Decisão

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Anastácio abriu o portão da fazenda e entrou com as coisas que havia comprado na loja da Sra. Cassilda na cestinha da bicicleta, junto com sua bolsa de escola.
A galinha Carlos a cumprimentou feliz e sua égua Eduardo, sempre mal humorada em seu celeiro ao lado do portão, bufou apenas.
Anastácio suspirou e se certificou de que o frasco estava bem escondido no bolso da blusa de frio em sua cintura.
Primeiro foi tomar um banho no riacho e colher rosas marcianas para fazer salada.
Não eram rosas e nem marcianas, mas Anastácio dera esse nome às pequenas folhagens por que tinham formato de rosas e eram verdes com pontos roxos.
Chegando em casa sua mãe estava fazendo sopa de legumes e cantava calmamente, como se magia não existisse e ela não tivesse nada a ver com isso.
Ela sabe. Pensou Anastácio emburrada. Ela sabe muito bem.
   — O que foi menina? Por que está tão quieta? — sua mãe perguntou curiosa quando Anastácio sentou no banco da cozinha e ficou um tempo sem dizer nada.
   —Ah, nada. Só estou pensando. — respondeu disfarçando.
   —Pensando no quê? —A mãe pressionou forçando um sorriso. A mãe de Anastácio não era sua mãe de verdade, ela havia encontrado a garota ainda bebê numa pequena cesta de palha na beira do rio, quase morta de fome e febre. Ela a levou para casa e cuidou dela, depois de algum tempo decidindo criá-la como filha. Anastácio nunca se incomodou com o fato de ser adotada e também não se perguntava quem eram seus pais de verdade, em sua opinião deviam ser idiotas por largar um bebê na beira de um rio. Sua mãe não era lá o melhor exemplo materno, às vezes Anastácio tinha a impressão de que não tinha muita importância, mas no geral elas se davam bem como mãe e filha.
   —Um conto de fadas que a Persiana me contou. Nada de mais. —Anastácio respondeu, tentando desviar do assunto. Mas assim que ouviu o nome de Persiana a mãe aguçou os ouvidos.
   —Vamos, o que é?
   —Ah, mãe, nada! —bufou Anastácio.
A galinha Carlos entrou cacarejando na cozinha e botou um ovo aos pés de Anastácio que riu e passou carinho na cabeça dela, observando a porca Genivaldo guinchar tentando entrar pela porta, mas era muito gorda então ficou do lado de fora olhando para dentro.
   —Vamos matá-la em breve. Para a festa  da família. — disse a mãe de Anastácio, se referindo à Genivaldo.
   —Não!!—Anastácio exclamou perplexa. — Não vamos matá-la! Você me deu de aniversário de 15 anos. Agora ela é minha!
A mãe não disse nada porque era verdade. No seu aniversário de 15 anos Anastácio pedira um porquinho e a mãe comprara Genivaldo ainda filhote. Agora Anastácio cuidava dela e deixava dormir em seu quarto assim como a galinha Carlos. Era uma porca muito limpa.
   —Tudo bem ...—respondeu a mãe.
   —Tudo bem nada! Prometa! Se você matar ela eu vou embora.
Anastácio já devia ter parado por aí, mas a mãe já havia falado muitas vezes que não mataria um animal de Anastácio e quando ela ia à vila, a mãe chamava o seu tio pra matar. Isso estava ficando demais para a garota ruiva.
   —É mesmo?— zombou a mãe. Mas Anastácio percebeu um minúsculo tremor em sua voz que ninguém mais teria percebido.
   — Para onde? — continuou sua mãe com uma sobrancelha levantada para Anastácio.
   — Para a Terra da Geada — respondeu com firmeza. Sua mãe nem tentou esconder e disse cruelmente:
   — Eles nunca irão encontrá-la!
   —Não? E como você vai fazer isso?
A mãe pegou a erva da lua e agitou na frente de Anastácio:
   — Com isso eles nunca irão rastrear você!!
   —Ah não faça isso! Por favor! — disse Anastácio fingindo desespero. A mãe bufou e saiu da cozinha para esconder a erva da lua e Anastácio revirou os olhos, e aproveitando a situação correu para o seu quarto e gritou:
   — Vou nadar no riacho!
Apesar de ter acabado de voltar do rio ao lado da fazenda, a mãe resmungou permissão. Anastácio juntou rapidamente algumas de suas coisas mais valiosas como blusa de frio e suas botas de caminhada, seu celular e carregador, o frasco de Persiana e a adaga que ganhou de aniversário de seu tio matador e enfiou tudo em uma mochila.
Anastácio observou sua mãe ir para a horta colher algumas ervilhas e saiu de fininho pela porta dos fundos. Pegou a galinha Carlos e correu para a canoa na beira do rio, remando em direção a pequena ilha que se encontrava à menos de um km de distância da fazenda.
Eita nóis, pensou quando sua barriga roncou, lembrando que havia saído de casa sem almoçar. Foi remando em direção à ilhota no meio do rio onde colheu algumas frutas e folhas comestíveis e partiu para a cachoeira. Atrás do jato de água da cachoeira havia uma caverna bem escondida e seca, onde Anastácio havia feito duas camas de capins secos e coberto com lençóis velhos. Também tinha um abajur ligado a uma bateria de carro e uma maleta de primeiros socorros. Anastácio a chamava de Caverna de Emergência, desde quando brincava lá quando era criança e fingia que a caverna era seu esconderijo dos inimigos.
O sol já se punha no horizonte e a cachoeira refletia avermelhado, então Anastácio pegou o frasco de chifre de carneiro e deu uma golada no líquido, mas sem se sentir em nada diferente ou rastreada foi deitar em uma das camas de musgo, observando Carlos ciscar alguns insetos no chão.
                                  ∆
Anastácio acordou de manhã com o barulho da galinha Carlos picando a parede onde crescia musgo.
O sol da manhã refletia na cachoeira e fazia desenhos ondulantes e rosados na parede da caverna. Anastácio pegou o celular e olhou as horas, depois se deixou cair novamente na cama. Ainda pensava em sua mãe. Queria voltar pra casa pedir desculpa e nunca ir pra lugar algum... O que Kai pensaria? Ela amava estar com ele e namoravam há quase três meses e agora ela simplesmente desapareceria da face da terra.
Ela nem sabia como era essa Terra da Geada, Persiana só lhe dissera que lá estaria segura. Será que os Cavaleiros a aceitariam? Que tipo de gente eles eram...? Anastácio não fazia a menor ideia, mas se tinha um inimigo perigoso pra um país onde existe magia, ele devia ser realmente assustador.
É melhor continuar esperando mesmo e ver quando vai acontecer alguma coisa.
Anastácio pensou em ir para a vila comprar alguma coisa pra comer , depois de um longo tempo sem que nada acontecesse.
Quando será que vai acontecer alguma coisa...? Se tudo o que Perisana e Cassilda disseram é verdade..
Já estava quase levantando para ir à vila, entediada e começando a desacreditar da história de Persiana, quando uma voz de garoto de repente disse:
   —Belo esconderijo para uma garota.

Espero que estejam gostando e continuem lendo! Ainda vai acontecer muita coisa nesse e nos próximos livros. Não esqueçam de votar! ;D

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