Aprendizes

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Anastácio estremeceu de dor quando abriu as pernas para se sentar na cama e olhou assustada para o líquido escuro que começou a manchar sua calça. Ela se levantou assustada, sentindo o sangue escorrer quente por sua perna e sujar a calça larga de linho branco que os aprendizes usavam.
Zimäh! Chamou telepaticamente pelo seu dragão, sabendo que ele não estaria longe. Zimäh! Vem aqui!
Anastácio mordeu o lábio com força tentando ignorar a dor e começou a tirar a calça tremendo. Teve de se sentar para não cair de tontura quando viu as enormes feridas na parte de dentro de suas coxas.
Zimäh chegou neste momento e adentrou à porta ruidosamente.
   —Z-Zimäh, o que aconteceu.. ?—Anastácio perguntou horrorizada, ainda encarando suas pernas. -Por que eu não percebi nada...?
Zimäh observou o sangue que se acumulou no chão aos poucos e teve uma lembrança que lhe fez doer o peito agora...

   —Zimäh, o-o que é i-isso..? Por que eu não percebi?
Ivan, em seus dezessete anos, olhava pasmo as enormes feridas que marcavam suas coxas no lado interno. Zimäh bufou e disse divertido:
"Sua consciência estava tão ocupada nos últimos tempos, tentando recapitular o que aconteceu, que não teve tempo de perceber o quanto você se machucou voando em mim pelas primeiras vezes, e ainda por cima sem sela."
Ivan o olhou de olhos arregalados, ele tremia da cabeça aos pés. Ficou olhando Zimäh quando este riu falando com visível diversão:
"Pelo jeito você vai ter que andar um bom tempo de cueca!"
   —E imaginar que você é o dragão mais temido da corporação...    —disse Ivan emburrado.

   —Zimäh? Ei, amigo, você tá me ouvindo? —Anastácio o encarou preocupada. O dragão estava imóvel, o olhar voltado para o nada e os grandes olhos esmeralda expressando a mais profunda tristeza, perplexo como quem acaba de perder o melhor amigo.
   —Zimäh.. Você pode me ouvir..?—ela perguntou mais uma vez, baixo. Quando tocou seu focinho com delicadeza, ele estremeceu e pareceu voltar à realidade, encarando sua Cavaleira assustado.
O-o que você disse ...?
Anastácio suspirou e repetiu; Zimäh ainda a olhava como se visse outra pessoa, como se estivesse em outro tempo... Finalmente lhe respondeu, sem olhá-la nos olhos:
Sua consciência estava tão ocupada nos últimos tempos, tentando recapitular o que aconteceu, que não teve tempo de perceber o quanto você se machucou voando em mim pelas primeiras vezes, e ainda por cima sem sela...

🐲🐲

Patrick acompanhou as gêmeas e Mei até a enfermaria, se sentindo obrigado já que tinha o mesmo problema que elas. Mesmo podendo aproveitar a oportunidade de ir com elas, ele queria ter ido sozinho outra hora, por não conseguir agir normalmente perto de garotas ou mulheres. Ele se sentia inseguro, nervoso, perto delas, e mantinha o máximo de distância para não correrem o risco de se tocar. Problemático, certo, mas era uma doença psicológica que tinha de sua mãe.
O motivo de terem sido mandados à enfermaria, eram as marcas assadas que a sela de couro tinha deixado, com o movimento de vôo dos dragões, no lado interno de suas coxas.
Kenny andava visivelmente de pernas abertas e se deixou cair numa cadeira da enfermaria.
—Tsc.. Que exagero.—disse Mei, sempre com aquela cara de mal humorada. Mei só os estava acompanhando por falta do que fazer, pois ela não tinha o mesmo, por ainda não ter um dragão. Kenny choramingou que não era exagero, enquanto sua irmã a defendia e Patrick passou a observar a enfermaria enquanto ninguém chegava, e ignorar os choramingos de Kenny. Era bem grande, o teto era alto e lembrava vagamente a enfermaria de Hogwarts em Harry Potter. O chão era de madeira escura e enormes janelas de vidro iluminavam o lugar, deixando pouca aparência de hospital. As camas tinham cortinas entre uma e outra, para separar os pacientes caso o lugar algum dia enchesse.
Finalmente uma enfermeira de aparência gentil chegou, e logo viu qual era a situação, passando a tratar dos três pacientes atenciosamente.
—Aaah, que geladinho... —Kenny disse aliviada quando a enfermeira cobriu as marcas com um creme rosado.
Patrick estava vermelho como um tomate e tremendo da cabeça aos pés, por ter sua calça levantada até a altura das coxas e a enfermeira tratava seus machucados sem se importar.
Mas de repente ela deu um grito, quando olhou para a porta e os aprendizes seguiram seu olhar.
Anastácio estava na porta, se segurando muito para não demonstrar dor, e um sorriso confiante no rosto, apesar dos olhos arregalados. Ela usava um short bem curto de cintura alta, e suas coxas escorriam sangue de feridas frescas em formato de triângulos pequenininhos que marcavam a carne umas juntas das outras.
—Deuses, Anastácia! O que aconteceu? Ah, deuses..!
Enquanto os quatro encaravam Anastácio aterrorizados, a jovem foi arrastada para outra sala pela enfermeira, que gritava desesperada pela sua colega de trabalho.
O silêncio tomou conta do lugar quando elas desapareceram, e os quatro se entreolharam, pasmos.
—Ehm.. Então galera.. —Jenny quebrou o silêncio. —Acho que já terminamos por aqui né...

🐲🐲

Syla bufou e soltou outra rajada de fogo, que fez Jack dar um grito e pular dois metros para o lado. Foi um erro. John atacou-o instantâneamente com a espada, fazendo a lâmina do garoto escorregar tilintando para longe e parar aos pés de Syla.
—Lute com mais força, Jack! Onde foi parar sua determinação?! —O Cavaleiro o repreendeu balançando a espada indignado. —A esta altura já teria sido queimado, fatiado e esfolado vivo pelos seus inimigos.
John embainhou a espada enquanto Jack se deixou cair no chão da arena de combate.
John se sentou ao seu lado, Jack percebeu o quanto ele estava sério de repente.
Eeita... Pensou Jack. Não é da natureza de John ficar sério.. A coisa feia...
—Jack. —o Cavaleiro começou sério, olhando para a frente. —Você sabe que recebemos a mensagem de Kassandra de comparecer ao castelo assim que possível, não sabe?
Jack concordou com a cabeça, estava ciente do chamado de Kassandra.
—E ela pretende testá-los. A rainha sempre se certifica de que o aprendizado aqui não está caindo, e seus testes não são como os treinos Jack. É uma prova que você precisa vencer para sobreviver.
O garoto o olhou de olhos arregalados. John abaixou a cabeça e disse, mexendo em suas botas:
—Claro que, se percebermos que a situação está ficando realmente séria, não vamos deixar que algo grave aconteça a vocês. Mas lembre, Jack: Nem sempre você vai ter seus mestres ao seu lado para socorrê-lo. Nem sempre você terá alguém que vai salvá-lo quando perder a espada.

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Voltei galera!
O que estão achando? Comentem o que estão achando, se tiver dúvidas pode perguntar, isso me incentiva a continuar escrevendo.
Falou.. Até a próxima

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