Capítulo 40

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Acordei com meu pai me chamando em um tom nada amistoso. Demorei a entender o que ele falava, além de estar sonolenta, Gabe que estava no meu quarto, sentado em uma cadeira, não parava de rir.

– O quê, pai? – gritei em resposta.

– Posso saber por que tem um gato na minha cozinha, Jasmim? – droga, ele havia descoberto o Salém.

– Foi bom enquanto durou – disse Gabe em meio a risos.

– Isso não tem graça, Gabe – mostrei a língua para ele.

Já havia me apegado ao meu gato, não ia deixar meu pai tirá-lo de mim. Desci as escadas o mais rápido que pude e fui falar com ele, Salém estava se esfregando deliciosamente nas pernas dele.

– O que é isso? – meu pai apontava para ele e seus olhos estavam incrédulos.

– É meu gato, pai – disse, pegando Salém no colo.

– Desde quando você tem esse bicho? – a cara dele era de nojo.

– Tenho Salém há pouco tempo – para falar a verdade não havia contado quanto tempo estava com ele.

– Salém? – ele pôs uma mão na testa, enquanto fazia sinal de não com a cabeça.

– Sim, é o nome dele! – meu pai suspirou, fungou, andou de um lado para o outro. – Precisava ser um gato preto?

– Não escolhi a cor dele, eu o achei... – em um motel, disse mentalmente. – Na rua. Qual é pai? Gato preto de olhos verdes é bacana.

– Qual é? Bacana? Estou ficando velho!

– Salém não vai embora. Eu cuido dele, compro ração, limpo...

– Está bem – ele me interrompeu e levantou as mãos em sinal de rendição. – Mas não o deixe entrar no meu quarto – de novo, pensei. Salém adorava dormir na cama dele. – Você terá que trabalhar para sustentá-lo, já está na hora mesmo e... Bem, não vou gastar dinheiro com ele, isso é responsabilidade sua agora!

– Tudo bem! – respondi.

Ele pareceu estranhar a resposta, mas não disse mais nada. Subi para o meu quarto com Salém no colo.

– O gato vai ficar? – perguntou Gabe, mas eu sabia que ele já tinha escutado toda a conversa.

– Vai, mas preciso de um emprego – ele sorriu debochadamente, como quem quer dizer: "você trabalhando?".

– Bom... Tem uma vaga lá na academia, para recepcionista... Se quiser – ele disse como quem não quer nada.

– O que aconteceu com a moça que trabalhava lá? – perguntei desconfiada.

– Parece que arrumou outro emprego. Não sei direito, ainda não fui lá. Mas não se preocupe, não foi nada relacionado a...

– Entendi – rebati.

Nada relacionado a ela ter sido sugada, isso era bom, uma a menos na lista de sugada/beijada pelo Gabe. A ideia me parecia boa, para trabalhar na academia, pelo menos, não teria que fazer entrevistas.

– O trabalho é tranquilo, mostrar a academia, atender as ligações, fazer cadastro dos alunos novos, controlar a grade de professores... No geral é isso – ele fez parecer bem simples. – Pago um bom salário, e quem sabe posso até pensar no seu caso e beijá-la ocasionalmente.

– Nossa que sorte a minha – coloquei a mão no peito para enfatizar o deboche. – Parece bom, mas nunca trabalhei antes. Não sei fazer nenhuma dessas coisas – disse voltando a falar sério.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora