Encontro de dois exércitos

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A enorme planície que se estendia à frente estava sob a sombra da tempestade que se aproximava cada vez mais e um sorriso de vitória surgiu no rosto moreno, marcado por cicatrizes e ódio de inúmeras batalhas. Estava perto da batalha que marcaria os Quatro Reinos, em breve a Terra da Geada estaria sob o controle da verdadeira justiça.
Saguhr olhou para as montanhas do norte, nunca estivera tão perto da vitória. Logo sua vingança estaria terminada, e desta vez permaneceria de pé e Kassandra de joelhos.
De repente o exército atrás de si parou, e Saguhr freou seu cavalo negro, olhando para a planície à sua frente, onde o ar parecia tremular e se distorcer iniciando o que parecia a abertura de um enorme portal. O homem arregalou os olhos cerrando os dentes, seu coração acelerava de ódio e estava cada cez mais claro o que acontecia ali.
—Não... Não pode ser... Essa desgraçada.. NÃO, NÃO!!!
As criaturas das trevas atrás dele sibilavam e rugiam raivosas, afetadas pelo ódio de seu comandante e Saguhr socou a sela, agarrando o punho de sua espada com força e gritou frustrado.
Como eles sabiam?.. Como?! Essa tirana, vadia!!
—Lançem a maldição dos Sete Pontos! AGORA!!
Os monstros sibilaram e abriram caminho para o comandante, que recuou até o centro do exército e ergueu as mãos, deixando com que as primeiras fileiras de criaturas das trevas tomassem sua magia para lançar o encanto negro.
Iniciou-se uma cantoria grave e rouca e o ar à sua volta estalou, a pressão baixou repentinamente e uma enorme esfera de magia negra começou a crescer acima de suas cabeças, sugando a energia negra dos monstros do exército.
—Azara Errhing'za!
Saguhr ergueu os braços fortalecendo a maldição com seu próprio encanto de ataque e a enorme esfera negra disparou para a frente, direto para o exército de armaduras douradas e prateadas à alguns km de distância.
A maldição, na forma de uma enorme esfera negra, voou velozmente na direção do exército, mas retiniu numa barreira invisível soltando fagulhas douradas e se desfez em fumaça negra para os lados.
Saguhr praguejou, o ódio lhe subia ao peito fazendo seu coração disparar e ele tinha vontade de esmurrar a sela, puxar a espada e matar a rainha com suas próprias mãos. Cuspiu no chão furioso e ordenou ao exército, que tinha parado por alguns instantes, que continuasse marchando, enquanto o exército dourado e prateado se aproximava.

Kassandra semi-cerrou os olhos e colocou seu elmo de guerra na cabeça, fitando com expressão séria a mancha negra do exército inimigo se aproximar no horizonte. Ao que parecia Saguhr havia notado sua presença logo de início, a julgar pelo encanto negro poderoso que foi lançado quase instantaneamente das fileiras monstruosas do inimigo. Os cinco magos na frente do exército de Kassandra e Luana ergueram os braços proferindo várias  palavras incompreensíveis e a partir de finos fios dourados que saíam de suas mãos uma aura dourada começou a irradiar deles, fluindo rapidamente para uma barreira mágica invisível por sobre os dois exércitos reais na qual a enorme esfera de magia negra se desfez com fagulhas douradas e uma tremulação no ar acima de suas cabeças.
O exército seguiu adiante e a rainha pôde perceber que a confiança dos soldados parecia ter aumentado bastante, graças à proteção dos magos.

Jack sentiu o coração martelar contra o peito, o nervosismo e medo crescente confundindo sua mente, enquanto se aproximavam cada vez mais do exército inimigo. Syla mantinha contato telepático todo o tempo, mas permaneceu em silêncio, concentrada nas tropas inimigas que avançavam juntamente com o exército real. Ele esperava que o combate não chegasse ao ponto de terem que entrar na batalha, mas logo dispensou o pensamento; enquanto soldados e Cavaleiros arriscavam suas vidas para proteger o reino, Jack só pensava na própria segurança, e se repreendeu por isso.
O garoto olhou discretamente para o lado, para onde estavam Zimäh e Anastácio, e apesar de perceber que o dragão sabia que olhava para sua Cavaleira, Jack não desviou o olhar. Nos últimos dias, linhas escuras haviam se formado debaixo dos olhos de Anastácio e seus olhos estavam um pouco vermelhos, como se passasse as noites em claro. Sua aparência havia mudado muito desde que chegaram em Tiira e ela parecia cansada e sem ânimo. Nem mesmo parecia afetada pelo nervosismo de estar no meio dos dois exércitos reais, prestes a enfrentar a primeira batalha de sua vida.
Deixe-a, Jack. De repente ele ouviu a voz grave de Zimäh em sua mente. Ela tem enfrentado seus próprios problemas e não precisa saber que está causando preocupação. Se essa batalha terminar bem, diga a ela o que sente, e sem tentar ser alguém que não é você.
Jack olhou surpreso e confuso para o dragão prateado, que voltou seus olhos cor de esmeralda para o garoto. Jack se surpreendeu ainda mais ao reparar que não sentia o mesmo medo de sempre ao encarar aqueles olhos profundos, e Zimäh terminou a frase com um suspiro interno:
Ela está confusa. Não sabe o que fazer nem sentir em relação a esse novo corpo mais forte e poderoso, e nem em relação aos seus sentimentos por ela. Ajude-a a sair dessa prisão, ela precisa agora mais do que nunca amigos que a apoiem.
Jack acenou positivamente com a cabeça e sorriu, provavelmente pela primeira vez para Zimäh. Apesar da batalha se aproximando cada vez mais, o nervosismo havia diminuído bastante e ele reparou surpreso que era por conta do misterioso poder de hipnose do dragão prateado. Silenciosamente o agradeceu, então voltou a atenção para a frente. O exército negro estava a menos de um km de distância, e já podiam distinguir as criaturas das trevas que formavam as primerias fileiras. Jack sentiu náuseas ao ver dezenas de guerreiros humanos entre os monstros do exército de Saguhr, todos trajados de preto e vermelho sangue, as cores de um traidor e assassino.

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