· 57 · O Momento Mais Bonito da Vida

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Mal se materializam no topo da colina e ela deixou-o falando sozinho. Trancou-se no quarto, despindo a capa e jogando-a de qualquer jeito na cadeira em que o rapaz costumava sentar-se quando precisavam conversar seriamente. Seus pensamentos pairavam sobre questões preocupantes.

A primeira, o fato de que o jovem Draco Malfoy havia se tornado um Comensal da Morte. Apesar de parecer-lhe lógico e previsível já que a natureza do garoto nunca fora das mais gentis de qualquer maneira, não esperava que fosse tão cedo. A gravidade da situação preocupava-a, pois não só comprovava a ausência de escrúpulos do Lorde das Trevas ao escolher seus seguidores (não poupando nem mesmo um mero adolescente), como também significava que este teria um espião infiltrado em Hogwarts à sua disposição.

Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado encontrara alguém a quem poderia facilmente recorrer e manipular sempre que necessário. Talvez a missão dada à Draco fosse justamente a de coletar e extrair o máximo de informações possíveis, a fim de preparar terreno para um ataque maior, de proporções mais drásticas.

A segunda questão, também fora motivada por ele. As últimas palavras de Malfoy naquele corredor ressoavam como um fardo que deveria carregar dali em diante. Draco enxergara na jovem uma parte adormecida da própria Belatrix, uma parte que bradava orgulhosamente "Sou uma Lestrange, uma descendente dos Black!" e da qual havia se esquecido há muito tempo. Era o resquício de uma vida inteira cruzando as barreiras entre dois mundos que travavam batalhas infindáveis.

As duras coisas que disse para Draco com tanta facilidade, como se sentisse prazer em torturá-lo com a verdade que o garoto não queria aceitar... Ela sentiu, pela primeira vez, a estranha dificuldade de reconhecer-se. Viu-se como um mero receptáculo de tudo aquilo que as pessoas ao seu redor insistiam para que ela fosse.

Quem era, afinal? Emily, Atria, Roxy? Uma Carpenter, Lestrange, Black?

Estava começando a permitir que sua parte obscura tivesse espaço para aflorar? Recairia na desgraça e loucura e se transformaria na persona oblíqua que estava destinada a ser? Se deixaria ser tomada e guiada pelas trevas em nome de um propósito absurdo e imoral como sua mãe um dia fizera?

As duas tinham de fato o mesmo rosto, quem sabe compartilhassem também a mesma sina.

Apanhou a varinha sob o travesseiro, vestiu a capa, caminhou rumo às escadarias e saiu pela porta da frente. Atlas não estava em parte alguma da Torre e ainda que estivesse, pouco importaria. Já do lado de fora, ela assoviou e esperou.

Olhos alvos e magníficos brilharam entre as folhagens do bosque. Nyx apareceu lentamente, os cascos marcando pesadas pegadas na neve ao abandonar seu refúgio. Emily montou-a, agarrou firmemente a crina entre os dedos e apertou os calcanhares contra a pele do animal, que imediatamente alçou vôo.

Voar numa vassoura era uma sensação incrivelmente libertadora, mas não se comparava à experiência de cortar os céus na calada da noite sobre o dorso de um testrálio.

O percurso era ridiculamente curto já que Emily não tinha permissão para se afastar sozinha por muito tempo, mas sabia fazer cada segundo valer à pena. A melhor parte era poder, depois de realizarem uma subida constante, abrir os braços e sentir o vento atravessando-a enquanto planavam acima do território. Tudo isso para, no minuto seguinte, iniciarem uma queda finalizada por um vôo rasante até enfim chegar à terra firme.

– Onde foi que você se meteu?! – Atlas apareceu correndo, quando a jovem desceu do lombo do animal.

– Só demos umas voltinhas porque eu precisava espairecer e... Opa! – ela exclamou em surpresa quando Atlas puxou-a para um abraço apertado e afagou seus cabelos. – O que está fazendo, Atlas?

The Castle On The Hill | Fred WeasleyWhere stories live. Discover now