Capítulo 4

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- NO BRASIL NÃO TEM PEIXE NÃO, CARALHO? É PEIXE!!!

Sábado, dia do show, e lá estava eu agarrada na privada colocando todo o peixe com um tempero suspeito pra fora. Já eram seis da tarde, o show estava começando. Gustavo me mandou umas cinco mensagens, uma mais fofa que a outra, e por último uma bronca: 'obrigado por me deixar com cara de pamonha na frente dos meus amigos'. Desculpa, Gustavo, não acho que seria legal seus amigos me conhecerem exatamente no dia em que to colocando salmão pra fora até pelo nariz.

Mands, ao invés de ser solidária, estava me mandando pra puta que pariu a cada cinco minutos e falando umas palavras estranhas que eu tinha certeza de que eram de Bolton. Ela não respondeu nenhuma mensagem do Gustavo em meu nome, embora eu tenha pedido isso mil vezes. Ela estava brava, mas a culpa não era minha! Nós almoçamos hoje pela primeira vez na escola e o tempero britânico pode ser bem diferente quando você não está acostumada; eu comi salmão e salada, e eu juro que aquele salmão estava com gosto de atum. Não demorou muito pro meu estômago reclamar e, hm, desde as 3 da tarde aqui estou, desnutrida e agarrada ao vaso sanitário sem uma amiga compreensiva ao meu lado. Já tinha ligado para minha mãe e ela tinha me passado a receita do soro caseiro que eu tomava no Brasil - TÃO difícil - e eu já tinha tomado, mas, até aquela hora, nada. E, de acordo com o meu reflexo no espelho, eu estava verde.

- Giovanna, você tem noção do que acabou de acontecer? TEM NOÇÃO? - Ela parou ao meu lado, prendendo meu cabelo novamente em um rabo de cavalo.
- Eu vou vomitar salmão pelo cu se você falar de novo da porra do show - é, eu tava nervosa.
- Gi - ela se sentou ao meu lado. - Pra você pode não significar nada, mas pra mim seria tudo. Tem noção de como eu sou fã deles? Tem noção da sua sorte e você não tá fazendo nada! Passa sua sorte pra mim.
- Mands - ergui meu rosto e limpei o pouco de vômito no canto da minha boca, ela fez careta. - Eu ligo pro Gustavo depois, peço desculpas e pergunto se podemos ir outro dia. Ele é meu amigo agora, lembra?
- Amigo que você não tá fazendo questão de ter a amizade cultivada.
- Número um, eu não fui porque eu não quis, eu tô passando mal - apontei pra mim e pra privada. - Número dois, não queria correr o risco de trombar com a namorada dele por lá.
- A Lauren não é namorada dele de verdade, você sabe disso - ela disse com uma voz penosa. - Ele mesmo explicou pra você.
- Não interessa, Mands, se nós fôssemos seria mais um motivo pra uma fofoca ser criada, e eu não quero isso agora - suspirei, senti meu estômago dar uma pontada, mas eu sabia que não tinha mais nada pra sair. - Eu não entendo, essa Lauren é tão linda, por que não namorar ela de verdade?
- Ela deve ser ruim de cama - Mands gargalhou, se eu tivesse força iria rir junto.

Quando voltei do meu encontro com Gustavo dois dias atrás contei tudo pra Mands, e como era de se esperar, ela ficou desapontada. Nós duas fomos procurar quem seria essa namorada dele e nos deparamos com uma irlandesa chamada Lauren Miller. A tal menina tinha 17 anos, era cantora e era maravilhosa; a pele tão branca que me dava um pouco de medo, os cabelos castanhos ondulados que iam até a cintura, os olhos grandes amedoados e um corpo pra dar inveja na Barbie. Uma super model. De acordo com as notícias, os dois começaram a namorar uns dois meses atrás, tem até foto deles se pegando e tal, mas parece que de uns quinze dias pra cá o namoro deu uma esfriada. Não se tem mais notícias dele, ela sai pra lá e pra cá sem ele e o Gustavo nem preciso comentar o que fica fazendo sem ela. As fãs falam que eles estão pra acabar o namoro, o marketing do 1D afirma que eles estão juntos, e os meninos da banda não comentam nada. Ou seja, é um belo ponto de interrogação.

Não que eu tenha ciúme, não é isso. Mas o Gustavo é uma pessoa encantadora e acho muita sacanagem ele ficar preso em um relacionamento onde ele não é feliz, tem que manter só fachada porque é bom pra 'imagem' dele ou da banda. Ninguém é de ninguém, não se prende ninguém assim. As fãs não gostam dela, dizem que ela é metida e não sabe a sorte que tem; bom, qualquer menina no mundo teria sorte em namorar com Gustavo Torres, ele é um príncipe. Um príncipe que deve estar muito puto comigo no momento.

- O show está sendo transmitido pelo Twitter - Mands disse do quarto dela, sua voz tinha uma mágoa muito grande. - Eles estão tão fofos.
- Aproveita o show - eu falei e nem ouvi resposta. - Vou tomar um banho.
- É bom mesmo, tu tá fedida demais.
- Há, sua linda - eu ri.

Fechei a porta do banheiro e quase me joguei de roupa e tudo dentro do box, eu estava fraca, fedorenta e só queria CAMA! É sacanagem demais ficar doente em Londres, e hoje era pra ser um dia especial, mas NÃO, eu tenho que inventar de comer salmão, sendo que eu nem gosto de peixe! Prometi pra minha mãe que ia manter uma vida saudável e, até agora, me fudi. Tomei meu banho, demorei mais que o necessário, escutava Mands berrar as músicas lá do quarto e, depois de conseguir parar em pé, saí do banheiro já vestindo meu lindo pijaminha Calvin&Hobbs e me joguei na cama ao lado da Mands. Nos últimos dias eu estava dormindo mais com ela do que no meu quarto, então já tínhamos conversado com a escola para ver se podíamos ficar juntas, só que com duas camas de solteiro, por favor. Mands cantava a única música que eu conheciam 'What Makes you Beautiful', e chorava junto, confesso que me deu pena, mas o que eu ia fazer? Ficar com um saquinho o show inteiro? Não, né... Dei uma olhada pra tela do computador e vi os meninos ali, vi Gustavo ali. Sorrindo e brincando com a platéia o tempo todo, pulava, gritava, fazia passinhos de dança ridículos; comecei a entender porquê One Direction fazia sucesso. Eles não tinham uma beleza explêndida, na verdade eram meninos bonitos, mas em um padrão normal. Pareciam os meninos que vão pra escola conosco, brincalhões e fofos. Adolescentes gostam disso, nós nos identificamos. Ali, ouvindo eles cantarem 'Baby you light up my world like nobody else...', eu senti meus olhos se fecharem e acabei adormecendo.

- Giovanna, Giovanna, Giovanna...

Alguém estava me cutucando.

- Giovanna, Giovanna, Giovanna... Pelo amor de Deus, abre os olhos!
- Que foi? - Minha voz saiu ou eu fiz essa pergunta só em pensamento?
- Escuto pedrinhas na nossa janela - ela sorriu. - E eu sei quem são.
- Hã? - abri meus olhos e os cocei, minha boca tinha um gosto amargo ainda e meu estômago roncou alto. Claro, tava sem nada o coitado. - Que foi, Amanda?
- Tem pessoas jogando pedrinha na nossa janela - ela sorria.
- E qual o motivo da sua empolgação? Vai que é ladrão!
- Ladrão não fica jogando pedrinha pra avisar que vai entrar na casa da pessoa, sua retardada - ela me deu um tapa na testa e eu ri.
- Sempre tão delicada - bufei. - Que tem as pedrinhas?
- Vai na janela pra ver quem é, eu já sei - eu sabia que ela tava se controlando pra não pular igual o Bambi.
- O que você aprontou dessa vez? - Perguntei desconfiada.
- Só vai logo, pelo amor de Deus! Eles estão congelando lá fora.
- Eles? - Aumentei a voz, meu coração fez BOOM!

Levantei meio tropeçando nos lençóis e nos meus próprios pés. Abri a janela com tudo e aquele vento forte frio travou minha mandíbula, fiquei mais travada ainda quando olhei pra baixo. Cabelos cacheados, cabelos lisos, curtos, loiros, morenos... Cinco garotos vestidos de preto. Cinco garotos segurando umas sacolas plásticas e olhando diretamente pro nosso andar sorrindo empolgados. Um deles olhava diretamente pra mim, meu estômago roncou mais alto ainda e acho que não era de fome.

- Amanda, o que você fez? - Olhei pra dentro e dei de cara com a Mands.
- Gustavo te ligou assim que acabou o show, aí eu atendi e expliquei pra ele o que tinha acontecido. Que você tava morrendo.
- Essas coisas não se falam pras pessoas - dei uma bronca de leve, ela pareceu nem ligar.
- Enfim... Ele ficou preocupado e preguntou se podia te fazer uma visita. Eu disse que sim, mas só se ele trouxesse comida e o resto da banda junto.
- Você NÃO FEZ ISSO!
- Fiz, tá aí o resultado - ela apontou pra baixo, para aqueles cinco. - Manda eles subirem.
- Por onde, Amanda? - Se você ainda não viu, tem uma escada de emergência ali do lado esquerdo, pede pra um deles puxar a escada pra baixo e eles sobem aqui. Se forem entrar pela entrada principal vão chamar muito a atenção.
- Ah claro, puxar uma escada de emergência às nove da noite não é chamar a atenção!
- Eu só tô dando uma idéia, vai logo... Vou arrumar o quarto.

Bufei e olhei pra baixo, os cinco ainda estavam lá me olhando com cara de dúvida.

- A comida vai esfriar, Giovanna - Gustavo disse levantando o saquinho plástico e rindo.
- Ok, tem uma escada aí do lado de emergência, puxem ela e subam aqui - disse apontando pra escada.
- Não é pra ser usada só em casos de emergência? - Um deles perguntou e os outros riram.
- Dhiego, esse é um caso de emergência - vi Gustavo responder.
- Emergência pra quem? - Vi o tal do Dhiego perguntar e Gustavo olhar pra ele como quem dá uma bronca. - Ah, tá bom.

Eu fiquei na janela meio rindo enquanto eu via a cena dos cinco garotos puxando a escada, fazendo um barulho mais ou menos considerável, e subindo um a um. A escada não era totalmente confiável e eu tava com medo que eles fossem cair, e cair bonito. O primeiro da fila era Gustavo, que segurava duas sacolas nas mãos; atrás dele, o garoto chamado Dhiego subia com mais sacolas; os meninos atrás se equilibravam na escada. Quando eles finalmente estavam mais pertos eu abri a janela por completo para eles entrarem, estava me sentindo mais ou menos uma criminosa escondendo cinco criminosos, tava bem engraçado. Olhei pra Mands, que estava terminando de jogar nossas coisas pra dentro do armário e se aprumava toda, percebi que ela ia ver os ídolos dela ali dentro do quarto, isso era demais! Engraçado, eu os estava vendo como cinco garotos desconhecidos bonitos que iam invadir nosso recinto, e pelo menos iam trazer comida, embora meu estômago não estivesse aceitando muita coisa e eu estivesse com medo de colocar alguma coisa pra dentro.

- E aí? - Um Gustavo sorridente finalmente apareceu na janela, colocou primeiro uma perna e depois a outra, e, por fim, seu corpo todo estava dentro do quarto. - Nossa, você tá horrível.
- Caraca, obrigada - eu respondi rindo, eu sabia que não estava um primor de beleza.
- Dá pra ajudar? - Olhei pra janela e vi Dhiego tentando entrar, e atrás dele mais um.
- Passa as sacolas pra mim - eu disse pegando as sacolas da mão de Dhiego e vendo Gustavo ajudar o restante dos amigos a entrar no apartamento.

Um a um eles entraram, e, quando eu percebi, nosso quarto estava pequeno demais para sete pessoas. Mands já foi logo abraçando e falando com todos eles, seus olhos estavam brilhando e eu não sabia se era por causa das lágrimas que ela estava controlando pra não deixar cair ou se era emoção de ver os ídolos ali na frente dela. Percebi que ela estava agarrada há mais tempo com um deles e deduzi que fosse Matheus, o seu favorito. Enquanto eles conversavam - porque a Mands não tinha calado a boca ainda e falava, falava, falava - eu peguei as sacolas e fui levando pra nossa mini-cozinha. Coloquei todas em cima da pia e do nosso balcão e controlei minha curiosidade de não abri pra ver o que tinha dentro, embora o cheiro que saía delas fosse muito bom, muito bom mesmo. E elas estavam quentinhas, que droga; meu estômago roncou de novo e acho que foi um pouco alto.

- Que aconteceu, Gi? - Gustavo apareceu ao meu lado e eu levei um susto básico, não entendo como ele pode aparecer assim do nada.
- Um salmão suspeito e um estômago sensível - respondi sorrindo com os lábios fechados. - Quis comer comida saudável e me ferrei - ri sem humor.
- Mas você tá melhor agora? - Ele se aproximou um pouco mais e passou a mão de leve dos meus cabelos até meus ombros. - Realmente, sua cara não está nada boa.
- Obrigada por me chamar de horrorosa - eu ri. - Tô um pouco melhor, pelo menos eu parei de vomitar. Minha mãe me passou uma receita caseira de soro e acho que isso fez eu ficar um pouco melhor.
- Desculpa te chamar de horrorosa - ele riu e me abraçou; é, me abraçou, assim do nada! - Você só tá bem diferente da Giovanna que eu vi aquele dia na van.
- Eu tô doente - respondi rindo e ainda aproveitando o abraço. - Desculpa não ter ido ao show...
- Hey - ele me segurou pelos ombros e me olhou de frente. - Não se preocupa com isso, vamos ter mais shows e você vai poder ir - e Gustavo sorriu, ele devia ser proibido de sorrir.
- Oooooiii, casal - o garoto chamado Dhiego apareceu na nossa frente sorrindo, puta que pariu, ele era tão lindo quanto Gustavo.
- Oi, idiota - Gustavo respondeu me soltando e me puxando pela mão até Dhiego. - Gi, esse é Dhiego, Dhiego essa é a Gi.
- Prazer, moça - ele sorriu e me abraçou assim como Gustavo, que lindo! - Então quer dizer que você não é um fantasma.
- Como assim? - Perguntei na dúvida.
- Gustavo ficou falando de você o dia inteiro, e como você não apareceu, nós pensamos que você fosse algum tipo de fantasia ou fantasma do nosso Torres aqui - ele deu um tapinha no ombro de Gustavo que riu sarcástico.
- Acabei passando mal e não pude ir - falei meio sem graça. - Minha amiga quase me trucidou, sério.
- Sua amiga é doida - Dhiego falou e nós três rimos. - Ela não vai soltar o Matheus tão cedo, vai?
- Eu acho que não - falei rindo vendo Mands abraçar Matheus e bater uma foto, depois beijar seu rosto e bater outra foto...
- E você deve ser Giovanna, tô certo? - Um outro apareceu e meu coração fez boooom de novo, pra que tão lindo?
- Sou eu - respondi forçando minha garganta a fazer algum som. - E você seria?
- Miguel Thompson - ele sorriu e me deu um beijo no rosto. - E esse é o Lucas.
- E aí? - O tal Lucas, que era o top de beleza, chegou e me deu outro beijo no rosto.
- Pra que tanto beijo? - Gustavo disse atrás de mim me abraçando por trás e colocando seus braços um pouco abaixo do meu pescoço, perto do colo. - Ela é minha amiga.
- Amiga sua é amiga nossa - Miguel disse. - E desde quando você tem amigas?
- É, mulher na sua mão é coisa passageira... - Dhiego falou, e pela cara dele eu percebi que ele deixou escapulir um segredo deles. Gustavo ficou um pouco mais rígido atrás de mim.
- Não sou como outra garota - eu falei rindo. - E outra, Gustavo tem namorada, mesmo que seja só de fachada. Não quero colocar ele em maus lençóis - olhei pra ele, que estava um pouco mais sério, e depois sorri para os meninos.
- Gostei de você - Lucas apontou pra mim e piscou, eu ri e senti Gustavo soltar meu abraço.
- É verdade que você não conhecia One Direction? - Miguel me perguntou e eu senti minhas bochechas ficarem coradas e quentes. - Há, é verdade.
- Ai gente, parem com isso - escondi meu rosto com as mãos. - Eu me sinto péssima! Mas se querem saber, graças a minha amiga e ao Gustavo eu já ouvi as músicas e acho vocês todos umas gracinhas - eu disse rindo e todos riram.
- Eba, até que enfim Gustavo fez algo que preste - Dhiego falou. - Né... Gustavo? Gustavo?

500 Days in LondonWhere stories live. Discover now