Prova - parte III

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De todas as coisas no mundo que podiam lhe acontecer, pensava Anastácio, tinha que ser logo aquilo? Ela estava diante de uma luta com um monstro que ela não fazia ideia do quão abominável seria, na qual provavelmente se machucaria bastante, e se tentasse usar magia se ferraria mais do que numa queda de um penhasco.
Anastácio se mexeu inquieta na sela, e Zimäh marchou para dentro da arena quando o portão levadiço se abriu. O público aplaudiu e gritou e ouviram sons de espasmo quanto ao dragão prateado, o lendário "dragão renegado" sendo montado por uma mera garota mortal.
Anastácio saudou a rainha e compania no camarote acima da entrada, e depois o público. Ela sorria e acenava, mas por dentro se sentia um coelho numa gaiola, prestes a enfrentar uma cobra que o devoraria muito provavelmente. A única coisa que salvava era que o coelho tinha uma cobra aliada, e esta mais forte do que a que estava pra vir, mas ainda assim o nervosismo era inevitável. Quando o público se silenciou e o portão de ferro começou a se abrir, Anastácio sentiu o toque da mente de Zimäh, dizendo em tom tranquilizador:
Sabemos pelas experiências que é perigoso você usar seu poder de mago, mas isso não quer dizer que não possa usar magia recitada. Você pode tentar alguns encantos de nível médio ou fácil durante a luta que não irão prejudicar muito..
Anastácio não havia pensado nisso e concordou. Kenny havia estudado com ela algumas horas antes, alguns encantos úteis que aprendera com o livro do elfo que encontrou no castelo outro dia.

Kenny mostrou a Anastácio uma das primeiras páginas do pequeno livro amarelado, que mostrava o corpo de uma pessoa e seus pontos de energia.
Nós somos feitos de energia, e como resultado cada ser vivo possui um campo magnético que o protege e o diferencia dos demais seres. Esse campo é mais conhecido como aura, e tem diversos nomes de acordo com a forma espiritual que a estuda.
Na aura existem diversas aberturas por onde fazemos as trocas energéticas com o ambiente, com outras pessoas, com outros seres, com a natureza.
Essas aberturas na aura são digamos redemoinhos energéticos, e são mais conhecidos como chakras.
—Você aprendeu muito..—comentou Anastácio impressionada e Kenny sorriu.
—Bem.. A magia que usamos aqui é uma manifestação muito mais poderosa das nossas correntes de energia. Nós podemos liberar bem mais nossos chakras do que as pessoas no mundo humano por exemplo, pelo fato de esse mundo parecer ter vida própria, e ter um tipo de chakra também que influencia os seres vivos que vivem aqui..
Anastácio fez que sim com a cabeça, mas pensou: como de repente as coisas poderiam ser explicadas com chakras e energias que também existem no mundo humano?
Kenny disse que isso era apenas a base de tudo, além disto ainda havia uma infinidade de diferentes energias e manifestações "mágicas" que não tinham explicação no mundo humano.
—Os chakras são a base do bem-estar humano e estão ligados aos nossos sentimentos e pensamentos, então temos a explicação para quando um mago manifesta uma enorme e poderosa magia quando afetado de uma forma forte emocionalmente, por exemplo raiva, tristeza, até mesmo alegria ou confusão, ou determinação/motivação e etc. Você já deve ter visto em algum filme quando o herói vê a amada sendo capturada pelo inimigo e aí ele fica com raiva e explode a p**** toda. É tipo isso. —Kenny deu uma risada e Anastácio sorriu concordando.
—Bem, aí chegamos na parte dos encantos. A magia também (obviamente) está ligada aos chakras e como os manifestamos. O principal chakra é o mais fácil de controlar na magia, tanto que o usamos inconscientemente desde a primeira vez que realizamos um encanto. É o chakra Básico. Ele é o que te liga à  terra, e como eu já disse, esse mundo parece ter uma vida e chakras próprios, por isso podemos usar magia por meio de nossos chakras e pontos de energia principais, que são ligados ao elemento terra. Dessa forma, esse chakra nos oferece um suporte, uma estrutura para vivermos no plano terrestre, pois é ele que nos conecta à terra, à existência. Então ele também está indiretamente ligado à nossa energia vital.
Raramente alguém usa outro chakra durante a vida que não seja o Básico para usar magia, por que usar os outros requer tempo e muita dedicação. Quando você for usar um encanto, pense no seu ponto de chakra Básico, que fica nessa região.. —Kenny fez círculos no ar apontando para o meio das pernas.
— Pois é dele que tiramos a energia mágica para fazer encantos e controlar os elementos da magia. Pense numa forma de energia pulsante e como ela percorre seu corpo, como uma estrutura de energia que você precisa para realizar o encanto. Talvez assim seja mais fácil de controlar sua magia.

Anastácio respirou fundo e desembainhou a espada enquanto o portão de ferro se abria rangendo e estalando. Como havia escutado antes, o monstro que Jack enfrentara ficava mais forte conforme lutava, ao contrário do oponente que cansava e ficava mais fraco. Se o oponente de Anastácio também fosse assim, ela teria de dar um jeito de deixá-lo imobilizado. Ela e Zimäh haviam feito um "plano" antes da prova, mas ela não estava muito confiante se ele daria certo. Nos filmes nunca dava, e também dependia da força de seu oponente.
Enfim o portão de ferro se abriu, expondo seu inimigo, e o coração de Anastácio quase pulou pela boca.
Era uma serpente gigante com quatro chifres pontudos na cabeça e dentes do tamanho de adagas, a ponta do rabo na outra extremidade do corpo brilhava num vermelho-vivo alertante, e de sua boca pingava um líquido gosmento cor de salmão. Zimäh ficou em posição defensiva e disse para Anastácio:
Temos que tomar cuidado com a saliva dele, ela queima como ácido. Esse tipo de monstro só vive no Bosque Negro, é uma Serpente Sakï, normalmente são noturnas, mas a rainha deve ter escolhido ela por que de dia estaria mais fraca e não seria uma luta tão arriscada. Assim penso eu.
Ótimo. Pensou Anastácio sarcasticamente encarando a criatura de boca espumante. Ela olhou em volta, calculando o espaço que tinha na arena e no momento em que a Sakï atacou, Zimäh apenas desviou e defendeu por um tempo, deixando Anastácio ter o tempo necessário para analisar a situação como planejado.
Os olhos de Anastácio percorreram a arena atrás da Sakï, calculando quanto tempo teria com aquela velocidade. A criatura não era mais rápida que Zimäh, mas ainda assim era muito rápida e ágil para um ser daquele tamanho, e usar a espada não seria uma boa ideia contando com o veneno da serpente. Uma vez que chegasse perto o suficiente, se abaixasse a guarda por um só segundo estaria morta. Então a questão era lutar de longe.

Luana observava a garota ruiva com interesse. Ela parecia ser mais calculista do que aparentava, ela analisava a arena e seu oponente com um olhar determinado enquanto seu dragão ocupava a Sakï. A Princesa levantou uma sobrancelha quando a garota pareceu terminar de analisar o oponente e embainhou a espada.
Ao que parece ela vai se focar nos ataques mágicos logo de início...
Mas Luana não sabia o quanto estava enganada neste ponto.

Iuhuu mais uum! O livro já tá chegando no final, acho que a partir daqui são mais quatro ou cinco capítulos. Eu já disse que vão  ser três livros? 😜 Yey!
Espero que estejam gostando como sempre, comentem o que estão achando, eu adoro ler e responder comentário de vcs, se tiverem perguntas, perguntem please! E até a próxima ^^

Cavaleiros de DragõesWhere stories live. Discover now