Capítulo 27

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Gabe acordou não muito feliz por haver um gato em sua cara, passou na recepção e acertou os valores, inclusive da porta nova, ligou do telefone do quarto para um táxi, que chegou em dez minutos. Entramos no carro, na parte de trás, ele deu as coordenadas ao motorista e na maior parte do tempo o veículo ficou em silêncio, tirando alguns miados estridentes de fome. Paramos em uma farmácia bem na entrada da cidade de Imperial e Gabe comprou uma pomada para que eu passasse em minha queimadura.

– Vou te deixar em casa – isso significava que ele não ficaria comigo, o que já era obvio, mas me deixei iludir por um breve momento. – É melhor você ir para a aula.

– Ok! – estávamos quase chegando à minha casa, isso era um tchau. – Você não vai?

– Não. Preciso descobrir como eles me acharam.

– Como assim? Não é isso que eles fazem, acham o que você é? – perguntei.

– Sim, mas eu não tinha me alimentado, não faço ideia de como... – Gabe parou de falar como se já tivesse dito demais. – Preciso ver a Samy. Vou passar na casa dela, acho que vou esperá-la lá. – Fiquei parada, sem mover um músculo, com o queixo caído.

– Ah é, sua namorada. – e eu inocente achando que... Burra!

– Sim, minha namorada. – eu não disse mais nada, não havia nada a ser dito, meu coração mal batia.

O taxista parou na frente de casa, desci do carro e peguei o gato. Não olhei para Gabe, entrei em casa e bati a porta com toda minha força, feliz por não terem levado todos os móveis, já que não havia nem trancado a porta quando saí, uma completa irresponsabilidade. Ficava irracional perto dele.

Coloquei o gatinho no chão, me encostei na porta e chorei, era inacreditável como no fim ele sempre voltava para a Glitter ruiva. O gatinho não parava de miar, então levantei e servi um pouco de leite para ele; o coitado quase se afogou, sua barriguinha ficou até dilatada.

O telefone tocou e eu nem precisava atender para saber que era a Ana. Não atendi, logo a veria no colégio. Tomei um banho, troquei a roupa do motel, coloquei um casaquinho fino de manga comprida para esconder meu curativo no braço e comecei a ensaiar minha melhor cara de paisagem para ir ao matadouro, quer dizer, escola.

Ana me esperava na porta da sala, batendo o pé incessantemente no chão.

– Acaiah, onde foi que você se meteu? Te liguei a noite toda...

– Se eu te contasse você não acreditaria! – ironizei.

– Nunca duvidei de você – era verdade. Por que tinha tanto medo de dizer a verdade a ela, então?!

– Está a fim de gazear aula? – questionei.

– Se for por um bom motivo... – era a resposta que precisava.

– É um ótimo motivo! – ao menos achava que era.

Saímos correndo dali antes que algum professor nos visse, pulamos o muro do colégio, ralei meu joelho, e Ana soltava uns gritinhos de dor, precisávamos nos esforçar mais nas aulas de educação física.

– Aonde vamos afinal? – Ana tentou fazer uma voz indiferente, mas sabia que ela estava animada com essa "pequena aventura".

– Você sabe onde a Samara mora?

– A Samara? – Ela pareceu meio confusa, mas acho que logo entendeu. – Sei, por quê?

– Porque é para lá que nós vamos! – agradeci mentalmente por Ana saber onde era. Eu fazia uma vaga ideia, mas poderia me perder no caminho.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora