Capítulo 39

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Aquilo não podia ser nada bom. A cara do meu pai não era das melhores. Não dava para tudo ficar bem por mais de cinco minutos?!

– Qual dos dois vai me explicar por que o médico acha que estou espancando a minha filha? – Droga, os chutes e socos de Michael. E agora?! Olhei para Gabe em busca de socorro.

– A Jasmim está treinando artes marciais, senhor. – Gabe, graças a Deus, foi rápido ao pensar nisso. – Na academia onde trabalho.

– Artes marciais? Desde quando autorizei isso? – ele parecia chocado.

– Desde quando você se importa? – perguntei. Estava de saco cheio dele ali parado tentando desesperadamente bancar o pai que nunca foi.

– O que mais você faz pelas minhas costas, Jasmim? – Seus olhos verdes pareciam furiosos.

– Nada! – berrei, ele estava me tirando do sério e agora vinha insinuar que eu aprontava por aí, era demais para um dia só.

– Não quero mais saber de você em aula nenhuma. Aliás, não me lembro de pagar por essas aulas – agora ele queria mandar em mim?! Depois de tantos anos sendo indiferente. – Que tipo de lugar é esse que faz com que as alunas saiam das aulas roxas?

– Senhor, a Jasmim está em um nível avançado de luta e acho que pegamos pesado demais. Queria que ela aprendesse a se defender e acho que foi válido de certo modo, no sequestro da Ana. Se o sequestrador já a machucou assim, imagine se ela fosse indefesa?

– Pegamos? Você faz aula com esse garoto, Jasmim? – ele apontava para Gabe.

Não sabia o que dizer agora, como explicar que um adolescente de 143 anos tinha uma academia?!

– A academia é da minha família, senhor. E dou aulas lá, treino desde que aprendi a andar.

– Não quero mais você perto da minha filha! – não deu mais para ouvir aquela baboseira.

– Quem você acha que é para decidir quem fica perto de mim? Meu pai? Não! Você é o cara que me banca. Pai é aquele que está sempre presente, que te dá amor, carinho, que se preocupa. Você não é... – Iria dizer "nada", mas não consegui. Não estava berrando, falei tudo em tom normal. – Gabe é uma das melhores coisas da minha vida, não vou ficar longe dele.

– Meu Deus... – não sabia dizer o que ele estava sentindo, mas sua cara era de choque. – Você pareceu sua mãe falando agora – seus olhos estavam cheios d'agua.

– Não sou a minha mãe e está na hora de você aceitar esse fato.

Gabe não saiu do meu lado e acabou entrelaçando nossas mãos, isso fez com que eu me sentisse mais forte, invencível, era assim que me sentia com ele. Meu pai estava branco, eu não sabia o que estava passando pela sua cabeça, mas sabia o que passava pela minha, estava na hora da minha relação com meu pai mudar.

– Você precisa aprender a... – as palavras fugiam da minha mente. – Me amar, independentemente dela, sinto muito por ela ter morrido, sinto todos os dias, mas eu estou aqui. Eu.

– Eu sei disso... – meu pai sussurrou.

– São minhas vontades, minha vida! Eu gosto de treinar com Gabe, gosto dele...

– Estou vendo – ele não conseguia me encarar. – Vou descer para tomar um café... Colocar as ideias em ordem.

Não sei se ele disse isso para mim ou para si mesmo, mas, quando pisquei, ele já estava saindo do quarto. Eu tremia de raiva, isso era tudo o que ele tinha para me dizer?!

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora