52. Aonde mora o amor?

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Acredito que aquela minha última anotação é a mais importante. As outras era só a Stella fraca descrevendo um momento horroroso, só que essa que acabei de ler é tão... libertadora?

Me lembro perfeitamente do dia no qual terminei com Chay. Pode ser considerado um dos dias mais felizes da minha vida, mesmo que o termino não tenha sido bem tão aceito pelo Chay que reagiu agressivamente contra mim, algo que ele sempre faz quando percebe que as coisas estão saindo de seu controle.

Foi libertador porque pela primeira vez na vida me senti orgulhosa de mim por ser forte o suficiente por me priorizar e escolher a minha saúde mental em primeiro lugar.

E meu Deus, como queria me sentir assim de novo.

Orgulhosa pra cacete de mim mesma.

O que sinto agora é vergonha de ser tão fraca e incapaz. Quem me dera ser forte de novo. A Stella de dois anos atrás ficaria triste por ver como estamos atualmente.

Enquanto caminho pelo estacionamento do meu prédio ouço o barulho das pequenas pedras rangirem contra o meu coturno.

Estou voltando da minha caminhada no Rio Sena, e mesmo estando longe da água ainda consigo ouvir a sua movimentação em meu ouvido.

O barulho da água me acalma. Isso é um fato, por isso estou razoavelmente menos estressada. Isso também se soma ao fato de que o meu ex inimigo de trabalho já deve ter saído de minha casa e que não terei mais de me preocupar com ele, porque Henri Rousseau construirá uma vida feliz na Normandia, longe de mim.

Poderia até dizer que eu estava alucinando quando comecei a ouvir a voz de Chay me chamar. Isso é uma coisa frequente depois que ele invadiu a minha casa. Agora ele aparece nos meus pesadelos todo santo dia, me enforcando ou falando palavras grosseiras. Eu sempre acordo com o coração acelerado e uma vontade enorme de desistir de tudo.

Só que quando senti sua mão — seu toque que é impossível de sair da minhas mente — em meu ombro tive um pulo de certeza absoluta de que era o filho da mãe.

Por que ele ainda está aqui?

— Stella... — o loiro fala baixinho e ofegante. Ele vestia uma roupa esportiva verde militar e pelo suor em seu corpo posso dizer que ele estava correndo.

Lanço uma cara feia a ele, uma cara cara de nojo e isso o faz tirar sua mão de mim. Chay caminha ela pelo seu próprio cabelo que está levemente mais escuro por causa de seu suor.

— Me desculpe por chegar assim. Eu...

Não acredito que depois de tudo o que que fez comigo ele ainda tem a coragem de falar, de tocar em mim. Sei que um dos traços da personalidade de Chay é que ele não tem filtro, não sabe diferenciar quando alguém quer e não quer algo porque para ele tudo gira em torno do seu mundinho que todos devem fazer o que ele quer.

Me pergunto se foi assim comigo quando nos conhecemos naquela droga de cafeteria. Por que essa capacidade dele de não filtrar torna cada frase que sai de sua boca como um verdade absoluta.

É surreal.

Se ele falar que o céu não é azul, tenho certeza que várias pessoas vão acreditar, já que Chay tem esse poder. O poder de acabar com a vida das pessoas e de convencê-las de que ele sempre é o certo da história.

Será que ele usou isso contra Cat?

— Você está usando a Catarina. — disparo engolindo sem seco. Chay estava com seu olhar estático sobre mim, mas quando eu digo isso a ele sua feição muda. Agora ele parece preocupado, confuso.

Chay franze as sobrancelhas ao dizer:

— O que? — Sua cara de surpresa é tão sincera que quase acredito na sua inocência.

Aonde mora o amor?Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt