25_ Família.

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O que o Kevin disse me deixou levemente atordoada.

Eu pensei tanto nas palavras dele que eu acabei tendo uma ideia para um novo romance, porque de uma certa maneira minhas ideias estavam voltando a todo vapor. E, de algum jeito, acabei por completar a primeira fase do meu trabalho daquela noite antes de dormir.

Era o começo da semana quando eu acordei, revelando mais um dia congelante naquela cidade tão pacata e aconchegante.

Ok, eu não falei com o Easton depois que saímos da confeitaria. Não foi proposital, mas depois do que o Kevin me disse me fez temer pelo futuro após saber que nada tinha sido como eu estava esperando.

Embora eu não tenha esse poder, queria proteger o Easton de todas as maneiras possíveis. Eu vim para Denver na tentativa de fugir das memórias ruins de Nova York por um tempo, porque ainda estava recente e tudo lá me lembrava ele.

Denver tinha tirado aquela parte de mim e, consequentemente, trouxe o Easton de brinde. Eu tinha a certeza disso. Easton conseguia ser de longe uma pessoa incrível que pode iluminar a vida de qualquer pessoa.

Era incrível saber disso, mas ao mesmo tempo era gratificante. Porque eu estava fazendo parte de tudo aquilo e, consequentemente, podendo ver aquilo de perto.

ㅡ Você pensa tanto e não chega a conclusão alguma ㅡ Kevin chamou minha atenção, me encarando com a expressão de tédio.

Estávamos na mesa, tomando o café da manhã. Eu estava segurando a caneca de chocolate quente, com um pedaço de bolo de morango a minha frente e a companhia do meu melhor amigo.

Seu cabelo estava embaixo da touca de cetim e seu rosto coberto pela máscara de melancia.

ㅡ Eu não estou pensando ㅡ Desviei meu olhar, mesmo sabendo que não serviria de nada.

Anos de amizade.

Não era uma surpresa.

ㅡ Também me pego pensando nele e detesto as vezes ㅡ Riu, com um tom debochado. ㅡ A nossa noite foi mágica.

Ergui meu olhar, torcendo meus lábios.

ㅡ Não quero saber dos detalhes.

ㅡ Por que não? Assim você tem mais experiências por conta das histórias e na hora quando for a sua vez surpreenderá ele.

ㅡ Já tá insinuando que eu vou transar com o Easton?

ㅡ É apenas uma questão de tempo, não esquenta. ㅡ Balançou a mão. ㅡ Eu me sinto um tremendo emocionado, sabe? Porque no começo eu estava com medo de que ele fosse um heterossexual.

ㅡ Se ele fosse eu não surpreenderia, porque na Confeitaria ele não mostrou ser gay.

ㅡ Tem casos e acasos né ㅡ Kevin balançou a cabeça rindo. ㅡ Ai, pelo menos eu tive a maior certeza disso quando parei na cama dele.

Fiz uma careta, me xingando por ter uma mente tão fértil.

ㅡ Já disse que eu não quero saber dos detalhes, Kevin!

ㅡ Eu fico excitado só de lembrar. Foi a melhor noite da minha vida. ㅡ Kevin apoiou o cotovelo na mesa, colocando a cabeça na palma da mão e abrindo um sorriso. ㅡ Sinto como se o Wiley estivesse por todo lugar ainda, Rain. Sinto... sinto como se agora ele estivesse cada vez presente na minha vida do que jamais alguém esteve.

Aquilo me fez sorri, sentindo meu peito se aquecer ao ver o Kevin daquele jeito.

Em tantos anos de amizade, nunca vi o Kevin daquele jeito. Claro que, como eu disse, ela sempre foi uma pessoa cara de pau e teve muitos momentos com homens. Eu desejava felicidades para ele, querendo que ele encontrasse uma pessoa especial que amasse ele de verdade. Que ambos se amassem, na real.

No entanto, tudo acabava em um estalar de dedo tão repentino e surpreendente. No final, as palavras do Kevin era sempre as mesmas; Não deu certo, Amora, então não era pra ser. Quem sabe um dia eu encontre meu amor.

Agora era bem diferente. Eu percebi isso apenas olhando nos olhos deles.

ㅡ Fico feliz por você, criaturinha ㅡ Afirmei, erguendo minha mão e tocando na mão dele. ㅡ Por nós dois, de verdade. É muito bom saber que estou sendo testemunha que você tá feliz com o Wiley.

Ele riu.

ㅡ Também estou feliz por estar presente nesse momento tão importante para você. ㅡ Replicou, entrelaçando nossos dedos. ㅡ A dor da traição não é fácil, mas você tá caminhando super bem.

ㅡ Graças à você.

ㅡ A você também. Porque estamos nos reconstruindo juntos, amadurecendo juntos como uma família.

Família.

Era exatamente esse o significado que aquela palavra tinha pra mim. Kevin era a minha família, sem ser meu sangue, porque ele tinha surgido na minha vida tão de repente que continua comigo até nos dias de hoje.

E isso era o que mais importava para mim. Minha amizade com o Kevin. Minha irmandade. Porque ele era a única coisa que eu tinha de mais valioso.

ㅡ Te amo, sabia? ㅡ Fiz uma careta assim que ele questionou, interrompendo meus pensamentos.

Mais uma das vantagens de ter amizade de anos; Conheço ele como a palma da minha mão. Junto a isso, conhecia cada truque dele.

ㅡ O que você quer? ㅡ Ergui uma das sobrancelhas, torcendo meus lábios ao ouvir sua risada logo em seguida.

ㅡ Outra barca de cupcakes.

ㅡ Por que você não vai? Aproveita e vê o Wiley de novo.

ㅡ Quem me dera, mas o Wiley não foi trabalhar hoje porque teve que ir levar a mãe dele de volta para a Aspen.

ㅡ Aspen?

ㅡ São alguns quilômetros daqui de avião, mas ele foi de carro. Então... Não sei quando ele volta.

Torci meus lábios novamente, percebendo o quanto ele era cínico.

ㅡ Vai, Amora. Por favor. ㅡ Juntou as mãos e uniu os lábios em um biquinho, tentando ser fofo. ㅡ Nunca te pedi nada.

ㅡ Te situa, Kevin! A coisa que você mais faz é me pedir algo! ㅡ Levantei-me da cadeira, revirando os olhos. ㅡ Me deve uma.

Puxei minha carteira assim que sai da cozinha, ouvindo a comemoração do Kevin. Aquilo me fez rir, porque era daquilo que eu mais gostava na nossa amizade.

Ele era, definitivamente, minha única família.

•••

Amor de InvernoWhere stories live. Discover now