Capítulo 3

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Capítulo 03

Mands me emprestou um sobretudo que seria capaz de me deixar aquecida o tempo todo, eu não tinha roupas quentes suficientes e não estava em meus planos sair à noite em Londres logo na minha primeira semana - ou nos primeiros cinco dias. Ela apenas arrumou meu cabelo de um jeito que me deixasse com cara de normal e disse pra eu não passar muita maquiagem ("lembre de don't need make up to cover up, Giovanna!" - ela repetia enquanto passava um blush, me deixando com as bochechas coradas). Me olhei no espelho e me achei totalmente normal! Calça jeans, botas, blusa cacharrel preta por baixo e um sobretudo caramelo por cima. Luvas e um gorro - é, eu estava de gorro, eu sinto frio nas orelhas -, e esse adereço iria sumir no momento em que eu visse o Gustavo. Se eu falar em voz alta 'eu vou ver Gustavo Torres' vai ser muito estranho, prefiro manter esse pensamento em minha cabeça de forma isolada.

Jeff, meu taxista amigo desde meu primeiro dia, já estava me esperando em frente ao nosso albergue - é estranho falar albergue, então eu vou chamar de apartamento estudantil - e deu umas duas buzinadas, só pra me avisar que já estava ali.

- Perfume, maquiagem... Ai meu Deus, eu não acredito nisso! - Mands sorria e batia palminhas enquanto dava voltas ao redor de mim pra checar se estava tudo bem.
- Mands, não faz pressão, por favor - eu ri nervosa. - Ele é simplesmente um garo...
- Um garoto lindo de uma das minhas bandas favoritas! Não tire essa alegria de mim agora, Giovanna, me deixa ser groupie por você, já que você não está agindo como uma!
- Eu não gosto e nem quero ser groupie - bufei e apertei o sobretudo contra meu corpo. - E estou me sentindo assim, odeio essa sensação.
- Você é mais uma garota sortuda que vai dar uns peguinhas de leve no Gustavo e depois me contar tudo nos mínimos detalhes - ela riu e eu fiz careta. - É sério que você não quer dar uns pegas nele?
- Meu cérebro não funciona desse jeito - bufei de novo. - E agora deixa eu ir, se eu passar mais cinco minutos conversando com você eu desisto.
- Deixa que eu vou no seu lugar então - ela riu.

Cheguei ao andar debaixo em dois segundos, o que a Mands estava falando não ajudava em nada, só me deixava mais nervosa! Eu não queria ir, ele pode ser bonito, mas e daí? Aposto que tem muitos outros garotos da minha idade que são bonitos, sangue europeu é sempre melhor que sangue brasileiro! Diga-se de passagem o McFly, os quatro são maravilhosos! E por eles eu viro groupie. Agora, com One Direction, eu nem sabia quem eles eram cinco dias atrás e agora estou indo em um pseudo encontro com um deles, eu sei que vai ser estranho!

- Boa noite Jeff - falei meio sorrindo.
- Boa noite, criança, como vai?
- Bem, tô bem... - entrei no táxi e fechei a porta. - Pro London Eye, por favor.
- Hm, já fazendo passeios noturnos? - Ele perguntou com uma malícia na voz e eu apenas ri. - Tome cuidado, os britânicos não pensam duas vezes antes de agarrar uma menina.
- Esse é meio... Diferente - falei e mordi os lábios. - Pelo menos eu acho.
- Como sabe?
- Hm, já ouviu falar da banda One Direction?
- Os cinco garotinhos que foram contratados pelo Simon? - Ele perguntou e eu balancei a cabeça afirmando, ele viu minha resposta pelo retrovisor. - Minha filha é louca por eles, tem posters grudados até no teto!
- Hm, legal - eu ri. - Então, digamos que eu vou sair com um garoto que é bem dessa banda - sorri, não ia falar que ia sair com um cara da banda.
- Ah, meio afeminado? - Ele perguntou já rindo e eu ri mais ainda.
- Não diria que é afeminado, apenas com um gosto musical peculiar.
- Gay, aham.
- JEFF! - Eu bati de leve no banco dele e ele gargalhou. - Nem sei porquê estou fazendo isso, esse garoto não faz meu tipo.
- Bom, é sempre legal experimentar - ele sorriu de forma paterna. - Você está em Londres, uma das cidades mais peculiares do mundo, por que não?

E com essa pergunta na cabeça 'por que não' eu fiquei meio calada e permaneci assim até chegarmos ao London Eye.

Assim que cheguei já vi umas sete meninas rodeando um garoto e tirando fotos. Claro, o garoto ali no meio era Gustavo Torres - desculpem, não consigo chamá-lo apenas de Gustavo! Fiquei parada uns metros longe vendo a cena e balancei a cabeça negativamente, o que eu estava fazendo lá? Aquelas meninas eram lindas demais, maldito sangue europeu, como eu já disse. Os cabelos longos, finos e lisos, o corpo esbelto e a pele branca como marfim, não era meu mundo. Respirei fundo e caminhei mais alguns passos, se eu cheguei até aqui eu ia pelo menos ter a descência de falar oi e me despedir cinco segundos depois. Quando eu estava chegando mais perto eu vi uma menina dar um beijo em sua bochecha e tirar uma foto, ele sorria e eu não posso negar que achei o sorriso dele bobo e infantil, porém lindo. Nossos olhares se encontraram e ele soltou um 'heeeeeey' bem animado, a menina que estava há poucos segundos beijando sua bochecha me olhou de cara feia e foi logo puxando o rosto dele chamando sua atenção. Sorri olhando pra baixo, que diabos eu fazia ali?

- Hey, garota - uma voz grossa me assustou e quando eu olhei para o lado vi uma pessoa bem BEM mas bem 'forte' e um pouco branquelo. - Por aqui, por favor.

Mas hein?

Olhei pra Gustavo, que ainda falava com as fãs, só queria que ele me olhasse por cinco segundos pra ver que eu estava mais ou menos querendo ajuda. Olhei pro armário ao meu lado e então vi um crachá escrito '1D' e algumas coisas a mais. Ah, então ele deve ser o tal segurança, ok. Com o coração mais tranquilo eu o segui. Fomos até uma van preta que estava encostada um pouco mais afastada do London Eye, deve ser o carro em que o Gustavo veio e provavelmente que a banda toda usa. Pensei nas meninas ao lado do Gustavo Torres, elas iriam morrer pra estarem aqui.

- Bom, vocês dois tem trinta minutos pra ficarem juntos, o Senhor Torres precisa voltar cedo porque amanhã tem entrevistas logo pela manhã, entende? - Sua voz era grave e rouca e me dava medo, muito medo.
- Claro, tudo bem - concordei quase de forma automática.
- Infelizmente não sera possível vocês irem ao London Eye como ele havia combinado com a senhorita, vocês vão ficar aqui perto da van, eu preciso saber o que você gosta de comer. Hambúrguer? - E eu de novo fiz cara de 'hein?'
- Desculpa, por que não podemos ir ao London Eye?
- Não posso expor o menino Torres, senhorita, há muitas fãs no local que de alguma maneira descobriram que ele viria pra cá hoje - ele falou com a voz um pouco mais calma, menos mal. - Eu tenho por objetivo protegê-lo da mídia e fotógrafos indiscretos. A senhorita deve saber que o senhor Torres é comprometido.
- Co-compro-compro hã?
- Comprometido - ele falou mais pausado pensando que eu fosse ou uma retardada ou não sabia falar inglês. - Tem uma namorada.
- Eu... Eu não sabia - falei baixo. - Então, por que ele me chamou pra vir pra cá?
- Ah meu Deus - ele coçou a nuca, quantas vezes ele não deve ter visto essa cena?
- Desculpa, acho que eu não devo fazer essas perguntas para o senhor, e sim pra ele, estou certa?
- Eu já respondi essa pergunta umas mil vezes por ele - ele sorriu. - Embora ele tenha uma namorada, é mais ou menos fachada pra mídia. É necessário agora no começo da carreira ele ter alguém ao lado, como posso explicar, Teen Vogue acha muito mais bonito fazer uma sessão de fotos com ele e a namorada do que com ele sozinho.
- Então ele namora uma menina apenas porque é necessário? - Perguntei quase aumentando minha voz um decimal acima. - Que ridículo.
- Concordo - o fortão deu de ombros. - É por isso que ele dá essas escapadas com as fãs - eu ia abrir a boca pra falar algo, mas já fui interrompida. - Só pedimos que não comente nada, não tire fotos, seja discreta e não fique no pé dele por Twitter, Facebook ou qualquer outro meio de comunicação virtual. E caso ele te ligue após a noite de hoje, não atenda.
- Fique tranquilo, eu não vou falar nada - quase bufei, sim, eu era a peguete da noite! Vai pra puta que pariu.
- Caso queiram ir para um lugar mais reservado, apenas me informem. Estarei no restaurante logo ali na frente, o senhor Torres tem meu número.
- Se nem podemos ir ao London Eye, pra que eu vou querer ir a outro lugar?
- Se o clima esquentar... Digo... Vocês são jovens...
- Temos trinta minutos! - eu disse entre os dentes. - E eu gosto de hambúrguer.
- Desculpe-me? - Ele não deve ter entendido a última parte, eu tava respondendo uma pergunta anterior.
- O senhor me perguntou se eu gostava de hambúrguer, eu disse que sim - sorri e ele acenou com a cabeça.
- Ok, obrigado pela resposta - quanta formalidade. - Vou buscar o senhor Torres. Por favor, espere perto da van um pouco escondida.
- Tá, já entendi.

Dei um sorriso falso e fiquei ao lado da van de forma escondida como o altão tinha me mandado. Nós estávamos um quarteirão longe do London Eye, a van estacionada em uma rua não muito deserta, mas com outros carros, então ficava meio que camuflado. O céu estava escuro, como uma manta negra, e exatamente nessa rua não tinha luz, o que me deixava mais na escuridão, só a luz de alguns flashes dos carros que passavam ali, mas estavam rápidos demais, então a luz durava pouco. Me encostei na van suspirando e sentindo o vento cortar o pouco de pele exposta que eu tinha, meu rosto. Deve ser muito difícil viver assim, uma pessoa controlando tudo o que você faz, não podendo ir aos seus lugares favoritos e ter que namorar por obrigação apenas pra fazer 'média' com a publicidade. Mas ele tinha namorada, de qualquer forma ele tinha uma pessoa, e eu, como foi deixado bem claro, era apenas mais uma que felizmente teria 30 minutos de amor com Gustavo Torres! Ah, por favor. Depois me dizem que essas meninas não são groupies, é óbvio que são.

Tentei abrir a porta da van, que, ainda bem, estava aberta. Lá dentro estava bem mais quentinho, então me sentei em um das cadeiras, poltronas, sei lá, e fiquei esperando o segurança trazer o garotinho que estava dando uma escapadinha hoje. Estava quase falando pra ele chamar uma das outras fãs e me deixar ir embora pra casa, mas eu iria ganhar hambúrguer de graça, deixa quieto.

- Heeeeeyyy... - a cabeça feliz de Gustavo Torres apareceu na porta da van.

Suas bochechas estavam rosadas, seus lábios vermelhos e seus cabelos iam de um lado pro outro por culpa do vento. Ele também estava com luvas, manga comprida, calça, todo empacotado. Senti um leve perfume vir na minha direção, mas nem me prendi a isso, caso contrário perderia o pouco que me restava da razão.

- Tudo bem, não vamos sair daqui - ele disse ao segurança, e logo depois entrou na van e se sentou de frente pra mim, acendendo a luz e deixando tudo um pouco mais claro. - Desculpa, não sabia que as fãs iriam descobrir onde eu estava hoje.
- Sem problemas - sorri meio sem jeito. - O fortão já me explicou tudo.
- Paul? - Ele sorriu. - Ele é de boa, sempre me ajuda - Gustavo Torres suspirou fundo e passou as mãos nos cabelos, empurrando-os para trás. - E então, como você está?
- Com frio - falei meio seca, eu estava desconfortável, ME DESCULPA!
- Olha - ele inclinou o corpo pra frente e pegou minha mão com uma brandura indescritível, quem era esse moleque? - Desculpa por não sair exatamente como eu planejei, eu realmente queria te levar até o London Eye, de noite é uma experiência incrível! - Ele sorriu e eu quase automáticamente sorri junto. - Espero poder marcar um outro dia.
- Sua namorada não vai ficar brava? - Perguntei.
- Ah, o Paul contou - ele soltou minha mão e eu estralei os dedos. - Nós não nos tratamos como namorados, é... Complicado - ele passou a língua pelos lábios e suspirou. - Não queria te colocar nessa situação.
- Gustavo, digo, posso te chamar de só de Gustavo?
- É o meu nome - ele riu e eu também, eu sou tão babaca.
- Bom, Gustavo - enfatizei o nome dele e ele riu de novo. - Eu não sei exatamente o que você estava esperando dessa noite, não sou como uma fã do seu grupo, digo, eu nem sou sua fã - falei e logo em seguida me arrependi. - Não se ofenda.
- De maneira alguma - ele ainda sorria.
- Continuando, eu não acho certo você ter uma namorada, mesmo que seja por conveniência, e sair por aí ficando com as fãs - suspirei e acabei mordendo meus lábios com um pouco mais de força, eu falo demais. - E eu não sou exatamente fã, acho que outra garota deveria estar no meu lugar. Na verdade, eu estou me perguntando por que eu ainda estou aqui - sorri sem graça.
- Gi, posso te chamar assim? - Ele perguntou fazendo um cara engraçada e eu sorri concordando. - Obrigada pelo hm... Conselho - ele coçou a nuca e riu. - Você na verdade é a primeira garota que fala isso, geralmente as meninas não se importam muito com o fato de eu ter uma namorada.
- Eu não sou normal - ri sem humor.
- Não você não é - ele riu concordando. - Mas isso não é uma crítica, eu realmente queria te agradecer. A razão pela qual eu te chamei pra sair hoje foi na amizade, eu sabia que não ia conseguir nada com você, nem vim com essa intenção - arregalei os olhos assustada. - Não que você não seja atraente, de maneira alguma - ele se preciptou em se redimir. - Você é linda, é muito bonita - murchei meus olhos, não preciso de elogios, a besteira foi falada. - Ah meu Deus, agora você vai me achar o maior idiota de Londres.
- Imagine - falei meio sem forças. - Estou acostumada com isso - dei de ombros.
- Acostumada com o quê?
- Em ser a amiga - eu sorri. - Não se desculpe, Gustavo, de certa forma eu tô aliviada de você ter me chamado só na amizade, amigos são sempre bons - tentei parecer um pouco mais animada, não ia deixar ele mal. - E como eu não sou uma garota que sabe tudo da sua vida, acho que posso te tratar como um amigo mesmo.
- Não se acostume em ser apenas a amiga de um cara, de vez em quando nós queremos um pouco mais - ele sorriu. - Eu não queria te deixar mal, me desculpe.
- Não fica pedindo desculpas - eu ri. - Gente, que conversa desconfortável - comecei a rir e ele riu junto comigo.
- É a primeira vez que eu converso com uma garota desse jeito - Gustavo ainda sorria e era lindo. - Queria deixar claro que eu te chamei como amiga, mas te achei interessante. Desde que formamos a banda não tenho muito tempo para construir amizades e você me pareceu legal, o fato de não me ver como alguém famoso foi um bônus, me senti mais a vontade de te chamar pra sair.
- De nada? - Perguntei na dúvida e ele abriu o sorriso. - Deve ser difícil não conseguir conversar com alguém sem que essa pessoa tenha segundas intenções.
- Um pouco - ele disse. - Do dia pra noite nossa vida mudou, nem nossos amigos antigos nos tratam como antes. Na verdade, hoje eu considero os meninos da banda como meus melhores amigos, nós passamos por tudo juntos e vimos nossa vida mudar diante dos nossos olhos, ninguém sabe, mesmo que de vez em quando eu queria só chamar uma garota legal pra comer um lanche no London Eye sem ser perseguido por fotógrafos e ver fofocas dela no dia seguinte - ele olhou pra mim e sorriu de forma sincera.
- Bom, nós vamos comer um lanche numa van, isso é bem legal também - eu sorri e ele sorriu junto. - Eu posso vir no London Eye depois, é o número um dos meus pontos turísticos que pretendo visitar.
- Mas não vai ser a mesma coisa se você vier de dia - ele disse brincalhão. - E nem vai ter a minha companhia.
- Eu ligo pra você desde o momento em que eu pisar no London até a hora que eu sair, pode ser? - Falei brincando e só depois me toquei do que tinha dito, eu tava mesmo pedindo o número de telefone dele?
- Hm... - ele fez um estalo com os lábios e eu fiquei vermelha. - Pra isso você precisa do número do meu telefone - ele sorriu.
- É, e você não precisa me dar se você não quiser - eu disse. - Na verdade, o Paul deixou bem claro pra eu não te ligar e nem ir atrás de você pelas redes sociais, então esquece o que eu disse.
- Ele diz isso para as meninas que geralmente beijo - ele mordeu os lábios. - E você não é uma delas - eu sorri totalmente sem graça e, devo acrescentar, sem esperança alguma. - Você é amiga, não tem problema ter meu número.
- Então se eu me perder em Londres e precisar de ajuda eu vou poder te ligar?
- Se eu não estiver ocupado, por que não? - Ele sorriu. - Cadê seu celular?
- Espera...

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