Jantar esquisito

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Meu pai ficou fora o dia inteiro, o que era estranho, ele sempre fica em casa comigo quando venho visita-los, mas dadas as circunstâncias foi compreensivo. Minha mãe resmungou o dia inteiro sobre como ela devia ter me batido mais e como os filhos são ingratos, eu a ignorei com o coração apertado, achei que ela iria me apoiar, nesse momento tudo o que eu queria era o colo dela e não suas críticas.

A tarde liguei para o Eduardo e contei tudo o que aconteceu.

- Que bom que ele aceitou – Eduardo se referia a reação do meu pai.

- Também acho, mas é muito estranha a reação dele, quando perdi minha virgindade e ele descobriu, fiquei três meses de castigo e olha que eu já tinha dezoito anos.

Eduardo deu rizada

- E como ele descobriu isso? – perguntou ele

- Eu falei sem querer, não consigo guardar nenhum segredo, eu sempre acabo falando mais do que eu queria. 

- Já percebi isso – ele continuou dando rizada.

- Sinto sua falta – falei de repente, já me arrependendo de ter falado demais, nós ficamos juntos apenas uma vez, estávamos nos conhecendo, não era hora de falar essas coisas, eu iria acabar afastando-o de mim.

- Eu também sinto sua falta – ele me disse depois de um suspiro – eu deveria ter ido com você nessa viagem para ficarmos mais tempo juntos

- Não, isso só pioraria as coisas com meus pais, apesar do meu pai aparentemente ter aceitado ele não iria compreender sua presença aqui.

Falamos por cerca de meia hora no telefone e acabei me forçando a desligar, pois minha bateria estava no osso e é claro que eu havia esquecido o carregador em casa.

Na hora do jantar a aceitação do meu pai ainda era incompreensível para mim, alguma coisa não se encaixava e tudo ficou ainda mais esquisito quando ele trouxe para casa naquela noite o filho de um amigo dele de 35 anos, nerd de cabelo seboso e encalhado. O jantar até que começou normal, falamos sobre coisas banais por alguns minutos, ai meu pai começou, assim como quem não quer nada, a ressaltar minhas “qualidades”, e o negócio foi ficando cada vez mais esquisito. 

- Francisco, você tinha de ver como minha princesa era inteligente na escola, só tirava dez, sempre foi uma boa menina e faz umas sobremesas que faz qualquer um suspirar. – meu pai disse para o nerd de cabelo seboso.   

- Pai – reclamei – acho que o Francisco não quer saber como eu era na escola.

- Também fui um bom aluno na minha época de escola e exijo o mesmo dos meus alunos. - Ah! O nerd de cabelo seboso é professor de alguma coisa muito complicada na universidade federal que fica na cidade vizinha. – temos que nos esforçar o máximo que podemos e tirar tudo do nosso potencial.

Respirei fundo e fiquei olhando-o enquanto ele dissertava sobre como o ser humano deve se esforçar mais para alcançar suas metas e estimular seu cérebro. E por falar em cérebro o que é aquilo que ele tem encima do seu, o cara não devia lavar o cabelo a mais de um mês de tão seboso que estava, não era de se admirar que ele estava encalhado, quem iria conseguir conviver com aquele cabelo gordurento?

- Concordo, minha Aline é muito esforçada, apesar de um deslize aqui e ali, ela está entrando nos trilhos e tudo vai ficar direito logo, logo. – minha mãe entrou na conversa.

Isso era outra coisa esquisita, ela tinha quase surtado quando eu disse que estava gravida, ficou resmungando o dia inteiro sobre o que tinha errado na minha criação ai ela recebeu a ligação do meu pai dizendo que iria trazer o Francisco cabelo grudento para jantar e mudou da agua para o vinho, começou a sorrir e até me perguntou como estava o bebe e se eu estava fazendo o pré-natal. Muito esquisito.

E Agora? - rascunhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora