Cavaleiros de Dragões

Vitória

A aura de poder que irradiava de Anastácio ficava mais forte a cada minuto enquanto ela e Zimäh abriam um enorme buraco no exército negro, os monstros e homens inimigos caíam mortos ao seu redor como uma onda que começava no dragão prateado e sua cavaleira.
Os olhos da garota ardiam em fogo e o poder roxo e vermelho fogo a envolvia em espiral, tornando impossível alcançá-la de qualquer lado. Aska se aproximava e Kenny e Jenny tentavam achar um encanto que amenizasse a fúria de Anastácio para que pudessem fazer contato com ela, mas nenhum mostrava eficiência e o ataque mágico ganhava cada vez mais intensidade, afetando também o exército aliado.
Zimäh, faça alguma coisa! Aska chamou o dragão, mas ele não a ouvia, parecia ter se lembrado do antigo ódio pelo inimigo que o tinha feito perder seu Cavaleiro a anos atrás e matava tudo que entrasse em seu caminho.
Tenho uma ideia! Disse Kenny, fazendo a irmã e uma das cabeças de Aska a olharem preocupadas. Talvez ela volte a si se ver alguém familiar de frente, o contato visual pode ajudar quando alguém está fora de controle! Eu li isso uma vez...
O dragão de duas cabeças havia se afastado de Zimäh por conta do calor e do risco de ser atingida pela magia de Anastácio, mas voltou a se aproximar sob insistência de Kenny.
O que pareciam ser enormes tentáculos transparentes da magia roxa e avermelhada de Anastácio, atacavam o campo de batalha impetuosamente queimando inimigos e aliados, e Aska conseguiu por milagre passar por entre as colunas flamejantes e se aproximar o suficiente de Zimäh para que Kenny pudesse pular de um dragão para o outro.
É agora ou nunca! Kenny aterrissou nas costas de Zimäh já preparando alguns encantos de proteção de que se lembrava que fossem mais eficientes e se aproximou cuidadosamente da garota ruiva, que, de costas para ela, ainda não havia percebido sua presença.
Anastácio estava completamente fora de si, Kenny se perguntava se ela ao menos estava consciente, logo constatando o contrário quando percebeu escuras marcas que haviam começado a surgir em sua pele pálida.  Como pequenos machucados, estavam aparecendo marcas e símbolos escuros lentamente sobre os braços, onde as vestes por debaixo da armadura danificada estavam rasgadas e queimadas pela magia descontrolada, no pescoço e no rosto.
Kenny gritou o nome de Anastácio, mas a garota não a ouviu. Nem mesmo Zimäh parecia ter percebido o segundo cavaleiro em suas costas, e Kenny vasculhou a mente em busca de qualquer encanto que pudesse ajudá-la naquela situação.
De repente ouviu uma voz conhecida na cabeça, reconhecendo logo Kady e seu dragão laranja Bizza, tentando ao longe impedir o poder de Anastácio de matar seus aliados, assim como os outros Cavaleiros e dragões. A Cavaleira disse em tom urgente:
Kenny, use um encanto para entrar na mente de Anastácio e ajudá-la a sair desse transe! É um encanto de alto nível, mas acreditamos que você consegue! Kady lhe disse o encanto, fez com que a garota o repetisse mentalmente e então, depois de enviar energia por meio de outro encanto, acenou positivamente com a cabeça.
Kenny olhou mais uma vez para Aska, observando-a com Jenny de longe, preocupada, e acenou confiante. Se concentrou então para começar o encanto, tentando ignorar o calor insuportável que emanava da garota ruiva, juntou as mãos e fechou os olhos.
Logo o encanto de Kady fez efeito, ligando suas correntes de energia e lhe dando força extra para o encanto e Kenny começou a recitá-lo devagar. Sentiu a energia ir para as pontas de seus dedos e começar a formar pequenas raios entre suas mãos que aumentavam de intensidade conforme a garota avançava com o encanto.
Assim que Kady havia lhe dito as palavras na língua antiga, Kenny entendeu que o encanto se tratava de transferir parte de sua consciência para a mente de Anastácio, e para isso precisava tocar qualquer parte de seu corpo assim que terminasse de proferir o encanto.
Kenny se aproximou de Anastácio, lutando com dificuldade contra a barreira mágica de poder que a envolvia e esticou a mão direita, onde os pequenos raios haviam tomado uma cor rosada e percorriam seus dedos crepitando.
Um choque percorreu o braço da garota ao entrar em contato com o ombro de Anastácio e Kenny gritou, arregalando os olhos e suas pernas fraquejaram, fazendo-a cair de joelhos nas costas de Zimäh. Tudo que via era escuridão e fogo, uma dor que não era sua invadiu sua mente junto à uma voz desconhecida, sedenta de sangue, dor e medo, repleta de um ódio sobrenatural.
Os Cavaleiros olharam assustados para onde estava Zimäh quando ouviram Kenny gritar e os tentáculos de poder estremeceram, recuando por um breve momento. Kady teve de segurar Aska mais uma vez para que ela e Jenny não fossem até a irmã, que parecia agonizar de dor, com a mão no ombro de Anastácio e os olhos e boca abertos.
As marcas negras se moveram do braço de Anastácio, aparecendo em Kenny e seus olhos ficaram completamente negros.
Está dando certo... Mas não há como saber se o corpo de Kenny irá suportar o encanto por muito tempo.. Pensou Kady, ver a garota agonizando para salvar Anastácio lhe doía o peito, mas era a única opção que tinham.