· 69 · Caixinha de Surpresas

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Emily esfregou os olhos e bocejou, erguendo-se do macio colchão. Sentada, olhou curiosamente à sua volta, tentando reconhecer o ambiente. Nas paredes cor de creme com estampa floral, algumas pinturas estavam penduradas de maneira intercalada. Havia um armário no canto do quarto e uma poltrona azul-bebê em frente à janela. Sobre a penteadeira ao lado da cama, alguém deixara sua varinha e o relógio de Atlas.

Ela firmou os pés nas tábuas frias de madeira que revestiam o piso do chão. Não quis sequer olhar para o objeto, temendo que isso fosse despertar nela o tipo de angústia que gostaria de evitar ao máximo.

Caminhou até a janela, por onde furtivos raios de sol entravam e iluminavam todo o cômodo. Lá fora, o modesto jardim era contido por um baixo muro de pedras empilhadas, com uma passagem gradeada repleta de arabescos. Pequenos gnomos de jardim saltavam para dentro de seus buracos na terra, na esperança de que assim não fossem arrancados dali.

Duas batidinhas suaves e a porta do quarto foi aberta. Emily virou-se e encontrou Anabel, que com um enorme sorriso no rosto jogou-se na cama agora vazia.

– Dormiu bem? – ela perguntou. Emily balançou a cabeça afirmativamente. – Imaginei que sim. Você desmaiou quando chegamos. Apagou por três dias.

– Três dias? – a garota cobriu os lábios horrorizada. Ia tornar a dizer algo, mas o barulho involuntário de seu estômago faminto interrompeu-a.

– Já entendi. Banho e café da manhã, qualquer outro tópico pode esperar. – Anabel abriu as portas do velho armário e retirou uma toalha limpa. – São todas suas. – ela apontou para as roupas dobradas dentro do móvel. – Lee e eu buscamos algumas coisas na Torre e na sua casa. Espero que não se importe.

– Ele...

– Não. Atlas não estava em lugar nenhum. – ela puxou a mão da garota e depositou algo nela. – Mas achei isso no chão do bosque assim que aparatamos. É um bom sinal. – Anabel já estava saindo do cômodo quando Emily abriu a mão. Era o camafeu com as fotos de Cedrico e sua família.

– Obrigada.

– Por nada. – ela sorriu. – Agora vá. Nós estávamos te esperando para o café da manhã.

– Nós?

Uhum. Os garotos ainda estão aqui.

Após um longo e merecido banho quente, as energias dela estavam quase restauradas. Pôde usar o tempo na banheira para ordenar os pensamentos e aliviar a tensão dos músculos, enrijecidos depois de tanto tempo alerta à qualquer menor sinal de ameaça. Se dormir por uma noite inteira sem acordar de um pesadelo no meio da madrugada já teria sido uma vitória, imagine então por três seguidas!

Ela deixou o banheiro e retornou ao quarto para arrumar a cama. Estava saindo quando viu o colar sobre a penteadeira e sentiu-se tentada à colocá-lo, mas o fecho escorregava entre seus dedos e a ausência de um espelho não ajudava. Emily desistiu depois de várias tentativas, guardou-o no bolso e abriu a porta do quarto.

– Opa. – Fred estava parado no corredor com o punho erguido, pronto para bater na porta que ela havia acabado de abrir. – Você demorou. Anabel pediu que alguém viesse te chamar. 

– E por alguém, ela quis dizer você. – Emily murmurou. – Obrigada.

Ela fechou a porta e passou por ele, colocando sua melhor expressão neutra no rosto. Três dias seriam suficientes para que ele conseguisse reconsiderar sua opinião sobre ela e os eventos daquela noite, certo?

– Será que poderia...? – ela virou-se repentinamente e mostrou o colar. Fred permaneceu calado, decidindo se deveria ou não ajudar. – Esqueça, vou pedir para outra pessoa.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora