Zimäh

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Anastácio o olhou incrédula, sem saber o que dizer.
   —Você esqueceu.
   —Eh... —Jack sorriu idiotamente e Anastácio fez uma cara de quem diz: Cara de pau...
   —Posso te ajudar a lembrar se quiser.
   —Heh?
Antes que Jack pudesse reagir, a garota ruiva se posicionou de lado com a mão esquerda na gola de Jack e a direita disparou em sua direção.
   —Aaaah, o que v...!
Bum.
Jack tropeçou para o lado com o murro incrivelmente forte da ruiva, que estava séria como se nada tivesse acontecido.
   —A-ah... Lembrei...
Jack esfregou a bochecha vermelha e Anastácio sorriu triunfante. Sabia que ajudaria.
   —As gêmeas foram conhecer seu dragão com Sam e Pikan. Depois você vai ter ir encontrar Zimäh também... —Jack pareceu preocupado com o fato. —Eu não vou poder ir com você.
   —P-por que não?—Anastácio perguntou agora ficando preocupada.
   —Bem.. Ele não vai gostar de um Cavaleiro indo lhe fazer uma visita... E você sabe... E você é a Cavaleira dele, nunca te machucaria. —A expressão dele escureceu quando apontou para a atadura no braço dela, onde a flecha envenenada havia raspado sua pele. —Além disso, não quero que você se machuque de novo se ele atacar quem estiver com você.
Anastácio avermelhou ao lembrar do machucado dolorido que havia guardado pra si e havia sido tratado enquanto estava inconsciente, a julgar pela atadura geladinha que agora cobria o machucado.
   —Olha, me descul...
   —Não importa. —Interrompeu Jack.
—Infelizmente eu não sei dizer onde você pode encontrá-lo, mas posso te mostrar os lugares onde ele pode estar no mapa.

Anastácio andava pela floresta procurando a clareira que Jack lhe mostrara num mapa. Ela já não fazia menor ideia de onde se encontrava, mas Jack havia lhe dado um GPS secretamente e falou em tom de urgência:
   —Na verdade Edward não suporta que eu use tecnologia aqui, mas leve sem deixar que ele ou os guardas vejam.
Pra encontrar a clareira ela esperava não ter que usar o GPS, querendo evitar chamar atenção no escuro para possíveis observadores.
Sua empregada de quarto, Misaki, havia insistido em colocar uma capa em Anastácio para se proteger do frio, sendo que já tinha a blusa de frio e um sobretudo preto por cima. Um broche prateado em forma de lua fechava a capa em seu peito.
A última luz do crepúsculo atravessava as árvores quando Anastácio finalmente chegou à clareira, mas estava vazia. Anastácio se surpreendeu ao sentir certo alívio.
Estava com medo.
Os cabelos de sua nuca se eriçaram e um frio percorreu suas costas quando as árvores farfalharam, mas concluiu que era só o vento e se amaldiçoou por ter tanto medo.
Anastácio se virou e foi rumo ao próximo ponto mostrado por Jack no mapa. Quando tinha dado cinco passos para fora da clareira, seu sangue gelou e ela parou no meio do passo. Sentiu mais do que ouviu algo atrás de si, seu coração acelerou de 0 a 100km de repente e ela se virou lentamente, o medo crescendo a cada árvore que aparecia em seu campo de visão.
Nada. Simplesmente nada estava onde Anastácio jurava encontrar qualquer criatura sombria que fosse seu dragão, e ela se virou como um raio e começou a correr, sem saber o que causava aquele pânico, mas com um pensamento na mente: Voltar. Correr.
O GPS. Pensou desesperada, procurando pelo objeto nos bolsos, e quando encontrou não enxergava o botão de ligar. Ela tropeçou e caiu no chão duro da floresta, o GPS escorregou para longe e caiu num buraco entre as raízes de um enorme carvalho. Não. Pensou. Não, não, não...
Seu pé doía muito e Anastácio levantou a cabeça ao ouvir um rosnado baixo e assustador, seguido de uma voz que parecia vir de todos os lados.
Está com medo...? Espero muito que não esteja acompanhada daqueles Cavaleiros estúpidos.
Anastácio enterrou a cara nos braços, tremendo da cabeça aos pés e disse baixinho, para o que quer que fosse:
   —Pare, por favor... Não me machuque, eu quero sair... Sair...
A voz parou e um brilho prateado caiu sobre Anastácio, refletindo a lua e iluminando o cabelo ruivo da garota. Depois de um longo tempo a garota ousou levantar a cabeça para olhar.
Um par de olhos cor de esmeralda apareceram na escuridão, a quase cinco metros de Anastácio e uma calda escamada raspou o chão fazendo as folhas farfalharam e com a cabeça enorme e prateada surgiu o pescoço, observando-a como uma serpente.
Agora à sua frente ela viu o enorme corpo prateado do dragão refletindo a luz da lua e sua voz ecoou na mente de Anastácio. Suponho que você seja Anastácia.
Anastácio ainda estava sem palavras, tomada pelo pânico de que o dragão a machucasse ou invadisse sua mente como os dragões no portal mágico.
   —Você... É o Zimäh?

O dragão simplesmente ignorou sua pergunta e passou a rodeá-la, perfurando-a com o olhar penetrante cor de esmeralda. Anastácio tremia da cabeça aos pés, não conseguia mover um músculo de medo. De repente e cabeça da criatura disparou em sua direção e arrancou o cinto com a adaga de sua cintura, lançando-o para a escuridão. Anastácio só conseguiu soltar um som rouco de medo e caiu para trás, apoiando as mãos trêmulas no chão.

O dragão atravessou a clareira por cima de Anastácio e se deitou de lado, a cabeça ainda erguida olhando Anastácio com um olhar penetrante.
Vou te contar uma história. Ele disse e Anastácio viu seus olhos brilharem de ódio. 
vários anos atrás, numa batalha contra nosso principal inimigo Saguhr, eu perdi meu companheiro mais fiel, liderando o ataque. Eu dedicava cada dia da minha vida à sua procura, cada minuto. Como ele havia desaparecido, o líder era Edward, para minha total decepção. Bem, eu procurava pelo meu Cavaleiro e jurei procurá-lo até onde fosse possível, até os Cavaleiros me impedirem.
Anastácio não ousava interromper o dragão, e passou a escutar atentamente as palavras de Zimäh.
Eu me isolei na floresta depois de algum tempo, não aguentava a dor de perder meu Cavaleiro, minha alma. Mas eles não me deixavam em paz.  Todos os dias um deles vinha, eles não entendiam minha tristeza, insistiam que eu voltasse e escolhesse um novo Cavaleiro.
Zimäh deu um rosnado e se ergueu nas patas da frente, ficando sentado diante da garota ruiva, que se encolheu com os olhos arregalados e tentou sorrir para acalmar a fúria do dragão, mas o máximo que conseguiu foi estremecer um lado da boca e continuou a encará-lo.
Então minha dor e tristeza se misturaram com ódio, se transformaram em ódio e desejo de me vingar de Saguhr e acabar com sua reputação.
Anastácio não duvidava de sua capacidade de fazer isso, mas permaneceu em silêncio.
Eu passei a odiar as visitas diárias dos Cavaleiros e da guarda real e comecei a ameçá-los, mas não adiantava.

Então eu não tive escolha senão atacar o próximo que veio me encher o saco. Mostrei meu lado negro como nunca antes.

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Valeuu ;D

Cavaleiros de DragõesWhere stories live. Discover now