Estrelas & Desejos

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Anastácio queria ter tido tempo de trocar de roupa, antes de Jack puxá-la por vários corredores até chegar numa porta que levava ao prédio principal.
   —Onde vamos? —Ela perguntou confusa, mas Jack colocou o dedo nos lábios pedindo silêncio. Ela o seguiu sem mais perguntas, subiram alguns lances de escadas e Jack abriu outra porta.
Anastácio abriu a boca, mas nada saiu, ela só encarou o lugar a que havia sido trazida.
Uma varanda coberta, toda fechada de vidro dava para a parte de trás da Base, onde podiam olhar para a floresta escura lá embaixo e alguns pontinhos de luz da vila. E o céu. O maravilhoso céu noturno daquele mundo, brilhava com milhões de estrelas e planetas.
Jack apontou para baixo, onde Anastácio viu que a Base tinha um jardim, escondido nos fundos da construção, e de onde se levantavam dezenas de pontinhos amarelos e brilhantes, que se moviam entre as árvores e plantas.
   —Vagalumes..?
Jack sorriu, um sorriso diferente do que Anastácio vira até aquele momento, sincero. Sempre lhe parecera um sorriso um pouco zombeteiro, confiante demais de si, talvez até arrogante.
Ela desviou o olhar séria, voltando-o para a vista à sua frente, deviam estar quase no topo do prédio principal a julgar pela altura.
   —Também não conseguiu dormir?— Jack perguntou agora, e Anastácio balançou a cabeça negativamente. Sua mente se enchia de perguntas toda vez que tentava dormir, procurando respostas e explicações dentro da própria cabeça.
   —Jack, me explique isso. Tudo isso, é muito confuso pra mim, me dê respostas..
Ele a olhou de lado, Anastácio reparou o quanto parecia diferente de quando o conheceu. Ela o encarou, observando seus olhos azuis refletindo a pouca luz que vinha toda das estrelas, mostrando tudo o que o mundo não via daquele garoto, tristeza, determinação, sentimentos que ninguém entendia e nem queria. E outros, que Anastácio sabia o que eram, mas não queria que fossem aquilo, não por ela.
   —Eu vou explicar o que eu sei... 
Ele se sentou numa poltrona e Anastácio percebeu que estivera em pé até agora, se sentando na outra.
   —O nosso reino, governado pela rainha Kassandra, tá enfrentando a mais ou menos seis anos a ameaça de Saguhr, que era um lorde do sul. Assim, na verdade foi a seis anos mais ou menos que ele foi expulso e começou a querer vingança. Aí ficou assim: no mesmo ano que foi expulso do reino ele se aliou às forças obscuras, seres das trevas como Citras, Kankyrs, e outros monstros igual o que atacou o Edward no portal. E aí atacou o reino, tendeu? Mas ele perdeu a primeira batalha por pouco e depois disso ficou queto, ninguém mais ouviu alguma coisa, alguns disseram que havia morrido.
Anastácio ouvia séria, lembrando de já ter escutado alguém mencionar aquele assunto.
   —Até que ele atacou de repente no final do ano passado uma cidade lá do sul. Desde então a rainha tá mandando pequenas tropas pro sul pra ajudar os senhores de lá, e descobrimos por meio de um espião, que ele pretende atacar com tudo no final desse ano. Pra destruir mesmo.
   —E os Cavaleiros de Dragões são a principal força pra impedir isso.. —murmurou Anastácio. Jack a olhou confirmando com a cabeça.
Ficaram um tempo em silêncio, até que Jack apertou os olhos olhando pra ela.
   —O-o que foi?
   —O que você tem nesse ombro seu? —ele disse do nada. Anastácio ficou surpresa e no momento sem resposta, que fez Jack murmurar alguma palavra estranha e uma esfera de luz apareceu acima dos dois, iluminando o local.
Uma marca escura e outras mais claras marcavam os ombros de Anastácio, e Jack tocou-as fazendo ela se encolher.
   —Você está machucada!
Anastácio lembrou do momento em que Zimäh a agarrou na cachoeira a algum tempo atrás, e se surpreendeu ao ver que tinha sangue seco no ombro direito.
   —Isso foi.. Foi Zimäh, quando eu e ele...
   —Zimäh te machucou?!
   —Não! Foi quando ele me segurou na cachoeira, ele não quis me machucar.
Jack a olhava nos olhos, desconfiado. Mas então seu olhar mudou e ele apontou para fora de repente.
   —Olha, estrelas cadentes!
Anastácio se virou olhando para o céu, salpicando-se de linhas luminosas que desciam velozmente em direção à linha do horizonte.
   —Vem comigo. —Ele agarrou o braço de Anastácio e saiu dali, de onde atravessaram um escritório e subiram dois lances de escadas, até que Jack abriu uma portinha no teto e subiu, puxando a garota consigo.
Estavam no telhado do prédio, Anastácio não sabia dizer se estavam a mais de cem metros acima do chão, seu senso de altura era horrível.
Jack se deitou ali mesmo, o telhado era madeira plana, e Anastácio se sentou hesitante ao seu lado, observando maravilhada a chuva de meteoros.
   —É lindo, não é? —Ele perguntou de repente ao seu lado, sentado olhando para as linhas luminosas que atravessavam o céu. Anastácio concordou com a cabeça.
   —Faça um pedido. —ela disse, fazendo Jack olhá-la.
   —Um pedido? Por que?
   —No meu mundo as pessoas mandam seus desejos para as estrelas cadentes, na esperança de se realizarem algum dia. Aqui não?
Jack balançou a cabeça sorrindo, imaginando por quê os mortais fariam isso. Estrelas não eram capazes de realizar desejos, eram?
   —As estrelas aqui não realizam desejos. Só se diz que são capazes de curar qualquer doença, ferida ou sei lá o que.
Anastácio franziu a testa, agora sorrindo confusa com aquilo, mas falou:
   —Bem, no meu mundo, eu sempre faço um pedido em silêncio para as estrelas. Minha mãe dizia que elas me ajudariam, se meu desejo fosse puro.
Jack olhou para as estrelas, talvez ela tivesse razão.

— Acho que vou pegar uma blusa lá embaixo..—disse Anastácio depois de algum tempo e estava prestes a levantar, mas Jack a segurou.

  — Pega a minha, toma, eu não estou com frio.

— Não precis...

— É sério, toma! — Jack jogou a blusa em seus ombros e a fez se sentar de novo rindo. Ela deu um sorriso revirando os olhos e vestiu a blusa. 

Ficou em silêncio olhando as estrelas até a chuva de meteoros passar, e percebeu surpreso que Anastácio estava cochilando encostada em seu ombro.

Se levantou devagar e passou os braços pela sua cintura e pelos joelhos, levantando a garota adormecida e desceu as escadas até seu quarto, onde a colocou na cama com o coração aos pulos com medo de acordar Zimäh.
Mas tudo ficou em silêncio e, depois de cobrir Anastácio, Jack saiu silenciosamente.

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