Epílogo Gabe

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Estávamos sentados à mesa, os pais da Ana em uma alegria contagiante por ter sua primogênita em casa, a salvo. Danny em paz por tê-la salvado e eu agradecido por Michael não ter tido sucesso em sua vingança, ao menos não de todo. Gostei de olhar para aquela cena, todos conversavam e sorriam. Enquanto os outros se serviam, olhei atentamente para Jasmim, que estava sentada ao meu lado.

Ela me olhou rapidamente e, como sempre quando percebia que a estava encarando, ficou um pouco vermelha, adoro isso nela, essa inocência e timidez legítimas. Acabei me lembrando da primeira vez que a vi, foi na Nilo Cairo, e acredito que ela nem tenha me notado, o que fez com que me impressionasse com ela ainda mais.

Foi logo no começo do ano letivo, nos primeiros dias, durante o intervalo. Consegui sair das garras da Samy por alguns minutos, o que era realmente muito difícil, e resolvi andar pela área menos visitada do colégio, os arredores da biblioteca. Estava andando por entre os altos arbustos, com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans, quando senti algo forte, puro e entorpecedor, ao menos para mim. Tristeza.

Tentei me manter afastado, não poderia me alimentar de ninguém da escola, era muito arriscado e não podíamos ser descobertos ou precisaríamos fugir e isso estava fora de cogitação. Ficar em Imperial era imprescindível para nossos planos, mas não resisti, precisei me aproximar. Foi aí que a vi, sentada em um banco de madeira, lendo, concentrada, com essa tristeza exalando de sua alma. Não que ela estivesse triste no momento em questão, mas as pessoas são assim, exalam o que mais sentem e atraem para si sugadores, sem nem ao menos se darem conta. Tínhamos essa habilidade, algo parecido com o que os cachorros fazem, é só farejar e sabemos o que a pessoa está sentindo.

O que uma menina tão jovem pode ter vivido para deixá-la com essa tristeza tão enraizada em seu ser?

Em minhas muitas décadas, já vi todos os tipos de sentimentos em todas as suas formas. Existem coisas que podem apodrecer a alma de uma pessoa, marcas tão profundas, tão violentas que as danificam para sempre. Como Samy, embora se levando em conta tudo pelo que ela já passou e provavelmente ainda passe, acredito que Samara seja uma ótima pessoa, conhecia a tristeza que emanava dela, mas com essa menina era diferente, não era uma tristeza que vinha do decorrer dos anos, era um sentimento tão profundo, cálido e puro que parecia ter nascido com ela.

O sentimento era tão forte que cambaleei, percebi que estava hiperventilando, minhas mãos tremiam, e a vontade de sugá-la estava me consumindo. Precisava sair dali, mas minhas pernas me levaram para o banco em sua frente e quando dei por mim estava sentado, encarando-a, inalando sua tristeza e desejando sua alegria, porque no final das contas é isso o que sugo.

Como a escola é cercada de árvores, o que não faltam são pássaros. Alguns deles alçaram voo em algum lugar atrás de mim. A menina levantou os olhos das páginas do livro e os olhou, não tinha como olhar para os animais sem me ver, mas ela fez isso, era como se eu fosse invisível, como se ela vivesse em um mundo particular, paralelo e eu não havia sido convidado a entrar. Ela sorriu de leve olhando os pássaros e pude vê-la melhor, cabelos pretos, longos e lisos, boca perfeitamente desenhada, olhos de um verde arrebatador como esmeraldas, ela mordeu o lábio inferior e voltou a ler.

Me esforcei para ler o nome do livro, de repente precisava conhecê-la melhor, conhecer seus gostos. Após alguns minutos ela finalmente ergueu o livro de um jeito que consegui ler a capa, Como se livrar de um vampiro apaixonado, de Beth Fantaskey, não consegui evitar a pequena gargalhada que brotou da minha garganta. O nome já dizia tudo, tipicamente adolescente e infantil, a mocinha a espera do cara perfeito, do amor que dura para sempre, mas isso, de uma maneira ridícula, só fez com que me sentisse mais atraído por ela.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora