Capítulo 35

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Abri a porta e foi tudo muito, mas muito rápido. Gabe colocou uma de suas mãos em volta do meu pescoço, me encostou a uma parede e começou a se alimentar de mim, aquilo era fora do real. Aquela dor no corpo e aquela tristeza jorrada em mim eram insuportáveis; ele estava me sufocando também, sua mão não parava de apertar meu pescoço. Segurei seu braço e tentei afastá-lo um pouco, mas ele bateu minha cabeça contra a parede, foi pior do que das outras vezes, muito pior, como se ele estivesse sugando minha alegria milhões de vezes mais rápido. Eu não aguentaria muito tempo, sem contar em como Gabe estava. Parecia fora de si, com um olhar, embora branco, perturbador. Comecei a perder os sentidos. Apesar disso, reconheci a voz do Danny.

– Gabe! Gabe! Solte-a! – gritava Danny em desespero. Sabia que ele não iria parar e não me importava desde que ele ficasse bem. – Alguém me ajude a segurá-lo!

Senti que Gabe não estava mais se alimentando, pois a dor havia amenizado, meu corpo ainda estava queimando e era impossível lidar com aquela tristeza, completamente avassaladora. Minha vontade era morrer, agora entendia aquelas pessoas que se suicidavam, esse sentimento era demais para conviver com ele.

– Levem a Jasmim daqui! Agora! – ordenou Danny a alguém.

– Não. Ele precisa de mim... – tentei dizer a eles; via vários vultos diante de mim, mas não conseguia distinguir nada.

– Saiaaam! – Gabe gritou.

Duas pessoas me carregaram para fora do cômodo, eu estava com os braços ao redor do pescoço de cada um deles, minha visão estava muito ruim, mas consegui ver aquilo. Uma menina provavelmente da minha idade era arrastada para dentro de onde Gabe era mantido preso... Para ele, para servir de alimento.

– Não... Não! – Tentei voltar, mas não me deixaram, ele iria matá-la. Foi meu último pensamento antes de apagar.

Recuperei os sentidos, mas não abri meus olhos, havia mais gente ali. Fiquei ciente da cama embaixo do meu corpo, das dores em todos os meus músculos, das pontadas na cabeça e daquela depressão sem fundamento, como se só o fato de abrir os olhos necessitasse muito esforço; uma vontade muito grande de desistir de tudo, de mim mesma. Aquelas vozes eu conhecia, Danny e... Luke.

– Achei que havia deixado bem claro para vocês dois que era proibido se alimentar de pessoas por quem se tem sentimentos.

– Sim, Luke. Você deixou, mas... – Danny usava o mesmo tom de voz de obediência que Gabe usou aquela noite no bosque.

– Sem "mas" Danny. Vocês dois são idiotas! – sua voz tinha um tom de agressividade.

– Você não deu uma chance a elas, Luke. Se ao menos as conhecessem...

– Conhecer? Menininhas de colegial? Não me rebaixo a tanto, Daniel – Danny deu uma risada debochada.

Continuei com os olhos fechados, não queria que percebessem que não estava mais dormindo e queria muito ouvir o que tinham para dizer.

– Ah, Luke... – Danny parecia muito cansado, mas não fisicamente, como se estivesse cansado daquilo tudo. – Elas são tão incríveis, as duas – ele disse e fez uma pausa. – A Ana é tão... Tão animada, de bem com a vida, tão despreocupada. Quando ela sorri, quando olho para ela, sei que meu lugar é ao seu lado – Luke não disse nada. – A Jasmim é... Bem, Gabe gosta dela e isso já deve dizer algumas coisas. Ela é forte, mais do que ela se dá conta, a maneira como ela olha para ele, como ele fica perto dela. Ah, Luke, você tinha que ver como ela pode mudá-lo... Nós nunca tiramos um sorriso dele e com ela, Gabe sorri.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora