Patrick

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As gêmeas haviam vencido a luta em menos de dois minutos e saíram sem nenhum arranhão e com um sorriso vitorioso da arena, ao contrário dos dois anteriores, que haviam sido mandados para a enfermaria.
Durante as outras lutas, Patrick aproveitou o tempo para pensar sobre sua atual situação. No outro mundo ele nunca teve amigos de verdade, também teve poucas chances para isso por causa de sua mãe super-protetora. Mas nos últimos tempos, desde que chegara naquele mundo,ele aprendera um pouco mais sobre aquilo, de como era viver com outras pessoas, aprender a viver com pessoas desconhecidas e se aproximar delas. Particularmente, Patrick era um garoto muito fechado e calmo, que lidava fácil com mudanças repentinas. De certa forma ele tivera sorte de ser encontrado pelos Cavaleiros de Dragões e ter tido a oportunidade de uma nova vida nos Quatro Reinos; sua mãe era uma mulher problemática que tinha medo de que seu filho fizesse amizades erradas ou morresse atropelado toda vez que ia ao supermercado. Por isso Patrick tinha aquele problema psicológico de não conseguir interagir normalmente com meninas/mulheres, se sentia extremamente desconfortável e nervoso perto delas. Seu pai havia morrido de overdose e seu padrasto era um babaca que batia nele e em sua mãe. Resumindo, Patrick não se arrependia de ter escolhido abandonar a antiga vida e se tornar parte dos Cavaleiros de Dragões. Provavelmente não sobreviveria à guerra que estava por vir, então estava meio que nem aí pro que ia acontecer. Mas nos últimos tempos na verdade havia encontrado um pouco de amor à vida ao conhecer Mauk, o dragão cinza azul-esverdeado que, apesar de não ter os mesmos problemas, era muito parecido em relação à personalidade com seu jovem Cavaleiro.
As conversas com os outros aprendizes, apesar de que Patrick na maioria apenas ouvia, também haviam lhe mostrado que aquilo era o melhor que podia ter no momento. No mundo humano sua vida era repleta de problemas; ali até mesmo sua doença psicológica parecia estar sendo deixada para trás, pouco a pouco.
—Patrick, é a sua vez.—Jenny deu um tapa no ombro do garoto, que se encolheu e deu um passo para o lado, instintivamente. 
—C-certo.. Vamos, Mauk.—Patrick gaguejou e montou em seu dragão, se acomodando na sela. O dragão cinza bufou e jogou a cabeça para o alto, ansioso, indo em direção ao portão de grade que se abria devagar, e arrancando aplausos do público nas arquibancadas, empolgados após a luta do dragão de duas cabeças. Mauk e Patrick saudaram a rainha e a Princesa no camarote real, se virando então para o enorme portão de ferro que se abria do outro lado da arena. 
O garoto desembainhou a espada, à espera de seu oponente, que até agora não havia dado sinal de existência mesmo com metade do portão já aberto. Lá dentro era uma sela do mesmo material que o resto da arena, escuro e pequeno. Quando finalmente apareceu, Patrick se surpreendeu com a aparência da criatura, não era tão horrível quanto esperava e também não parecia tão perigoso quanto esperava.
Não tinha chifres ou escamas, ou pele coreácea, nem mesmo garras ou algo que o deixasse mais assustador. Era um ser humanóide com pelos castanho-escuros cobrindo o corpo. A única coisa assustadora eram os quatro olhos, enfileirados na cara homanóide como olhos de aranha, pretos e redondos como botões. A visão dos quatro olhos piscando juntos dava arrepios. A criatura andava meio encurvada, com uma linguinha rosada pendurada pra fora da boca e pernas curvadas para trás.
Tirando os olhos.. Comentou Patrick com seu dragão. Eu até diria que é fofinho.
Sim.. Mas me incomoda ele não ter nenhuma defesa física visível como dentes, chifres ou garras. Ele deve ser uma criatura de magia ou veneno, devemos tomar cuidado.
Os oponentes começaram a se rodear, um com o olhar fixo no outro, enquanto esperavam o outro atacar. Ao contrário das gêmeas, Patrick não tinha pressa em atacar, tão pouco confiança para partir ao ataque antes de pensar. O plano era que Mauk o atacasse com uma rajada de fogo, o que provavelmente levaria seu oponente a contra-atacar e mostrar o que guardava para a luta. Dependendo do que fosse Patrick o atacaria com a espada ao mesmo tempo que Mauk o mantinha ocupado com garras e dentes.
Porém, o monstro mostrou ser extremamente  rápido e no momento em que Mauk cuspiu fogo em sua direção, o inimigo saltou para longe, exibindo sua arma ao mesmo tempo que fazia o contra-ataque: estranhas lâminas transparentes surgiram em seus braços e ombros, pouco mais curtas que uma espada comum, com as quais atacou Patrick e seu dragão.
No instante em que saltou, aparecendo diante do garoto, Patrick defendeu assustado o golpe veloz e direto do monstro vindo como um raio na sua frente. Dando impulso com a espada contra a criatura, Patrick arregalou os olhos quando ela sumiu de sua vista, e num reflexo surpreendente ele jogou o braço para trás, defendendo suas costas das lâminas transparentes com a espada atravessada verticalmente atrás das costas. As lâminas do monstro retiniram contra o metal da espada, fazendo-o perder o equilíbrio deixando com que Mauk o jogasse no chão com um movimento brusco do quadril, imobilizando o oponente no chão no momento seguinte com as garras.
O público aplaudiu animado, mas tudo que Patrick ouvia eram as batidas do próprio coração, aceleradas devido ao susto e à adrenalina. Uma gotinha de suor frio havia escorrido de sua têmpora quando quase que inconscientemente havia parado as lâminas do monstro em suas costas.
Mas a batalha não havia acabado, quando Mauk deu um rugido de dor, soltando o inimigo repentinamente , e Patrick pôde ver o espirro de sangue saído da pata que segurava o oponente, a pele entre duas de suas garras estava cortada quase até o osso, deixando a carne vermelha e sangue à mostra.
No momento de desespero, Patrick proferiu um encanto que ouvira de Anastácio uma vez, cujo efeito havia esquecido. Sua mente simplesmente lhe lembrou daquilo e antes que percebesse, havia usado.
O monstro, no meio do salto com as lâminas dos braços de prontidão, gritou agudo quando uma corda luminosa se prendeu em seu pescoço e braços, prendendo-os ao corpo. Um puxão forte de Patrick o lançou ao chão, onde rebateu com um barulho de ossos quebrando, e várias de suas lâminas transparentes se estilhaçaram, deixando marcas de sangue nos braços e ombros do monstro.
O público gritou com euforia e surpresa, aplaudindo quando a criatura não conseguiu mais se mexer e o dragão cinza saiu da arena com seu Cavaleiro, vitoriosos, depois de saudar novamente a Rainha e a Princesa.
A prova havia acabado, e algum tempo depois Luana, Kassandra e seus conselheiros se encontraram com os Cavaleiros no salão de reunião. Com os aprendizes avaliados e os exércitos reunidos, a guerra estava cada vez menos distante.

Ohayo 😝

Cavaleiros de DragõesWhere stories live. Discover now