49. Triste ou feliz?

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Não consegui vê-lo arrumar as suas coisas. Não na minha frente, por isso pedi que Henri arrumasse suas roupas e objetos pessoas outro dia.

Nesse exato momento estou deitada sobre a minha cama, lembrando que a algumas horas atrás eu e Henri estávamos enlaçados um no outro, nesse mesmo lugar, nos beijando e falando coisas do tipo: vou te amar para sempre.

Só que esse para sempre acabou hoje.

A vida é uma caixinha de surpresas. Só que no meu caso mal acabo de levar uma "surpresa negativa" e já recebo outra ainda mais forte, feroz.

Lembro-me que minha mãe sempre me abraçava nos dias que eu ia chorando até sua casa quando chay ultrapassava os limites. Eu não a procurava quando ele "apenas" me dava um tapa na cara, ou coisa do tipo, eu a encontrava quando ele realmente me agredia com vontade.

Ela me falava que eu precisava ser forte. Que a vida não é difícil e que só cabe a nós mesmo facilitá-la ou não.

Não sei se estou facilitando ou não a minha vida me distanciando de Henri, só tenha a certeza que ele ficará muito melhor sem mim.

Passo a mão sobre o meu rosto e percebo que ainda estou chorando. Seco minha lágrimas rapidamente. Mordo meus lábios e percebo que eles estão secos demais. Desidratação, talvez?

Meus lábios, passo meus dedos sobre eles. Me vem a lembrança de que Chay estava beijando eles quase agora. Sinto arrepios e enjoo. Me esfrego na cama tentando arrancar a memória de suas mãos tocando na minha pele. Do seu corpo sobre o meu. Quero esquecer das coisas que ele cochichou no meu ouvido, de tudo o que ele cuspiu na minha cara da forma mais grosseira possível.

Neste instante não quero existir porque assim pouparei muito sofrimento. Permaneço deitada sem vontade alguma de me levantar. De viver.

Viva mas totalmente morta.

Puxo o lençol sobre a minha pele. O tecido está tão frio que até parece meio úmido. Me escolho sobre a cama em posição fetal.

Quero gritar, chorar. Quero não ser como sou. Quero viver como as outras pessoas vivem, não como a fraca que sou.

Penso nas coisas que Chay disse sobre Henri e, meu Deus, tudo o que menos quero nessa vida é que ele me olhe com pena. Na verdade, nunca gostei que ninguém fizesse isso comigo. Que me julguem por eu ser fraca.

Esse trabalho já está a cargo de mim mesma.

"É só ela largar ele". Eu ouvia as amigas de minha mãe cochicharem sobre mim quando eu dormia em sua casa.

"Ela gosta de apanhar? Se fosse eu tinha o largado".

"Tão nova e com uma vida tão sofrida..."

Aquelas eram as piores palavras que eu já pude ouvir, porque as pessoas sempre me julgavam do porquê eu não o largava mas nunca do por que ele era agressivo.

Nunca me perguntaram se eu estava bem psicologicamente, ou se precisava de ajuda. Apenas críticas e mais críticas.

"A menina que apanha do namorado". Era assim que eu era conhecida na cidade da minha mãe. Sempre fui reduzida a isso. Eles esqueciam que eu era a Stella Stan que estudava numa das melhores faculdades do país.

Fecho os meus olhos. Agora o meu choro está mais intenso. Lembrar dessas coisas me deixa assim.

Choramingo e choramingo como uma criança.

Incrível como uma única frase de uma pessoa pode te destruir. As palavras tem esse poder.

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Aonde mora o amor?Where stories live. Discover now