· 23 · Teseu e o Monstro No Labirinto

497 65 56
                                    

Na mitologia grega, Dédalo recebeu a missão de construir um labirinto capaz de abrigar uma fera que costumava devorar os jovens que eram mandados como sacrifício para determinada área. Todos os que ali estiveram, compartilharam do mesmo trágico fim.

Chama-se de labirinto, o tipo de construção que possui percursos criados para confundir quem os percorre. Sua finalidade é fazer com que o indivíduo encontre um caminho ou saída, seguindo sua intuição. Para os gregos, era um ambiente de experimentação, no qual o percurso era mais importante que a saída.

Aos que apreciam metáforas, a vida é o maior dos labirintos existentes.

Quando Harry Potter retornou com Cedrico Diggory, uma enxurrada de vozes, gritos e passos cresceu conforme as pessoas se aglomeravam ao redor deles.

"Ele está morto!"

"Ele está morto!"

“Morto!".

A multidão começou a repetir com horror. Potter estava no chão, agarrado ao corpo imóvel de Cedrico. Garotas gritavam, soluçavam, histéricas...

Amos Diggory e a esposa desceram das arquibancadas correndo, sem entender o que estava acontecendo. Emily e Anabel também vinham apressadas acompanhando seus passos. Os pais de Cedrico se infiltraram pela multidão,  mas as garotas ficaram para trás, sem conseguir enxergar nada.

– Somos amigas de Cedrico! Com licença! Queremos passar! Queremos falar com ele!  – Anabel repetia em voz alta, puxando a amiga consigo. Ela deteve-se diante de um garoto alto e este curvou-se, sussurrando algo em seu ouvido que a obrigou a se afastar em choque.

– O que foi? Que foi que ele disse?

Emily perguntou aflita notando como a amiga estava pálida. Seus olhos ficaram escuros e marejados e Anabel levou as mãos trêmulas ao rosto, cobrindo a boca como se estivesse prestes a reprimir um grito de agonia. Contudo no estado em que se encontrava, não seria capaz de produzir som algum.

– Você está me assustando... Diga alguma coisa! – Emily sacudiu a bruxa pelos ombros e o olhar vazio de Anabel finalmente pairou sobre a amiga.

– É Cedrico... Ele está... – tentou dizer, mas sua voz foi ficando fraca até desaparecer por completo.

– Está ferido? Não se preocupe, eles irão levá-lo até Madame Pomfrey. Ela vai saber o que fazer. – a jovem deu-lhe as costas e colocou-se na ponta dos pés tentando espiar por cima das cabeças e de toda a aglomeração.

– É tarde demais, Emily. – chamou-a com lágrimas escorrendo por sua face delicada. – Ele está morto. Cedrico está morto!

Emily sentiu uma dor intensa, como se alguém houvesse acabado de desferir uma série de socos em seu estômago com uma força descomunal. Havia uma sensação esquisita subindo desde a nuca até o topo de sua cabeça, em um calafrio desconfortável.

– Não. – o ar fugia-lhe dos pulmões enquanto olhava ao redor. As pessoas eram meros vultos e ela não conseguia distinguir suas vozes e rostos.

Ela disparou a correr pelo gramado sem nenhuma direção em mente. Perto da floresta, suas pernas fraquejaram e ela caiu no chão de joelhos. Ouviu passos, mas não se moveu. Não conseguiria, independente do quanto quisesse. Perdera o controle dos próprios movimentos e sua respiração estava ficando cada vez mais descompassada.

Anabel, Fred, George e Lee apareceram juntos e cautelosamente, temendo assustá-la, pararam ao seu redor, formando um pequeno circulo.

– Não consigo... Respirar... – ela arfou e colocou a mão no peito, sentindo o coração acelerado, com uma pressão invisível espremendo-o lentamente.

Anabel abaixou-se e as duas se olharam, sem saber o que dizer. Segurando as mãos da garota e, sem quebrar o contato visual, a amiga começou a inspirar e expirar fundo até que Emily conseguisse imitar e acompanhar o ritmo. Assim que se acalmou, ela abraçou o próprio corpo e começou a chorar copiosamente.

Anabel envolveu-a em seus braços e passou a mão por seus cabelos, como uma irmã mais velha consolando a mais nova. Lee empurrou George levemente com o ombro e sinalizou com a cabeça para as garotas no chão e depois para a direção do castelo, implicitamente sugerindo que saíssem dali, a fim de permitir que elas tivessem espaço necessário para assimilar o fato, até estarem prontas para conversar. George cutucou Fred e o trio se afastou, o último olhando para trás diversas vezes antes de enfim sair, demonstrando certa relutância.

Depois de quase dez minutos, as garotas se levantaram da grama, sem notar a presença daquele enorme cão preto no canteiro de abóboras ao lado da cabana de Hagrid. Foram se encontrar com os demais, ainda esperando-as nos degraus da escadaria, cabisbaixos e quietos.

– Está se sentindo melhor? Quer ir à ala hospitalar? – Lee questionou, ao que Emily negou prontamente e sentou-se no degrau ao seu lado.

– O que diabos está acontecendo agora? – George sussurrou para o irmão quando a professora Minerva McGonagall passou por eles, seguida de perto pelo cão.

George abaixou-se e tomou o lugar vazio ao lado de Emily. Ela olhou-o e ele gentilmente ofereceu seu ombro, no qual ela repousou a cabeça. O garoto afagou seus cabelos fraternalmente.

Mais algum tempo se passou silenciosamente, como a areia escorrendo em uma ampulheta.

Tempo...

O de Cedrico havia se esgotado.

– Precisamos tirar Emily daqui. – Anabel sussurrou para Fred. – Vê aquilo? – ela apontou para sombrias figuras caminhando pela noite na direção deles. – O Ministro da Magias está trazendo um dementador para o castelo.

– Por que ele faria isso? – Fred questionou, forçando os olhos para tentar enxergar os vultos com clareza.

– Eu não sei, mas Emily não pode lidar com algo assim... Especialmente agora. Ela já é altamente suscetível aos efeitos deles em dias comuns, continuar aqui parados seria como oferecer um banquete. – ela agachou-se ao lado da amiga e George se afastou. – Emily, Vamos entrar, sim?

Ela permaneceu imóvel, sem dizer uma única palavra. Seus olhos estavam focados em um ponto fixo no chão, embora não estivesse realmente olhando para o que quer que fosse. Sua mente estava perdida entre os acontecimentos daquela noite, agarrando-se esperançosamente à qualquer memória anterior de Cedrico, como o brilho nos olhos que ele não mais possuía.

– Não – ela disse. – Vamos esperar.

– O que?

– Ele já vai voltar. Disse que não ia à lugar algum.

– Emily... – Anabel olhou-a penosamente, sentindo seu coração apertar. Aquela criatura pavorosa alcançaria o gramado que levava à escadaria em breve e ela não tinha conseguido reunir a força necessária para ajudar a própria amiga.

– Prometi que iríamos esperar até que voltasse. – o rosto dela estava vermelho e tinha um aspecto cansado. – Temos que esperar por ele aqui.

– Podemos esperar lá dentro. – Fred sugeriu e abaixou-se também, ficando ao lado da garota ainda hipnotizada pelo ponto fixo no chão. – Podemos esperar juntos lá dentro, já que está muito frio aqui fora. O que acha?

Ela parecia ouvir, mas era incapaz de agir sozinha. Ele passou um dos braços ao redor dos ombros dela e finalmente recebeu uma reação. A jovem olhou-o e concordou com a cabeça lentamente.

Fred levantou-se e com paciência, ajudou-a a fazer o mesmo. Eles caminharam abraçados para dentro do castelo, seguidos pelos demais à tempo de evitar Cornélio Fudge e o dementador.

Anabel levou Emily ao dormitório da Lufa-Lufa e ajudou-a a se lavar e se vestir. Arrumou seus cabelos e colocou-a na cama, permanecendo deitada ao seu lado até que adormecesse. Nos dias que se seguiram, Emily faltou à maioria das aulas e não compareceu ao Salão Principal para as refeições, porque sequer tinha apetite.

Tudo em Hogwarts lembrava-a de Cedrico...

Ou, pior ainda, de sua ausência.

The Castle On The Hill | Fred WeasleyWhere stories live. Discover now