Caçada - parte 1

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Anastácio estava entre o sono e o acordada, sentindo o sol e o vento leve acariciar seu rosto. Sem abrir os olhos, sabendo que o dragão estava acordado, disse preguiçosamente:
   —Zimäh, você sabe que uma hora vamos ter que voltar...
O dragão ficou em silêncio, mas Anastácio sentiu ele erguer a cabeça de onde estava deitado, e se espreguiçar com um grunhido. Ele sabia que teriam que voltar. Mesmo sendo "selvagem" a quase cinco anos, Zimäh ainda fazia parte da corporação dos Cavaleiros de Dragões, e tinha o dever de seguir as regras da corporação e aliar-se a eles no caso de uma batalha.
Se fosse apenas por ele, Zimäh passaria todo o tempo ali, com Anastácio, sua nova Cavaleira e companheira, e faria o que sempre fizera com Ivan, seu antigo e amado companheiro Cavaleiro. Ele era o que os Cavaleiros chamavam de exemplo de guerreiro e Cavaleiro de dragão, destemido, forte, corajoso, leal... E o melhor amigo que alguém podia querer. Mas ainda assim ele era extremamente teimoso, ou simplesmente rebelde. Não recuava do campo de batalha até ter derrotado seu inimigo.
E esse foi o erro dele... O nosso erro. Não recuamos por puro ódio por Saguhr, e teimosia, não aceitar partir sem cumprir nosso objetivo. Um erro fatal pra ele... pensou com amargura.
E vamos voltar. ele disse a Anastácio. Quando der a hora. E depois de alguns segundos acrescentou: E parece que não está longe...
Anastácio se ergueu e franziu as sobrancelhas para o dragão; perguntou:
   —O que quer dizer...? 
Zimäh ficou em silêncio, apenas indicou a direção da base com o focinho e se levantou da posição de deitado, abaixando-se o suficiente para que Anastácio pudesse subir.
A garota olhou para a Base dos Cavaleiros, seu mais novo lar, e estreitando os olhos, viu um ponto vermelho cintilante disparar do telhado da construção, provavelmente da área de decolagem, não dava pra dizer daquela distância. Mas estava visível que vinha em sua direção.

Suba. disse Zimäh apenas, e abriu as asas, se preparando para se lançar no ar. Ele sabia que aquele ponto vermelho era Syla, sua antiga amiga dragão. E obviamente não estaria sem seu Cavaleiro, aquele pirralho... pensou, lembrando dos poucos momentos de contato com Jack que tivera, antes do acidente que matou seu Cavaleiro. Zimäh nunca gostara de crianças, o que Jack era naquela época, e estava satisfeito em ver que este nutria um secreto medo pelo dragão de Ivan.

Jack olhou para trás, temendo que Garra de Prata viesse atrás deles, mas não viu nada. Syla rugiu um aviso quando avistou o reflexo prateado das escamas de Zimäh ao longe, se lançando no ar para o que quer que fosse fazer junto com Anastácio.
Mais cedo naquele dia, quando Edward voltou com os Cavaleiros, mas sem Anastácio, Jack se torturava com pensamentos de que ela podia estar hipnotizada, até na hora em que disse que estavam brincando com Edward, e Zimäh pudesse machucá-la.
Isso seria horrível... dissera Syla com visível sarcasmo na voz. Ela era o único dragão que ainda acreditava em Zimäh, e defendia sua agressividade com os Cavaleiros e qualquer um que estivesse a serviço de Cassandra, a rainha da Terra da Geada, ou da Princesa Luana.
Syla, você não entende! Zimäh é sim perigoso, ele se voltou contra Edward! Você não viu o estado de Dina e Seth quando voltaram?
Eu vi sim, estão queimados até o couro. E você está caidinho pela menina ruiva, até a Mei já percebeu isso. Retrucou Syla insensível e Jack suspirou.
A Mei não conta, aquela garota com rabo é sinistra.
Syla se ergueu de repente e rugiu para Jack.
Então você está apaixonado por ela! Há!
Jack avermelhou percebendo seu vacilo, mas se conteve e ficou em silêncio.

Agora, enquanto voavam na direção de Anastácio e Zimäh, ele pensava na conversa de antes. E o medo que sentia por Zimäh crescia quando lembrava dos tempos em que Ivan ainda estava vivo e ria do medo de Jack, dizendo que Zimäh só não gostava muito de "filhotes".
Você não é mais um filhoteDisse Syla, vendo que a única coisa na cabeça de Jack era o medo de Zimäh. Ela ainda defendia o dragão prateado, mesmo que não falava ou tinha contato com ele à cinco anos, mas se ele atacasse Jack, não teria mais a antiga amizade.

Anastácio se segurou como sempre nas escamas do pescoço de Zimäh, esquecendo de tudo que havia aprendido (mesmo sendo relativamente pouco) com seu dragão, quando ele disparou em direção à floresta, só deixando o corpo cair e, percebendo o que Anastácio fazia de novo disse:
Você está puxando o corpo para trás de novo, para cima, tente se abaixar o máximo possível contra meu pescoço seguindo a direção que eu estou indo. Assim fica em perfeito equilíbrio comigo e eu posso me mover com mais leveza.
   —Desculpa! —Ela gritou contra o vento que batia em seu rosto e se agarrou ao pescoço de Zimäh fechando os olhos com força.
A floresta! Pensou Anastácio compreensiva quando Zimäh voou com velocidade e leveza de vôo livre por entre as árvores como se ela não existissem. Ele a conhece melhor que qualquer um, Jack não vai ter chances...
Logo ouviram um barulho alto a vários metros atrás, as patas de Syla quebrando e pisando desajeitadamente galhos e arbustos. CRUNCH - CRUNCH - CRUNCH! Anastácio riu deliciada e olhou para trás, soltando um grito de repente:
   —Zimäh, fogo!!
Como um raio Zimäh disparou para cima saindo da floresta no exato momento em que uma coluna de fogo saía da boca do dragão vermelho e incendiou a vegetação rasteira de onde estiveram um segundo antes.

Jack fervia de raiva por estar sendo humilhado por uma mera garota destreinada que mal havia chegado na Terra da Geada a dois dias.
Apertou o corpo de Syla com as pernas incentivando-a a voar mais rápido quando Zimäh saiu a vários metros a frente das árvores e Syla se impulsionou do chão com as quatro patas.
Zimäh fez uma curva repentina e fechou as asas entrando na abertura do antigo vulcão, mas Jack conhecia aquela caverna e mandou Syla ir por baixo, para a caverna na floresta, a mesma que levava ao interior do vulcão.
Te peguei. Pensou triunfante. Mas estava enganado.






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