Problemas

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Ao que parecia, a nuvem escura era uma tempestade invocada por magia negra, junto com os inimigos que a acompanhavam: criaturas aladas do tamanho de seres humanos que se fortaleciam na chuva e tempestade das nuvens negras. Edward avisou que apesar da aparência eram monstros relativamente fracos em relação aos guerreiros com seus dragões, e os jovens só precisavam aguardar o fim da luta. Foi uma experiência empolgante assistir os lendários Cavaleiros de Dragões numa batalha na chuva, as armas reluzindo na luz dos raios e encantos disparando de um lado ao outro.

No fim da tarde, os dragões alcançaram uma pequena cidade turística, chamada Moorland. Os moradores da cidade os receberam muito bem, mas os jovens aprendizes não puderam deixar de reparar o respeito com que os tratavam, que era visivelmente por medo.

O que os faria ter medo de alguém como Edward...? Anastácio se perguntava enquanto entravam na casa em que puderam se hospedar. Pra ela, Edward obviamente merecia respeito, mas era uma pessoa tão simpática! Não era intimidador como, por exemplo, Shilamir, ou Dina com aquele olhar louco...

A pequena cidade era envolta por pântanos, causa de várias lendas que contavam para as crianças na hora de dormir. Uma delas, que chamou a atenção de Anastácio, era a do Dragão do Pântano. O garoto que os escoltou pela cidade, lhes contou que os pântanos eram o lar de um dragão misterioso que se alimentava da alma de garotas virgens. Ele era um dragão noturno e sua canção hipnótica atraía as garotas para o pântano.
Jenny já estava pálida e tremendo da cabeça aos pés quando o rapaz, Kallah, nem tinha chegado ao meio da história.
   —Ainda bem que eu não sou virgem. —disse Anastácio completamente séria, e os olhares que recebeu foram de morrer de rir. —Sou de Escorpião.
Ela soltou uma risada e tampou a boca, recebendo olhares de dar medo dos outros, mas pelo menos o garoto riu, e Kenny deu um largo sorriso. Dina lhe deu um tapão no ombro com cara de quem dizia "Sua engraçadinha, vai pro teu quarto".
Enquanto conheciam a pequena cidade, Jack chegou do seu lado e disse:
   —Desde quando você tem humor, ruiva?
Anastácio só lhe lançou um olhar desprezível e continuou andando.
   —Você me irrita.
Jack deu de ombros sorrindo, nesse momento Anastácio reparou que ele era quase um palmo mais alto que ela, o que era raro, pois a garota ruiva sempre fora a mais alta de seus amigos. Jack reparou que ela o olhava e respondeu ao comentário dela:
   —Fazer o que, eu sou desses que irrita até quando não quer.
Kallah continuou falando sobre a cidade com os Cavaleiros e os escoltando pelas ruas, quando pararam na frente de uma construção de aspecto assombroso, e ele explicou que antigamente era usado pelas fadas para fazer sacrifícios aos deuses.
   —E que tipos de sacrifícios elas faziam? —Anastácio perguntou antes que percebesse que estava falando. Por se interessava por aquilo? O garoto lhe lançou um olhar que ela não entendeu, e logo respondeu sua pergunta:
   —Sacrificavam homens humanos sequestrados de suas vilas.
John pigarreou nesse momento e colocou a mão na cabeça de Anastácio, falando com tom repreendedor para Kallah:
   —Desculpe, mas acho que isso não é coisa pra se contar a uma garota inocente, Kallah. Além disso já estou ficando entediado.
Kallah o olhou de lado e sorriu  parecendo irritado, mas se controlando.
   —Você é o namorado dela? — John o encarou surpreso, depois deu uma risada divertida e bagunçou o cabelo de Anastácio.
   —Não, garoto. Eu tenho cara de ser o namorado dela?
Anastácio já estava ficando cheia daquela conversa fiada e afastou a mão de John de seu cabelo. Quando olhou de canto de olho para Jack, este olhava Kallah de cara feia, mas logo que viu o olhar dela virou a cara.
   —Não sei.. —Disse o garoto sorrindo sarcástico. —Poderia ser.
   —Chega. —disse ela e se virou irritada. —Eu vou voltar. Se quiserem, que fiquem aí, eu não ligo. 
John bocejou e foi pra perto dela, falando com ar entediado:
   —Eu também vou.
Anastácio olhou para John, depois para Jack de cara feia para Kallah e enfim para Kallah, que encarou o Cavaleiro com um estranho brilho no olhar. Dina puxou o braço de Edward falando que deveriam voltar, os dragões tinham que descansar para seguir viajem.
O que estava acontecendo ali? Anastácio ficou calada, apenas voltou para a casa com os outros, escoltados por Kallah, e depois disso ninguém falou mais nada.
A noite, Anastácio não conseguiu ficar quieta na cama, então decidiu sair um pouco e tomar ar fresco enquanto olhava as estrelas.
O ar frio deixava nuvenzinhas de vapor com sua respiração e ela se divertia observando-as desaparecer.
   —Está uma bela noite não é? —disse uma voz ao seu lado e ela se virou instantaneamente, se assustando por não ter escutado a aproximação.
Era o garoto da cidade, Kallah, e Anastácio perguntou desconfiada o que ele estava fazendo ali.
   —Eu estava dando uma volta. Quer andar um pouco?
   —Não obrigada. —ela respondeu automaticamente, e percebeu que podia ter sido um pouco rude quando Kallah fechou a cara.
   —Tudo bem, eu não vou te morder tá legal?
   —F-foi mal.. Podemos dar uma volta...
Mesmo contra sua vontade, Anastácio foi andar um pouco com o garoto e no caminho conversaram um pouco, mesmo que Anastácio não se abrisse muito com ele, mas era um garoto bem legal.
Porém, quanto mais andavam, mais ela se arrependia de ter ido, e só começou a reparar nos olhares que ele lhe lançava quando era tarde demais.
Quando ela percebeu onde estavam, perguntou assustada:
   —Ei, Kallah, não é melhor voltarmos? Acho que já fomos bem longe...
   —Aah, agora que ia ficar legal... —Ele disse, mas graças à escuridão do pântano Anastácio não podia ver seu rosto. Sua voz estava estranha quando ele disse:
   —Eu poderia te mostrar o dragão do pântano...
Anastácio já estava desconfiada, e mesmo que fosse curiosa para ver um dragão, não podia aceitar ir pro pântano com aquele cara. Ela deu um passo pra trás.
   —Não, acho melhor voltar para casa... Os outros vão se preocupar...
Kallah sorriu e pegou seu pulso, puxando-a para mais fundo dentro do pântano falando com a voz baixa:
   —Mas eu estou com você...
Quanto mais adentravam no pântano, mais ela tentava se soltar, mas Kallah a segurava com punho de ferro e quando finalmente parou e se virou...
Anastácio segurou um grito ao ver seus olhos completamente negros, e dentes afiados como garras em sua boca quando sorriu.
   —Ainda bem que você não é de virgem... Por quê eu adoro escorpião.
Anastácio não conseguia soltar um som, e sentiu a mãos de Kallah se transformarem em garras no seu pulso. Uma forma escura e alongada surgiu atrás dele, tomando forma de um gigantesco rabo de escorpião.

                             ⏳

John olhou para fora de seu quarto enquanto conversava com Jack, com quem dividia o quarto. Os acontecimentos do dia rodavam em sua cabeça, quando Jack disse:
    —Você não acha o Kallah meio suspeito...?
John fez que sim com a cabeça enquanto pensava.
   —O garoto é um mago, Jack. É difícil perceber sem antes ver seus poderes, mas eu já vi um mago assim antes.
Jack arregalou os olhos. Ficou sentado na cama encarando o Cavaleiro e perguntou enfim:
   —Você acha que ele poderia...
Foi interrompido quando ouviram um grito do lado de fora, ecoando na direção dos pântanos.
   —Vamos. —Disse John e se levantou de repente, já vestindo a blusa e pegando sua espada. —Está na hora de ver o que esse jovem mago pode fazer.

Cavaleiros de DragõesWhere stories live. Discover now