Capítulo 22

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- Na boa, por que eu preciso de três pessoas me acompanhando pra ir ao médico?
- MÉDICA! Que caralho, Giovanna, e quer fazer o favor de falar o nome certo?
- Ginecologista - falei me arrepiando. - Credo, até esse nome me dá medo.
- Você nunca foi a um ginecologista?
- Não, Sam, nunca fui! E se não fosse pela insistência idiota da Amanda, eu continuaria minha vida inteira sem ir.
- Ah claro - ela parou na minha frente. - Você vai finalmente perder a porra da virgindade e não quer saber se tá tudo bem nos seus países baixos?
- ELA VAI OLHAR LÁ EM BAIXO?
- É óbvio que vai, Giovanna, ou você acha que ela vai descobrir como anda sua periquita pelo poder da mente?
- Não sabia que ela ia olhar, como que é?
- Você vai deitar na maca com uma camisola aberta na frente, abrir as pernas LITERALMENTE e ela vai olhar, ué? - Mands fez careta. - Não é tão agradável quando eu falo em voz alta.
- NÃO É NADA AGRADÁVEL! - Minha voz estava aguda, alta, nervosa e histérica.
- Chegamos - Lucas riu. - O consultório é aqui.
- Exato, Dra. Violeta - Mands suspirou. - Ela é boa.
- Já veio nela? - Perguntei agarrando Sam pelo braço, ele se controlava ao extremo para não rir. - Ou você simplesmente abriu a lista telefônica e escolheu a primeira médica que você viu?
- Hey sua babaca, eu a conheço. Ela que viu minha "flor", como você adora chamar, pela primeira vez - Mands sorriu. - E dá pra entrar logo? Ou você tá esperando que um monte de menininha nunca comida apareça aqui e comece a tirar foto?
- Já até imagino a notícia - Lucas falou. - Namorada de Gustavo Torres vai ao ginecologista. Gravidez?
- Vira essa boca pra lá - bati em Lucas enquanto ele ria. - Vamos entrar logo nessa merda!

Mands foi na frente, Lucas atrás, eu atrás dele e depois Sam. O consultório era todo branquinho e - pasmem - pintado com alguns detalhes na cor 'violeta' (agora o nome dela faz todo sentido pra mim). Era como se fosse uma casa meio antiga, o piso era de madeira, o sofá bem branquinho e aparentemente confortável, uns vasos de flores delicadas enfeitavam o local e davam um ar totalmente feminino. Lucas e Sam sentaram-se no sofá e ficaram ali lendo revistas femininas. Por mais que possa parecer estranho, eu tenho certeza de que eles estavam bem confortáveis lendo sobre maquiagem, tendências da moda e coisas do gênero. Mands foi comigo até a senhorinha da recepcionista, que vestia um jaleco rosa com flores brancas, tinha o cabelo vermelho acaju e óculos na ponta do nariz, porém seu rosto era amigável. Me aprumei toda e limpei a garganta com um tossido alto e Mands riu de forma discreta ao meu lado.

- Bo-bom dia - falei. - Eu marquei uma consulta.
- Bom dia, meu bem - a tal senhora com cabelo acaju olhou pra mim, tirou seus óculos então pude ver suas pupilas azuis. - Qual o seu nome?
- Giovanna.
- Donatelli - Mands falou. - Donatelli, Giovanna - olhei meio em dúvida. - Você não está no Brasil, meu amor, aqui falamos primeiro o sobrenome.
- Ah sim, claro - bati com a mão na testa, tinha me esquecido desse detalhe.
- Donatelli, sua consulta está marcada para agora às dez horas, certo? Com a Doutora Violeta.
- Exato - suspirei. - Ela demora pra atender?
- Na verdade você é a primeira paciente dela, não vai esperar mais que dez minutos.
- Obrigada - merda, eu queria que ela atrasasse, assim teria uma desculpa para sair rápido desse consultório.
- Fique à vontade, vou informar a doutora que você já chegou - e a senhorinha educada nos dispensou.
- Sua mão está gelada - Mands riu segurando minha mão enquanto íamos para o sofá sentar com os meninos. - Tá nervosa?
- Não está sendo nada agradável essa consulta. Ainda mais porque eu sei o motivo pelo qual você me trouxe pra cá.
- Você vai ter sexo com seu namorado? - Lucas me olhou com ar de 'óbvio' e eu odeio esse olhar. - Qual o problema? Precisa saber se está tudo certo nos países baixos.
- Quando vocês falam assim é MUITO broxante, só queria deixar isso bem claro. E outra, desde quando minha vida sexual se tornou algo público? - Bufei, cruzando as pernas e os braços.
- Desde que você começou a namorar um dos caras, se não for o cara, mais famoso do planeta - Sam riu. - E dê graças a Deus que as fãs doidinhas dos meninos não sabem que você é virgem.
- Parte delas ainda acha que o Torres é virgem - Mands disse e nós rimos. - Qual é? Tem fã de 12 anos, cara, impossível essa garota saber o que é sexo.
- Se lê fic restrita, sabe o que é sexo sim - Lucas falou.
- Fic restrita?
- Nunca leu não, Gi? - Sam abraçou Lucas pelo ombro e me olhou. - Site de fiction? Fictions? Ficção? Estórias que pessoas desocupadas inventam para expressar seu desejo de ter uma vida melhor porque a vida que levam não basta? Entretenimento virtual?
- Para de falar grego - eu ri. - O que é isso?
- Qual das partes você não entendeu? - Mands me olhou. - Lucas vomitou mil coisas e, honestamente, eu não entendi algumas coisinhas.
- O que seria uma fiction?
- Geralmente são baseadas em algum fandom, pode ser tanto livro como banda ou filme, o que mais te agradar. Então, uma pessoa desocupada, como eu já disse, começa a tecer uma estória de acordo com esses personagens já existentes.
- Porque a pessoa não tem capacidade mental suficiente de inventar novos personagens - Sam riu.
- E pode ser de caráter romântico, comédia, drama ou, como eu disse, restrito. Ou seja, sexo.
- Sexo?
- Sim - Lucas riu. - E não para por aí, tem a categoria 'slash', que, traduzindo, homossexual. E pode ser restrita slash, o que torna tudo mais divertido.
- Eca - eu deixei escapar e os dois me olharam. - Não tô falando que vocês dois é 'eca', mas eu não leria nada do gênero.
- Quem é virgem não opina em leitura erótica - Sam rebateu. - Enfim, continuando... Há alguns sites que são voltados exclusivamente para a publicação de fanfics. Então, a pessoa desocupada escreve e manda os capítulos para o site. Geralmente são publicados todo mês, porém há aquele tipo de pessoa mais desocupada AINDA que posta toda semana. Não gosto, prefiro ficar no suspense e esperar mais tempo, meu cérebro se encarrega de acrescentar mais detalhes na trama ao longo dos trinta dias.
- Ok, pergunta - levantei a mão. - Essas fanfics, qualquer pessoa pode escrever? E ler?
- Aham, qualquer pessoa - Mands falou. - Eu já tentei escrever algumas, mas fica tudo uma merda. Gosto mesmo é de fazer sexo, e não escrever sobre sexo.
- É um dom escrever cenas picantes sem ficar tosco ou rápido demais - Lu falou.
- E, já que qualquer pessoa pode ler, quer dizer que meninas com doze anos também acabam lendo fictions restritas?
- Fics - Sam me corrigiu. - Fala assim que é melhor. E, sim, as meninas de doze anos leem esse tipo de 'literatura pornô virtual' - ele riu. - E, na verdade, muitas delas já leram com o seu namorado sendo o principal.
- HEIN?
- Como já foi dito - Mands dizia. - Fics são baseadas em fandoms, e há sim muitas meninas que escrevem com os meninos da One Direction. Eu já li várias, algumas são muito boas, mas outras dá para perceber que foram escritas por meninas virgens, BV's e que nunca saíram de casa pra nada. Lastimável!
- BV? - E lá vai eu de novo com uma pergunta tosca.
- Boca Virgem, nunca beijou - Sam respondeu rápido.
- Ah sim - me fiz de entendida.
- Mais engraçado é ler slash com One Direction, todo mundo acha que eles são gays e viajam nas idéias - Sam gargalhou. - Chega a ser tosco, eu, como um legítimo gay, sei que aqueles lá não gostam de uma pica de maneira alguma.
- Diferente do Dougie Poynter, aquele sim - Lucas se abanou e eu gargalhei.
- Eu quero ler uma fic - falei. - Ai cara, sou muito por fora dessas coisas.
- Não sei se seria uma boa ideia você ler - Mands riu. - Sua cabeça é noiada sem ao menos saber direito o que as meninas pensam do seu namorado, se você for ler o que elas imaginam dele entre quatro paredes...
- O que custa? - Dei de ombros. - Será que eles já viram?
- Com certeza - Lucas falou. - É óbvio que eles já leram alguma coisa, qualquer pessoa tem curiosidade em ler fics - ele sorriu. - Pergunta pro Torres.
- Vou perguntar pro Miguel - falei baixo.
- Miguel? - Mands me olhou. - Teu namorado trocou de nome e eu não tô sabendo?
- Quê?
- Miguel, Miguel Thompson - ela continuou. - Na verdade, to querendo falar desse assunto já tem um bom tempo.
- Que assunto?
- Perdi alguma coisa?
- Não estávamos falando de sexo?
- Donatelli? - E todo mundo parou de falar. A médica chegou.
- Sou eu - respondi, nunca pensei que ouvir meu nome fosse ser sinônimo de alívio na minha atual condição. Que porra é essa de ficar falando do Miguel?
- Me acompanhe por favor - a médica sorriu.
- Nós ainda vamos conversar sobre isso - Mands bufou. - Ouviu, Giovanna?
- Não tenho nada pra falar, tá a fim de brigar de novo? - Respondi.

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