Covarde

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O conselho de Dona Ana, mãe do Doutor Eduardo, ficaram martelando na minha cabeça. Eu estava sendo muito imatura por ter medo de contar sobre a minha gravidez para os meus pais, mas fazer o que se eu tinha a absoluta certeza de que minha mãe iria pirar e meu pai me matar, ou pior me obrigar a casar com alguém só para não ter a vergonha de ter sua princesinha como mãe solteira. Não sei o que era pior, encara-los de frente ou sofrer as consequências de saberem sobre meu estado por outra pessoa.

Passei a mão pela minha barriga já saliente e suspirei, eu sabia que teria de enfrentar minha família, teria de ser forte para enfrenta-los e suportar todas as críticas pelo meu bebe, sei que minha mãe vai meter o bedelho nas nossas vidas e vai me julgar por não fazer as coisas do jeito dela. Meu pai vai ficar extremamente decepcionado comigo, ele já não está muito feliz por eu ter saído de casa e com certeza vai dizer que foi por isso que “fui corrompida”.

Não dava para adiar mais, já estava entrando no terceiro mês de gestação e tinha de enfrentar meus pais.

Pequei o telefone e conferi o horário, já eram oito horas da noite de Domingo, com certeza eles estavam jogados no sofá, assim como eu, assistindo algum programa de auditório totalmente sem noção antes de se prepararem para dormir.

Disquei algumas vezes o número e desligava antes de completar a ligação como uma completa covarde. Suspirei fundo bebi um copo de agua e disquei novamente.

- Que a mãe atenda, que a mãe atenda – eu repetia a cada toque.

- Alo! – disse meu pai do outro lado da linha.

- Oi pai, tudo bem? – o cumprimentei.

- Oi princesinha, tudo bem, como vão as coisas por ai? Ainda tem trabalhado muito na loja de pijamas para vir visitar seus pobres pais? – sorri com sua maneira de desdenhar do meu trabalho

- É uma loja de lingerie, pai! – o corrigi – e sim tenho trabalhado bastante, mas não é por isso que estou ligando.

- Aconteceu alguma coisa minha filha? – seu tom fica preocupado.

Como dar essa notícia por telefone, seria muita covardia, meus pais não merecia aquilo e eu devia o mínimo de respeito por eles, sempre me deram de tudo junto a uma educação rígida, mas justa e amorosa.

- Eu... eu vou pegar uma folguinha semana que vem e vou visita-los. – eu sou mesmo uma covarde, mas fazer o que!

- Que bom princesinha, só me informa antes do horário do seu ônibus para eu poder ir busca-la na rodoviária – ele sempre fazia questão de ir me buscar na rodoviária.

- É claro pai. – respondi fazendo uma careta só de imaginar a cara que ele vai fazer quando for pegar sua “princesinha” e a vir gravida.

- Agora vou passar para sua mãe, por que já vai começar o Fantástico, tchal princesa!

- Tchal pai!

Conversei por mais alguns minutos com a minha mãe até ela me mandar desligar o telefone por que estávamos gastando demais, dei risada da sua atitude, mas me despedi com lagrimas nos olhos, eu tinha medo deles mudarem de atitude quando eu contasse sobre a gravidez, tinha medo de não ser mais a princesinha do meu pai.

E Agora? - rascunhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora