· 58 · O Mestre Mandou

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Atlas costumava trazer para a Torre alguns dos exemplares do Profeta Diário, sempre estampados com manchetes de ataques. Entretanto, não lhe agradava a ideia de deixar que Emily tivesse acesso à tais notícias, temendo que isso machucasse a garota de alguma forma.

Quando Emily sentou-se à mesa com sua xícara de café naquela fatídica manhã, não pôde deixar de notá-lo bem ali, abandonado. Por descuido, o rapaz esquecera de apanhar o jornal antes de retirar-se para seus aposentos.

Ela não perdeu tempo: colocou-o debaixo do braço, virou o conteúdo da xícara nos lábios e subiu a escadaria com as mãos rentes ao corpo, numa postura rígida, mas que impediria que o jornal caísse ou fosse percebido.

Assim que chegou ao quarto, desdobrou a folha amassada e correu os olhos pelas matérias, procurando por nomes conhecidos e boas notícias. Infelizmente, não havia nada de animador em listas de desaparecimento, a prisão de um tal Mundungo Fletcher por arrombamento e um garotinho que tentara matar os avós após ser dominado pela Maldição Imperius. A data indicava que tais acontecimentos já haviam ocorrido há pelo menos um mês.

Emily baixou a folha e passou os minutos seguintes com o rosto apoiado sobre a palma da mão, batendo as unhas contra a bochecha. Teve vontade de deixar o quarto para ir até Atlas confrontá-lo pelo que estivera fazendo em seus passeios noturnos e saidinhas nada discretas. A mera possibilidade de que ele fosse o responsável por lançar a maldição no garotinho... Não. Atlas não faria esse tipo de coisa. É verdade que estava cego pela ideologia maluca da pureza do sangue, mas daí a atacar garotinhos indefesos?

Ela saltou da cama, escondeu os papéis e precipitou-se em direção à porta assim que ouviu o som da sola dos sapatos dele  contra o piso de pedra nos degraus da escadaria. O rapaz bateu à porta anunciando sua presença do outro lado e ela abriu-a, recepcionando-o com um sorriso falso. As engrenagens de sua mente trabalharam à todo vapor para reprimir o desejo de erguer os colchões, puxar o exemplar do Profeta Diário escondido ali e exigir explicações. Definitivamente queria ouvi-lo dizer, com todas as letras, que não estivera envolvido em nenhum dos ataques anunciados naquelas páginas.

– Vim vê-la porque precisamos conversar sobre algo de extrema importância.

Emily assentiu, mas se distraiu observando-o. Não nutria sentimentos de caráter romântico pelo rapaz, mas jamais poderia negar o quanto Atlas era atraente. O maxilar marcado e definido, como se houvesse sido cuidadosamente esculpido a mão, as mechas de seu cabelo escuro e ondulado  despreocupadamente jogadas umas sobre as outras dando-lhe um ar despojado, os olhos verdes capazes de penetrar na alma, ainda que tivessem um constante vestígio de melancolia. A pele bronzeada, como se fosse banhada pelo sol todas as manhãs. A cicatriz sob o olho esquerdo...

– Está prestando atenção? – ele estalou os dedos à frente do rosto dela e arqueou as sombrancelhas, tirando-a de seu transe.

– Sim! Desculpe-me, acabei de acordar. – apertou os olhos e forçou um bocejo, cobrindo a boca. – Pode repetir?

– É sobre sua mãe. Ela quer que vá à Mansão em breve para um teste. Lembra-se do que disse, não? Quer que pratique...

– Maldições imperdoáveis – ela completou cabisbaixa. – Deve ter outro jeito, Atlas.

– Não. Não podemos mais fugir disso, lamento. – ele foi sucinto em sua resposta. – É a última etapa. Se fizer isso, vai conseguir convencê-la e finalmente terá a marca.

– Mas ainda existirão os outros termos do voto para me assombrar pelo resto dos meus dias. Sejamos honestos: eu nunca mais serei verdadeiramente livre, serei?

– Sinto muito, foi o melhor que pude fazer. Fui pego de surpresa naquela noite, não achei que Bellatrix pediria algo tão extremo como um voto perpétuo. Subestimei-a.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyWhere stories live. Discover now