Capítulo 8

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Vinte garotas se aglomeraram na frente de um pequeno palco improvisado no meio do estúdio. Vinte garotas gritavam e alcançavam alguns decibéis que até então eu achava impossível de serem alcançados. Vinte garotas choravam, tremiam e quase desmaiavam por cinco garotos. One Direction.
Gustavo, Miguel, Dhiego, Matheus e Lucas estavam no palco ligando os microfones, eles iam cantar duas músicas acústicas e depois iriam embora; acho que iam tirar fotos e dar autógrafos também. Com muita insistência da Amanda, eu estava no meio desse furacão adolescente, e Sam estava um pouco mais afastado paquerando a mocinha da maquiagem que fez o plié para o Dhiego. Eu nunca fui tão acotovelada igual eu estava sendo naquele momento, aquilo só me fez imaginar como seria um show do 1D, eu não ia sobreviver. Eu ouvia coisas como 'você é amiga deles, vai lá pra trás' ou 'sai daqui, você nem é fã de One Direction' e isso me fazia querer chorar. Quando eles começaram a cantar What Makes You Beautiful - só ao som do violão - pensei que ia desmaiar. Mands ainda conseguia ficar em pé, mas eu só queria sair dali; se eu sou amiga deles não tem PORQUÊ eu ficar ali sendo chutada e acotovelada o tempo todo. Olhava pra Mands pedindo misericórdia, mas ela só sabia gritar e berrar tanto quanto as outras; Matheus de vez em quando a olhava e eu tenho certeza de que as outras meninas perceberam isso também. Então chegou o refrão!

Assim que eles começaram 'Baby you light up my world like nobody else', as vinte garotas pularam quase em cima do palco, os meninos tiveram que dar um passo pra trás e eu vi claramente nos olhos de Gustavo um certo pavor. Paul estava ali por perto, mas acalmar vinte feromônios não ia ser fácil nem pra ele; não estava sendo pra mim. Com o passar do refrão os pulos pioraram, os gritos também e os empurrões e chutes também. A loirinha que ama o Gustavo mais do que tudo apareceu ao meu lado e me deu uma cotovelada na costela. Daí pra frente eu só sei de dor, muita dor. Caí no chão de joelhos e coloquei a mão na parte atingida enquanto as outras garotas mal se importaram de me ver ali, eu não conseguia me mexer e mal conseguia respirar. Duas garotas não me viram - ou me viram e fizeram de propósito - e começaram a pular ao meu lado, resultando em me derrubar no chão; só lembro de ser pisada nas mãos, nos cabelos, na perna, nos pés e alguém deu um chute pra trás que acertou meu lábio. Eu não conseguia falar nada, mal conseguia me mexer e se eu gritasse por ajuda ninguém ia me ouvir, eu mal conseguia ouvir os meninos cantando. Gritei um pouco mais alto quando a loirinha fez questão de pisar em minha mão, fiquei em posição fetal ali no chão só esperando a porra da música acabar e quem sabe eu conseguir me levantar; ergui meu rosto, mas só consegui ver Mands lá na frente cantando com Matheus que estava de frente pra ela causando um furor maior nas fãs. Senti meus olhos ficarem cheios de água e não me importei em começar a chorar, tentava levantar e era arremessada ao chão de novo, tentei mais duas vezes, mas a dor em meus braços e pernas pisados não permitia que eu colocasse muita força, o que resultava na minha queda novamente ao chão. Meu lábio doía com o corte, mal sentia minhas costelas e meus dedos formigavam; se é isso que é morrer eu não tô pronta pra isso!

Foi então que eu ouvi berros mais altos, uma voz mais grave. 'SAI, PORRA, SAI DAQUI...SAI, CARALHO...AFASTA, PUTA QUE PARIU!' Me vi sendo carregada por dois braços longos e definidos. Era Sam, e ao seu lado Olívia.

- Coloca seu rosto no meu pescoço Gi, vou te tirar daqui - ele disse me erguendo, a única coisa que consegui fazer foi gemer alto, a dor em meu corpo era absurda!
- Samuel, leve ela agora para a enfermaria e não comente nada - Olívia dizia enquanto caminhava ao nosso lado. - Isso não vai ficar assim, isso não vai ficar assim.
- Dor... AI! - Sam me segurou de mau jeito e minha costela latejou, vi estrelas e tenho uma impressão que apaguei. Minha visão ficou escura e daí pra frente não lembro de mais nada.

- Desculpe, Senhor Torres, você não pode entrar aqui.
- Qual é? É minha amiga, sabia?
- Gustavo, vamos, por favor.
- Vamos nada, Miguel, eu quero ver a Giovanna!
- Vocês não acham que já deram trabalho demais hoje?
- A CULPA NÃO FOI NOSSA!
- Olívia, Olívia!
- Gustavo, desculpe... Ela tá dormindo agora, você não pode vê-la.
- Na verdade eu não vou deixar esse grupo de aproximar da mocinha, com certeza vocês são as últimas pessoas no mundo que ela quer ver no momento.
- ELA É NOSSA AMIGA!
- SUA AMIGA FOI ESMAGADA!
- Gustavo, cara, vamos! Você liga pra ela mais tarde.
- Mands, você me avisa?
- Claro, Matheus, quando a Gi acordar eu aviso pra vocês.
- POR QUE ELE PODE FICAR COM ELA E EU NÃO?
- ELE A SALVOU!
- Obrigado, cara.
- De nada.
- Obrigado o caralho, por que você não me avisou que ela estava sendo esmagada?
- Talvez porque você estivesse preocupado demais cantando o que faz uma garota bonita e paquerando a loirinha da frente?
- ESCUTA AQUI...
- Gustavo, vamos!

Abri meus olhos com uma dificuldade tremenda. Havia uma luz branca bem em cima de mim e eu estava deitada em uma maca médica; não estava com as minhas roupas, e sim com uma camisola rosa clara da Hello Kitty. À minha volta estava uma cortina azul e eu só conseguia ouvir vozes e umas sombras, na verdade várias sombras. Tentei levantar minha cabeça, mas tudo doía; mexi meus dedos e meu braço e eu parecia sentir toda articulação se quebrando. Senti que meu lábio inferior estava inchado e de novo senti vontade de chorar; então me lembrei onde eu estava e me deu uma vontade maior ainda de chorar. SugarScape. One Direction.

- Alguém? - Fiz um esforço pra sair minha voz e deu certo, estava meio rouca, mas na mesma hora o burburinho lá fora parou. E foi aí que eu ouvi alguém gritando pro Gustavo não entrar ali.
- Giovanna - Gustavo apareceu com a roupa que eu o vi mais cedo e com o rosto lívido e branco. - Puta merda, você está bem?
- Vou sobreviver - falei me erguendo em meus cotovelos e tentando sentar, novamente falhei, porque meus músculos ainda doíam. - Ai caralho!
- Deixa eu te ajudar - Gustavo veio até mim e colocou força no meu corpo, ajudando-me a erguê-lo. - Meu Deus, o que fizeram com você?
- Gustavo Torres, agora pra fora! - Era a voz de Olívia.
- Eu não vou sair daqui - ele respondeu sem ao menos se virar, ainda me encarava com aqueles olhos que pareciam penetrar minha alma. - Desculpa, pelo amor de Deus, me desculpa.
- A culpa não foi sua Gustavo - falei. - Foi meio de propósito, não fica se martelando com isso.
- Giovanna...
- Gustavo, eu não vou falar de novo.
- Que bosta! - Ele olhou pra Olívia. - Qual o problema de eu ficar aqui com ela?
- Giovanna precisa se trocar e já vai pra casa. Eu mesma vou levá-la, se você quiser eu telefono e te falo como ela vai estar mais tarde.
- Eu quero ficar COM ELA!
- Ela tem dois amigos que farão isso por ela, Amanda e Samuel - Olívia apontou para os dois, que estavam um pouco nervosos. - Eu não vou falar de novo, Gustavo.
- Nós também somos amigos dela, Olívia - ouvi Lucas dizer. - Por favor, estamos nos sentindo absurdamente culpados.
- Não vai ter jeito, vai? - Olívia suspirou e passou as mãos nos cabelos. - Se mais alguma coisa acontecer com ela, eu juro que nunca mais vocês chegam perto. Me entenderam?
- Sim senhora - cinco vozes responderam.
- Amanda e Samuel, me acompanhem? Eu preciso que vocês assinem o boletim que eu fiz da tarde de hoje. Aceitam ser testemunhas?
- Claro que sim - Mands disse de prontidão. - A revista vai publicar alguma coisa?
- Não - Olívia falou meio cansada. - E caso alguma menina presente publique alguma coisa, vou me encarregar pessoalmente de entrar na justiça. Isso que aconteceu foi errado, muito errado!
- Obrigada - falei olhando para ela. - Obrigada.
- Está dispensada da escola essa semana, Giovanna, fique em casa e repouse. Estamos mandando um comunicado para sua família no Brasil para eles não ficarem preocupados caso saia alguma notícia.
- Minha mãe vai ficar pirada - eu falei sem humor algum.
- Eu espero que ela fique - Olívia disse. - Samuel, Amanda?
- Nos vemos daqui a pouco, Gi - Mands disse me olhando com carinho.
- Sam - chamei-o. - Obrigada pela ajuda.
- Ao dispor - ele sorriu pra mim e eu senti Gustavo ficar rígido ao meu lado.
- Eu preciso que vocês saiam para deixar a menina Giovanna se trocar.
- Quer ajuda? - Gustavo perguntou, mas na mesma hora eu disse que não.
- A enfermeira vai me ajudar - respondi. - Pode esperar lá fora.
- Não vou sair daqui - ele beijou minha mão e saiu para me esperar junto com os outros meninos.

Com muita dificuldade eu consegui tirar a camisola da Hello Kitty e vesti minha roupa. Eu não estava com machucados, mas o meu corpo todo doía por culpa das pisadas. Dei uma olhada em meus braços e constatei que haviam alguns roxos ali, nem me de ao trabalho de ficar olhando por muito tempo porque eu sei que iria ficar assustada, minhas mãos ainda estavam inchadas e com alguns cortes e meu lábio dolorido. Não sei mesmo se queria ficar na companhia dos meninos, de uma certa forma eu teria que concordar com a enfermeira, eles eram as últimas pessoas no mundo que eu queria ver agora. Eu sei que nada disso era culpa dos meninos, pelo amor de Deus! Mas foram as fãs da banda que fizeram isso comigo, eu acho que estava sentindo uma raiva por terceiros - se é que dá pra me entender. A primeira pessoa que eu ia falar era com o Dhiego, por culpa da porcaria do tweet as fãs ficaram piradas e olha o que aconteceu comigo! Eu estava estressada, com dor e querendo tacar uma bomba em vinte garotas eufóricas e dar um soco nos cinco popstars!

- Oi, Gi - Matheus veio até mim e me deu um beijo no rosto quando eu saí da enfermaria já com a minha roupa. - Quer alguma coisa?
- Quero ir pra casa - falei de forma monótona. - Eu queria só falar uma coisinha, pro Dhiego.
- Pra mim? - Ele apontou pra si mesmo com uma cara assustada. - Que foi que eu fiz?
- Quando eu pedir pra vocês não comentarem nada no Twiyter, é pra vocês NÃO comentarem nada no Twitter - falei brava. - Dhiego, aquele mínimo tweet matou o fandom inteiro! Quando eu saí as vinte garotas estavam me olhando com tanta raiva que eu sabia que ia morrer, você tem noção?
- Sinto muito, Gi - ele abaixou a cabeça, tá, a raiva tinha ido embora. - Eu pensei que as fãs já fossem estar acostumadas com você e o Gustavo. Ele quase te pediu em namoro hoje.
- É, mas não pediu - e agora olhei pro Gustavo. - E as fãs nunca vão se acostumar com isso! Tem noção do que acabou de acontecer? Não foi um acidente, Dhiego, foi de propósito, elas me derrubaram no chão, elas me chutaram!
- Nós gostamos das nossas fãs, Giovanna, foi só uma crise de ciúme - Gustavo falou sem ao menos me olhar. É SÉRIO que ele ia defender as pirralhas?
- SÓ UMA CRISE? - Aumentei minha voz. - Isso pra mim não é uma crise, isso pra mim é crime! - Apontei pro meu braço com alguns pequenos hematomas. - Isso pra mim é falta de vergonha na cara, é falta de tapa! - Mostrei meu lábio cortado. - É um bando de filhinha de papai que acha que pode fazer o que quiser.
- Você está falando das nossas fãs - Matheus disse e eu quis quase morrer. - Elas não fizeram por mal.
- Matheus Mathew - suspirei pesado e engoli o choro. - Eu juro que vou sair daqui agora porque eu não quero prejudicar o pouco de amizade que nós temos.
- Onde você vai? - Miguel perguntou preocupado, eu acho que ele e Lucas eram os únicos que tinham uma noção do que acabara de acontecer.
- Vou pegar um táxi e vou pra casa, e vou ficar trancada por uma semana.
- Chama o Sam pra cuidar de você! - Gustavo soltou, os meninos soltaram um suspiro pesado e ouvi Miguel ralhar com Gustavo.
- Gustavo - voltei os passos que tinha dado e o encarei. - Foi muito bom conhecer você, mas, por favor, suma da minha vida pelos próximos cinco dias.
- Com prazer - ele respondeu.

Engolindo o gosto amargo em minha garganta e nem percebendo que minhas lágrimas estavam caindo de meus olhos, me virei e deixei One Direction para trás. Ouvi Miguel e Lucas ralharem com Gustavo e Matheus e Dhiego ficarem em silêncio. Quando cheguei do lado de fora, cinco fãs me esperavam e me olhavam com cara de pena, pelo menos não vi aquela raiva tão conhecida em seus olhares. Era um pouco mais de quatro da tarde, e no inverno em Londres já é escuro e já está bem frio, eu estava apenas com uma camiseta e calça jeans, com o frio a dor em meus braços ficou ainda mais intensa e eu fiz careta quando passei dos portões principais da SugarScape.

- Giovanna Donatelli? Giovanna?

Uma menina de aproximadamente catorze anos me chamava. Sua pele era branca como todo britânico e suas bochechas coradas. Seus cabelos eram lisos e ruivos, todo despontado e com aquela franja enorme que as britânicas gostam de usar; ela me olhava com aqueles grandes olhos verdes cobertos de rímel e lápis preto, seu rosto me lembrava o de um lêmure, porém muito mais angelical. Vi que ela tinha escrito na bochecha o logo do One Direction e presumi que ela fosse fã, porém ela continuava chamando meu nome de forma tão doce que eu não pude simplesmente ignorar sua presença ali.

- Pois não? - Falei parando onde estava e abraçando meu corpo.
- Meu nome é Carrie e eu... Eu te adoro - ela sorria, sorri sem ao menos pensar. Como que ela podia me adorar?
- Desculpa, o quê?
- Eu adoro você, eu e minhas amigas - ela apontou para um grupo de meninas atrás dela, mais ou menos no mesmo estilo e mais ou menos com a mesma idade. - Você é linda e eu acho que você faz um casal fofo com o Gustavo.
- Obrigada, mas nós... - olhei para o grupo e percebi um certo brilho no olhar de todas, que é isso? - Somos amigos.
- Não é o que falaram por aí - ela riu de forma desengonçada e sem mostrar os dentes, percebi que ela usava aparelho. - Posso tirar uma foto com você?
- COMIGO? - Arregalei os olhos. - Eu... Eu tô acabada agora!
- É verdade o que falaram? Que pisaram em cima de você durante o photoshoot?
- Quem disse isso? - Perguntei pra loirinha de cabelo azul borrado atrás que falava com um sotaque muito forte.
- Saiu no Tumblr, tinha até um vídeo. Aí apareceu um cara fortão e te tirou de lá, a cara do Gustavo foi inapagável! Fizeram até gif.
- Oh meu Deus - coloquei a mão na boca, a Olívia ia morrer. - Você pode me informar quem postou?
- Não lembro o endereço dela, mas eu posso te deixar um link no seu Twitter e depois você olha - ela sorriu. - Tem como você pedir pro Gustavo me seguir no Twitter?
- Claro - eu disse atordoada, era muita informação pra mim. - Escreve em um papel o seu Twitter que eu passo pra ele.
- AH, OBRIGADA! - Ela gritou, mas eu nem me importei. Vi o grupinho se aglomerar e escrever o Twitter de cada uma em um pedaço de papel. Olhei para o portão da SugarScape e vi os cinco garotos atravessando o portão. Na mesma hora as meninas pararam de escrever e começaram a tremer, chorar... Essa era uma reação normal?
- MEU DEUS! MEU DEUS! MEU DEUS!
- SÃO ELES! SÃO ELES! SÃO ELES!
- Com licença, meninas, eu realmente preciso ir embora - falei sabendo que nenhuma delas iria prestar atenção no que eu acabei de falar.
- NEM PENSAR! - A tal Carrie disse - Fica, quero tirar uma foto com você e o Gustavo juntos.
- Realmente não seria...
- OIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!! - Miguel se aproximou de nós e Carrie parou de falar comigo para dar pulinhos e gritinhos e abraçar Miguel Thompson.
- Oi, linda, tudo bem? - Ele perguntou sendo completamente fofo, sorri sem ao menos perceber.
- E aí? Como estão? - Lucas disse se aproximando do outro grupo e abraçando as meninas.

Um por um falaram com as fãs, aquele One Direction que estava há pouco tempo no photoshoot ou na enfermaria não era o mesmo que estava lá fora. Aquele era o grupo que sorria para as fãs, que era simpático e que sempre tinha que estar de bom humor porque qualquer deslize podia passar uma má impressão; mas pelo que eu estava vendo não era esforço algum sorrir, tirar fotos, dar autógrafo e ser simpático. As meninas estavam até que controladas, choraram um pouco, mas o que mais falavam era o tão famoso 'Ai meu Deus, ai meu Deus'. Duas delas gravaram o encontro, pediram para eles falarem 'oi' para - o que eu supus - serem outras amigas, os viram fazendo gracinhas para a câmera e pelo sorriso e olhar delas, percebi que as meninas estavam mais apaixonadas ainda pela banda. Eu estava afastada com os braços cruzados e tremendo de frio, ia ser rude eu sair assim do nada? Mas ninguém estava prestando atenção em mim mesmo! Dei uma olhada em meu braço e os roxos estavam menores, porém mais escuros, minha pele arrepiada e eu tava começando a me sentir meio mal por culpa do frio. Precisava ir embora dali.

- Vocês se importam se eu for falar com a nossa amiga? - Lucas disse para a loirinha com mechas azuis.
- De jeito nenhum, ela é linda!
- Obrigada - ele sorriu e veio na minha direção. Sorri com os lábios fechados e o vi tirar o casaco caramelo que ele usava. - Pega, Gi.
- Estou quase indo embora, Lucas, eu estou bem - falei tentando controlar meus queixos que não paravam de bater, mas foi em vão.
- Será que, por favor, você pode pegar meu casaco? - Ele sorria. - Ou eu vou ter que enfiar ele por seus braços?
- UGH! - gemi e me certifiquei que as fãs não estavam olhando. Coloquei o casaco de Lucas e na mesma hora me senti melhor. - Volta lá com as meninas, eu sei cuidar de mim.
- Pra que esse mau humor todo? - Lucas falou meio triste - Vem aqui.
- Lucas Tunner! - Eu ia tentar dar uma bronca, mas Lucas me abraçou por trás e ficou passando as mãos com força em meus braços a fim de me esquentar.

Na mesma hora meu queixo parou de bater e minha respiração voltou ao normal. Lucas parou de passar as mãos pelos meus braços e simplesmente ficou ali abraçado comigo e com o queixo encostado em minha cabeça. Não teve nada de romantismo e nem frio na barriga, nada mesmo; naquele momento eu simplesmente senti que Lucas gostava de mim como amiga e por alguma obra do destino que eu nunca vou entender, eu também gostava muito dele. Ele e Miguel eram os únicos que me mandavam mensagens apenas pra saber se eu estava bem, apenas para falar comigo; e agora com essa simples demonstração de carinho eu acabei de eleger Lucas meu melhor amigo da banda. Enquando estávamos abraçados, vi Gustavo parar para tirar uma foto com Carrie e depois olhar diretamente para Lucas e eu, seu rosto se contorceu numa mistura de surpresa e depois decepção. Carrie abriu a boca para falar alguma coisa, mas depois se calou vendo a foto que tinha acabado de tirar com Gustavo e dando pulos de alegria.

- Eu acho que você deveria ir lá falar com elas - falei baixinho para Lucas. - Elas estão aqui pra ver você, sabia?
- Vou chamar o Gustavo - ele disse me soltando do abraço. - Pega leve.
- Lucas...
- Gi - ele ficou de frente pra mim passando a mão no meu rosto onde estava meio arroxeado e depois em meus lábios no corte, sorri meio triste. - Aquele filho da puta te adora! - Ele riu. - Sério, eu nunca vi o Gustavo ficar babando em uma garota como ele baba por você, ficar o dia todo esperando notícia sua e quando você manda uma mensagem ele fica com cara de idiota e sorrindo pro celular. Todos nós tiramos uma com a cara dele, porque, na boa, ele fica muito gay!
- Vou tentar traduzir o que você disse, ele gosta de mim? - Perguntei meio rindo e Lucas gargalhou.
- Não, ele não gosta - ele ponderou. - Ele está totalmente apaixonado por você.
- Ai meu Deus!
- Sabe como ele ficou quando descobriu que você não estava mais com a sua sala? Ele ficou totalmente perdido e errou a letra de More Than This, tem noção? Logo na primeira parte o cara já errou porque não te viu lá - Lucas falava com tanto carinho na voz que eu estava me derretendo toda. - Nós realmente não te vimos, Gi, digo, quando as meninas começaram a pisar em cima de você.
- Eu imaginei isso - mordi os lábios, fiz careta porque mordi bem em cima do machucado.
- Se tivéssemos visto teríamos parado de cantar na mesma hora - ele falou. - Assim que acabamos, Gustavo foi correndo saber o que tinha acontecido com você, mas as fãs não nos deixavam sair e...
- Lucas, eu não preciso que você me explique nada, eu entendo perfeitamente. Essas meninas estão falando do photoshoot desde o primeiro dia de aula, todo mundo estava muito eufórico - falei. - Mas é que o Dhiego twittou aquilo e eu não estou realmente em uma zona de conforto agora. Tem pelo menos cinco meninas da minha sala que são apaixonadas por vocês, mas de uma maneira mega doentia.
- Percebi isso hoje - ele disse balançando os ombros.
- Mas elas sãs fãs, elas amam vocês mais do que a própria vida! Porém tudo tem limite, Lucas, e hoje elas passaram do limite, eu só queria que Gustavo entendesse isso.
- Eu entendo... - Gustavo estava parado atrás de Lucas nos encarando. - Posso ter um momento com você?
- Demorou hein? - Lucas falou meio brincando arrancando um sorriso de leve meu e de Gustavo. - Cadê as meninas?
- Estão lá gravando uns vídeos - Gustavo apontou para as fãs. - Elas são engraçadas.
- Beleza - Lucas respondeu saindo. - Se cuidem.

Gustavo e eu nos encaramos por alguns segundos antes de qualquer coisa. Minhas mãos estavam no bolso do casaco de Lucas e eu balançava meu corpo pra frente e pra trás como se fosse aquele tipo de criança que quer alguma coisa, mas não sabe o que fazer pra pedir. Gustavo estava quase da mesma forma que eu, mas suas mãos estavam no bolso da calça e ele não estava balançando o corpo, ocasionalmente ele mordia os lábios enquanto me encarava, quando eu fui fazer o mesmo novamente me machuquei e fiz careta. Ele sorriu quando viu isso; já disse que ele deveria ser proibido de sorrir?

- Tá doendo? - Ele perguntou apontando para meus lábios.
- Só quando eu mordo sem perceber, o que está acontecendo com muita frequência.
- Hm - ele riu com os lábios fechados. Se aproximou mais de mim, juntou seu dedo indicador e o do meio e deu um beijo neles ainda me encarando. Veio até mim e encostou seus dedos recém-beijados em meus lábios e sorriu. - Ainda não estou autorizado a beijar seus lábios, esse é o máximo que posso fazer agora.
- Já vale o esforço - tentei responder, o simples toque me fez ficar tonta e sonolenta, e era só o DEDO do Gustavo! - Eu fui grossa com você antes, me desculpe.
- Você está certa - ele suspirou. - Eu fui estúpido com você também, me desculpe.
- Gustavo, isso tudo está me deixando confusa...
- Vem aqui - e ele me abraçou. Ali, sem muito o que falar, sem muito o que fazer, fui tomada pelos braços de Gustavo, e quando me posicionei, estava envolvida em um abraço.

Senti seu corpo desmoronar em cima do meu num misto de descanso com desespero, sua respiração pesada se misturava com a minha em uma perfeita confusão. Seus braços ficaram ao redor de minha cintura e me apertaram forte, eu estava com os meus ao redor do seu pescoço e meu rosto enterrado na curva de sua clavícula. Percebi que ele suspirava e a sensação de sentir gás carbônico quente saindo de sua boca me dava arrepios e fazia meu frio voltar, por mais que a jaqueta de Lucas me esquentasse, algo no universo me deixava com frio e trêmula. Talvez fosse esse garoto que tinha em meus braços, ou ele me tinha nos braços...

- Acho que vamos ter que adiar o nosso jantar - falei saindo do abraço e tentando sorrir. - Não estou em condições de sair desse jeito hoje.
- Eu entendo - ele passou a mão por meu rosto e sorriu. - Melhor você descansar, quer que eu fique com você hoje ou acha melhor ficar sozinha?
- Na verdade...
- AHH VOCÊS DOIS SÃO TÃO LINDO-O-O-O-O-O-OS! - Carrie apareceu meio do nada ao nosso lado e bateu uma foto com um flash muito forte, fiz careta. - Gente, me desculpa, atrapalhei?
- De maneira alguma - respondi rindo, olhei pra Gustavo, que sorria de forma marota para mim. - Você é muito legal, Carrie.
- JURA? - Tem como essa menina falar sem ser gritar? - Eu acho você a garota mais linda que eu já vi na vida, e vocês dois super combinam!
- Nós não somos namorados - falei de novo, mas Gustavo parecia se divertir.
- Carrie? - Gustavo olhou pra menina e a abraçou, parecia que eu estava vendo Mands na minha frente de novo. - Você acha que nós combinamos?
- Acho super - ela disse ainda eufórica e com o rosto muito vermelho.
- Você acha que ela deveria aceitar ser minha namorada? - Ele falava e me encarava, com um sorriso pra lá de malandro. Apelar pra fã é sacanagem!
- Você já a pediu em namoro? - Carrie olhou para nós dois, eu sorri sem graça e balancei a cabeça negativamente. - Gustavo Torres, como que você pergunta pra mim se eu acho que ela deveria namorar com você sendo que a proposta nem foi feita?
- Carrie? - Eu fui até ela e sorri. - Você é uma garota muito, muito legal - falei e ela abriu o maior sorriso que já vi na vida. - Quem é seu favorito?
- Miguel Thompson - ela disse quase se sufocando no próprio oxigênio.
- Faz um favor pra mim? - Ela balançou a cabeça nervosamente. - Chama o Miguel? Eu preciso perguntar uma coisa pra ele.
- Eu? Eu vou chamar Miguel Thompson pra Giovanna Donatelli? - Ela se afastou um pouco e arregalou os olhos. - Meu Deus, esse é o melhor dia da minha vida!
- Você distraiu a fã?
- Aham - respondi rindo. - Gustavo, pare de ficar colocando suas fãs nesse bolo!
- Só fiz uma pergunta sem malícia alguma - ele sorriu.
- Não faça!
- Gi, me chamou? - Miguel apareceu. Carrie estava meio perdida com as amigas ao fundo conversando com os outros meninos.
- Tem como me levar pra casa?
- Hey, eu tô aqui! - Gustavo bufou.
- É, eu sei, mas eu to precisando conversar com o Miguel... Sozinha.
- Primeiro a jaqueta do Lucas - Gustavo apontou pra jaqueta - E agora uma conversa com o Miguel... Tô ficando perdido!
- Eu só preciso conversar com seu amigo primeiro, antes de tomar uma decisão a respeito de nós dois - falei indo até Gustavo e segurando sua mão. - Eu quero isso, mas me dá um tempo.
- O quê? - Ele parecia não acreditar no que eu acabei de falar, nem eu acreditava direito. Miguel atrás de mim soltou um muxoxo engraçado. - Giovanna, você tá me pedindo em namoro?
- Não, imbecil - falei. - Tô afirmando que sim, eu quero namorar com você. Mas não, não agora. Estou afirmando que eu gosto de você e que, apesar do que aconteceu hoje, eu acho que, acho que consigo passar por cima de tudo. Existem fãs que aprovam você e eu, por que não tentar algo mais concreto?
- Você não tá falando sério - ele sorria, e dessa vez era um sorriso que eu não conhecia, era novo. - Giovanna... Gi...
- Gustavo - eu sorri. - Eu só tenho que conversar com Miguel - apontei para Thompson, que estava atrás de nós. - Eu go-gosto dele.
- Como amigo!
- Óbvio - eu ri. - Tudo bem pra você?
- Claro - ele entrelaçou os dedos com os meus. - É bom saber que você quer o mesmo que eu.
- É bom tirar esse peso de mim também - suspirei. - Mas eu não sou melosa, então já cansei dessa conversa.
- Por que eu escolhi gostar de você? - Ele disse baixo e só eu escutei, ri igual uma menininha de cinco anos.
- Porque você é babaca! - Respondi me afastando e indo até Miguel. - E aí, vamos?
- Tá com fome? - Ele me perguntou já sorrindo e me abraçando. - Tô morrendo por um hambúrguer.
- Se alguma fã me ver com você...
- Para de pensar nas fãs! - Ele disse. - E aí? Eu pago.
- Vamos - falei sabendo que não ia vencer essa discussão.
Miguel e eu fomos caminhando juntos para um dos carros onde o One Direction veio. Gustavo se juntou com os outros meninos e eu os vi se despedindo das meninas e elas pulando felizes no momento em que eles viraram de costas. Ri comigo mesma enquanto sentia Miguel me abraçar mais pra perto.

Fomos para a Queen's Way, um bairro mais tranquilo e, devo acrescentar, bem terceira idade. Sentamos-nos em uma lanchonete de nome estranho, parecia o Pônei Saltitante do Senhor dos Anéis, mas com menos hobbits e eu não vi Aragorn em lugar algum. Miguel pediu um cheeseburguer bacon duplo, batata média e um milkshake gigante de chocolate com baunilha. Eu pedi um milkshake pequeno de morango, estava meio enjoada por tudo o que tinha acabado de acontecer, na verdade eu só ia beber algo pra fazer companhia pra Miguel e porque eu sou um pouco gorda mesmo.

- O que você acha? - Perguntei quando Miguel parou de mastigar seu cheeseburguer e depois de muita conversa fiada entre nós dois. - Gustavo e eu.
- Acho fofo - Miguel me respondeu e nós caímos na gargalhada. - Sem brincadeira, acho fofo.
- Pulando a parte do conto de fadas, vamos ser realistas...
- Quantos anos você tem, Giovanna Donatelli?
- Por quê?
- Porque às vezes você parece uma velha! - Ele disse sério, bebeu um gole do seu milkshake e me encarou. - Semana passada eu conheci uma garota.
- Jura?
- Não rolou nada - ele deu de ombros. - Mas duas fãs me viram com ela e no dia seguinte ela tinha deletado o Twitter - ele suspirou. - Ela era linda, mega gente boa e eu fiquei muito interessado nela.
- Sinto muito, Miguel - falei baixinho. - Eu não fiquei sabendo de nada.
- Foi meio obtuso, ninguém falou nada a respeito e foi uma fofoca espalhada só pra quem vive e respira One Direction - ele riu sem humor. - Voltando pra história, essa menina me mandou uma DM usando a conta de uma amiga dela. Disse que realmente tinha gostado de mim, ela é meio você, não é bem nossa fã...
- Tadinha - eu ri e ele também.
- É, eu sei - ele riu. - O ponto em questão, Gi, é que eu posso ter perdido a oportunidade de ter conhecido uma garota legal por culpa das fãs. Eu sei que é tudo meio assombroso e que as coisas estão acontecendo rápido demais em nossas vidas, mas estamos perdendo coisas no caminho e isso não é legal. Por mim eu iria chamar aquela garota pra sair, mas como posso fazer isso se nem ela quer falar comigo?
- Você acha que eu devo investir no Gustavo?
- Eu acho que você tem que investir na sua felicidade - ele sorriu. - Somos jovens apenas uma vez na vida, Giovanna, aproveita.
- E as fãs?
- Elas vão te amar da mesma maneira que nós te amamos, e se não gostarem de você, vamos aprender a lidar com isso.
- Você sabe que eu to completamente apavorada, não sabe?
- Sei sim, tá bem estampado na sua cara - ele riu. - Mas o Gustavo também está com medo, ele tá cagando de medo! Ele gosta de você, mas tem medo de te chamar para esse furacão que está a nossa vida; infelizmente não escolhemos de quem vamos gostar, Gi, e você foi a garota que captou a atenção dele.
- Entre tantas ele tinha que escolher a mais cabeçuda de todas - falei rindo sem humor algum.
- Ele não podia ter escolhido melhor - Miguel sorriu.

Passei minha noite sozinha, Amanda e Matheus - com a ajuda de Paul - fugiram escondidos para algum lugar que eu suponho que seja a casa dele. Pensei em mandar mensagem para Gustavo perguntando se Matheus estava com uma meia na porta para bloquear a entrada dos meninos, mas depois mudei de ideia. Primeiro porque eu não estava no clima de mandar mensagem pro Gustavo, segundo porque eu também não queria saber se a Mands estava mandando ver com o Matheus - informação demais na mesma noite. Embora eu ame a Mands, uma parte de mim diz que ela se preocupa primeiro com ela e depois com os outros; ok ela é fofa e ficou preocupada comigo, mas tecnicamente hoje foi um dia mais ou menos traumatizante pra mim. Eu literalmente fui pisoteada por fãs, parei na enfermagem, a Olívia ficou puta, briguei com o Gustavo por cinco segundos, encontrei fãs, me declarei pro Gustavo, jantei com o Miguel e ainda por cima no período da manhã eu tentei tirar uma foto foda para sair no editorial da SugarScape. Eu estou sendo egoísta demais em achar que queria só um pouquinho da atenção feminina da minha amiga? Digo, eu tô passando por uma crise e de vez em quando ter uma AMIGA do lado ajuda! E muito. Ah, que saudade da minha MÃE!

Dei uma olhada nos livros que eu trouxe do Brasil, avistei um que vinha protelando a leitura há um bom tempo. Jogos Vorazes. Não é exatamente meu tipo favorito de livro, mas é o que temos pra hoje; desisti de assistir televisão depois que vi que a única coisa que canais sabiam falar era sobre One Direction, a internet estava cheia de comentários sobre o dia de hoje, fotos da minha pessoa caída no chão, Gustavo com a cara de assustado possivelmente quando Sam levantava e me levava para a enfermagem. Tinha comentários de fãs que estavam ao meu lado, que realmente não gostavam do que viam e que acharam um absurdo o que tinha acontecido na SugarScape, outras perguntaram porque eu não tinha morrido. Embaixo dos gifs as tags diziam: #porque #não #morreu #? Ou o pior #tentando #chamar #atenção #do #bebe, ah, claro, eu estava querendo chamar a atenção do Gustavo sendo esmagada por vinte fãs! Sendo que eu tinha falado com ele cinco minutos atrás e podia falar com ele qualquer hora, mas NÃO, eu tinha que chamar a atenção do Gustavo no chão esmagada! Agora eu acredito nisso que você não pode acreditar em tudo o que você lê, e cada vez mais eu tenho certeza de que as fofocas que aparecem são inventadas por fãs e pessoas que não tem o que fazer. Esse material que estava agora na internet foi divulgado por alguém da minha sala, DA MINHA SALA! Como que eu vou encarar todo mundo amanhã? Tá, chega... Peguei Jogos Vorazes e me joguei na cama, quem sabe um pouco de ação não ia tirar o foco dos meus pensamentos estranhos.

"Uma vez, quando eu estava em uma cobertura numa árvore, esperando imóvel por uma caça a vaguear, eu cochilei e caí 3 metros no chão, caindo sobre minhas costas. Foi como se o impacto tivesse bloqueado todo fragmento de ar dos meus pulmões, e eu fiquei deitada lá, lutando para inalar, exalar, fazer qualquer coisa.
Era como eu me sinto agora, tentando lembrar como respirar, incapaz de falar, totalmente estupefata enquanto o nome salta para dentro do meu crânio. Alguém está agarrando meu braço, um garoto de Seam, e acho que talvez eu comecei a cair e ele me pegou. Deve ter sido algum engano. Isso não pode estar acontecendo. Prim era uma tira de papel entre milhares! Suas chances de ser escolhida eram tão remotas que eu nem mesmo me incomodei em ficar preocupada. Eu não tenho feito nada? Tomado o tesserae, recusando a deixar ela fazer o mesmo? Uma tira. Um tira entre milhares. As chances tinham estado inteiramente a favor dela. Mas isso não importou."


Nem a leitura estava me fazendo bem, a imagem novamente da SS, das fãs! E minha conversa com Gustavo depois e eu tecnicamente me declarando, e depois o Miguel falando que eu deveria de verdade investir nessa relação! Eu sou muito cagada ou será que eu não gosto do Gustavo o suficiente pra ficar com ele apesar de todo mundo odiar? Todo mundo que eu digo são as fãs, e se as fãs não gostam isso vai ser um belo problema. Digo, se ele escolhesse alguma fã pra namorar, eu tenho certeza de que ela não ia se importar com o fato de outras meninas ficarem com inveja, na verdade eu tenho certeza de que ela ia adorar essa possibilidade; e agora eu estou aqui! Gustavo gosta de mim e eu gosto dele, mas será que gosto o bastante? Sentir calafrios quando se está perto dele não significa nada, ele é bonito e garotos bonitos dão arrepios - pelo menos pra minha pessoa - e eu sinto saudades, e cada vez que ele me manda mensagem eu começo a sorrir igual boba e sinto borboletas no estômago bem do jeitinho mais clichê que existe!

""Prim!" Um grito estrangulado sai da minha garganta, e meus músculos começam a se mover de novo. "Prim!" Eu não preciso empurrar pela multidão. As outras crianças fazem um caminho imediatamente me permitindo uma passagem direta para o palco. Eu a alcanço justo enquanto ela está para subir o piso. Com um arrastão do meu braço, eu a puxo para trás de mim.
"Eu me voluntario!" Arfo. "Eu me voluntario como tributo!"
Há alguma confusão no palco. Distrito 12 não tinha um voluntário em décadas e o protocolo tinha ficado enferrujado. A regra era que uma vez que o nome do tributo tinha sido puxado do globo, outro garoto elegível, se um nome de garoto tinha sido lido, ou garota, se o nome de uma garota tinha sido lido, pode andar para tomar o lugar dele ou dela."

Será que eu teria coragem de me voluntariar como tributo? Digo, tributo não... Me voluntariar como namorada de Gustavo Torres? O que seria mais importante pra mim? Tem muita coisa em questão agora e minha cabeça está em um nó sem fim:

- ser namorada de Gustavo Torres
- terminar meu curso de fotografia em plena tranquilidade
- ficar no anônimato e morrer de ciúme se ele aparecer com outra garota

Eu queria que minha vida fosse um pouquinho mais simples, é pedir demais?

500 Days in LondonWhere stories live. Discover now