Capítulo 42

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O tempo todo eu tinha que pedir pra Gustavo passar protetor solar. Estava muito quente, muito sol, muito calor e ele não está acostumado com isso, porém se eu falasse mais uma vez ia receber outro fora, tanto dele quanto do meu pai. Meu pai, por sinal, estava muito contente no karaokê com meus tios cantando Boate Azul, e Gustavo tentava ler o que estava escrito - ou seja, a letra da música - e era só gargalhada porque meu pai era um terrível cantor. Mas, muito ruim mesmo.

Sair de que jeito,
Se nem sei o rumo para onde vou
Muito vagamente me lembro que estou
Em uma boate aqui na zona sul
Eu bebi demais
E não consigo me lembrar sequer
Qual era o nome daquela mulher
A flor da noite na boate azul


- AOOOOOOOOOOOOO PAIXÃÃÃÃOO!
- Pai do céu! - abaixei minha cabeça em total vergonha.

Gustavo olhou pra mim e me cutucou. Eu nunca tinha o visto com um sorriso tão retardado em toda nossa vida juntos, nem quando ele fez o show no Madison ele parecia tão feliz. Eu só queria saber se esse sorriso era mesmo de felicidade ou pânico, porque minha família estava quilômetros de saber se comportar como uma família normal, e isso me deixava meio apreensiva.

Minhas primas, que antes estavam me provocando por causa do Gustavo, agora não paravam de chegar perto dele e querer tirar foto, passar a mão e não sei mais que porra elas queriam. A única coisa que nós dois estávamos pedindo era que não publicasse absolutamente nada na internet, porque se as fãs soubessem exatamente onde Gustavo estava, nosso começo de ano seria um belo de um inferno. O tempo todo eu tinha que ficar de olho, e fui obrigada a arrancar o celular de duas primas que ameaçavam colocar a foto do Gustavo no instagram. QUE PORRA, custa ser gentil e tentar, pelo menos dessa vez, se comportar como gente? Elas nem são fãs de One Direction, socorro.

Ilha Bela era uma cidade linda, mas eu já estava acostumada a passar todo final de ano por lá, ainda mais com todos esses parentes. E, como nenhuma tia, prima, madrinha, cunhada, conhecida, resolveu engravidar nesse último ano, dessa vez não tinha bebê nem ninguém novo na família. Só as crianças que agora estavam crescendo e ficando mais barulhentas ainda... Nada agradável. Porém essas crianças conheciam muito bem One Direction e Gustavo Torres, e estavam super felizes em ver que um dos seus ídolos estava ali, passando o ano novo com elas. Acho que era mais engraçado elas olharem pra mim e falarem "não acredito que você tá namorando ele", era um misto de surpresa, inveja, sei lá. Desconto porque eram as crianças, mas mando ir tomar no cu se forem as primas babaquinhas.

Gustavo fora aprovado por quase todos os meus familiares, menos minha mãe, que antes o adorava tanto, agora o achava meio metido, branco e magro demais. Meu pai, que era a pessoa que eu mais tinha medo de detestar meu ex-sei-lá-namorado, tinha se encantando por Gustavo, apenas disse que ele precisa de "um pouco mais de sol e mais picanha nos ossos". Disse o mesmo pra mim, falando pra todo mundo que quisesse ouvir que eu era bem mais "cheinha" quando morava no Brasil, o que me fez dar graças aos céus por Gustavo não entender português, embora ele estivesse fazendo um esforço redobrado pra conseguir entender quase tudo. Quando ele entendia alguma coisa, era como ver uma criança toda feliz. Ele estava muito feliz, mas muito mesmo. Eu, então, não cabia dentro de mim de tanta felicidade.

- E então? - ele perguntou, me abraçando por trás enquanto quase toda minha família se jogava na piscina, e eu fui pra perto da churrasqueira tentar achar mais algum pedaço de carne.
- Fala - respondi, ainda procurando minha carne.
- Tá aí uma coisa que eu nunca pensei que fosse ver: você me ignorando por causa de comida! - ele riu com os lábios colados ao meu ouvido.
- Não é comida, é churrasco - respondi, me virando pra ele com um pedaço de carne entre os dedos - A melhor invenção culinária - sorri.
- Seu pai tem talento pra essas coisas - ele abriu a boca, pedindo comida... Fiz careta, mas óbvio que acabei dando meu pedaço pra ele.
- Aproveita, porque na Inglaterra não tem comida assim, não - eu ri e dei um selinho nele - Falando nisso...
- Podemos não falar nisso? - Gustavo encostou a testa na minha - Por favor?
- Ok - abaixei a cabeça e suspirei pesado - Eu não consigo parar de pensar no assunto, entendeu?
- Então vou ter que colocar meu plano infalível pra funcionar antes do previsto - roçou o nariz no meu pescoço e me abraçou com um pouco mais de malícia - Que horas sua família dorme?
- Hã?
- Que horas posso te roubar sem quase ninguém perceber?
- Torres, tá doido? Todos os meus parentes estão aqui, é quase que impossível isso acontecer.
- Por isso que eu disse "quase ninguém" - ele riu - Você acha mesmo que eu ia descambar da Inglaterra pro Brasil sem nem ao menos dar uma dor de cabeça pros seus pais?
- Pais não, né, meu amor? Na minha mãe, porque ela vai ter um treco se eu sumir.
- Mas se eu sumir junto, vai ser meio óbvio que é porque você está comigo, não é?
- Gustavo... - gemi.
- Isso, assim que eu gosto - ele falou com uma voz totalmente safada, e eu gargalhei alto.

Não que eu não estivesse curtindo a ideia de Gustavo me sequestrar, de maneira alguma. É porque ele vai embora, e quem vai aguentar minha mãe enchendo o saco e não respeitando meu luto porque o amor da minha voltou pra Inglaterra vai ser eu! Mas quer saber? Foda-se.

- Que horas vamos sumir?
- Toma um banho e me encontra no portão da frente daqui uns quarenta minutos. Preciso fazer umas ligações pra saber se está tudo certo, e então... Nós fugimos.
- Ok - eu ri e o beijei - Que emoção.
- Agora disfarça porque sua mãe não pode nem sonhar com o que está acontecendo.
- E eu não sei disso? A mãe é minha, eu conheço muito bem - eu ri e, com mais um beijo, me despedi de Gustavo, correndo pra dentro de casa e indo tomar um banho.

Não sabia pra onde íamos, se eu precisava levar mais roupa, menos roupa, dinheiro... Eu estava totalmente às cegas. Coloquei o básico do verão (short, camiseta e rasteirinha), meu cartão de débito no bolso e pronto.

Exatos quarenta minutos depois eu estava no portão da frente, torcendo pra ele aparecer logo, antes que alguém fosse lá e me perguntasse o que diabos estava acontecendo. Minhas primas suspeitaram de alguma coisa, mas como estavam altinhas demais depois de beberem tanta cerveja no churrasco, o raciocínio estava um pouco mais lerdo do que o normal, o que foi ótimo. Dei uma olhada no relógio pra saber se eu tinha feito as contas erradas, se estava atrasada ou adiantada demais, mas pelo visto estava certa. Olhei pra esquerda, direita e... Então Gustavo apareceu.

Atravessou a rua com um sorriso brincalhão nos lábios e incrivelmente mais gato e um pouco mais corado. Bendito sol brasileiro! Em um dia essa maria mole da brancura vira um churros coradinho, adorei! Sacudi a cabeça, tirando essa piada idiota da mente e encarei Gustavo atravessando a rua como um modelo Calvin Klein, só tá faltando um ventinho pra fazer o cabelo se mexer de um lado pro outro e pronto, fica tudo perfeito. Camiseta branca, bermudão, totalmente turista! Quando chegou mais perto, piscou, totalmente fofo, e começou a rir, sabendo ele mesmo que tinha pago o maior mico na minha frente tentando pagar de turista gatinho.

- Você tá ridículo, só queria dizer isso.
- Ah, qual é? - deu uma volta em torno de si mesmo - Só falta uma câmera fotográfica em meu pescoço pra eu parecer um completo turista.
- Pelo menos não podemos mais reclamar da sua cor, tá tostadinho e tá bonito - gargalhei - E então? Pra onde vamos?
- Vem comigo, princesa.

Gustavo me puxou pela mão e corremos para um Corsa Sedan que estava estacionado logo na esquina. Eu de verdade estava esperando que Gustavo não fosse dirigir, porque nem eu faço isso aqui em Ilha, muito menos ele, que é super perdido. Mas, pra minha surpresa, já tinha uma pessoa no volante nos esperando, e era... JEFF!

- JEFF! - gritei quando Gustavo abriu a porta de trás para mim - Como? Espera, o que?
- Oi, pequena - ele parecia tão turista quanto Gustavo Torres - Surpresa.
- Cara, você veio com o Gustavo? Passou o ano novo sem sua família por causa dessa praga aqui?
- Eeeeeeei - ele riu, entrando no caro - Eu ouvi essa, Giovanna.
- Que nada, trouxe a família toda. Gustavo pagou passagem e hospedagem para todos nós - Jeff parecia emocionado - Foi um presentão. Primeira vez que nós andamos de avião.
- Poxa vida - suspirei e beijei o rosto de Jeff e depois de Gustavo - Feliz ano novo, meu amigo.
- Feliz ano novo pra você também, pequena - ele sorriu - Mas então, posso levá-los ao lugar especial.
- Gustavo?
- Com certeza, Jeff. Plano em ação - ele parecia muito satisfeito consigo mesmo, o que me deixava mais curiosa ainda.

Da casa da minha avó até esse tal "lugar secreto" demoramos mais ou menos vinte minutos. Passamos por dentro da cidade e aos poucos fomos nos afastando. Eu tinha uma ideia em minha cabeça de onde Gustavo poderia estar me levando, mas preferi guardar pra mim mesma, era muito mais legal quando eu era surpreendida, e dessa vez eu queria ser. Apesar da surpresa estar sendo feita no meu próprio país e... Como que ele planejou tudo isso? Como que ele SEMPRE planeja as coisas bem debaixo do meu nariz?

Finalmente chegamos até um luxuosérrimo hotel no litoral da ilha. Eu nunca tinha visto este lugar e era muito melhor do que qualquer coisa que eu pudesse ter imaginado. Era o DPNY HOTEL, um dos mais caros da cidade, disso eu tenho absoluta certeza. Dei uma boa olhada na minha roupa e me arrependi amargamente de estar usando aquilo, mas aí olhei pra roupa de Gustavo e me senti um pouco melhor - e muito triste, mas ele ficava tão ridículo de turista que o jeito mesmo é rir. Ele, como todo bom cavalheiro, saiu primeiro do carro, segurou a porta e me deu a mão, ajudando-me a sair.

- Jeff, pra onde você vai agora?
- Ver minha família e aproveitar o fim do dia, pequena - ele parecia tão feliz consigo mesmo - E eu não vou perguntar o que vocês vão fazer.
- Nem posso te responder porque, de verdade, eu não sei - sorri.
- Aproveitem - ele sorriu tanto para mim quanto para Gustavo e deu a partida no taxi.

Me virei pra ele, completamente bestificada. DPNY Hotel, sério? Se eu for contar todos os lugares luxuosos que o Gustavo já me levou, capaz de eu me perder nas contas, mas dessa vez preciso admitir que ele se superou totalmente.

- Torres... Como que...?
- Vamos, já está tudo pronto.
- Pronto, o quê?
- Para de fazer perguntas, caramba - ele riu e, mais uma vez, me puxou pela mão e me levou correndo até algum lugar.

O hotel ficava na beirada da praia, então atravessamos uma boa parte correndo pela areia. Tive que tirar minha rasteirinha, e Gustavo aproveitou essa parada para me pegar no colo e correr comigo até o lugar onde ele tinha reservado. Nós dois ríamos o tempo todo, era como se, por agora, o universo fosse apenas nosso e tudo estava parado, nada estava acontecendo. Era eu e ele.

Finalmente ele parou de correr, me colocando no chão e tomando um pouco de ar. Me abraçou por trás e fechou meus olhos, me guiando até um quarto que, ele dizia, era o melhor do hotel. Me avisava quando tinha algum degrau, quando eu tinha que tomar cuidado porque podia bater em alguma coisa, quando devia andar mais devagar e mais rápido. Até que, finalmente, tirou as mãos dos meus olhos e... Caramba!

Era um quarto suíte bangalô, LINDO! Enorme, clássico, limpo, fresco. Minhas pernas falharam porque eu não imaginava algo assim, mas vindo do Gustavo, dá pra se esperar qualquer coisa, e qualquer coisa mesmo. O chão era de um mármore branco, as paredes pintadas em azul oceano com suaves degradês. Espelhos posicionados em lugares estratégicos, um lustre delicado e luzes mais claras e brancas que saíam de lugares que eu não conseguia distinguir porque ainda estava meio tonta com tanta coisa pra eu ver. A cama de casal era mais quem uma queen/king size, porque ali cabiam uns três reis e umas quatro rainhas... GORDAS, porque a cama era enorme. O edredom era azul mais claro, fazendo um tom sobre tom com a parede, com pilares delicados em cada limite da cama, com uma cortina branca presa sobre eles. Da cama dava pra ver a sacada que dava para uma área com piscina, mas também era possível sair por uma lateral e ir pra praia. Me debrucei na sacada, a claridade da lua era a única coisa que iluminava o ambiente, e a lua aqui era a mais linda de todas. Quando eu pensei em começar a chorar, Gustavo me abraçou por trás, me entregando uma taça com champanhe e beijando minha nuca de forma demorada e molhada. Fechei os olhos, inclinando-me um pouco mais pra trás e até esquecendo da taça em minhas mãos. Agora, o que eu queria, era ele.

- Quer entrar? - Gustavo mordeu minha orelha e se encaixou atrás de mim - Por favor, diz que sim.
- E se eu disser que não?
- Te como aqui mesmo na sacada, caralho!

Eu gargalhei, mas muito alto! Não era do feitio de Gustavo falar desse jeito, ainda mais usando esse tipo de palavreado, mas foi tão espontâneo que eu não contive meu riso. Ele percebeu que tinha falado algo que não costumava e começou a rir junto. Abriu a boca pra tentar consertar, mas eu me virei pra ele de uma vez e o beijei. Primeiro um beijo para calá-lo, e depois outro mostrando o meu interesse naquele noite, minhas reais intenções e o que eu queria que ele fizesse comigo.

I used to be on an endless run.
(Eu costumava estar numa busca sem fim)
Believe in miracles 'cause I'm one.
(Acredite em milagres, pois eu sou um)
I have been blessed with the power to survive.
(Eu fui abençoado com o poder de sobreviver)
After all these years I'm still alive
(E, após todos esses anos, eu ainda estou vivo)

As mãos de Gustavo iam descendo por meu corpo, e aos poucos a camiseta que eu estava usando foi tirada, contraí minha barriga inconscientemente e sei bem que ele percebeu isso; fazia um certo tempo que não nos tocávamos de forma íntima, e depois de todo o término e drama, era como se estivéssemos nos descobrindo pela primeira vez, e a velha tensão apareceu. Mas a facilidade com a qual eu era embriagada por seus gestos, voz e sabor era tanta que com o simples roçar de sua pele na minha eu já me via completamente entregue a ele e aos seus caprichos. Aquele era o meu garoto e o mundo podia se explodir ao nosso redor que eu me permiti não importar, coloquei uma pedra em cima desses assuntos pelo menos por agora.

I'm out here cookin' with the band.
(Eu estou longe daqui detonando com a minha banda)
I'm no longer a solitary man.
(Eu não sou mais um cara solitário)
Every day my time runs out.
(A cada dia que passa meu tempo diminui)
Lived like a fool, that's what I was about, oh. (Vivi como um tolo, era isso o que eu era)

Eu já estava somente vestindo minha calcinha e meu sutiã, Gustavo usava seu bermudão. Seus lábios iam beijando cada centímetro do meu corpo e nas regiões que ele sabia que me eram sensíveis ele tinha um carinho extra especial. Quando sua mão alcançou a parte interna de minha coxa eu mal pude sentir seu toque, seus dedos faziam movimentos circulares e sua respiração ficou pesada e tensa, como se estivesse pensando e calculando cada movimento. Eu não fazia ideia do que podia estar passando em sua mente e isso me apavorava, fiz o que estava ao meu alcance, o chamei baixo e seus olhos brilhantes me encararam assustados, sorri e mordi meu lábio de leve transparecendo minha insegurança e medo. Minhas mãos subiram por suas costas nuas e senti seu corpo tremer em cima do meu, coloquei minhas mãos nos seus cabelos e guiei sua cabeça em direção à minha, nossos lábios roçaram ainda abertos e eu traguei sua respiração quente junto com a minha, sentindo meu peito estufar e se esquentar; entorpecida por aquele momento mal senti quando Gustavo iniciou um beijo calmo e quente típico do nosso relacionamento.

I believe in miracles.
(E eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor, pra mim e pra você)
Oh, I believe in miracles.
(Oh, eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor pra mim e pra você)

Aos poucos já fui sentindo meu corpo ir relaxando, minhas pálpebras começaram a ficar pesadas e eu não sabia fazer nada além de respirar e soltar suspiros longos para cada carícia que eu sentia por parte de Gustavo, sua boca estava ocupada em fazer trilhos de beijos desde minha clavícula até minha orelha, e por ali ficou brincando com sua língua fazendo a temperatura do meu corpo aumentar drasticamente. Minhas mãos, antes indecisas, agora estavam apertando as costas dele contra meu corpo, e eu estava decidida a arranhar sua pele nua e quente. Eu ia o incentivando a continuar os beijos, sempre pedindo por mais, e ele, por sua vez, fazia o que eu queria. Os beijos que antes estavam em meu pescoço agora desceram pelo meu colo, seios, barriga e foram abaixando cada vez mais; contraí a barriga e prendi a respiração. Gustavo percebeu minha surpresa, parou no meio do caminho e me encarou, olhando de cima pra baixo.

Tattoo your name on my arm.
(Tatuei seu nome em meu braço)
I always said my girl's my good luck charm.
(Eu sempre disse que minha garota é sinal de boa sorte)
If she could find a reason to forgive,
(Se ela pudesse achar uma razão para me perdoar)
Then I could find a reason to live.
(Então eu acharia uma razão pra viver)

- Desculpe - ele subiu novamente o corpo, deixando seus olhos e sua boca na altura dos meus - Faz tempo e eu não...
- Tá tudo bem - eu ri, totalmente sem graça - Nem parece que somos namorados, ou pelo menos que éramos.
- É, eu sei - ele mordeu meus lábios - Mas é que...
- Só cala a boca e continua o que você estava fazendo - gargalhei - Pelo amor de Deus.
- Não quer discutir a relação agora?
- Gustavo Torres!

Ele tocou meus lábios com os seus em um beijo demorado, porém sem língua. Abri minha boca e soltei um gemido tímido quando de novo começamos a nos beijar, ele sugava meus lábios com vigor e eu senti de novo todo meu corpo pulsar. Um dos braços de Gustavo desceu pela lateral de meu corpo e chegou até minha intimidade, a princípio ele apenas a acariciou por cima de minha lingerie, e quando percebeu que eu já estava começando a arfar e perder o fôlego que me restava, Gustavo baixou minha lingerie aos poucos; eu o ajudei com as minhas pernas, e segundos depois ela estava fora de minha pele. Os dedos de Gustavo eram gentis e ágeis, arqueei meu corpo pra cima quando senti aquela sensação quente e gostosa no meu corpo, eu pensava que nunca mais sentiria algo assim; ele continuou com as carícias e sua outra mão estava ocupada desabotoando meu sutiã e fazendo carinhos circulares em meus seios, seus lábios estavam apenas abertos em contato com os meus e nós respirávamos um ao outro, sugando o oxigênio que emanávamos. Minhas mãos puxavam os cabelos úmidos dele, escorregavam por seus fios de cabelo, me divertia em bagunçá-los e Gustavo parecia gostar disso.

- Me espera... - ele disse com sua voz pesada.

Eu sabia do que ele estava falando, apenas com seu toque em minha intimidade eu estava quase chegando ao ápice, mas ele queria chegar junto. O ajudei a tirar o resto de roupa que ele ainda vestia, e desastrosamente ele pegou no bolso da sua roupa no chão a camisinha. Ergui um pouco meu corpo enquanto o ajudava a se proteger, me sentei na cama e ele me olhou curioso, até eu fiquei curiosamente preocupada com essa minha disposição. Ele veio até mim e entendeu o que eu queria fazer, aos poucos fomos nos aproximando e eu sentei em seu colo, um pouco insegura sobre a nossa posição. Ele sorriu abertamente e empurrou meu cabelo para trás, deixando meu rosto livre, sorrimos um para o outro e nos entregamos ao nosso momento particular.

I used to be on an endless run.
(Eu costumava estar numa busca sem fim)
Believe in miracles 'cause I'm one.
(Acredite em milagres, pois eu sou um)
A have been blessed with the power to survive.
(Eu fui abençoado com o poder de sobreviver)
After all these years I'm still alive.
(Após todos esses anos eu ainda estou vivo)

Caímos na cama depois, cansados e exaustos, meu peito subia e descia rapidamente enquanto eu ainda tentava normalizar a minha respiração, Gustavo estava exatamente da mesma forma que eu. Pela fraca luz que entrava pela janela eu podia ver seu peito brilhando de suor, seus olhos fechados e sua boca que arqueava delicadamente em um singelo sorriso. O abracei, sentindo sua respiração se acalmar junto com a minha e me arrisquei a dar um beijo em seu queixo, aumentando ainda mais o sorriso em seu rosto. Minhas mãos brincavam em seu peitoral, fazendo desenhos abstratos e vendo sua pele arrepiar a cada pequeno toque. Nossas pernas se entrelaçaram e nossos corpos ficaram um só, como eu pude ficar tanto tempo sem ele?

I believe in miracles.
(E eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor, pra mim e pra você)
Oh, I believe in miracles.
(Oh, eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor pra mim e pra você)
- Não quero pensar em você indo embora - eu soltei, depois de alguns minutos em silêncio.
- Nem eu - ele suspirou.
- Eu podia ficar grávida...
- Usamos camisinha e você toma pílula.
- Droga - eu ri.

Mais um minuto de silêncio.

- Gi... - no meio do silêncio e da escuridão, foi claro perceber que sua voz estava embargada.
- Gustavo?
- Eu decorei uma coisa pra falar pra você do... Da sua banda - ele riu fraco, nitidamente fazendo um esforço.
- Não precisava, sabe disso.
- Eu não sei cantar e nem me atrevo a cantar Eddie Vedder pra você, mas, posso...
- Ei - ergui meu corpo, me apoiando em meu cotovelo - Amor, se for pra te deixar mais angustiado ou me angustiar...
- Não tem como a situação piorar, tem? - ele sorriu com os olhos fechados - Só, posso tentar?
- Sim - beijei seus lábios e me deitei em seu peito de novo.

Ele tomou fôlego uma, duas, três vezes até eu ouvir sua voz rouca sair desde seu peito, garganta...

I close my eyes and think how it might be.
(Eu fecho meus olhos e penso em como as coisas podem ser)
The future's here today.
(O futuro é aqui, hoje)
It's not too late.
(Não é muito tarde)
It's not too late, yeah!

- And wherever you've gone and wherever we might go, it don't seem fair today just disappeared - Gustavo começou a chorar - Your light's reflected now, reflected from apart, we were but stones but your light made us stars. (E onde quer que você tenha ido e onde quer que possamos ir. Não parece justo. o hoje simplesmente desaparecer. Suas luz agora reflete. reflete a distância. Nós fomos apenas pedras. sua luz nos fez estrelas.)
- Light Years - foi o que respondi.
- Desculpa, não vou conseguir falar a outra parte - ele fez menção em se levantar, por isso afastei meu corpo e o deixei sentar na beirada da cama - Que merda, hein.
- Hey, hey... - puxei um pouco do lençol para cobrir a parte superior do meu corpo; encostei-me em Gustavo e beijei o início de suas costas - Não estou preparada pra outra despedida, e sei que você também não.
- Eu não estou preparado pra não te ter - a angústia e desespero em sua voz eram tão claros - Que eu começo a me perguntar se fiz a coisa certa em pedir pra você voltar e me deixar - ele suspirou, rindo de si mesmo - Essa é a coisa mais egoísta que eu já disse.
- Para - eu o abracei - Só para com isso.
- E a gente faz o que?
- A gente vive acreditando que alguma coisa de boa vai acontecer pra nós, Gustavo, nem que seja um milagre - eu sorri - O maior milagre da minha vida foi ter ganhado aquela bolsa, ido pra Londres e ter vivido o que eu vivi. E pra você?
- XFactor e você - sua voz saiu um pouco mais baixa.
- Nós somos a prova de que se pode acreditar em milagres, Gustavo, e eu sei que algo de grande ainda vai nos acontecer. Há um mundo melhor pra nós dois, é só esperar.
- E o que fazemos até lá?
- Vivemos - tirei o cabelo de sua nuca e o beijei ali - De algum jeito.

I believe in miracles.
(E eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor, pra mim e pra você)
Oh, I believe in miracles.
(Oh, eu acredito em milagres)
I believe in a better world for me and you.
(Eu acredito em um mundo melhor pra mim e pra você)

- Ainda temos algumas horas pra ficarmos juntos - ele suspirou - Mas...
- Podemos ficar, de boa? - eu ri.

Só quem já esteve ou está em um relacionamento sério sabe que, às vezes, sexo não é exatamente tudo o que você precisa. É muito bom - claro -, mas tem vez que você só quer ficar tranquila, conversando, falando sobre a maior idiotice que aparecer em sua cabeça, comentar sobre como o tempo tá frio ou se está ficando calor demais. Eu queria falar e fazer tudo ao mesmo tempo com Gustavo, porque nosso tempo era curto e não podia perder um segundo, mas eu não sabia nem o que fazer.

- Me conta da sua família? Porque eu vi umas figuras hoje que, meu Deus, Giovanna!
- É, eu sei - comecei a rir - Acho que tenho que começar contando do meu pai, que é a pessoa mais hilária na família. Não sei pra quem ele puxou, porque meu avô é todo mais sério e minha avó super conservadora.
- Ou seja, se sua avó nos pegasse aqui agora...
- Ela ia te matar, certeza - nós dois rimos - Pra ela, eu vou ser sempre a bonequinha estudiosa e virgem da família.
- Qual o problema de se estudar e fazer sexo?
- Não é esse o problema, o problema é não casar virgem e "casar no pecado".
- É sério que sua família tem dessas?
- Minha avó e minha mãe. Avó por parte de pai, que, por sinal, detesta minha mãe.
- Ah, vá! Sua mãe é tãããão adorável pessoalmente - ele gargalhou.
- Gustavo, dá um tempo - bati em seu ombro - Tá, confesso que ela está sendo uma bela bruxa desde ontem.

Ficamos em conversas, namoro, choro e segundo round até o dia seguinte.
Não foi tão pior como eu tinha imaginado, já que nós dois estávamos preparados para a despedida e, oficialmente, o nosso fim. Mas, como eu disse pra ele e nós conversamos a noite, ainda acreditamos em milagres e eu, de verdade, acredito que há um mundo melhor pra nós dois. Precisa ter, porque, se não, tudo isso o que vivemos foi uma grande peça do destino, nos dando o gosto da felicidade e nos arrancando depois. Merecemos mais, merecemos felicidade plena, por favor.

500 Days in LondonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora