Capítulo 4

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Abri a porta devagar e ela exclamou um "Ai, meu Deus", então imaginei que minha cara estava horrível. Lavei meu rosto, peguei o bilhete e ela saiu do banheiro sem dizer mais nada. A Ana não ficaria esperando para ver o que estava escrito nele, já tinha lido, eu a conhecia o bastante para saber isso. A mensagem dizia:

Me encontre no bosque às 19h.
Por favor, vá.
G.

Não sabia o que pensar sobre isso, mas era óbvio que não ia, nunca mais ia falar com esse garoto, não mesmo. Passei o resto do intervalo na biblioteca, tentando me acalmar, meu rosto já não estava tão vermelho. Voltei para a sala, senti os olhos de Gabe cravados em mim, mas não olhei em direção a ele.

– Bem-vinda de volta ao mundo dos vivos – apenas ri. Ana tinha essa capacidade de me fazer rir quando eu menos queria.

A matéria era matemática. Eu gostava da professora Tatiana e de suas aulas. Ela estava sempre de bom humor, sorrindo e mexendo no cabelão cacheado. Sem contar que ela era a professora que mais conseguia controlar a nossa classe, então resolvi me concentrar, coisa que nos últimos dias estava se tornando difícil. Quase no final da aula ela passou alguns exercícios sobre probabilidade para serem entregues. Eu estava quase terminando quando Ana começou a se remexer na cadeira:

– Acaiah, não sei que bicho te mordeu, mas continue assim – coloquei o braço em cima da minha folha para guardar minhas canetas e a lapiseira. – Espera aí, me deixe copiar o último!

– Sempre fui inteligente, sempre fiz todos os exercícios – falei emburrada e ficando um pouco irritada com o comentário dela.

– Você é inteligente, amiga. Isso é indiscutível, mas sinceramente? Você vive no seu mundo, onde você não deixa ninguém entrar, e hoje, depois de te ver chorando por um menino e gazeando aula, minha cara colega, você está vivendo no meu mundo só para variar, e isso me deixa realmente espantada...

Não tinha resposta para aquilo e não conseguia entender muito bem o que isso tinha a ver com os exercícios de matemática. Fiquei absorvendo essa informação enquanto ela terminava de copiar os exercícios, afinal, todo mundo cola.

– Você percebeu que terminou os exercícios em menos de dez minutos? – falou Ana, assim que também finalizou sua folha e se levantou para entregar nossos testes.

Não, não tinha percebido, havia mergulhado na aula para não pensar em Gabe. Talvez ser chutada fosse um método eficiente de estudo. Senti uma bola de papel ser arremessada na minha cabeça, o que não era novidade, já que os meninos da minha sala eram uns manés.

Puxei a bolinha com o pé, e ia jogá-la no lixo, mas percebi que havia algo escrito, desembrulhei o papel por curiosidade. Meu coração acelerou ao perceber a assinatura:

Olha para mim.
G.

Virei minha cabeça na direção dele, foi inevitável. Deus, ele estava lindo, com uma calça jeans, camisa branca marcando seu corpo, cabelos de um castanho escuro meio comprido, com alguns cachos; seus olhos escuros estavam me observando atentamente. Gabe mordeu o lábio inferior assim que me viu olhando para ele. Senti meu rosto esquentar. Ele era louco e estava querendo me enlouquecer também, mas a boca dele era a coisa mais perfeita que já tinha visto, tão vermelha... Gabe sorriu de leve.

Voltei os olhos para o caderno, estava perdendo a cabeça por esse garoto. Queria negar, mas o fato de ele me mandar bilhetes me animava, ainda mais para fazer aquela cara de safado... Jesus!

Não encontrei com ele na saída, mas estava convicta do fato de que não iria naquele bosque novamente, vai que o cara quer me violentar ou matar...

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora