Capítulo 18

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– Quer dizer então, que seu primeiro beijo foi comigo? – ele sussurrou em meu ouvido e riu baixinho.

Ah, eu queria sumir. Não, melhor, queria subir na cama e sufocar Ana Paula com o travesseiro, lentamente. Senti minhas bochechas esquentarem.

– Foi... – não deu para responder mais nada, me escondi em seu peito, tentando evitar que ele visse minha cara vermelha. Gabe riu novamente.

– Qual é a graça? – perguntei sem olhá-lo.

– Nada... – ele não conseguia parar de sorrir. – Você fica linda com vergonha!

– Sei... Era disso que não era para eu me lembrar? – ele me olhou com uma cara interrogativa. – Do beijo... Ou de tudo o que aconteceu naquele dia no bosque?

– De tudo – ele olhava para um ponto fixo no chão, com um olhar vazio.

– Me recuso a esquecer!

– Eu sei, Jasmim.

– Gabe? – não queria tocar no assunto, mas eu precisava estar preparada para o dia seguinte.

– Hum? – ele estava de olhos fechados agora.

– Você vai estar com a Samara no colégio, não é? Quer dizer, na segunda...

– Sim – ele disse e o apertei mais contra mim. Não queria deixar esse momento acabar, apesar de saber que estar ali com ele era errado e incrivelmente destrutivo ao meu amor próprio. – Vi o Rafael te beijar e... – ele começou a falar após um tempo.

– Tecnicamente não foi um beijo. Foi um selinho.

– Você é minha... Só minha, para sempre! – ele me beijou docemente, tão delicado que mais parecia um roçar do vento em minha pele.

– E você? É meu ou da Samara?

– O que você acha? – eu queria responder, queria respostas dele, mas meus olhos pesavam e sua voz estava muito longe, estava caindo no sono.

Claro que meu pesadelo de sempre não poderia faltar:

Está chovendo, acordo no meio da noite e sinto que há algo de errado. Desço as escadas correndo, descalça. Saio na rua, um carro está parado bem no meio, com todas as portas abertas. Me encharco inteira, mas não ligo. Corro até o carro, uma mulher está estirada lá, há sangue por toda parte. Ela apenas diz: "cuide do meu bebê". Olho em volta e não criança alguma. Digo a ela: "não consigo encontrar seu filho!". De repente, ela se transforma no cara que me atacou na festa. Começo a berrar, tento me soltar dele, mas ele é mais forte. Ele diz: "você não pode escapar de mim".

Acordei com Gabe segurando meus braços, me dizendo que era só um sonho. Já estávamos no colchão que Ana arrumou para mim, mas aquilo não era só um sonho, há anos eu tinha aquele pesadelo, começava a achar que era meu subconsciente enviando alguma mensagem. O pesadelo se repetiu durante toda a noite e, em uma das vezes, sonhei que Gabe vinha e me tirava daquele maldito carro e corríamos pela chuva, mas acordei nessa parte.

Os meninos levantaram para ir embora assim que amanheceu. Olhei para a cama vi Ana dormindo, com um sorriso no rosto. Gabe me beijou antes de ir.

– Não se preocupe. Já passou! – ele sussurrou em meu ouvido, assenti com a cabeça e os vi saltando pela janela. Acabei adormecendo de novo, mas dessa vez sem pesadelos.

Acordamos ao ouvir a mãe de Ana bater na porta. Já era meio-dia, Ana só de deu ao trabalho de levantar para destrancar a porta e imediatamente voltou para a cama.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora