Epílogo Ana Paula

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Precisava fazer aquilo. Algo não se encaixava na minha cabeça e odiava ficar encasquetada com alguma coisa. Aquela história toda de "líder dos caçadores" estava atravessada na minha garganta. Resolvi chamar Amanda, uma colega de classe, para me ajudar. Sabia que ela tinha ficado com o namorado da sua melhor amiga, Ellen, e a chantageei para ir comigo à Nilo Cairo à noite, ou então contaria a todos o que ela fez. Ela aceitou é claro, mas faria com que a Ellen descobrisse tudo de qualquer maneira. Se tinha uma coisa que eu odiava, eram falsas amigas, e ainda mais as "fura-olho".

Me arrumei no preto básico, colado e sexy, e pulei a varanda de casa; quase me quebrei toda pela altura, e encontrei a Amanda na saída do condomínio. Por sorte éramos vizinhas e bolamos um plano para distrair o guarda, jogamos uma pedra na janela do salão de festas, atraindo sua atenção.

Não demoramos a chegar à Nilo Cairo, já que nosso condomínio ficava a dez minutos de lá andando. Amanda não parava de choramingar que seríamos pegas, e a mandei calar a boca diversas vezes. Por fim, reforcei minha ameaça: "O que você prefere, me ajudar ou perder a amizade da Ellen?".

Assim que paramos em frente ao portão do colégio, retirei da minha bolsa os pãezinhos com tranquilizantes que havia preparado, após muitas pesquisas na internet descobri um sedativo forte para cachorros. Joguei os pães para os cães de guarda da escola e torci para estarem com fome. Não demorou muito para que eles apagassem e dormissem tranquilos como filhotes. Claro que para saber disso tive que subir no muro várias vezes, e os infelizes latiam como loucos quando me viam, sem contar que meus joelhos estavam ralados até o osso, ou era o que parecia.

Por um golpe de sorte esse era o único sistema de vigilância da escola, cães de guarda, havia também um casal de caseiros, mas àquela hora já estavam dormindo.

Pulamos o portão principal, porque ele facilitava a subida, não pretendia ralar mais nada. Já estava ficando extremamente sem paciência para as reclamações da Amanda, só não a expulsei porque precisava de uma sentinela, e não poderia ser Danny, ele jamais me deixaria fazer isso, nem a Jasmim... Como diria a ela que estava indo revirar seus documentos em busca de mais dados sobre seu pai?! Não dava. Talvez até desse se eu mentisse para ela e inventasse uma história, mas ela estava escondendo tanta coisa de mim ultimamente que achei justo pagar na mesma moeda.

Atravessamos o colégio sem dificuldade, mas sempre atentas a barulhos, a cada farfalhar das folhas das árvores Amanda se agarrava a mim e soltava um grito abafado. Queria muito esbofeteá-la. Paramos em frente à sala da secretaria, onde os documentos de todos os alunos ficavam arquivados.

– Amanda, você fica aqui de vigia. Se alguém aparecer ou você vir algo suspeito, bata na porta duas vezes e saia correndo. Não me espere!

– Isso vai ser fácil – menina imbecil, estava tremendo que nem vara verde, ótima ajuda.

Usei a cópia da chave que mandei fazer, após pegar emprestado a da nossa coordenadora sem ela notar. Essa parte foi difícil, mas nada que minhas habilidades não tivessem dado conta.

Entrei escondida na sala dela na hora do intervalo, a esperta colocava identificações nas chaves, então achar a que eu queria no molho não foi difícil, daí foi só usar uma massinha de modelar, escondida dentro de uma embalagem de base compacta e voilà.

Liguei a luz da secretaria e fui direto aos arquivos, daqueles de aço – a coisa ali ainda era meio pré-histórica, graças à diretora do colégio, Catarina – onde a etiqueta indicava que ali estavam os alunos com a letra "A", procurei por Acaiah em diversas gavetas e quando achei a pasta certa, abri trêmula.

O Último BeijoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora