Ansiedade

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O barulho das lanças batendo no chão, o tilintar de arreios e malha de ferro, tirando trovões, chuva, gritos dos comandantes e soldados, relinchos, os barulhos do exército marchando pelo campo de batalha açoitavam os ouvidos da Princesa Luana, montada num belo garanhão cinza, seu cavalo de batalha com que viera de Sília, com uma meia armadura elegante sobre as vestes reais. Ela observava o exército vitorioso e exausto sair do campo de batalha depois que o inimigo havia fugido, e sua expressão exibia sua preocupação junto à frustração.
—Vossa Alteza está preocupada, não é?
Luana olhou de lado para sua companheira, montada num baio de pelos castanhos e crina escura ao seu lado. A moça era ainda jovem, mas corajosa e inteligente, o que a tornou acompanhante e conselheira de Luana. Tinha longos cabelos pretos e lisos, ombros nem tão finos e nem tão largos, sempre uma expressão confiante no rosto fino e moreno de traços do País do Sol.
—De fato. —Luana respondeu com um sorriso e voltou a olhar para o exército que passava diante de seus olhos. —Afinal, como o inimigo chegou até aqui? E o que o fez vir tanto para o sul, sendo que podia simplesmente invadir as cidades mais próximas de seu alcance num ataque surpresa? E onde está Saguhr?..
A última pergunta foi feita com um suspiro baixo, e depois que o exército passou, a Princesa e sua companheira impeliram seus cavalos, formando a retaguarda dos soldados.
A imagem de Saguhr observando-os com um sorriso lhe veio à mente e seu cavalo deu alguns passos nervosos e confusos para o lado, ao sentir movimentos confusos de sua cavaleira. Luana voltou à realidade e acalmou o cavalo, voltando a marchar ao lado se sua companheira.
   —Peri, acompanhe o exército até o castelo, eu preciso verificar uma coisa pessoalmente.
A moça olhou confusa para sua Princesa, e ao ver que Luana estava prestes a virar a montaria para a direção oposta à que seguiam, sorriu e balançou a cabeça:
   —Vossa Alteza não vai se meter em encrenca, eu irei acompanhá-la.
—Peri..
—Não há necessidade de Vossa Alteza ir sozinha e nem de eu me dirigir ao castelo sem Vossa presença, portanto podemos ir juntas.  —a moça insistiu e cavalgou para o lado de Luana, que com um suspiro sorriu, cedendo enfim.
As duas estavam armadas com sabres afiados e tinham bons cavalos, então nada de ruim poderia acontecer. Tomaram a direção de um caminho de areia entre árvores e arbustos baixos, que logo deu numa pequena área de casas e depois de um tempo foram parar na cidade de Tiira, longe do castelo e do campo de batalha.

                             🐲🐲🐲  

Anastácio, Jack, Patrick e as gêmeas estavam na varanda do lugar onde estavam hospedados, onde tinham uma bela vista para a cidade e também podiam ver os dragões, um andar abaixo deles, num espaço gramado com tamanho adequado a cinco dragões adultos.
   —Estou com tédio.. E nervosa. — reclamou Jenny, roendo freneticamente as unhas enquanto sua irmã tentava acalmá-la, sem sucesso. As duas cabeças de Aska também tentavam acalmá-la com palavras consoladoras, mas todas as chances (se é que tinha alguma) de acalmar a garota se foram quando a cabeça direita do dragão disse em tom otimista:
Se você morrer, pelo menos não vai ter que sofrer as possíveis consequências de uma derrota! Quem sabe não vai pro céu do seu mundo?
A partir daquele momento, os jovens já não conseguiam pensar em mais nada além da batalha que estava por vir. Uma hora, enquanto estavam sentados na varanda, Patrick perguntou, daquele jeito reservado e baixo:
   —Por que viemos pro sul, se esse Saguhr quer atacar pela Planície dos Pesadelos? (eles são burros?)
Jack olhou de cara feia para Patrick, aparentemente incomodado com o tom do garoto, que, em sua opinião, estava desprezando os Cavaleiros de Dragões. Kenny admitiu que Patrick estava certo, afinal, pelo que sabiam, a tal Planície era no norte, atrás das montanhas que podiam ver do lado direito da Base. Começaram uma discussão sobre quem estava certo ou errado, se os Cavaleiros deveriam seguir a ordem da rainha ou agir de modo racional, esperando o inimigo na planície, se aquilo era mais racional ou se era tolice. Anastácio encarava os quatro, morgada demais para falar qualquer coisa ou até mandá-los calar a boca, mas com uma coisa tinha que concordar: Por que vir para o sul e gastar tempo ali, em vez de reunir-se em Sília, de onde poderiam ir para a Planície dos Pesadelos e esperar a batalha dali a cinco dias? Assim que cuidasse da pequena quantidade de inimigos em Tiira, o exército real poderia simplesmente ir rumo às montanhas onde esperariam Saguhr, e o pegariam num "contra-ataque" surpresa.
Anastácio se virou quando ouviu a voz de Zimäh em sua mente:
Poderíamos mesmo fazer isso, mas o problema seria o exército real, demoraria demais até chegarem às planícies, se recuperarem da viajem e então se prepararem para a batalha. Até lá, Saguhr já poderia ter atacado ou ter sido informado por algum espião de seu exército. Provavelmente a rainha planeja abrir uma das chamadas "janelas do tempo", que é um encanto em grupo capaz de transportar uma grande quantidade de seres vivos de um lugar ao outro de grande distância. Mas para tal encanto é preciso uma enorme quantidade de energia, e mesmo que fossem reunidos todos os magos disponíveis, não seria suficiente, portanto a rainha precisa da nossa energia, a dos dragões, para que os magos sejam capazes de abrir a Janela do Tempo sem causar grandes danos a si mesmos. 
   —Incrível... — murmurou Anastácio, enrolando uma mecha ruiva no dedo enquanto pensava sobre as palavras de Zimäh.
—O que é incrível? — perguntou Jack confuso quando a garota do nada murmurou aquilo. Os outros pararam para olhar Anastácio, e ela rapidamente explicou o que acabara de ouvir de Zimäh, deixando os amigos a par da situação.
—Então, — concluiu ela mesma olhando para o dragão prateado. — Precisamos apenas reunir todos aqui em Tiira e na hora certa abrir a tal Janela do Tempo, levando todo o exército rapidamente para a Planície.
—Incrível.. — disse Kenny agora, os olhos brilhando de admiração.

                      🐲🐲🐲  

Luana parou seu cavalo ao lado do baio de Peri, amarrado a um toco na frente de uma ferraria de aparência nobre. A Princesa estava com a cabeça coberta pelo capuz da longa capa púrpura que usava, e entrou na loja acompanhada de sua conselheira.
A loja era limpa e espaçosa, nas vitrines estavam expostas elegantes armas e armaduras de metal, em travesseiros de veludo e pendurados em fios de náilon. No fundo da loja, uma garota que parecia ter aproximadamente dezesseis anos e um rapaz mais velho estavam atrás do balcão, conversando com um cliente alto e musculoso a respeito da espada repousada no balcão.
A garota, de cabelo curto azul-claro e sardas no rosto, percebeu a chegada das duas estranhas, e assim que reconheceu a capa púrpura, disse algo ao colega no balcão e fez um gesto discreto para que as duas a acompanhassem para dentro da porta à esquerda do balcão, meio atrás de uma vitrine de espadas e escudos.

   —Alteza. Espero que tenha tido uma viajem agradável. Vossa arma está pronta, como pediu.
Uma espada longa e larga foi retirada da bainha de couro, refletindo a luz, avermelhada, com escrituras de uma antiga língua gravadas no metal reluzente. Luana empunhou a arma, analisando a cruzeta detalhada, o cabo e o pomo, envoltos em detalhes elegantes de fios prateados, e a pequena jóia laranja no punho. Era pesada, mas perfeitamente equilibrada com a mão e o braço da Princesa, e esta sorriu embainhando a espada.
   —Como esperado da melhor ferreira do reino. Agradeço, Takasha. 
A garota sorriu fria e fez uma reverência curta, dizendo:
   —É-me um prazer forjar as armas de Vossa Alteza. 

Uhuu,mais um capítulo. O livro já tá chegando no fim, mas vou dar um "spoiler": vai ter TRÊS livros, esse é o primeiro da trilogia!
Espero q estejam gostando, como sempre e estejam tão ansiosos quanto eu para a continuação.
Valeu falou ✌ até o próximo capítulo!

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