35. Donut

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Me sinto o pior ser humano do mundo por ter pressionado Henri a confessar algo que ele não queria. Era para eu ter apoiado ele, assim ele contaria quando se sentisse bem.

Mas se ponha no meu lugar. Desde que a Cat veio trabalhar na La couture eu percebo uns olhares estranhos da parte dela para ele e sempre que estão juntos eles evitam olhares muito longos ou então Henri me puxa para outro lugar.

Quando Cat disse aquelas coisas intimas de Henri, como se o conhecesse há anos, me senti por uma parte traída, a final eu já havia perguntado a ele se já teve alguma coisa com a loira e ele me negou, e suas falas de ontem dizem outra coisa.

Odeio mentiras, por isso não minto para ele. E por isso espero que ele não minta para mim e que nem me omita nada. Se não no piscar de olhos estarei em um relacionamento rodeado de mentiras e não quero isso de novo para mim.

Porque uma mentira leva a outra, por isso quero preciona-lo até que ele me diga a verdade, verdade que quero ouvir. Mas outra parte de mim se sente culpada por tentar impor algo a ele como uma líder opressora porque eu quero que a nossa confiança seja algo natural não forçado.

Desço até o estacionamento pelo elevador vazio e com a empresa quase toda apagada. Olho ao redor procurando algum sinal de Henri, mas não acho nada, nem ele nem a Lívia. Ele evaporou. Vou para casa sozinha em meu carro, sentindo saudade dos papos furados de Henri que ele me dizia enquanto eu dirigia.

A gente tinha decidido que ele iria morar comigo, mas nem tivemos a oportunidade de começar a mudança.

Estaciono meu carro já tremendo e com a respiração rápida. Estou com medo de Chay aparecer do nada igual da outra vez.

É péssimo isso. Viver com medo. Quando decidi me mudar para França pensei que nunca mais temeria a Chay e aqui estou eu de novo, andando com medo de ser atacada com suas palavras sujas e seu toque repulsivo.

Pior do que viver mal é viver com a agonia constante do medo, de estar a mar aberto e que a qualquer momento você pode ser atacada por um tubarão faminto por você. Faminto por te estrassalhar em pedaços porque era isso que Chay fazia comigo, quebrava as minhas pernas com gosto quando me depressiava com suas palavras nada motivadoras, ou quando dava tapas em mim dizendo que era para o meu bem, para que eu não fantasiasse o impossível.

Ele era um perfeito desgraçado em pele de cordeiro. Lembro-me que as vezes eu queria revidar, para que ele sentisse o que eu sentia na pele, mas nem sempre ele era assim, Chay é articuloso, sabia me manipular de um jeito que eu parecia uma criança boba e tola. Ele fazia a minha cabeça uma perfeita bagunça a ponto de eu mesma duvidar da minha sanidade.

Tenho sorte, consigo entrar na minha casa sem trombar com ele, me deixando com um alívio enorme. Nem sei o que seria de mim se trombasse com ele hoje. Verifico se tranquei a porta 4 vezes então desabo no sofá.

Sinto um vazio no meu peito e uma saudade enorme de Henri. Esse sentimento é novo. Nunca me senti vazia assim, tipo um vazio de saudade.

Fui tão insensata com ele, mas ao menos ele poderia ter me falado sobre o que ele escondia da Cat.

Meus pensamentos estão a mil, uma mistura louca do passado e do presente. Preciso de ar fresco por isso vou até a janela da sala e a abro. O ar frio bate no meu rosto e eu agradeço. O ar fresco e úmido entra nas minhas narinas e eu suspiro, agradecendo por esse sossego. Fecho meus olhos e logo lembro do Henri me beijando hoje, só de pensar minha respiração acelera.

Abro meus olhos novamente e a primeira coisa que percebo é que a casa de Chay ainda está acesa.

Passo a mão no meu cabelo enquanto xingo baixinho. Nem em minha própria casa posso ter o sossego de não pensar em Chay. Queria mandar ele pra um ligar bem longe, talvez para uma galáxia há milhares de distância da Via Láctea.

Aonde mora o amor?Where stories live. Discover now