· 1 · O Torneio Tribruxo

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Os alunos adentraram o castelo com os uniformes molhados graças à chuva. Alguns muito mais ensopados em comparação aos demais, já que Pirraça se divertia sobrevoando o saguão em busca de novas vítimas. O Poltergeist derrubava bexigas de água nos desavisados, enquanto a professora McGonagall tentava inutilmente, impedir que ele fizesse mais estragos.

– Nunca vou entender como ainda não o chutaram daqui. – Anabel afastou a franja molhada para enxergar melhor. Estava furiosa por ter sido acertada em cheio.

– Foi só uma brincadeira... Do jeito que ele é, poderia ter feito bem pior. – Emily torceu a manga do uniforme, tirando o excesso de água. – Além disso, avaliando como o mundo está se acabando em água lá fora, ficaríamos assim de qualquer jeito.

Já acomodadas em seus lugares naquela enorme mesa, o rosto de Anabel se transformou. Esqueceu-se do aborrecimento anterior com o Poltergeist e tratou logo de reiniciar o assunto que vinha comentando desde a viagem de trem.

Apesar de trocarem cartas constantemente nas férias, alguns detalhes mereciam ser informados ali, com a gesticulação e os exageros que só podem ser demonstrados pessoalmente.

– E por falar em fim do mundo... Onde foi que parei? – desviou o olhar pensativa. – Oh, sim... Foi um verdadeiro caos! Fiquei uma eternidade escondida na floresta até ter certeza de que aqueles monstros tinham sumido de vista. Ainda bem que você não estava lá.

Emily assentiu. O Quadribol era uma das pautas mais recorrentes nas conversas entre as duas. Apesar de ser uma grande fã do esporte, Anabel não possuía o talento necessário para fazer parte sequer do time da escola, então se limitou ao cargo de fiel espectadora. Naquele ano, havia comparecido à Copa Mundial de Quadribol, mas esta fora marcada por um terrível incidente envolvendo Comensais.

Elas cumprimentaram Frei Gorducho e mais alguns dos colegas que chegavam para o jantar. Não demorou até que a professora McGonagall entrasse no salão com a costumeira fila de alunos primeiranistas. Após mais uma das cantorias do Chapéu Seletor, deu-se início à seleção das casas.

– Baddock, Malcolm! – Minerva anunciou em voz alta.

– Sonserina!

Os sonserinos aplaudiram eufóricos, conforme o menino se aproximava. Na mesa da Grifinória, os gêmeos Weasley vaiaram Malcolm Baddock assim que ele sentou.

– Pobrezinho, ainda bem que não ouviu. – Anabel sussurrou para a amiga, que encarava-os com repulsa.

Seu olhar se encontrou com o de um dos garotos, mas ele apenas deu de ombros e voltou a aplaudir a próxima aluna selecionada. Emily nem se deu ao trabalho de tentar distinguir qual dos dois. É verdade que costumava assistir aos jogos e até mesmo dividira algumas aulas com a Grifinória em anos anteriores, mas não havia o menor contato direto com aqueles dois. O pouco que sabia sobre os gêmeos Weasley se restringia à sua fama de atrair problemas, ou pior, serem os responsáveis por criar a maioria deles.

Ao fim da seleção, o diretor Dumbledore levantou-se. Com sua voz grave, desejou aos presentes um bom apetite e tornou a sentar. O banquete que surgiu diante dos alunos não lhes impediu de manter conversas entre uma garfada e outra. Quando até mesmo as sobremesas desapareceram de seus pratos, o diretor se levantou outra vez, pronto para iniciar sua sequência de avisos.

Já estavam acostumados às adições na lista de objetos proibidos por Filch, informações acerca das visitas ao povoado de Hogsmead e um breve alerta sobre a Floresta nos terrenos e sua alta periculosidade. Contudo, naquele ano os avisos incluíram também o cancelamento de todas as partidas de quadribol, o que gerou burburinhos de indignação por todo o lugar.

Dumbledore pretendia continuar sua explicação e prestar os devidos esclarecimentos, quando foi bruscamente interrompido por uma trovoada ensurdecedora e as portas do salão se abriram, revelando mais um convidado. Um homem de aparência muito peculiar cumprimentou-o e juntou-se aos demais professores.

– Gostaria de apresentar o nosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas – disse em meio ao silêncio. – O Prof.° Moody.

– Bizarro... – Anabel cochichou, apontando discretamente para o professor.

Dumbledore pigarreou outra vez.

– Como eu ia dizendo – recomeçou ele, sorrindo para o mar de alunos. – Teremos a honra de sediar um evento muito excitante nos próximos meses, um evento que não é realizado há um século. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos um Torneio Tribruxo em Hogwarts.

– O senhor está BRINCANDO! – exclamou em voz alta Fred Weasley.

Algumas risadas tomaram conta do lugar. Emily revirou os olhos, ainda incomodada com seu comportamento reprovável durante a seleção dos alunos mais novos.

O diretor prosseguiu com as explicações acerca do evento. Ao final do discurso, comunicou que a chegada das escolas estrangeiras se daria no mês de outubro e mandou-os para as camas, ao som de protestos pela restrição de idade para ingressar na disputa por uma vaga no torneio.

– Vocês vão participar? – uma voz masculina questionou assim que as duas deixaram o local.

– Cedrico! – Emily abraçou-o. – Você vai?Eu ainda não tenho dezessete anos e Anabel desistiu assim que ouviu a palavra mortalidade. – os dois riram.

Cedrico Diggory era o capitão e apanhador do time da Lufa-Lufa. Um verdadeiro combo de gentileza e simpatia, num corpo jovem, bonito e atlético. Por comparecer fervorosamente aos treinos e jogos, Anabel havia se tornado uma amiga próxima. A amizade com Emily veio, naturalmente, logo em seguida.

– Não é engraçado. É perigoso e imprudente.

– É... Mas paga bem. – Emily piscou para ela e recebeu um leve empurrãozinho.

Cedrico despediu-se das garotas e conduziu os novatos até a Sala Comunal da Lufa-Lufa, uma de suas atribuições como monitor.

Todos agora descansavam em suas camas, cheios de expectativas para o ano escolar que estava prestes a começar.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora