Capítulo 24

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Uma batida na porta. Duas batidas na porta. Três batidas na porta.

- Amanda? - Perguntei com uma voz quase inexistente.

Olhei ao meu redor e vi um quarto azul escuro com muitas roupas espalhadas por todos os lados, presumi que estava no quarto do Matheus. Mexi minhas pernas e constatei que estava sem calças e vestindo uma camiseta grande de mangas compridas. Cocei meus olhos ainda ouvindo as batidas do lado de fora e me joguei pra fora da cama, caindo no chão de joelhos. Que dor! Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo bagunçado e meus olhos grudentos, já que a maquiagem estava misturada com o meu choro da noite passada, passei a noite toda chorando com Mands e Matheus. Novamente mais batidas na porta e eu pensei em gritar com o filho da mãe do lado de fora, mas como minha garganta doía, tive a sensação que estava rouca, ou seja, não ia conseguir gritar. Uma última batida e então, finalmente, eu abri a porra da porta do quarto. Meu coração parou quando eu vi a imagem de Gustavo ali.

Usava a mesma roupa da noite anterior, os olhos inchados e vermelhos e os lábios tão vermelhos quanto. As bochechas coradas como quem acabou de correr uns bons quilômetros, porém seu rosto ainda estava branco e meio sem vida, como na noite passada. Grandes sombras escuras pousavam abaixo dos seus olhos, seus cabelos bagunçados como eu nunca tinha visto, não de uma forma charmosa, mas como se ele tivesse puxado os fios para todas as direções na noite anterior em sinal de desespero. Em sua mão pousavam papéis, muitos papéis. Eu mal conseguia abrir a boca pra perguntar o que ele estava fazendo ali, ou como ele estava, ou o que ele tinha feito na noite passada. Eu pensei que ia demorar muito para eu vê-lo novamente, que iríamos cair naquela situação clichê onde os namorados brigados ficam sem se ver, ele vai procurar consolo nos braços de fãs e eu fico choramingando em casa sobre o quão estúpida eu fui na noite passada, por mais que todo mundo esteja falando que eu estou certa. Mas, claro, nada na minha vida parece pré-determinado, tudo acontece na surpresa. Por exemplo, desde quando eu ia imaginar que Gustavo ia estar agora parado na minha frente desse jeito?

- Isso aqui é verdade? - Ele levantou os papéis. - Me responde, isso aqui é verdade?
- Se eu soubesse o que é isso, ficaria bem mais fácil eu te responder se é verdade ou não - respondi.
- "Você é a garota mais horrorosa que eu já vi na vida", "O que levou Gustavo Torres a querer uma brasileira de merda?", "Ele merece coisa melhor, essa porra de namoro tá demorando demais pra acabar", "Ela deve ser muito boa de cama, a única coisa que prende o Torres com uma mulher é sexo", e eu nem vou terminar de ler os outros porque - ele suspirou - eu não consigo.
- Onde você pegou isso? - Minha voz saiu em um sussurro quase inaudível. - Gustavo, onde você conseguiu isso?
- Pedi pra Mands me dar sua senha do Twitter - ele me encarou. - Como que você lê isso todo dia e NUNCA disse nada pra mim? Todo esse tempo e você, você guardou como se fosse...
- Um segredo? Uma coisa ruim? - Ri sem humor. - É um segredo, é uma coisa ruim. Só que se você prestasse um pouco mais de atenção em mim ou no que acontece ao meu redor você iria saber...
- Desculpa - ele largou os papéis no chão e me abraçou. Me assustei quando ele fez isso. Seu corpo tremia e Gustavo nunca havia me abraçado tão forte e com tanta dor como ele fazia agora. - Por favor, me desculpa.
- Gustavo, o que você...?
- Eu devia ter visto antes, eu deveria saber antes e... - ele afastou o rosto e me encarou, seus olhos entregavam tudo. Ele chorava. - Não sabia, eu nunca soube! Sempre achei que fosse implicância ou que fosse uma coisa passageira, que com o passar do tempo as fãs fossem entender que eu te amo e que o temos é verdadeiro.
- Não é assim que funciona a mente de uma adolescente apaixonada pelo ídolo - eu disse. - Não é culpa sua...
- A culpa é toda minha, é completamente minha! - Gustavo segurava meu rosto com as duas mãos, ele estava tão perto que eu podia claramente sentir sua respiração quente e ver suas pupilas vermelhas. - Eu não culpo Miguel por ter criado um sentimento por você! Não estava presente como um namorado deve estar, eu só... - ele abaixou a cabeça e vi as lágrimas caírem em cima do seu tênis.
- Você perguntou pra mim várias vezes se eu estava bem, perguntou se eu confiava em você e todas as vezes eu disse que tudo estava bem. Eu menti - levantei seu rosto e o fiz me encarar. - Gustavo, a culpa não é totalmente sua.
- Tudo o que você disse ontem é verdade, tudo - ele encostou a testa na minha. - É claro que você ia mentir, Giovanna, óbvio que sim! Eu preferia acreditar que você estava bem quando eu sabia que nada estava bem, e na minha ausência o Miguel veio!
- Mas eu nunca gostei dele, eu não o amo - agora eu que segurava seu rosto. - Não como eu amo você.

500 Days in LondonDove le storie prendono vita. Scoprilo ora