37. Pulando uma fogueira

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Tick-Tick.

Esse teclado é desestressante.

Estou transcrevendo a entrevista de Anastacia para um arquivo no meu computador para enviar à Laurent enquanto bebo um chocolate quente que está uma delícia.

Isso me faz lembrar que meu paladar é incrivelmente igual a de uma criança, sempre vou preferir chocolate a tudo. Sorvete, de chocolate. Bebida, de chocolate. Acho que chocolate é a minha recarga de energia. Fora que muitas das minhas noites eu janto biscoito recheado de chocolate, é claro, em vez de alguma comida descente. Se Henri descobrir isso tenho certeza que ele teria um ataque cardíaco.

Particularmente minha vida está bem movimentada. Estou trabalhando o dobro devido a coleção de Matteo que será lançada em breve, e Henri se mudou para a minha casa e estou tentando não surtar com as suas bagunça. 

Ele é muito bagunceiro!

Como foi algo recente, suas tintas de pintura estão jogadas em vários cantos pela casa. Minha casa está um verdadeiro campo minado artístico. Uma delas estourou logo no meu tapete de veludo rosa que fica no meu quarto, naquele momento eu orei 3 vezes para Deus me dar paz e eu não tocar aquela tinta na cabeça do Henri.

Uma coisa é clara, eu e Henri somos muito diferentes, talvez isso que nos atraiu. Eu sou uma pessoa organizada, que gosta de tudo cheirando a orquídeas. Já Henri parece um caminhoneiro, deixa suas tintas jogadas ao chão, molha o banheiro e não passa um pano para secar. Tenho certeza que estou me tornando uma pessoa mais paciente com ele morando comigo.

Bom, ao menos essa mudança tem três lados bons. Número um: agora Henri é o meu cozinheiro particular, prepara comidas deliciosas para mim e isso me faz perder a vontade de soca-lo por sua bagunça toda vez que olho ao redor da minha casa. Número dois: me sinto mais segura, já que Chay se mostra menos presente no meu dia a dia quando Henri se mudou para cá. E número três (o meu preferido): ver Henri sair do banho só com a toalha enrolada em sua cintura. Fazia tanto tempo que eu não via um corpo masculino andar quase nu pela minha casa e isso me faz sentir até tontura ao vê-lo, e eu tenho certeza que Henri faz isso de proposito só para me provocar. Na verdade tudo isso para mim é novo. Eu só tinha esse tipo de intimidade com Chay, então ele foi o único homem com quem tive contato todos esses anos da minha vida. 

Com Chay foi meu primeiro tudo. Meu primeiro beijo. Meu primeiro amigo. Meu primeiro amor. Minha primeira decepção. Meu primeiro medo.

Sinto uma bolinha bater em meu braço, ergo minha cabeça a procura da pessoa que jogou-a em mim. Não preciso nem procurar muito, Henri está em sua mesa sorrindo pra mim enquanto faz um coração com suas mãos.

Quando que ele ficou tão romântico? Há meses atrás ele estava nesse mesmo lugar levantando seu dedo do meio pra mim.

Olho para o lado e meu sorriso se desfaz ao vez Cat nos observando de longe com uma cara nada boa. Deve estar se roendo por dentro por não ter conseguido nos separar.

De repente ela murmura algo a ela mesmo e dispara rumo a sala de Laurent.

É agora, penso. Ela vai falar que viu eu e o Henri num momento íntimo na sala de reuniões.

É o fim. Nunca mais serei uma jornalista. Nunca será estampado nas revistas artigo redigido pela Jornalista Stella Stan.

Olho novamente para Henri e percebo que também está receoso.

Volto minha concentração para a entrevista, tentando afastar a ansiedade. Gostei de ter conhecido Anastacia. Ela parece ser super gente boa e cheira a ouro. Não vou negar, fiquei surpresa de Lorenzo ter uma filha que é da minha idade. Tipo, eu sei que Lorenzo não é tão velho assim, mas nunca me imaginei com alguém que já tivesse um filho.

Aonde mora o amor?Where stories live. Discover now