48. De volta

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̶E̶u̶ ̶n̶ã̶o̶ ̶s̶o̶u̶ ̶m̶a̶l̶u̶c̶a̶ ̶

̶E̶u̶ ̶n̶ã̶o̶ ̶s̶o̶u̶ ̶m̶a̶l̶u̶c̶a̶ ̶

Minha respiração está a mil por hora. Sinto o oxigênio rasgando os meus pulmões. Mordo meus lábios para impedir que meus dentes rangam uns nos outros.

Não posso cair nas conversas de Chay de novo.

Não sou doente. Não fantasio coisas fora da realidade.

— Stella. — Alguém me chama baixinho, mas não dou atenção.

No passado, Chay me diagnosticou com transtorno de personalidade, ele me afirmou isso mesmo não sendo especialista na área. Disse pra mim que eu tinha uma segunda personalidade, na qual eu me envolvia com outros homens. De início eu neguei, a final eu sabia que não tinha esse transtorno porque eu sabia que não o traia. Só que depois que as coisas pioraram entre mim e Chay e eu fiquei confinada naquele apartamento sozinha por quatro meses enquanto ele trabalhava, eu comecei a acreditar. Ele me falava todos os dias que eu tinha o traído com a minha tal personalidade, e bom, eu fiquei por três meses me culpando por ter acreditado que o trairá.

Ele afirmava com tanta confiança, lembro-me que ele dizia que mesmo que eu tivesse o traído ele me perdoava porque me amava. Eu negava com todas as minhas forças, a final é meio que impossível uma pessoa esquecer que traiu alguém que tanto amava, porém quando mais eu contrariava a sua afirmação mais Chay ficava com raiva e tudo o que eu menos queria era que ele ficasse estressado por medo dele tocar em mim, por isso eu confirmava. Confirmei tantas vezes por medo que aquilo virou a minha verdade. Cheguei a um certo ponto que eu não sabia se o tinha traído ou não.

Esse é o poder de Chay, afirmar com tanta confiança que te deixa maluco.  Ele tem o dom de convencimento, por isso é um baita advogado. E viver com uma pessoa manipuladora a esse ponto ferra o seu psicológico.

— Ei! — alguém me chacoalha. — Olhe pra mim.

Essa voz calma e rouca, a reconheço.

— Henri. — desperto. Meus olhos analisam toda a sala de modo rápido, e por último pousam em seu rosto.

Céus! Henri está todo machucado. Sua boca está sangrando e um de seus olhos estão um pouco roxo.

Levo minhas mãos até minha boca. Nego freneticamente, ainda desacreditada. Tinha esquecido da briga deles.

— Meu Deus, Henri! — Exclamei passando minha mão em sua bochecha. — Me desculpa pelo Chay... ele... — Minha voz falha porque não consigo me concentrar em falar e analisar o rosto dele.

— Não se desculpe por ele, Stella. — Ele sussurra vindo me abraçar. Seus braços me envolvem e me sinto em casa por alguns segundos.

Como é bom sentir a sua respiração quentinha e o cheiro de seu corpo. Queria morar para sempre em seus braços. O aperto ainda mais em mim e isso Henri gemer baixinho.

Dor. Ele está sentindo dor.

Me solto de seu abraço bruscamente, focando meu olhar em seu rosto de novo. Seus olhos também me estudam e seu rosto esboça tristeza, pena e talvez desgosto.

— Tá tudo bem. — Ele passa suas mãos sobre meus ombros, o apertado delicadamente. — Eu coloquei ele para fora.

Chay. Não sei por que mas sinto que ainda não me livrei dele.

— E se ele tiver copiado a chave, Henri? — minha voz sai tremula só de pensar na possibilidade.

— Aí eu boto ele pra fora de novo. — ele me lança um sorriso fraco. Seu sorriso. Tinha me esquecido que era tão lindo.

Aonde mora o amor?Where stories live. Discover now