30_ Jornais.

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EASTON

Pressionei os papéis em meus dedos, encarando aquela afronta vindo diretamente do meu pai em me mandar cartas depois de anos sem lembrar de mim um dia sequer.

Não vou mentir, tampouco me importava com ele. Assim como não me importava em ter sido rejeitado por ele, igualmente ao meu irmão Tarantino.

Nossa mãe também não foi a melhor de todas, porque ela pouco se importou quando ele pôs os próprios filhos para fora de casa. Na verdade, ela nem sequer nos olhou.

Lembro como se fosse hoje. Eu tinha 10 anos na época, enquanto Tarantino tinha 14 ㅡ na época, meus avós ainda eram vivos e tivemos a sorte de tê-los do nosso lado ㅡ , então tivemos que sair da casa deles como duas pessoas sem teto algum. Porque, de certa forma, não tínhamos. Tarantino era menor de idade, assim como eu, então não tínhamos como nos virar.

Por isso, viemos pra cá. Na época morávamos em Aspen, com o pouco dinheiro que o Tarantino tinha naquela idade viemos de ônibus até Denver. Uma viagem que durou quase seis horas, mas fomos recompensados pelo amor e pelo apoio dos nossos avós.

4 anos depois, com a morte dos nossos avós, Tarantino já era maior de idade e já estava trabalhando na academia com seu melhor amigo Michael. Eu, com 14 anos, acabava imaginando como seria se eu fosse forte assim como meu irmão.

Tarantino nunca deixou de acreditar que nossas vidas iriam melhorar, da mesma forma que nunca deixou de cuidar de mim e nem de trabalhar. Eu ainda estudava na época, então ficava nos estudos e também nas oportunidades com os esportes que o colégio tinha.

No entanto, percebi que aquela vida não era pra mim. Eu não era tão fã assim de esporte, preferia a parte teórica e adorava uma bela câmera.

Me vi apaixonado pelo cinema quando eu já tinha 17 anos, enquanto Tarantino continuava trabalhando e me apoiando em cada nova experiência que eu encontrava pelo caminho.

Não tenho palavras para descrever o quanto eu amava meu irmão, porque desde sempre ele esteve do meu lado mesmo que eu estivesse errando. Eu tentava de todas as formas dá orgulho a ele, porque sabia que jamais iria encontrar esse orgulho com o nosso pai.

Até mesmo quando eu decidi abandonar minha vida de ator, Tarantino continuou do meu lado me apoiando naquela decisão. Ainda lembro das palavras dele; Melhor desistir agora no começo, do que quando estiver no topo. Talvez as câmeras não seja pra você, então não tenho como impedir que faça o que seu coração quer.

ㅡ Easton? ㅡ Ruby tocou em meu ombro, chamando minha atenção.

Olhei ao redor voltando a mim, percebendo que ainda estava na loja de antiguidades das Payton. Que me pediu que eu cuidasse da loja, enquanto ela iria fazer algo importante em não sei o quê.

ㅡ Tudo bem?

ㅡ Recebi uma carta do meu pai. ㅡ Deixei a carta sobre o balcão, vendo a Ruby se enclinar e ler a carta. ㅡ Ele tá querendo saber quando eu vou voltar para Los Angeles.

ㅡ Ele ainda insiste que volte a ser ator? ㅡ Indagou, com uma expressão de irritação. Assenti com a cabeça. ㅡ Já disse que odeio seu pai?

ㅡ Temos um ódio compartilhado por ele, não se preocupe. ㅡ Dou de ombros, fingindo total naturalidade.

Por dentro, eu estava querendo explodir em um grito de raiva. Meu pai conseguia despertar um lado meu que eu não conseguia controlar ㅡ um lado que eu escondia muito bem.

Um lado que, se eu não controlar, posso acabar magoando pessoas importantes e ferrando com minha vida.

Assim como já fiz um vez...

Amor de InvernoWhere stories live. Discover now