Capítulo 41

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Hells e Jess já estavam ajudando minha mãe desde o meio-dia com os preparativos para as festas de fim de ano. Conseguia ouvir claramente a risada alta de Jess bem como Hells rindo de toda piada sem graça e sem noção da minha mãe. Hells era fofa demais e boa demais para estar no mesmo mundo que nós, às vezes eu tinha plena certeza que ela era de Nárnia ou algum lugar parecido. A casa da minha vó em Ilha Bela estava lotada e bagunçada, e eu odiava isso. Queria passar meu Ano Novo sozinha no meu quarto.

Não foi nada fácil entrar naquele avião e ver Gustavo do lado de fora encostado no vidro sem ao menos vir até mim para se despedir. Eu pedi espaço porque não conseguia compreender de jeito algum o nosso término, e voltando agora para o Brasil tudo fazia menos sentido ainda. Tinha uma sensação de que eu odiava tudo aqui! Não era mais a mesma coisa, não era meu quarto, meu cheiro, e acho que nem minha cachorra parecia mais me reconhecer. Era um universo diferente, um mundo diferente. Era o Brasil e não mais a Inglaterra. Era Ilha Bela e não Londres.

Lá estava eu, deitada na cama, brincando com a luz do meu abajur. Parecia a Holly em Ps I love you, porém não estava com uma roupa tão bonita quanto a dela e nem meu marido estava morto me mandando cartas do além; na verdade eu ia adorar se Gustavo me mandasse uma carta, embora fizesse menos de 24 horas que eu cheguei ao Brasil e acho difícil uma carta chegar em tão pouco tempo. Eu estava com uma saia preta de pregas bem curtinha para os meus parâmetros, a camiseta que eu havia ganho da Lary de Natal - uma do Pearl Jam com o stickman vermelho na frente, cor preta - olhos delineados com lápis preto, cabelos lisos. Se alguém me visse com certeza pensaria que eu sou uma gótica fugitiva de algum ritual satânico de algum cemitério ao redor. Era Ano Novo, era para eu estar toda de branco como uma fadinha, mas resolvi colocar uma roupa que retratava meu humor. NEGRO! Preto como a porra do céu que estava agora; ia chover. Óbvio que ia, toda porra de ano chove, diferente de Londres, onde neva. Branquinha, fofa, gelada. E NÃO CHUVA. NO FIM DO ANO! Bosta!

- Giovanna?

Nem me dei ao trabalho de perguntar quem era, a voz de Jess era inconfundível. Jess era minha prima distante de quase quinto grau, mas nós crescemos juntas então dividíamos uma amizade longa. Embora não fôssemos muito próximas e nos víssemos apenas em datas especiais - aniversários, natal e Ano Novo - durante o ano trocávamos mensagens no Facebook e no Twitter. Desde que fui pra Londres perdemos totalmente o contato, já que ela não é nada fã de One Direction e arrasta uma asa pelo Fletcher, assim como eu. Quando ela viu que eu estava próxima dos meninos e não tinha falado nada pra ela, nossa pouca amizade se tornou em uma grande inimizade e cortamos relações. Mas então ela foi com minha mãe me buscar no aeroporto, viu minha cara de enterro e ficou com pena de mim, voltamos às boas. Jess era uma fofa e eu era apaixonada pelo seu estilo musical e visual; fã apaixonada de rock, cabelos longos e vermelhos, olhos bem desenhados de preto, unhas pretas e não estava nem aí para que o mundo pensasse dela. Começamos a amar juntas McFly, dividimos o mesmo homem - Tom - e adorávamos falar mal da Giovanna (embora hoje eu ache isso muito horrendo, Gio é uma fofa e falar mal da namorada do ídolo se tornou algo meio traumatizante pra mim). Ela pode não gostar de One Direction nem ao menos saber quem é Gustavo Torres, mas sua irmã Hells sabe, e muito bem. Hells era linda, mas quando o assunto é One Direction ela vira uma fera, talvez seja porque ela fosse mais fã de The Wanted. Quando os meninos brigaram por Twitter - assunto esse que eu me neguei a discutir com Gustavo porque achei babaca e infantil demais, e nós na verdade brigamos por isso - sempre via a Hells no Twitter defendendo o The Wanted e mandando mil asneiras para os meninos da One Direction. Na verdade, minha briga com Gustavo começou a partir daí, porque ele disse que eu não o estava defendendo, afinal das contas mandei ele pra merda e mentalmente mandei todos os fandoms do mundo pra merda. Na verdade, a atitude de Hells me espantou e muito, geralmente ela é uma pessoa muito doce, mas acho que como mexeram com o queridinho dela - que eu honestamente nem sei o nome - a menina ficou uma fera e mandou todo mundo para os quatro cantos do inferno. Nunca fui muito próxima de Hells por ela ser mais nova que eu e Jess, mas sempre nos demos bem, e como ela também gostava de McFly, tínhamos de vez em quando assuntos em comum. Agora nosso assunto em comum são duas boybands e, se eu abrir a boca pra falar no Gustavo, começaremos uma briga sem fim.

500 Days in LondonWhere stories live. Discover now