Capítulo 28

117 4 0
                                    

- Babe... Babe?

Só podia ser Gustavo. Abri meus olhos com muita dificuldade e fiz careta quando vi que o quarto já estava claro e ele estava parado na minha frente vestindo uma camiseta branca. Digo, ele já é bem branquinho e, com o sol refletindo em sua pele, não dá muito certo.

- Bom dia? - Perguntei com muita preguiça. - Quando eu apaguei?
- Não sei, mas tem uma menina aí fora de procurando totalmente louca. Acho que você deve conhecê-la, seu nome é Amanda - ele riu.
- A Mands tá aqui? - Sentei na cama. - Aconteceu alguma coisa?
- Também não sei, mas tem alguma coisa com o Matheus ter desaparecido ontem e ela estar bem puta com ele - Gustavo coçou a nuca, não parecia preocupado - Eu acho que ele só quis fugir dela por uma noite.
- Não fala assim - me ergui na cama. - Fala pra ela esperar um pouco.
- Uhum - Gustavo me deu a mão e em um instante eu estava de pé. - Você tá linda com a minha camiseta, fica com ela.
- Não estava mesmo com a intenção de tirá-la - eu ri e fui ao banheiro.

Mands vestia a mesma roupa de ontem do show, estava com a maquiagem toda borrada e bem - BEM - puta e desolada. Andava de um lado pro outro na sala e parecia inquieta e ansiosa, alguma coisa não estava bem. Quando me viu, saiu correndo na minha direção e me deu um abraço apertado no pescoço, senti seu corpo relaxar e uns soluços começarem, ela chorava. Não é do feitio de Amanda Colaneri começar a chorar assim do nada, então alguma coisa estava acontecendo, coisa que me preocupava. Mands era minha melhor amiga desde que cheguei em Londres, vê-la assim não me fazia bem.

- Você tem um chupão no seu pescoço - ela disse se afastando e com a voz molenga.
- É... - coloquei a mão de forma inconsciente onde ela havia apontado. - Deixa pra lá, que aconteceu?
- Foi ontem, não foi? - apesar do seu choro e clara preocupação, ela sorria. - Tô tão feliz por você - ela riu. - E você ainda está usando as roupas do Gustavo, meu Deus!
- Acabou acontecendo - eu ri.
- Tá tudo bem? Você parece tensa.
- Digamos que Gustavo terminou a noite com uma canção que, eu sei que no fundo ele queria me passar segurança, mas parece que eu acabei entrando em uma paranOia sem fim, sinto como se eu tivesse desmaiado e acordado agora com ele me chamando pra te ver.
- Que música?
- Não sei o nome, acho que nem tem nome - suspirei. - Mas não estamos aqui pra falar de mim, e sim de você. Que cara é essa?
- Matheus - ela fungou. - Brigamos ontem durante o show, coisa que eu sei que você não viu, já que estava toda empolgada, o que me deixa muito feliz - ela riu. - Porém, eu acabei falando merdas demais e ele foi embora mais cedo, o que resultou em eu ir embora mais cedo, mas eu voltei pro nosso apartamento na escola, e, o Matheus, eu não sei onde ele está.
- Hm - sacudi a cabeça, Mands falou tudo rápido demais. - Você já tentou ligar?
- Liguei a madrugada toda e nada, nenhuma resposta.
- Foi na casa dele?
- Claro que não, vai que eu acho o corpo dele lá todo ensanguentado! Não dou conta disso, Giovanna, não dou conta - ela começou a se abanar.
- Tá, tá - eu ri. - Faz o seguinte, fica aqui com o Gustavo que eu vou na casa do Matheus, se ele estiver por lá eu te ligo, tudo bem?
- E se você achar o corpo dele?
- Ligo pra polícia - eu ri. - Amanda, não vai ter corpo algum! Relaxa e faça companhia pro meu namorado.
- Tá bom, tá bom - ela bufou. - Volta logo.

Era estranho, o clima matinal hoje estava morno. Nem gelado demais, apesar do vento incômodo, nem quente, coisa que nunca se está aqui em Londres. Eu usava um bermudão de Gustavo e sua camiseta, nos pés um chinelo qualquer que, eu acho, era de Dhiego, já que ele tinha o menor dos pés dos meninos. Caminhei até a casa ao lado, que era de Matheus, já na intenção de acabar com a raça desse infeliz! Essa manhã era para ser linda, eu e Gustavo falando da noite anterior, ele falando que me ama e mandando minha insegurança pra puta que pariu do espaço sideral, nós dois o dia todo no sofá vendo filmes babacas, porque é isso que casais apaixonados fazem, e voltando pra cama depois, porque eu gostei de fazer isso. Mas NÃO, o Matheus tem que estragar tudo, meus planos românticos de querer ser amada depois de um show do McFly, Matheus precisa... Opa!

Lary estava saindo da casa de Matheus. Lorelai Cohen, Lary Cohen! Eu tô vendo demais ou ela está usando a mesma roupa de ontem? Meio amassada, mas está! O que ela está fazendo aqui, ela... NÃO!

- LORELAI! - Gritei seu nome, tava nem aí! Ela e Matheus me viram e arregalaram os olhos, a essa altura eu já estava na porta da casa dele.
- Gi... Eu...
- Falo com você depois, Matheus - ergui a mão pra ele. - Na boa, entra e cala a boca.
- Mas...
- Matheus, se a Mands não te bater quem vai te bater sou eu! Isso se o Lucas não fizer primeiro, e isso se o que eu tô pensando de verdade aconteceu, o que, pela sua cara de bosta, eu acho que aconteceu - encarei os dois. - ENTRA, PORRA! - E ele entrou.
- Giovanna - Lary suspirou e passou a mão no cabelo, este que, no momento, eu não estava mais achando tão bonito. - Me desculpe.
- O que aconteceu? - Eu estava quase chorando, imagina a Mands. - Lary, pelo amor de Deus, não me diz que você passou a noite com o Matheus - eu esperava um não, mas minha resposta foi um silêncio e ela balançando a cabeça afirmando. Senti meu chão se abrir. - PUTA MERDA! - Dei um empurrão nela, e mais outro, e um tapa no ombro, e mais outro! Alguém me segura. - PUTA MERDA LARY, PUTA MERDA!
- Eu sinto muito, eu não...
- Sente muito? - Eu ri. - Como que você tem a pachorra de falar que você sente muito? Você dormiu com o namorado da minha melhor amiga, tem noção do quão puta isso te faz? E outra, ele é amigo do seu pseudonamorado, ou o Lucas não é nada seu além de passes livres para empregos e shows? E, quem sabe, meia hora no banheiro?
- NÃO FALA ASSIM!
- NÃO GRITA COMIGO - rebati. - Pelo amor de Deus, some da minha frente e some da nossa vida pelos próximos trinta anos, de verdade.
- Eu não fiz isso sozinha, sabia?
- Não me interessa, você fez! - Senti meu corpo tremer e começar a chorar. - Tem noção do quão louca pelo Matheus a minha amiga é? Ela respira o ar dele, ela daria a vida por ele! Não quero saber se ele tava louco de raiva ou resolveu afogar as mágoas e chorar com você, teu papel era ter um pouco de bom senso e lembrá-lo o tanto que a Mands o ama e como que tudo ia ficar bem no dia seguinte, porque é isso o que pessoas sensatas fazem!
- Ele a ama - a voz de Lary ficou baixa. - E eu amo o...
- Não fala o nome dele - respondi entre os dentes. - Ele não merece uma pessoa como você. Lucas é muito, MUITO bom! - Supirei. - Some daqui, agora.

Quando Lary passou por mim e eu me virei para acompanhar seus passos, vi Mands e Gustavo parados logo atrás. Mands tinha os olhos vidrados e lágrimas grossas já caíam deles, Gustavo mantinha as mãos nos bolsos do pijama e olhava para mim e para Lary com cara de decepção, balançando a cabeça negativamente o tempo todo. Quando Lary os viu, parou por meio segundo, depois abaixou a cabeça e foi na direção do carro, este que estava estacionado na maior cara de pau em frente à casa de Matheus. Pensei por um momento que Mands fosse ficar quieta, mas claro que não.

Mands estava em cima de Lary dando tapas em seu rosto, puxando seu cabelo, gritando e chorando ao mesmo tempo. Lary não se defendia, ficava apenas ali parada, parecendo um saco de pancadas enquanto Mands descarregava sua raiva em todas as partes do corpo dela que conseguia atingir. Olhei pra Gustavo que parecia pensar a mesma coisa que eu, deixa a Mands fazer isso um pouco, com Matheus vai ser bem pior e nós sabíamos disso. Ela berrava, gritava, chorava... Não demorou para Dhiego, Miguel e Lucas aparecerem. Tão chocados e tão perdidos como todos nós estávamos; em especial, Lucas Tunner.

- SUA VACA, COMO... COMO VOCÊ... COMO VOCÊ PODE! - E mais tapas, Lary agora só levantava os braços para tentar se defender. - EU TE ODEIO, EU TE ODEIO, EU TE ODEIO!
- Vai lá - disse pra Gustavo, já estava bom.
- Mands, vem aqui... - Gustavo tentou a segurar por trás, mas ela estava forte e descontrolada, acabou dando uns tapas sem querer em Gustavo. - Por favor, Mands, por favor.
- Me solta, ME SOLTA! - Mands dizia, Miguel foi até Gustavo o ajudar enquanto Dhiego e Lucas foram afastar Lary. De repente, tudo fez sentido quando Matheus apareceu ficando ao meu lado e vendo a cena escrota na nossa frente. Lucas olhou para o amigo e a ficha pareceu cair, assim como a dos outros meninos. - MORRA! EU ESPERO QUE VOCÊ MORRA!
- Eu vou lá - Matheus disse ao meu lado.
- Juro que se você mexer um músculo quem vai te encher de porrada sou eu - olhei-o pela tangente. - Fica aqui, o que é seu tá te esperando.
- O quão encrencado eu estou?
- Só me diz uma coisa, Matheus - me virei pra ele. - Por quê?
- Não sei.
- Hm... - ri sem humor. - Acho melhor você pensar em uma resposta melhor que essa se quiser minha amiga de volta - dei um tapa em suas costas. - Vamos entrar, eu te ajudo a pensar em algo melhor.

Matheus me explicou o que havia acontecido na noite anterior. Mands ficou o tempo todo reclamando de que ele estava olhando demais pra bunda da Lary, de como ela ficava se provocando e de como ela usava Lucas para se dar bem na vida. Matheus tentava explicar de todas as maneiras possíveis que nada estava acontecendo, que ele só tinha olhos pra ela, que Lary estava feliz com Lucas - apesar de não ter nada oficializado - mas parecia que nada convencia Amanda. Eu sei bem disso, quando minha amiga coloca uma coisa na cabeça, é difícil tirar. Em determinado ponto do show, Lucas foi pra frente ficar comigo e com os outros meninos, e Lary foi junto de Matheus e Mands. Infelizmente os dois começaram a brincar de forma maliciosa, apenas para provocar minha amiga, e isso resultou numa briga gigante, tudo isso no show. Mands foi embora e Matheus também... Porém com Lary. Os dois foram para um bar falar mal de namorados, Lary dizia que Lucas era bonitinho, mas não pra namorar, Matheus falava o quanto era doido por Mands, mas de vez em quando o ciúme passava do limite. Conversa vai e vem, mão na perna, no cabelo, boca com boca, os dois beberam e transaram. Fim da história.

- Eu não sei o que pergunto primeiro - passei as mãos nos cabelos e os prendi em um coque mal feito. - Você não pensou em nenhum momento na Mands? No Lucas?
- Pensei, pensei... É claro que pensei! - ele socou o ar e fez careta. - Mas pensei hoje de manhã quando vi a Lary ao meu lado, e não a Mands.
- Ai, porra! - Cobri meu rosto com as mãos. - Matheus, pelo amor de Deus, o que você estava pensando?
- Não sei! Eu já estava cansado desse ciúme todo e de como a Mands fica paranoica...
- Mands paranoica? Ela te ama, seu imbecil, é isso o que nós fazemos quando amamos! Ficamos babacas - dei um soco em seu ombro. - Caralho, Matheus!
- Quer parar de falar palavrão? Tá parecendo ela.
- Tá com medo dos meus palavrões? Você viu o que a Mands tava fazendo com a tal assistente lá fora? Cara, ela vai te matar, te matar!
- E você acha que eu não sei disso? É claro que ela vai me matar.
- Quer um capacete? - Perguntei rindo só pra tentar amenizar a situação, arranquei dele um barulho estranho pelo nariz, parecia uma risada. - Ai, Matheus!
- Sinto muito - ele suspirou e abaixou a cabeça. Foi impulso, mas eu tive que fazer carinho em seus cabelos e sua nuca, algo me dizia que ele estava muito arrependido. Não sei o que eu faria se isso acontecesse comigo, mas me deu dó.
- Se cuida, Matheus - beijei sua nuca e me levantei. - Eles estão vindo - olhei pra trás e vi os cinco passando pela porta.
- TODO MUNDO PRO QUARTO, AGORA! - Mands gritou. Espera, quarto?
- Eu tô com fome - ouvi a voz de Dhiego e quis rir. - Por que vocês não vão discutir no quarto e nós ficamos perto da comida?
- ESCUTA AQUI... - Mands ia começar a chegar mais perto de Dhiego, mas todo mundo a segurou.
- Vamos pro quarto - eu disse chegando perto deles. - Mands, quer que eu fique?
- Não - ela suspirou, estava mais bagunçada e destruída do que antes, pensei em como Lary estaria. - Só, leva esses babacas pro quarto e fique por lá até eu liberar todo mundo.
- Tem como passar comida pela janela? - Perguntei rindo e a vi sorrir com os lábios fechados. - Fica bem, se controla - nos abraçamos e eu disse baixinho que a amava, ela tremeu novamente em meus braços e eu queria apenas que ela ficasse ali.
- Eu queria pedir pra você ficar, mas não posso - Mands já estava chorando. - Eu não, eu não...
- Hey - eu sorri e beijei seu rosto. - Vai ficar tudo bem, não vai? - Segurei suas mãos e dei um beijo em cada. - Estamos aqui e eu vou estar aqui. Bom, no quarto, mas eu vou.
- Ok... - ela fungou. - Ok.

Dhiego e Miguel haviam pegado um grande estoque de comida e já estavam no quarto de Matheus. Gustavo, Lucas e eu também fomos depois que deixei Mands ali sozinha, a última coisa que escutamos antes de fecharmos a porta foi 'agora é com você' e essa era minha amiga falando. Matheus estava ferrado.

- Então, alguém vai poder me falar o que aconteceu? - Dhiego disse sentando-se na cama e abrindo um pacote de bolacha. - Eu só abri a janela e vi a Mands descendo o pau na Lorelai, o que não foi exatamente a minha visão matinal favorita. Briga de mulher só é boa se elas estão peladas e numa banheira.
- Que nojo, Lizardo, que nojo - fiz careta enquanto os outros meninos riam.
- Não sei bem o que aconteceu, mas parece que os dois passaram a noite juntos. Pelo menos é o que parece - Gustavo coçou a nuca e olhou meio ressabiado para Lucas, que estava se afastando um pouco de nós e indo até a sacada. - Mas ninguém confirmou nada.
- A Lary disse que sim - respondi. - Pode não ter falado abertamente, mas quem cala, concorda - bufei. - Eu nunca tive nada contra ela, na verdade eu nem entendia por que a Mands implicava tanto com a menina, mas agora vou ter que dar razão pra minha amiga.
- Tá, mudando de assunto - Dhiego engoliu as duas bolachas que ele tinha na boca e sorriu de uma forma estranha para Gustavo e eu. - Que aconteceu ontem?
- Hein? - Nós dois falamos juntos.
- Giovanna Donatelli, você está com um puta de um chupão no seu pescoço e com as roupas velhas do Torres. Torres, você tá com cara de quem se deu bem ontem... Então...
- Ai, cara - Miguel rolou os olhos e foi pra perto do Lucas, eu fiz careta.
- Eu acho que já deixei bem claro que quero minha vida sexual em segredo, não falei, Dhiego?
- E daí? Tem um casal lá fora brigando porque a vida sexual deles não foi mantida em segredo; aproveita o clima e coloca tudo pra fora - ele sorriu. - Transaram ou não?
- Que tosco - Gustavo riu. - Vai, aconteceu porra! Agora vê se cala a tua boca.
- AEEEEE - Dhiego gargalhou. - Perdeu o cabaço, puta merda! - Ele veio até mim rindo e me abraçou, eu só queria enfiar minha cara em um buraco. - Foi bom?
- HEY! - Berrei e saí do abraço dele. - Não vou falar sobre isso com você, é patético.
- Qual o problema, das outras eu sempre sou... - Dhiego parou a frase no meio quando viu que estava falando demais, Gustavo lançou um olhar repreendedor pra ele e eu cruzei os braços. - Falei demais.
- Quantas foram? - Perguntei.
- Algumas - Dhiego disse e Gustavo mandou um 'cala a boca, porra' bem baixo, mas eu ouvi. - Ok, vou mudar de assunto.
- Eu vou deixar vocês dois aí falando sozinhos. Vou ver como o Lucas está - olhei pra Gustavo e apontei o dedo pra ele. - Vê se cala a boca, Torres.
- Sim senhora - ele bateu continência e começou a rir, assim como eu e o Dhiego.

Vi Lucas parado na sacada olhando pro nada e respirando de forma calma, mas também vi Miguel sentado na cama vasculhando alguma coisa no celular, o que eu acho realmente que era uma maneira de disfarçar. Cocei a nuca e caminhei até Miguel primeiro, ele nem ao menos percebeu que eu estava me aproximando. Quando cheguei bem perto passei minha mão por seus cabelos de uma forma carinhosa e ele quase caiu da cama, tamanho susto que levou. Eu ri.

- Desculpa?
- Tá tudo bem - ele riu sem graça e guardou o celular no bolso, vi suas bochechas ficarem coradas. - É realmente incômodo ver esse roxo no seu pescoço.
- Olha pro outro lado, oras - eu ri e dei um soquinho em seu ombro. - Sinto muito, por isso.
- Uau, você sente muito porque você transou com seu namorado - ele sorriu olhando pra baixo. - Corta essa, Gi.
- Eu sei que não deveria estar pedindo desculpas pra você, na verdade nos últimos dias eu tenho pedido desculpas demais.
- Você pediu desculpas pelo QUÊ?
- Eu sujei o lençol do Gustavo ontem - respondi tapando meu rosto com as mãos, ouvi Miguel dar uma gargalhada ao meu lado. - Ai, para com isso.
- Você é uma linda - o ouvi dizer. - De verdade.
- Obrigada - suspirei e o encarei. - Eu só queria que não ficasse nenhum clima estranho entre nós dois. Sou muito apaixonada pelo Gustavo, mas eu também amo você e não quero que nada mude entre nós dois.
- Não vai mudar - ele suspirou e me abraçou de lado. - É triste saber que uns tempos atrás nós escrevemos uma música com o McFly e a única pessoa que eu conseguia pensar era você.
- Ah, não! - Eu ri. - Vocês escreveram uma música pra mim?
- Não exatamente pra você, mas as partes que eu escrevi foram pra você, e Gustavo sabe disso - e de novo, Miguel baixou a cabeça. - Ele está sendo um cara muito legal, não querendo me matar por isso e tal.
- Acho que ele te ama quase o mesmo tanto que ele me ama - sorri. - Você é o irmão dele, como que ele podia ficar bravo com você?
- Não sei, eu estou a fim da namorada dele, esse é um grande motivo pra ficar bravo com alguém.
- Aconteceu, Miguel! O problema seria se eu também estivesse apaixonada por você.
- Coisa que eu espero que você não esteja - ele me repreendeu com olhar. - Eu, olha... Eu gosto muito de você, mas não te imagino com outra pessoa que não seja o Torres.
- Jura? - Senti que perguntei em um tom agudo. - Digo, sério.
- Ninguém nesse mundo pode aguentar mais o Gustavo do que você - Miguel riu. - Vocês foram feitos um pro outro, a dinâmica que rola entre vocês dois é algo surreal. Brigam, se matam, você chama ele de burro, o cara fica puto e, olha só, estão juntos de novo.
- Eu chamo isso de estranho.
- Chamo isso de amor - Miguel me abraçou um pouco mais apertado. - Por isso não dá pra competir com ele, porque vocês dois são... Intocáveis, inseparáveis.
- Colocou isso em alguma música?
- Não com essas palavras - ele riu. - Mas é mais ou menos essa ideia.
- Estou ficando com mais curiosidade ainda de ouvir as músicas novas. Por sinal, quando vocês vão liberar alguma pra mim? Até o Tom já deu as novas músicas e vocês nada!
- Em breve, acho que vamos pegar a semana que vocês vão estar em Paris pra nos focarmos mais no trabalho, Gustavo funciona um pouco melhor sem você por perto, mas não de um jeito ruim.
- Entendi - sorri. - Vai ser bom dar esse espaço pra nós, depois de tudo o que aconteceu, acho que a banda precisa também de um tempo sozinhos.
- Não sei como vai ser pro Lucas e pro Matheus - Miguel coçou a cabeça meio triste e ansioso pelos próximos dias. - Vai ser foda.
- Eu imagino - suspirei e olhei pra sacada, Lucas ainda estava lá parecendo uma estátua de mármore. - Vou falar com ele.
- Tem certeza?
- Que custa? - Sorri. - Amo você, Thompson.
- Também te amo, pequena - e com um beijo no rosto, me levantei e fui até o outro membro da boyband.

Lucas parecia nem respirar e, assim como Miguel, ele não percebeu quando me aproximei. Desde o dia na SugarScape, Lucas (junto com Miguel) havia se tornado meu melhor amigo. Eu via Lucas como aquele irmão calado que fica no canto só esperando o momento certo pra me defender, com ele as coisas sempre foram assim. Ele tinha o melhor abraço do mundo, o melhor cheiro do mundo e a casa mais arrumada dos meninos. Algumas vezes eu simplesmente saía das aulas e, ao invés de ir para a casa de Gustavo, ia para a de Lucas assistir filmes antigos e desabafar sobre a vida, Lucas conseguia ser filosófico de vez em quando; de um jeito bem estranho e peculiar, muitas vezes eu não o entendia, mas assim era ele. Podíamos não estar todo o momento juntos, na verdade acho que passo mais tempo com o Gustavo do que com o resto da banda, mas... Não precisamos falar um pro outro que somos amigos. Lucas é parecido comigo, não preciso lembrar todo dia que amo alguém, a pessoa simplesmente sabe.

- I used to think that I was better alone... - Lucas cantarolou ao meu lado, senti que agora ele sabia que eu estava lá. Assim era ele, não falava seus pensamentos e sentimentos como outra pessoa, ele colocava em forma de arte, no seu caso a música, sempre ela. - Why did I ever want to let you go, under the moonlight as we stared the see - o ouvi fungar. - The words you whispered I will always believe...
- Lucas? - Passei a mão por suas costas e ele me olhou, seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. Meu Deus, eu ia matar essa Lary. - Ai, poxa - puxei-o pra mim e o abracei. Lucas chorou em meu ombro, sentia seu corpo todo tremer e seus braços me apertarem mais.
- Não... Passa! - Ele disse entre o pranto. - Dói, simplesmente, dói!
- Eu sei, bom, eu não sei e nem quero saber, mas eu imagino.
- Não é ela, o problema não é a Lorelai, é o Matheus! Matheus! - Ele me soltou, porém me segurou nos ombros enquanto me encarava. - Cara, como ele pode? Como ele pode fazer isso comigo?
- Não pensa assim, Lucas, por favor - fiz carinho em seu rosto. - Eu sei que, bom eu vou parecer bem fria! Mas vocês são uma banda, o que aconteceu não pode afetar relacionamento, e acredite em mim, a Mands uma hora dessas deve estar matando o Mathew. Se tá doendo em você, pensa nela.
- Só de imaginar como a Mands está me dá mais nojo dele, simplesmente nojo - ele fez careta e voltou a chorar. - Ele é meu irmão, Gi! Nós passamos por tudo isso juntos, chegamos aqui juntos! Como que ele... Como que...?
- Chega, para de se torturar - o abracei de novo. - Estamos falando do Matheus! Do pequeno lindo Matheus...
- Filho da puta, Matheus.
- Lucas! - Repreendi-o. - Se você quer surtar com alguma pessoa, você surte com a Lorelai, Matheus não transou sozinho na noite passada.
- Eu sei - ele suspirou.
- Olha - passava as mãos pelos seus braços a fim de lhe deixar um pouco mais tranquilo, Lucas tremia de nervoso. - Dias atrás eu tive minha primeira briga com Gustavo e eu pensei que nunca mais fosse vê-lo. Eu disse coisas horríveis, ele disse coisas horríveis e aquele foi o primeiro momento em que eu tive medo de perder tudo o que tínhamos até agora. Mas ele me surpreendeu, batendo na porta do quarto na manhã seguinte e disposto a me escutar, me ouvir. Faça isso pela Lary, e, claro, por você também. E acima de tudo, faça isso com Matheus, não do jeito Amanda porque ela vai matá-lo, com ela é meio 'pancada primeiro, conversa depois' - fiz Lucas soltar um riso anasalado, ufa! - Por favor, não banque o machão agora e fique bravo com o mundo todo, dê uma chance para as explicações. Tudo tem uma explicação.
- Não sei se estou pronto pra ouvir uma explicação dela, ou dele.
- Claro que está - sorri e dei um beijo em seu rosto. - Você está com medo porque, se você ouvir o que eles têm pra falar, capaz de perdoá-los. E nós gostamos de sofrer um pouco, mas acredite em mim, não vale a pena.
- Você é a mãe da banda - ele riu e enxugou as lágrimas. - De verdade, Gi - ele de novo me abraçou, mas agora menos desesperado. - Obrigado.
- Eu te amo, bobão - sorri. - Agora, você quer ficar sozinho um pouco pra saber quando vai falar com os dois?
- Como você sabe?
- Porque eu infelizmente conheço você muito bem - eu ri. - Vou voltar pros meninos, acho que já deu tempo da Mands terminar de conversar com o Matheus.
- Ou matá-lo.
- Ai caramba - nós rimos.
- É verdade que a Mands lutava box?
- Ela sempre quis, eu acho que fez uma aulas quando morava em Bolton.
- Matheus tá encrencado.
- Ah sim, e muuuuuuito - falei com exagero e nós rimos de novo. - Eu tô ali dentro, qualquer coisa você grita.
- Pode deixar - Lucas deu um beijo demorado no meu rosto e eu entrei.

Ok, já falei com Lucas e Miguel! Dhiego ainda vai me zoar pela minha noite com Gustavo e eu ainda tenho que falar com o próprio Gustavo sobre a noite de ontem. Sério que o Matheus tinha que escolher hoje pra trair a Mands? Ou, bem, no caso, ontem? Droga!

Dhiego e Gustavo estavam encostados na porta e claramente tentavam ouvir a conversa. Não acreditei na cena que vi! Miguel estava deitado na cama só rindo olhando pros dois, eu não sabia quem eu matava primeiro. Gustavo estava com uma cara branca e assustada de quem não estava gostando nada do que estava ouvindo, Dhiego por outro lado, parecia gostar, porque eu nunca vi um moleque tão barraqueiro quanto Dhiego Lizardo.

- Sério? - Eu disse parada com as mãos na cintura, os dois se assustaram e caíram pra trás. PATÉTICOS. - Ok, quantos anos vocês tem?
- Amor, sério... - Gustavo parecia eufórico. - Essa está sendo a briga mais épica que eu já vi, nem a nossa no carro foi tão boa assim.
- BOA? Gustavo, nenhuma briga nunca é boa - disse chateada. - Saiam daí, agora.
- Nem pensar - Dhiego falou. - Vem aqui escutar.
- Eu não vou ouvir a Mands brigando com o Matheus.
- Vai dizer que você não está nem um pouquinho curiosa pra saber o que eles estão falando! Eu estava quase indo até a sacada pra ouvir você e o Lucas - Dhiego sorriu naquele estilo sapeca. - Vem, Gi!
- Eu vou ficar com o Miguel, não estou confortável com essa situação.
- Miguel só está lá porque não tem espaço pra ele na porta - Gustavo falou.
- SÉRIO? - Olhei desapontada para Miguel. - Esperava mais de você, Thompson.
- Que posso fazer? Me rendi ao lado negro da fofoca - ele riu de forma infantil.
- Veeeeem, amor, enquanto estamos aqui falando com você estou perdendo grande parte da briga.
- Ela acabou de perguntar se foi bom pra ele - Dhiego falou enfiando um biscoito de chocolate na boca. - Dude, nunca faça essa pergunta, NUNCA!
- E ele? - Gustavo se empolgou. Esquece aquela impressão que eu estava de que ele parecia preocupado. - Porra, que silêncio.
- Ai, que seja - fui até eles, não que eu estava curiosa... Tá eu estava. - Alguma coisa?
- Não, Matheus está gaguejando - Gustavo respondeu, sentando no chão enquanto eu sentava em seu colo e ficávamos juntos com as orelhas encostadas na porta.
- Foi... Foi... - Matheus começou a dizer, ah não!
- HORRÍVEL.
- PÉSSIMO.
- NADA SE COMPARA A VOCÊ.
- NUNCA MAIS QUERO FAZER ISSO.
- VOCÊ É MIL VEZES MELHOR.
- Diferente...
- NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO!!!!!!!!

Os meninos entraram em desespero com a resposta de Matheus, até eu entrei! Isso ia deixar Mands em parafusos! Apertei os braços de Gustavo quase enterrando minhas unhas em sua pele, eu sabia que não tinha que ouvir essa conversa, eu sabia!

- Diferente? Um BOM diferente?
- Ninguém gosta de mudanças...
- UGH! AI, EU TE MATO!
- Matheus é péssimo com respostas, péssimo.
- Lembra do que eu fiquei falando quando dormi com aquela fã em US? - Gustavo comentou com Dhiego esse assunto como se fosse a coisa mais simples, olhei pra ele repreendo-o. - Que foi? Já não é um assunto superado?
- Pra que trazê-lo de novo à tona?
- Ai Gi - ele me beijou no rosto. - Enfim, como eu dizia.
- Vai continuar? - Ele tapou minha boca, filho da puta.
- Você ficou se martirizando a noite toda, falando que foi péssimo, que ela era ruim de cama e essas coisas - Dhiego respondeu. Arregalei os olhos, eles iam mesmo falar disso.
- Então, cara, custava o Matheus aprender dos meus erros? Ou, se for cometê-los, dá uma justificativa melhor, pelo amor de Deus! - Ele soltou minha boca. - Pronto, amor.
- Nunca mais faça isso - dei um tapa na sua cabeça e na de Dhiego.

E lá ficamos nós ouvindo a conversa de Matheus e Mands, por um bom tempo.

- De todos os meus relacionamentos, você era o único que eu tinha esperanças de que nunca ia me magoar, Matheus. E você assim o fez, da pior maneira possível.
- Não faz isso comigo, Mands, por favor.
- Eu... Não... Consigo - ouvi-a chorar. - Por favor, me entenda aqui.
- Como que eu vou viver sem você? - E agora Matheus chorava. - Sem seu cheiro, seu corpo, seus beijos...
- Para, PARA!
- Mands, somos nós.
- Eu não construí um relacionamento pra você me trocar por outra na primeira oportunidade.
- Não foi na primeira... Eu NUNCA quis te trocar, Mands, NUNCA!
- Mas assim você o fez
- ela soluçava.
- Eu não vou aguentar ficar aqui - eu disse me aninhando ao peito de Gustavo. - Não acredito que eles estão terminando.
- Nem eu - Gustavo me abraçou e encostou a cabeça na curva do meu pescoço. - Acabou a comida? - Miguel olhou ao redor procurando por mais algum pacote de bolacha ou alguma outra porcaria.

Estávamos no quarto a pelo menos umas cinco horas. Já tinha passado a hora do café da manhã, do almoço e se aproximava a hora do café da tarde. Às vezes acho que os meninos possuem um estômago de hobbit, porque o tempo todo eles precisam comer, e precisa ser uma refeição grande. Embora Dhiego tivesse atacado a dispensa minutos antes de virmos pra cá, não trouxe comida suficiente para todos nós e, agora, todo mundo estava com fome.

- Se pedirmos pizza, será que tem como entregar pela janela? - Lucas perguntou. - Eu também tô com fome.
- E você, Gi? - Gustavo me olhou. - Quer comer.
- Eu comeria - dei de ombros, os quatro me olharam. - Que foi?
- Você tá com fome, você quer comer ou vai comer porque todo mundo tá pedindo pra você comer? - Dhiego, confuso, me perguntou.
- Vão com calma, ok - pedi baixinho. - É um longo caminho até essa paranoia sair da minha cabeça, então, calminha.
- Quantos quilos você perdeu nos últimos meses?
- Hey! - Gustavo repreendeu Miguel. - Cara.
- Que foi? Queria saber.
- Nem eu sei, Miguel. Nunca me pesei, pegava minhas roupas como medidas.
- Perdeu muito?
- Quatro números das minhas calças - suspirei, agora não era um motivo de orgulho, parecia mais vergonha.
- Se você entrar nas calças do Torres, teremos um problema - Dhiego brincou e eu comecei a rir. - As calças dele são mais apertadas que Joe Jonas.
- Mentira - ele se defendeu.
- Eles estão falando de novo - Miguel nos cortou. - Baixinho demais, mas acho que agora estão acabando.
- Acabando o namoro ou acabando a conversa? - Perguntei.
- Os dois.
- Droga!
Novamente encostamos as cabeças na porta e ficamos ouvindo. Mands só gritava com Matheus e ele estava começando a gritar de volta, a briga ficava cada vez mais séria. Eu nunca pensei que, de todos nós, Mands e Matheus fossem um dia se separar. Levantei-me porque não estava mais conseguindo ouvir nada, as acusações de Mands e as desculpas de Matheus (infantilmente a culpando pela traição) começaram a me fazer chorar. Gustavo me encarou, mas não disse nada, apenas me seguiu com o olhar quando eu sentei-me na cama e coloquei minhas mãos em meu rosto, massageando minhas têmporas e pedindo para que eu acordasse amanhã e isso tudo não passasse de um sonho absurdo. Assustamos quando Mands gritou COVARDE com todas as forças e foi aí que eu comecei a chorar mais. Miguel veio ao meu lado e me abraçou de forma carinhosa, passando a mão em meus cabelos e tentando me acalmar. Eu não precisava estar triste assim, na verdade eu precisava! Aquela na sala era minha melhor amiga, e ela estava terminando um namoro com o - sim, ele é - amor da vida dela. Funguei quando vi que os meninos também tinham se afastado da porta. Dhiego colocou a mão em cima dos ombros de Gustavo e parecia tomar fôlego... Pra quê?

You and me
(Você e eu)
We used to be together
(Costumávamos ficar juntos)
Every day together always

(Todo dua juntos, sempre)

Dhiego cantou com a voz bem baixinha e rouca, só mesmo nós do quarto que conseguíamos ouvir. Miguel se levantou, assim como eu. Era como se ele estivesse nos chamando para "orar" por Matheus e Mands, mas como não fazemos isso com frequência, o que eles sabiam fazer era cantar, e foi assim que Dhiego o fez. Terminado a primeira parte, olhou pra Lucas, que entendeu o recado.

I really feel
(Eu realmente sinto)
That I'm losing my best friend
(Que estou perdendo meu melhor amigo)
I can't believe
(Eu não consigo acreditar)
This could be the end
(Que isso possa ser o fim)

Lucas encarava a porta. Ele estava em parte perdendo o melhor amigo, afinal, Matheus também fez parte da traição, mas eu sei que, no fundo, Lucas estava tão arrasado com o término de Matheus e Mands quanto todos nós.

It looks as though you're letting go
(E parece que é como se você estivesse deixando ir)
And if it's real,
(E se isso for real)
Well I don't want to know
(Bem, eu não quero saber)

Lucas e Lous cantaram juntos e então, Lucas saiu de perto e foi pra sacada. Vi que ele estava com o nariz vermelho e se controlando para, de novo, não chorar. Sentamos-nos no chão, encarando a porta na nossa frente, como que esperando por um milagre que talvez nunca fosse acontecer. Gustavo estava ao meu lado, entrelaçou seus dedos aos meus e eu encostei a cabeça em seu ombro. O clima lá fora parecia silencioso e eu pensava que: ou Mands matou Matheus, ou Matheus matou a Mands ou eles se acertaram, e o mais triste é saber que nenhuma das opções anteriores é a verdadeira.

Don't speak
(Não fale)

Gustavo começou e olhou pros meninos que estavam ali. Os dois, Miguel e Dhiego, começaram a cantar juntos. Eu enterrei mais meu rosto no pescoço de Gustavo e, como Lucas, me segurei para não chorar.

I know just what you're saying
(Eu sei o que você está dizendo)
So please stop explaining
(Então pare de se explicar)
Don't tell me 'cause it hurts
(Não me diga porque isso machuca)
Don't speak
(Não fale)
I know what you're thinking
(Eu sei o que você está pensando)
I don't need your reasons
(E eu não preciso das suas razões)
Don't tell me 'cause it hurts
(Não me diga porque isso machuca)

- Acabou, Matheus.

E isso foi a única coisa que nós ouvimos dos dois.

- Melou os planos de irmos para Brighton Beach - Lucas disse ao fundo. Todos nós olhamos pra ele, que planos eram esses? - Ah tá, vocês não se lembram que temos uma entrevista lá perto daqui dois dias e que nós iríamos pra praia depois, sério?
- Porra! - Gustavo bateu na própria testa. - Me esqueci completamente disso.
- Entrevista? - perguntei.
- Falando do novo CD, da nova tour e dos planos futuros. Na verdade o Simon disse que essa entrevista vai mudar nosso fim de ano e nossa vida, poxa, como eu pude me esquecer disso? - Gustavo parecia se lamentar, a coisa era séria.
- E por que "melou os planos"? - Olhei pra Lucas.
- A gente ia passar o dia na praia depois da entrevista, mas com esse clima todo, acho que não temos mais motivos pra isso - ele parecia bem triste.
- Acho que podemos ir de qualquer jeito, qual o problema? - Eu disse. - A Mands sabe se comportar em público, ela tá doida desse jeito porque não tem ninguém vendo.
- A Lorelai vai.
- Ouch - fiz careta. - Tá, então temos que pensar em algo.
- Ela vai estar na entrevista? - Miguel perguntou.
- Vai, é parceria com a Radio One, então, como ela é o braço direito do pessoal de lá, é praticamente obrigatória a presença dela.
- A mídia sabe de vocês dois?
- Não, Gi - Lucas coçou a nuca. - E nunca vai saber, não tem mais o que saber agora.
- É...
- Gente - Dhiego nos chamou a atenção. - Eu ouvi a porta da frente bater.
- Será que algum deles foi embora? - Meu coração pulou na boca. - Será que foi a Mands?
- Podemos abrir a porta?
- Podemos agora pedir pizza?
- Lucas!
- Tá, desculpa.

Nós abrimos a porta juntos e não vimos ninguém, estava tudo escuro do lado de fora. Então, como se fôssemos um bando de hobbits com medo de algum orc na Sociedade do Anel, fomos juntos até a sala, com medo de quem pudesse estar lá e, o pior, a condição que essa pessoa estaria.

Deparamo-nos com um Matheus deitado em posição fetal no sofá. Ele mal parecia respirar e eu tenho certeza de que ele tremia, mas era de forma involuntária. Não sei se ele estava dormindo e eu estava com medo de chegar nele e o garoto acabar gritando ou algo do tipo; bom, se era Matheus ali, Amanda deve ter ido pra algum lugar. Mas, onde?

- Deixa ele com a gente - Miguel disse batendo no ombro de Dhiego, que concordou. - Sabemos como cuidar do pequeno.
- Eu não vou conseguir falar com ele agora - Lucas mantinha o rosto rígido e mal olhava para Matheus. - Desculpa, galera.
- Tudo bem, Lucas - falei passando as mãos por seus braços. - Eu vou procurar a Mands, quer me acompanhar?
- Gustavo, você não vai?
- Nem sabia que você ia procurar a Mands - ele me olhou e riu baixo. - Quer que eu vá?
- Eu não sei o que vou encontrar ao achá-la, eu queria companhia - dei de ombros.
- Vão vocês dois, se não se importam, eu vou pra casa ficar sozinho - todos olhamos para Lucas. - Calma, galera, não vou me matar ou nada do tipo. Só quero pensar e tomar uma boa chuveirada.
- Vai pedir pizza mais tarde? - Dhiego perguntou e nós rimos.
- Vou sim.
- Passo na sua casa mais tarde, mate.
- Todos passamos - Gustavo riu.

Não fazia ideia de onde começar a procurar pela minha amiga, mas eu tinha certeza de que antes tinha que tirar a roupa de Gustavo, não podia sair por Londres vestindo isso. Antes de mais nada, voltamos para sua casa e eu vesti uma camiseta - que era dele, mas era mais bonitinha - e uma calça jeans que uma das peguetes de Dhiego havia esquecido na casa de Gustavo (não me perguntem como isso aconteceu, de verdade, não faço ideia e eu não quero saber), os meus próprios sapatos e pronto. Gustavo estava parado no batente da porta do seu quarto me olhando enquanto terminava de arrumar minhas coisas que estavam ali desde a noite passada. Olhei a cama e a vi bagunçada, lembrando do que tinha acontecido, e depois da música... O dia foi tão lotado que nem pudemos conversar a respeito e muito menos falar do meu "apagão" após a música que eu nunca tinha ouvido na vida.

- I'm in love with you and all your little things - Gustavo cantou baixo e quando eu o olhei, ele sorria. Parecia memorizar cada movimento que eu estava fazendo.
- Eu adorei a música - suspirei; - Foi demais pra mim... Digo, depois de tudo o que já tinha acontecido.
- Você, de verdade, desmaiou? - Ele riu. - Porque eu tentei te acordar depois e não consegui de jeito nenhum, mas alguma coisa me dizia pra não ficar preocupado.
- Foi como uma descarga emocional grande demais, sabe? - Fui até ele, largando a sacola com minhas coisas no chão. - Você me ama mais do que eu nunca imaginei que pudesse ser amada - sorri. - Não estou acostumada com isso.
- Acostume-se - ele me beijou de leve.
- Posso perguntar que música foi aquela?
- Se chama Little Things - ele passou a mão pelos meus cabelos. - É você em cada linha, cada palavra.
- Me identifiquei com tudo, talvez seja por isso que eu tenha desmaiado.
- Gi, eu queria...
- Gustavo - suspirei. - Sabe o que acabou de acontecer com a Mands e o Matheus?
- Hm.
- Promete que, se um dia nós terminarmos...
- Ah, por favor!
- Não, só me escuta - suspirei e coloquei minhas mãos ao redor do seu pescoço. - Se isso um dia acontecer, que vai ser por um motivo muito grande, gigante, imensurável! E não porque você ficou com outra pessoa ou porque eu fiquei com outra pessoa. Vai ser algo que não vamos ter forças pra lutar contra, vai ser o destino, vai ter que ser desse jeito.
- Eu não gosto de pensar que um dia vamos terminar, isso não vai acontecer.
- Nunca se sabe - dei de ombros. - Vai saber o que o universo tem planejado para nós? Eu nunca esperava ver Matheus e Mands terminando, eles são feitos um pro outro.
- Os dois vão superar, assim como nós também vamos superar qualquer coisa para ficarmos juntos - ele juntou mais nossos corpos. - Entendeu?
- Eu gosto de pensar em todas as possibilidades.
- Só iria terminar com você se surgisse uma oportunidade de ouro em sua vida e você tivesse que escolher entre eu e sua carreira. Eu não ia suportar ver você me colocando em primeiro lugar - ele estava sério.
- Minha vida está agora em Londres, isso nunca vai acontecer.
- Gosto de pensar em todas as possibilidades - ele disse rindo, parafraseando o que eu tinha acabado de falar.
- Tá bom - suspirei. - Vamos logo, acho que a Mands deve ter pegado o primeiro metrô e ido direto ao nosso apartamento, ela pode ser bem previsível.
- Ok - ele me beijou novamente e puxou pelas mãos. - Você ainda vai voltar pra cá hoje ou vai ficar com a Mands?
- Acho que preciso de um tempo sozinha com a minha amiga, Gustavo. Eu tô bem preocupada com ela, não sei como ela vai reagir a esse término.
- Ok, então eu te deixo no seu apê e depois volto pra cá, tudo bem?
- Aham.
- Me liga se precisar de alguma coisa - ele abriu a porta da casa pra mim. - Não vou dormir tão cedo hoje, vamos ter que ficar de olho em Matheus e Lucas.
- Tô com tanta pena dos dois - eu disse esperando Gustavo trancar a porta. - Me dá até um negócio no peito.
- Vê se não desmaia de novo, Gi - ele disse rindo.
- Deixa de ser besta - bati em seu ombros.
- Será que depois de toda transa você vai desmaiar? - E agora ele gargalhava.
- Ha Ha Ha, babaca - respondi de um jeito infantil enquanto íamos para o carro. Hunf.

500 Days in LondonWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu