Capítulo 10

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– Você vai ficar aí? Podia ao menos me fazer companhia enquanto cozinho o seu jantar.

– Ok... Era a Ana – ele me olhou questionando – no telefone.

– Percebi. Vocês se conhecem há um bom tempo, não? – ele disse enquanto se virava para bater os ovos, a farinha, o leite e o óleo no liquidificador.

– Sim, desde a infância. Quer dizer, assim que me mudei para cá. Nós estamos na mesma classe desde então – falei alto por causa do barulho do liquidificador.

– Você gosta dela? Ela parece meio impulsiva demais.

– Ela é como se fosse minha família. Já me acostumei com seu jeito, mas admito que leva um tempo.

– Você pode continuar batendo enquanto preparo o recheio? – ele parou o liquidificador.

– Claro! Achei que você não me deixaria ajudar.

– Mudei de ideia. Faço isso às vezes.

– Sempre – resmunguei.

– Como?

– Nada, apenas pensei alto – dei um sorriso e ele retribuiu. Reparei que Gabe quase nunca sorria, então esse momento virou um dos meus preferidos.

Abri a tampa do liquidificador em êxtase. Ele estava ali, completamente preocupado comigo, cozinhando para mim. Nem me dei conta que não havia recolocado a maldita tampa quando apertei aquele botão, e em menos de cinco segundos eu estava coberta de farinha, ovos e óleo.

– Oh meu Deus! – ainda consegui pronunciar.

– Ah Jasmim... Será possível que você não consegue lidar com um liquidificador? Deixe isso comigo e vá se limpar.

– Ok... Só me deixe limpar o chão – começamos a rir. Ele era todo prático, parecia até que a cozinha era dele e não minha.

Quando acabei de limpar o chão, ele já estava fazendo as panquecas na frigideira e o recheio estava pronto, não conseguíamos falar nada que logo começávamos a rir. Meu cabelo já estava duro, teria que tomar um banho.

– Gabe, desculpe não te fazer companhia, mas preciso de um banho... Imediatamente!

– Tudo bem. Logo o cheiro de ovo vai começar a apagar o de Jasmim. Eu termino aqui.

– Desculpe – falei envergonhada –, não demoro.

Subi as escadas praticamente correndo, Gabe estava na minha cozinha, tinha me agarrado e estava terminando as mais deliciosas panquecas que comeria na minha vida e eu teria que tomar um banho porque estava fedendo a ovos. Era o fim!

Ainda me pegava pensando se aquilo era real. Tudo isso me assustava um pouco também, nunca tinha vivido nada parecido, já nem lembrava com tanta frequência do dia do bosque e como ele era assustador com os olhos brancos... Aqueles olhos.

Balancei a cabeça afastando aquela lembrança, talvez tivesse sido só minha imaginação por achá-lo tão estranho, mas também vi algo semelhante pela janela da cozinha... Fechei o chuveiro e me sequei, abri a porta do banheiro enrolada na toalha e, enquanto pensava em que roupa colocaria, não pude acreditar no que vi.

– Gabe?! Que diabos você está fazendo nesse computador? – Ele estava sentado em frente ao meu computador, percebi que a minha pasta de conversas do MSN estava aberta. – Você está fuçando nas minhas coisas?

Ele se virou lentamente para mim com uma cara de deboche... Que mudou completamente ao me ver. Gabe agora me olhava da cabeça aos pés, como se eu fosse uma daquelas estátuas gregas que as pessoas ficam apreciando.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora