Capítulo 24

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Entramos no carro novamente, Gabe dirigiu por alguns minutos e, como tudo em cidade pequena é perto, logo paramos na frente de uma casa. A minha casa, quer dizer, a antiga.

– Gabe, deve ter alguém morando aqui... – iriam chamar a polícia se vissem dois adolescentes rondando a casa.

– Não tem, já verifiquei. Seu pai nunca vendeu a casa, ainda é de vocês.

– Sério? – meu pai havia me dito que tinha vendido.

– Sim. Quer saber a melhor parte?

– E tem melhor parte?

– Sim. As coisas da sua mãe estão todas aí dentro, no sótão.

– Como sabe disso? – perguntei espremendo os olhos.

– Porque já entrei na casa. – Gabe sorria ao dizer aquilo.

– Gabe!

– Foi por um bom motivo.

– Que é?

– Você! – ele me puxou pelo queixo, para um beijo breve que fez todo o meu corpo tremer.

Gabe abriu uma das janelas da cozinha que estava com o trinco estragado e pulamos por ali. Óbvio que tive que fazer duas tentativas antes de realmente ter algum sucesso, o que só serviu para que Gabe soltasse uma gargalhada antes de vir me ajudar.

Os móveis antigos ainda estavam lá, apenas com lençóis brancos cobrindo tudo, dando um aspecto sombrio à casa. Gostava mais da casa antiga, mas muito provavelmente isso se dava pelo fato de minha mãe ter morado nela.

Gabe me arrastou até a parte de cima da casa, onde ficavam os quartos e parou no meio do corredor, olhando para o teto. Acompanhei seu olhar e encarei a escada recolhida que dava ao sótão, onde eu nunca tinha entrado, nem quando criança; na verdade nem sabia na época para que servia aquela entrada.

– Aqui! Cuidado com a cabeça – ele puxou uma cordinha para fazer com que a escada retrátil se desenrolasse. – Quero que veja isso, vou acender a luz – Gabe estava muito familiarizado com o local.

Subi os degraus ansiosa, sem saber o que encontraria, ou o que tanto Gabe queria que eu visse. Meu coração batia feito louco, definitivamente aqueles objetos eram da minha mãe; havia um espelho enorme com uma barra de metal fixada a ele no meio, no canto superior havia uma foto dela dançando, era bailarina. A foto era em preto e branco como a do túmulo e em ambas ela parecia estar feliz.

– Não sabia que ela dançava. Meu pai nunca contou e nunca entrei aqui antes, era pequena quando nos mudamos.

– Imaginei que você fosse gostar, olhe esse baú! – ele apontou para o chão, no baú estava escrito Ciça. Entendia agora por que Gabe a chamava assim.

Abri o baú, tinha cheiro de coisas velhas e acho que o cheiro dela. Havia sua roupa de balé, um dia rosa e bege, agora gasta e toda amarelada; havia também umas roupinhas de bebê, sapatinhos de tricô. Na tampa do lado de dentro estava uma foto do meu pai com ela, abraçados e sorrindo. Ele nunca sorria, não para mim.

Embaixo de tudo, embrulhado em um pano, havia um caderno com uma capa de camurça azul. O retirei de lá, era o diário dela! Abri em uma página aleatória.

"Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Alberto e eu descobrimos que vamos ser pais, finalmente o teste deu positivo, não vejo a hora de segurar meu bebê no colo..."

Lágrimas involuntárias brotaram dos meus olhos e cenas felizes e românticas dos meus pais passaram pela minha cabeça. Meu pai nunca demonstrou afeto por mim, mas ali estava a prova de que eu era amada. Abri em outra página.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora