47. Desculpas

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Costumo dizer que o amor é como um jogo de apostas, se você apostar muitos bens valiosos seus em um número que não é o teu da sorte você pode acabar perdendo tudo. O meu caso não foi tão diferente, perdi tudo por insistir no mesmo número vezes demais, e assim como as pessoas viciadas em jogos de azar, fiquei no fundo do poço.

Bom, eu não estava alucinando, Henri realmente chegou na hora que Chay estava me enforcando. Ele apareceu antes que eu apagasse, mas tarde demais por eu ter ouvido palavras que unidas me destroçaram.

Tusso o mais forte que consigo, tentando facilitar a entrada de oxigênio em meus pulmões que ficaram tempo demais sem trabalhar. Respirar é difícil agora, já que minha garganta dói devido a força que Chay colocou nela. Ele não iria me matar, já fez isso antes algumas vezes, e sei que ele não teria coragem de tal ato. Meu ex faz isso para me assustar, coisa que conseguiu. Isso já é normal dele, agredir para se sentir no controle.

O oxigênio percorre até meus pulmões de modo tão rápido que chega a arder. Minha vista ainda está voltando ao normal, consigo ver algumas coisas, mas tudo embaçado.

Estou olhando para o teto branco de minha casa, e pela primeira vez desde que me mudei percebi que é irregular como onde eu morava com Chay. Lembro-me que eu encarava tanto aquela parede que sentia até dor de cabeça. Falando em cabeça, não sinto a minha. Ela apenas gira e gira numa velocidade assustadoramente alta.

Viro lentamente meu rosto para o lado esquerdo, tentando me livrar dessa parede assustadoramente branca e percebo que Henri está ao meu lado. Minha cabeça não está mais no chão e sim sobre as suas pernas. Ele grita algo que não consigo ouvir e a sua cara é de desespero. Henri passa suas mãos frias sobre a pele de meu rosto e eu tento sorrir para que ele sabia que estou bem. Sim, eu estou bem. Já estive pior.

Henri abaixa a sua cabeça e beija a minha testa. Foco meu olhar em seu rosto e percebo que ele está chorando. As suas bochechas estão tão rosadas como um morango, seu nariz também está da mesma tonalidade. Nunca tinha o visto tão frágil. Ele grita, puxa seus próprios cabelos de modo bruto, e então me pergunto se morri e não sei.

Por que tenho que levar tanto sofrimento a ele?

Minha vista ainda não está cem porcento ainda, mas agora consigo ver um borrão no fundo do meu campo de visão. Tento focar lá. De inicio falho, mas tento novamente e minha vista se clareia. Chay está no chão encolhido, seus braços envolvem suas pernas e ele choraminga como uma criança.

Ele está sofrendo, sei disso.

— Stella, por favor, me responde. Preciso que fale comigo. — Acho que meu ouvido voltou a funcionar. Consigo escutar Henri baixinho.

— Eu... — Até falar dói. — Estou bem.

Miseras palavras. Três palavras foram o suficiente para que Henri esboçasse um sorriso enorme em seu rosto. Prefiro ele assim, a tristeza não cai bem para Henri Rousseau.

— Me desculpa, meu amor. Eu não devia... — Henri passa suas mãos em meus braços. Ele mordia os lábios e chacoalhada a cabeça negativamente várias vezes seguidas. — Não devia ter deixado você sozinha. Vai ficar tudo bem. Nada de ruim vai acontecer mais, Stella, porque eu não vou deixar, ok? Não vou falhar mais com você. — Seu olhar cai sobre o meu pescoço que deve estar roxo. Ele o analisa e a sua expressão facial só piora. — Meu Deus!

Percebo que o olhar de Henri saiu de mim para Chay que ainda choraminga. Meu ex percebe o ato de Henri, e também mantem o contato visual com ele. O rosto dele estava vermelho, seu nariz sangrava e daqui consigo vê-lo tremer assustado.

— Estrela, me perdoe. Não sei o que aconteceu... eu... me desculpe! Oh, Deus! Olha o seu estado! — Chay se arrasta em nossa direção.

— Se você mexer mais um musculo eu não vou hesitar em te dar uma porrada! — Henri grita. — Saí daqui seu covarde! Antes que eu perca a cabeça com você!

Aonde mora o amor?Donde viven las historias. Descúbrelo ahora