Capítulo 2

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Entrei em casa. Ela estava vazia como sempre. Não estava com vontade de almoçar naquele exato momento, depois comeria qualquer porcaria assim que a fome batesse.

Fui direto ao meu quarto, ele era todo rosa e lilás, mas não muito grande. Tudo se resumia a paredes pintadas de um lilás bem clarinho, uma cama de casal em metal branco, com flores na cabeceira, um guarda-roupa pequeno e branco, mesinha de computador (da era pré-jurássica), uma cadeira de escritório cor de rosa e, ao lado da cama, uma mesinha de cabeceira branca, com um abajur rosa, cortinas e roupa de cama, sempre branco e rosa, tudo simples, tudo delicado.

Acessei o MSN e meus poucos amigos estavam off-line. É engraçado imaginar que há tão pouco tempo isso nem existia e ninguém sentia falta, hoje em dia, não me imaginaria sem, mesmo não tendo uma vasta lista de amigos, ou melhor, praticamente só a Ana.

Tomei um banho, graças a Deus havia um banheiro no meu quarto, não nos mudamos até meu pai encontrar uma casa onde houvesse duas suítes. Na época foi um exagero, já que eu só tinha 7 anos, mas hoje em dia entendo seus motivos, ele não queria ter que dividir sua privacidade com uma adolescente, aliás, não creio que ele curta dividir muita coisa comigo.

Saí do banho, coloquei um vestido vermelho meio velhinho, daqueles que só se usa em casa, porque ultimamente estava fazendo muito calor. A fome agora estava dando sinais de sua presença, logo pensei em comer macarrão instantâneo, era prático e minha comida favorita.

Fui para a cozinha prepará-lo. Enquanto a água fervia, não conseguia parar de pensar naquele tal de Gabe. Por que diabos aquele menino esquisito estava me tratando daquele jeito?! Meu consolo é que não parecia ser algo pessoal, com a Ana ele também não tinha sido muito agradável.

Ele é completamente diferente de todos os meninos que conheço. Não só pelo fato de ser grosso ou porque ele é lindo, realmente muito lindo, mas ele me assusta por algum motivo. Gabe tem um olhar superior, uma presença intimidadora, um ar esnobe como se conhecesse tudo o que passa pela sua cabeça. Algo nele era anormal; algo nele chamava minha atenção, mas ao mesmo tempo me causava arrepios.

Nesses momentos queria muito ter minha mãe comigo para poder conversar sobre essas coisas de meninas, mas não tenho mãe, nem ao menos um pai presente, então teria de me contentar apenas com meu macarrão instantâneo. Terminei de prepará-lo, arrumei a mesa e almocei sozinha, de novo.

Lavei a louça, sequei, varri a casa, arrumei a minha cama (a do meu pai não precisava, ele nunca estava lá para dormir nela), tirei pó, liguei a TV... E minha mente voou até Gabe novamente. Até que o telefone tocou, tirando-me dos meus devaneios. Era Ana.

– Ai, amiga. Não vou com a cara dele. Ponto final – disse ela.

– Também não, Ana, mas ele está no nosso grupo até o final do ano...

– Infelizmente. Bom, vamos olhar os pontos positivos do menino... Ele é um gato, então pelo menos a vista será boa.

– Ana, por favor – eu disse, revirando os olhos, mesmo com a conversa sendo pelo telefone.

– Acaiah, você é meio bobinha, mas não é cega. Qual é? Vai me dizer que não amou aqueles olhos azuis?

– Pretos, os olhos deles são pretos... – como ela poderia não ter notado que eram negros?! Aqueles olhos que pareciam varrer o calor de tudo o que estava ao redor.

– Joguei verde e colhi maduro. Há, há, há. Viu só como você notou o cara? – droga. Sempre caía nas armadilhas dela.

– Certo. Notei de leve... Ele é gatinho, mas não gosto da presença dele.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora