltar pro Brasil, e dane-se, Gustavo não pode simplesmente comprar uma passagem pra mim e me obrigar a ir, ou pode? Soltei minhas mãos de sua nuca e me afastei um pouco, coçando o queixo e o encarando. É como se ele soubesse de alguma coisa e não quisesse me contar, estivesse me testando e esperando que eu falasse. Será que ele viu a carta? IMPOSSÍVEL, ela está grudada comigo o tempo todo, eu não mostrei pra ninguém, nem pra Mands. E essa história agora de "E se não der?"; ele vai terminar comigo. É claro que vai, ele terminaria comigo por uma oportunidade estúpida que pode aparecer de novo pra mim daqui um tempo. Não, isso eu me nego a aceitar. Eu não vou perder o curso, nem o que conquistei e, muito menos ele.

- Vai dar! - eu disse ao fim - Porque eu não vou perder tudo o que eu amo por uma oportunidade idiota.
- Hey, calma - ele veio até mim. Merda, eu estava chorando? - Gi, foi um sonho! E, ah, esquece isso o que eu falei, tudo bem? - o senti me abraçar - Você tá bem?
- Aham - funguei - Eu só não gosto de pensar na possibilidade de te perder.
- Mas você não vai - Gustavo me olhou sorrindo - Cara, esse é um dos momentos onde eu não consigo ler seus olhos. Odeio isso.
- Como assim?
- Eu ainda não consigo te ler - havia um lamento em sua voz - Como se metade sua ainda fosse uma neblina pra mim.
- Hã? - minha respiração aumentou um pouco - Você não me acha sincera? Não vê verdade nos meus olhos?
- Eu te vejo, mas não por inteira - ele segurava meu rosto com suas duas mãos e parecia querer capturar cada movimento do meu olhar - Você é um enigma que me fascina, mas tenho medo de você ocultar de novo algo de mim, Gi.
- Não confia em mim?
- Você confia em mim?
- É claro que sim!
- E se... - ele lambeu os lábios - Se algum dia você recebesse uma proposta assim, você iria me contar, certo?
- Do que você tá falando? Não foi apenas um sonho? - segurei em seus braços. Por favor, me diz que foi só um sonho.

Ele demorou a me responder. Abaixou a cabeça e fez "não" umas duas vezes, voltando a me encarar com uma tristeza no olhar.

- Foi só um sonho - e me beijou na testa.

Ele sabia.

- Giovanna, minha flor, podemos continuar com a maquiagem? - uma das meninas da produção apareceu, dando uma olhada de cima a baixo para mim e para Gustavo - Eu atrapalhei alguma coisa?
- Não, de maneira alguma - respondi, escorregando minha mão pelo braço de Gustavo e apertando sua mão - Tá tudo bem, não está?
- Sempre esteve - ele me respondeu, beijando minha mão e sorrindo de forma preocupada - Estou te esperando no estúdio.
- Ok - suspirei e o vi ir embora.
- Nossa, que climããããããão! - a loira de cabelos curtos e espetados riu e me empurrou para dentro do camarim - Credo, se eu soubesse que vocês estavam brigando...
- Nós não estávamos brigando.
- ... Eu teria aparecido depois. Mas pode deixar que eu não vou comentar absolutamente nada com ninguém, nem posso falar nada...
- Escuta - me virei pra essa tagarela idiota - Você vai terminar de me maquiar ou não? Na verdade, eu já estou pronta, só preciso de uma roupa. Seu trabalho envolve ficar fazendo especulações da vida alheia, também?

Queria vomitar. Me sentia enjoada, indisposta... Cadê o banheiro?

- Me desculpe, eu só queria conversar.
- Se quisesse conversar, você deveria ter perguntado como eu estou, e não começado a falar igual uma arara - suspirei - Cadê as roupas?
- Estão ali - apontando para os cabides - Qual seu número? Trinta e oito?
- Quarenta - respondi, sentindo a garganta fechar. A tal loira deu uma boa olhada em minha cintura e depois revirou os olhos.
- Vou ter que dar uma olhada em outras roupas, trouxemos apenas manequim trinta e oito pra baixo, são os que estamos habituados a usar - ela mordeu os lábios e continuava a encarar minha barriga, cintura, quadris - Volto logo.

Ótimo, excelente, era tudo o que precisava no momento. Fui até a porta e a tranquei, quase fazendo aquela cena de 'escorregando na parede e chorando', só que em vez de ser uma parede, seria uma porta. Dei dois socos nela, com vontade de socar a mim mesma ou socar meu estômago e barriga por ainda serem tão gigantes para não caberem em uma porra de manequim trinta e oito. Eu fui em toda consulta com a nutricionista, segui certo a dieta que ela me passou, mas não foi bom o bastante; ainda estou acima do peso, ainda não estou boa nem para entrar em uma merda de roupa.

Segurando a vontade de gritar, fiz o que estava ao meu alcance. Tirei o roupão, ficando apenas de calcinha e sutiã no camarim. Fui até o espelho das maquiagens e procurei por demaquilantes, precisava tirar essa máscara de mim, essa camada grossa de pó, base e rímel e tudo o que escondia quem eu realmente era. Quando achei, molhei em um pedaço de algodão e comecei a esfregar com violência em minhas bochechas e olhos, estes ao fim ficando um pouco mais vermelhos do que deviam. Podia ser pelas lágrimas, ou pelo líquido que acabou entrando dentro deles sem querer. Esfreguei meus lábios, tirando o gosto amargo que estava começando a aparecer... Eu não ia fazer isso, não ia vomitar, não ia me sujeitar a essa humilhação pessoal DE NOVO! Lembra do hospital, Giovanna, lembra o hospital.

Diga! Quem você é, me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida

Tira!
A máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro, jeito de ser

Passei uma leve camada de base e pó, apenas para esconder as olheiras e marcas de espinhas. Ficou uniforme e quase não dava pra perceber que eu estava com maquiagem. Ouvi claramente batidas na porta, talvez a maldita loira estivesse ali com roupas "manequim quarenta". Pensei em abrir a porta e mandar ela à merda, mas iria fazer melhor... Eu ia mostrar pra ela que uma garota manequim quarenta foi feita para roupas trinta e oito. Ia demorar e me dar um pouco de trabalho, mas valeria a pena.

Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem permanecer, consciente e inconsequente
Sem se preocupar em ser
Adulto ou criança

O importante é ser VOCÊ!

Um bom lápis escuro marcando meus olhos, uma boa dose de rímel nos cílios superiores e inferiores. Blush apenas para dar um tom de viva e não ficar tão pálida, e um gloss rosa claro para molhar os lábios. O rosto estava pronto, agora só faltava a roupa, minha própria identificação.

- Giovanna, abre essa porta!
- O QUE VOCÊ ACHA QUE TÁ FAZENDO AÍ DENTRO, SUA MALUCA?
- Você está encrencada, mocinha, muito encrencada.
- CANCELA ESSE PHOTOSHOOT, CANCELA!

Ah, mas vocês não vão cancelar. Nem por um decreto, nem se a Rainha aparecer aqui agora mandando cancelar, isso não vai acontecer. Eu estou a mais de uma hora sendo julgada por essas parasitas, desde que tom de roupa fica bom pra mim, maquiagem e 'eu acho que seu braço podia ser um pouco mais fino'. Vai todo mundo tomar no rabo e me deixem! E, além disso, essa menina olhou de forma bem interesseira para Gustavo, e na minha frente. Isso eu não vou deixar barato!

Mesmo que seja, estranho
Seja você!
Mesmo que seja bizarro, bizarro, bizarro

Mesmo que seja, estranho
Seja você!
Mesmo que seja... Uh!

Cortei a cintura alta de uma das calças, porque com aquela cintura daquele tamanho eu NUNCA ia mesmo entrar! Desfiei com a ajuda de duas tesouras, cada um com um corte diferente. Rasguei um pouco nas coxas dando uma abertura maior, sabia que assim minhas pernas iriam entrar ali; fiz o mesmo com a barra e com mais três calças, cada uma de um jeito, estilo e cor. Com as blusinhas e camisetas não foi tão diferente. Cortar, dobrar, prender com alfinetes... Obrigada Sam e Lucas pelas horas vendo Project Runaway! Procurei por sapatos e achei todos de salto alto, mas não era aquilo o que eu queria. Finalmente vi dois pares de tênis, um Vans e uma bota cano alto de couro preta. Absolutamente LINDA, e era aquilo o que eu ia vestir.

Coloquei a calça jeans que ficou um dedo abaixo do meu umbigo, prendi as laterais com alfinetes prateados, a camiseta de caveira segurando uma Polaroid deu todo o ar rock que eu estava procurando. A bota de couro pareceu deixar o look pesado demais, porém não me importei. Escovei os cabelos, passei uma chapinha rápida, deixando-os lisos, mas um pouco armados e rebeldes e, finalmente, abri a porta.

Kirsty estava ali, bem como três possíveis assistentes que deveria estar tomando conta de mim. Assim que me viu, Kirsty abriu um sorriso que mais parecia assustador do que de orgulho, mas depois começou a rir e bater palmas de forma discreta. As outras três entortaram o nariz e uma delas quase se jogou no chão quando viu o que eu tinha feito com as tais 'roupas de marca'. Não fazia ideia de como seria o photoshoot, mas eles iam me fotografar assim, querendo ou não! Porque eu não ia colocar uma roupa fofa e fingir ser algo que não sou.

- Você fez isso com uma DIESEL?
- Que blusa é essa? Ai meu Deus, é a Channel.
- É doida? Retardada? Idiota?
- Achei fantástico - Kirsty disse, ao final - Deu um toque de rock. Único! Vejo meninas querendo imitar esse estilo, perguntando como ela fez isso, destruindo suas próprias roupas.
- E você acha isso LEGAL?
- Original é a palavra certa... - ela sorriu - Giovanna, querida, está pronta?
- Sim - sorri igual uma babaca, passando pelas magrelas que não cuidaram de mim e indo com Kirsty até o tal estúdio onde Gustavo estava me esperando.

A cada passo eu me sentia mais confiante e mais nervosa. Eu não sei nem por que tomei essa decisão, por que acabei fazendo isso. Parece que deu um estalo em minha mente depois do que conversei com Gustavo e depois daquela magrela olhar pra mim como se eu fosse gorda demais pra entrar em qualquer roupa de grife. Tinhas duas certezas: que eu nunca mais me sentiria tão humilhada a respeito do meu peso em minha vida, não iria me sujeitar a qualquer outra loucura apenas para parecer mais bonita aos padrões de alguém, ou uma revista, ou uma estúpida sociedade. Não estou acima do peso, e mesmo se estivesse, qual o problema nisso? Mesmo assim, conquistei a pessoa mais incrível desse mundo, e é por ele que eu também estou fazendo isso. Precisava contar para Gustavo sobre a carta, sobre a proposta... Se eu me escondi dele uma vez, eu não faria isso novamente. Assim como não estou me escondendo atrás de uma máscara ou roupas largas... Serei sincera, totalmente sincera. E isso já começou.

Assim que entramos ao estúdio, Gustavo estava num canto conversando com duas das fotógrafas que iriam participar do ensaio de hoje. Uma delas, muito bonita, devo acrescentar, estava dando risada, e era o tipo de pessoa que a cada riso passava a mão no rosto, braço ou peitoral dele. Fiz careta quando eu vi isso, mas essa logo sumiu quando meu olhar encontrou com o dele - porque, pra mim, agora só existia Gustavo no estúdio. Literalmente ficou de queixo caído e começou a rir como um idiota, parecendo eu aquele dia no carro, voltando do Ritz. Quem estava perto me olhou, julgando cada pedaço da minha roupa, mas Gustavo não estava fazendo isso, ele gostou do que viu, e isso, pra mim, era mais do que suficiente.

- Uau! - ele sorria, chegando até mim e colocando as mãos em minha cintura - Então os boatos estavam certos. A namorada do Gustavo Torres deu uma de doida e fez a sua própria roupa.
- Bom, a "namorada do Gustavo Torres" estava meio cansada de ser julgada por vestir um manequim dois números a mais do que elas estão acostumadas - eu ri - Decidi fazer umas pequenas mudanças nas roupas, mas eu juro que elas continuam de marca e blábláblá.
- Você está incrível, Gi - ele riu - Eu estava te imaginando de outra forma, mas essa roupa é bem mais a sua cara - ele puxou a camiseta que eu usava - Essa caveira com uma polaroid, genial!
- Obrigada - dei um selinho nele - E então, vamos começar?

De repente, eu parecia animada.

Apesar dos olhares estranhos para mim, aos poucos as meninas foram se acostumando ao meu visual, na verdade, elas tiveram que fazer isso. E com o passar do tempo, as fotos foram ficando mais naturais e mais animadas.

Na primeira parte da sessão, nós não posamos exatamente com um casal, fizemos poses de formas separadas. Gustavo pousou uma grande maioria das fotos com um microfone em mãos e eu com uma câmera na outra, fingindo que tirava fotos. Colocaram um ventilador na nossa frente, então eu achei uma graça o tanto que o Gustavo se mexia de um lado pro outro, abrindo e fechando a camisa social que usava e todo sorriso. Fazia muito tempo que eu não o via em um photoshoot, então comecei a achar muito engraçado. Eu brincava jogando meu cabelo de um lado pro outro e mudando de pose a cada clique, não precisamos de muito guia para as poses, tudo estava saindo de uma forma harmoniosa e casual. Uma parte minha estava louca de vontade de pegar aquela câmera e fotografar um pouco, depois de um tempo é meio chato ficar sorrindo e fazendo poses, por mais que seja com seu namorado. Eu queria a câmera... E minha boca grande acabou pedindo.

- Por favor? - perguntei para Ethan, o fotógrafo bonzinho - Só uns shoots?
- Algum problema, Gustavo? - ele perguntou, óbvio que ele não se importou.
- Faz um tempo que ela não me fotografa, mas só se eu puder fazer o mesmo depois.
- Quê? Você vai querer me fotografar?
- E por que não?
- Ok... - eu ri.
- Câmeras para o casal, por favor! - Ethan me chamou e deu a profissional que ele estava usando.

COISA MAIS LINDA!

- Vai, Gustavo, se concentra - falei, pegando a câmera e indo até ele para os primeiros shoots - Faça o que eu mando.
- Não tem muita diferença entre você fotógrafa e namorada, continua mandando em mim do mesmo jeito - ele me mostrou a língua, e eu bati uma foto, rindo.
- Tá lindo - gargalhei.

Ele fazia todas as poses mais toscas possíveis, e o pessoal no estúdio se divertia com nós dois. Fui bem pra perto dele e tirei algumas bem perto do seu rosto, depois me afastei e comecei a bater algumas de corpo inteiro. Ele fazia piadas e começava a rir, deixando a sessão de fotos muito mais fofa do que já estava; a cada flash era uma gargalhada por alguma coisa estúpida que ele tinha falado e eu, com certeza, concordado. Algumas meninas da produção foram até ele para arrumar cabelo e dar uma geral na maquiagem, e eu via as caretas que ele fazia cada vez que elas iam com o pincel pra passar pó em seu rosto. Enquanto isso acontecia, eu ia até os computadores ao fundo ver como as fotos estavam ficando... Gostei muito do resultado, tanto das que foram batidas anteriormente como as que estavam sendo tiradas por mim. Quando as meninas avisaram que ele estava pronto, lá vou eu novamente para o meu trabalho.

Me ajoelhei na sua frente, enquanto ele brincava com o microfone e fingia estar cantando. Sorriu pra mim quando eu avisei que essa foto merecia destaque por ter ficado tão linda e espontânea. Então, o pessoal da produção pediu para que eu fosse até ele e batesse algumas fotos de nós dois juntos; concordei de imediato. Lembro-me da primeira vez que nós tiramos uma foto assim, no fundo de sua casa. Eu ainda nem tinha sido apresentada como "a garota especial" e nem éramos namorados nem nada. Só achava ele uma gracinha...

- Vem aqui - ele abriu um dos braços na minha direção - Quero deixar essa noite como uma memória boa.
- Vai bater uma foto nossa? - perguntei, fazendo careta - Ai, Deus!
- Prometo não publicar, mas você vai ter que revelar e dar uma cópia pra mim depois.
- Tem a minha palavra - respondi - Vai, vamos logo.

Me aninhei meio sem jeito ao corpo de Gustavo sentindo seu braço me aconchegar mais ainda. Encostei minha cabeça no seu ombro e coloquei a língua pra fora, enquanto ele encostava a cabeça na minha e eu presumi que sorria. Ele bateu a foto e logo em seguida virou a câmera pra ver como tinha ficado; como era de se esperar, ele ficou lindo, e eu, mega esquisita.

- Não sabe tirar foto igual pessoa normal, não? - ele perguntou, rindo, desligando a câmera e a colocando em cima de uma mesinha de centro.
- Não gosto de fotos! - falei de novo, arrancando mais uma risada dele - Mas essa ficou mais ou menos espontânea.
- Gostei - ele disse.
- Cara, é só você sorrir que você já fica lindo! Não te irrita isso, não? - falei, um pouco na demência. Realmente, é só ele sorrir e já fica gato, se eu começo a sorrir, pareço o Chandler de Friends.
- Você, quando sorri, fica linda - ele me disse, passando as mãos nos cabelos.

- Promete que dessa vez vai tirar uma foto como uma pessoa normal? - ele cochichou ao meu ouvido, lembrando com certeza desse mesmo dia - Ainda tenho aquela foto que tiramos em casa.
- E onde você a carrega?
- Na carteira - ele riu, me abraçando - É a nossa primeira juntos...
- Sei disso, me lembrei na mesma hora em que eles pediram pra eu bater algumas fotos nossas.
- Lembra a foto na Polaroid? - ele se virou de frente pra mim, me abraçando pela cintura e pegando a câmera de minhas mãos - É a minha favorita.
- Tem uma razão pra ela ser sua favorita... Foi na nossa primeira noite.
- Aham - ele me deu um selinho e bateu uma foto. Ouvi um coro ao fundo de gemidos fofos e senti meu rosto ficar vermelho - Mais uma?

- Obrigado - Gustavo juntou mais seu corpo ao meu e posicionou a Polaroid na nossa frente, como quem vai bater uma foto. Ele ia bater uma foto - Posso?
- Promete que essa foto vai ficar apenas entre nós?
- Prometo - ele beijou meu rosto e eu devo ter feito uma cara de boba apaixonada, aninhada aos braços do meu namorado - E agora? Que faço?
- Espera, Gustavo - eu ri, pegando a câmera da mão dele e vendo a foto sair de maneira instantânea. Peguei, mexi, sentindo um cheirinho conhecido de álcool que a câmera soltava, e vi a foto sair do negativo e criar cores bem na minha frente, era praticamente mágica - Agora, sim, tá pronta - olhei a foto e fiz careta, como sempre, eu me acha detestável.
- Linda. Na verdade, lindos, porque somos um casal perfeito - ele riu, pegando a foto de minhas mãos - Gostei.
- Você sempre gosta das fotos, eu sempre as odeio...

- Vamos ficar marcados pra sempre como o casal do ano, tipo Zac Efron e Vanessa... Não lembro o sobrenome dela - ele fez careta e começou a rir.
- Acho fofo - peguei a câmera e dei uma olhada na foto - Você me ofusca!
- Eita, dramática - ele me deu um beijo no rosto e, clic, mais uma foto.
- Tá bom já de fotos assim, não acha?
- Acho - ele se afastou e olhou para a produção - Então, agora, como eu uso isso aqui pra tirar as fotos dela?
- Primeiro, ela precisa de uns retoques - as mocinhas da maquiagem já vinham na minha direção com os estojinhos - Hm, que acha de mudar o figurino?
- Vou ter que mudar o figurino? - poxa, eu gostava dessa roupa - Posso ter algumas fotos solo com essa roupa?
- Claro, pode, sim... - elas me responderam, batendo os pincéis no meu rosto e retocando blush, pó e outras coisinhas - Torres, ela está pronta.
- Ok... - eu o vi segurando a câmera e olhando pra mim - Eu olho pra você ou pra cá?
- É como uma câmera antiga, babe. Você foca em mim, me centraliza nesse quadradinho e depois bate a foto, a diferença é que ela já vai sair digitalmente, entendeu?
- Hm... - ele olhou, me olhou e outro clic, tirou uma foto - Acho que entendi.
- Beleza - eu ri - Posso fazer poses estranhas agora?
- Vai nessa, gata! Dê o seu melhor - ele se ajoelhou no chão e começou a imitar um fotógrafo profissional, me fazendo rir, assim como todos que estavam lá.
- Gi, sabe de uma coisa?
- O quê? - perguntei posando mostrando a língua.
- Não tenho dúvidas que você continua aquela garota especial que conheci em frente ao London Eye - ele sorriu.
- Por quê?
- Porque essa carinha que eu estou vendo aqui nas fotos é a mesma daquela menina que eu tenho em meu celular, com cara de deslumbrada e levemente brava comigo por eu ter tirado uma foto surpresa na van.
- Então eu continuo a mesma pra você? - mordi os lábios. Sério que ele ainda tinha aquela foto?
- Sempre vai ser.

- Vamos imaginar que todo mundo vai adorar você?
- Ok - suspirei - E caso isso não aconteça...?
- Eu vou estar aqui com você - Gustavo disse, beijando meu rosto e me abraçando.

Dei uma olhada na foto em seu celular recém-publicada no twitter:

'A garota especial'

Essa era a lembrança mais clara que eu tinha desde que conheci Gustavo Torres. Desde que ele publicou aquela foto dizendo que eu era a tal garota especial da vida dele, e quando tudo em minha vida mudou. Na verdade, muita coisa havia mudado desses primeiros meses pra cá... E agora, parecia que o universo queria, de novo, me dar um novo rumo. Suspirei e sentei-me no chão, vendo Gustavo ainda bater minhas fotos com um sorriso brincalhão no rosto.

Eu não ia conseguir dizer adeus a tudo isso. Nem em um milhão de anos.


500 Days in LondonDonde viven las historias. Descúbrelo ahora