Passado

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Voltamos para a festa em seguida, Eduardo estava todo agitado e me senti culpada de deixa-lo preocupado por besteira.

- Você está bem? - ele pergunta segurando meu rosto - está sentindo alguma coisa?

- Estou bem - respondo com um sorriso tímido no rosto.

Apesar de estar mais tranquila depois da minha conversa com a Karla eu ainda preciso de resposta, estava na hora de eu colocá-lo contra a parede, esse tal passado misterioso dele está me deixando maluca, fora o fato dele já ter dormido com a tal da Erica, fico fervendo de raiva só de imagina-lo com aquela perua peituda.

Circulamos na festa por mais algum tempo, percebi que Eduardo estava discretamente evitando seu pai, só o cumprimentou e falou apenas o estritamente necessário com ele. Após mais alguns minutos nos despedimos de algumas pessoas e saímos discretamente pelos fundos.

Fiquei sentada olhando o trafego pela janela da limusine, pensando no que a mãe de Eduardo disse naquele dia na casa dela, que Eduardo já havia sofrido muito, eu já tinha fantasiado várias hipóteses para isso, desde um coração partido até uma doença terminal, mas só ele para me dizer a verdade. Eu estava literalmente viajando em meus pensamentos quando entramos em um engarrafamento e a voz do motorista me chamou para a terra novamente.

- Senhor, houve um acidente mais a frente, estamos presos aqui por algum tempo.

- Tudo bem - Eduardo responde - só nos de um pouco de privacidade.

O motorista acena e imediatamente começa a subir um vidro negro nos separando dele, olhei confusa para Eduardo.

- Nós precisamos conversar e já que estamos presos aqui - ele aponta para o vidro de divisão - assim ele não nos ouve.

- OK - Aceno com a cabeça curiosa com o que quer que ele quer conversar comigo, mas primeiro eu tinha outras questões a serem discutidas - Primeiro me explica o que aconteceu com você e essa tal de Erica e por que ela está tão segura de si de que vai te ter de volta?

Ele balança a cabeça com um olhar cansado.

- Eu devo ter ficado uma ou duas vezes com ela antes de te conhecer - tá, agora estou morrendo de ciúmes - foi só um passatempo.

- Passatempo para que? - digo um pouco indignada - estou começando a achar que você é um galinha.

- Não mais. - ele fala rapidamente - isso é passado, não sou mais assim.

- Pois esse passado está começando a me assombrar. - digo sinceramente - no dia em que fomos a casa dos seus pais sua mãe me falou uma coisa na cozinha que eu fiquei curiosa.

- O que ela disse?

- Ela falou que você sofreu muito no passado, mas não me disse o porquê. - fico tentando encaixar as peças desse quebra cabeça chamado Eduardo - e agora você fala que era um "galinha", mas que não é mais. Por que? O que aconteceu?

Eduardo olha pela janela da limusine com um semblante sério e aperta o couro do banco com as mãos, fico observando seu estado pensativo por alguns minutos, era obvio que esse assunto o incomodava em demasia.

- É complicado - ele diz após um longo suspiro.

Esperei ele continuar falando, mas não abriu mais a boca até chegarmos em casa, pelo seu semblante aquilo devia ser muito complicado mesmo, talvez doloroso, eu não sabia o que pensar direito e cada vez eu imaginava o pior. O motorista abriu a porta do carro para nós, percorremos a calçada pensativos, o silencio que havia entre nós era sufocante, assim que entramos em nosso apartamento Eduardo foi diretamente a sacada e ficou observando a cidade aos nossos pés.

- Edu! - o chamei tocando em seu ombro.

Ele se virou e olhou em meus olhos, a dor que eu via em seu olhar erra terrível, parecia que estava prestes a chorar, fiquei alarmada, não conseguia imaginar o que podia lhe trazer tanto sofrimento em suas lembranças.

- Tudo bem? - perguntei em um sussurro - não queria deixar você mal, esquece o que eu perguntei, esquece o que aconteceu hoje, você não precisa me dizer nada, eu não tenho o direito de cobrar nada.

Como sempre que eu fico nervosa comecei a tagarelar como uma idiota, eu não devia ter o colocado contra a parede tão cedo, deveria ter esperado ele tocar no assunto, mas não, a curiosidade falou mais alto e eu acabei magoando o cara que eu amo.

Eduardo suspirou alto mais uma vez em meio a minha tagarelice e colocou o indicador em meus lábios para eu me calar.

- Me desculpe, você merece algumas explicações, mas mesmo depois de tantos anos é doloroso demais falar sobre isso. - ele diz cabisbaixo.

- Alguém te machucou? - pergunto a ele

- Ela morreu - ele diz com lagrimas nos olhos.

Eu engulo seco, não tinha nem ideia de que ele tinha uma namora que morreu, de repente começo a ter ciúmes de uma mulher que já morreu, ele devia ama-la muito para ainda ser doloroso falar dela.

- Eu... - ele limpou a garganta como se estivesse se preparando para um longo e terrível discurso, o que me deixou ainda mais nervosa - no colégio eu namorei uma garota, nós éramos inseparáveis e planejávamos fazer faculdade, casar, ter filhos juntos...

"Algumas semanas antes da formatura ela começou a passar mal, de início pensamos que ela estava gravida, até por que os sintomas eram muito parecidos para dois adolescentes inexperientes. Ela foi diagnosticada com câncer no ovário, o que foi brutal para nós, de repente nossos planos e nossos sonhos ficaram inalcançáveis, ela teve depressão e só falava que iria morrer.

Mas depois de uma cirurgia bem complicada e várias sessões de quimioterapia ela ficou bem, um ano depois do diagnostico ela conseguiu ingressar na faculdade, pois com o tratamento ela não teria condições de iniciar antes. Ficamos bem por um tempo, fizemos novos planos, novos sonhos e tudo ia a mil maravilhas.

Cerca de uns dois anos depois, em um dos exames periódicos, foi diagnosticado uma reincidência, imediatamente ela reiniciou o tratamento, só que o câncer havia se espalhado muito rápido e ela..."

Eu estava chorando sem parar nesse momento, devia ter sido terrível para ele, ver o amor da sua vida definhar por causa de uma doença tão ingrata, ele também chorava muito, era a primeira vez que eu via Eduardo chorando e isso cortou meu coração.

- ... ela não quis reiniciar o tratamento. Eu a encontrei no banheiro do apartamento em que morava com os pulsos cortados.

Eu fiquei pasma, era pior do que perder a batalha para o câncer, a atitude dela foi totalmente mesquinha e egoísta para com ele, mas mesmo assim eu conseguia entender o tamanho do desespero que ela deveria estar sentindo para fazer isso.

- Qual era o nome dela? - perguntei com a voz roca de choro.

Ele limpou o rosto e disse em um sussurro - Mariana.

O abracei forte e ficamos ali naquela varanda por um longo tempo.

E Agora? - rascunhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora