CAPÍTULO 3

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 Boa leitura!

ESTAVA na cama lendo os Miseráveis. Já passa das 10h da manhã!

Só estava eu em casa, pois Liu  foi  ao Rio de Janeiro fazer uma breve apresentação. Viajou ontem e voltará, acredito que depois do almoço. 

Ele que me indicou o livro. Ficou falando dele a semana inteira.

Os Miseráveis  é uma obra completa, com filosofia e contexto histórico. Os diálogos são perfeitos, narrativa viciante. Ele é capaz de despedaçar a alma e o coração de qualquer leitor.

Enfim, o livro é maravilhoso e me fez derramar muitas lágrimas.
Através dessa obra, Victor Hugo faz uma crítica social, política, econômica vivenciada pela sociedade francesa do

século XIX. A narrativa descreve ainda vários acontecimentos históricos como a Batalha de Waterloo e os vários motins realizados por estudantes republicanos que tentavam derrubar o regime do rei
Luís Filipe I, fato que resultou na morte de vários estudantes.

Esse romance clássico de Victor Hugo adaptado por Walcyr Carrasco vale muito a pena ler.
O livro original tem aproximadamente 1500 páginas. É enorme. Eu estou lendo a adaptação que Liu tem.

Faz basicamente cinco meses que estou casada com ele. Olha, não é nada fácil. Liu tem muita mania. Lembro-me que quando voltei da lua de mel a sua mãe veio conversar comigo para me orientar melhor sobre como conviver com ele. No começo eu  fiquei um pouco assustada, pois foi bastante coisa que Laura jogou em meu colo. Coisas que eu não fazia ideia. A lista é enorme, sério! No começo eu achei que era exagero dela, logo depois eu vi que realmente era aquilo mesmo.

Teve algumas coisas  que me deixaram surpresa, uma delas foi para não permitir que ele bebesse mais de uma taça de vinho durante o almoço ou jantar, porque se deixasse ele bebia muito e nem percebia. Liu gostava muito de vinho. Malbec eu acredito que seja o que ele mais toma. Eu particularmente até gosto, mas prefiro suco para acompanhar no almoço.

Outra coisa que ela me recomendou bastante e eu só  percebi mesmo depois que casamos. Liu parece que não tem medo do perigo, até já se machucou aqui em casa por falta disso. E tem a questão das vestes, se não comprar outras roupas para Liu, ele fica com a mesma por muito tempo. Compras de mantimentos é outro problema que enfrentamos bastante. Ele me deu uma lista enorme com as coisas que ele gosta e que tipo de marca deveriam ser. Não tinha que ser apenas comprar o produto que ele gostasse, tinha que ser o produto com a marca do seu gosto. Liu sempre comprava a mesma coisa, era lei. Isso logo virou um problema dentro de casa, pois como ele não saia para fazer compras e eu era péssima nisso, (descobrir depois do casamento). Eu queria que tivesse tudo da lista em único supermercado, mas não tinha, principalmente porque as coisas eram muito difíceis de encontrar. Sempre que eu voltava das compras  ele percebia que faltava algo e, não parava de reclamar até que eu fosse ou mandasse alguém comprar. 

Depois de basicamente três meses de muito estresse da parte de nós dois, eu acabei contratando uma empresa que a minha amiga Valquíria me recomendou. Eles fazem as compras para nós através de uma lista cedida por nós mesmos. Foi um alívio. Vinha tudo certinho.

Ter um relacionamento matrimonial com neurotípicas já não é fácil com autista então... porém o meu amor por ele era maior do que qualquer dificuldade. 

Lembro-me de ter contado vagamente sobre isso à sua mãe e ela nos indicou fazer terapia de casal com o especialista e nós fomos.

A partir daí nós estamos aprendendo a nos comunicar mais adequadamente. Porém Liu é um pouco difícil de moldar, temos que explicar bem o motivo da mudança para que ele compreenda o motivo de ser feita.

A Terapeuta falou que muitas vezes, é importante que o casal crie uma lista de atividades que cada um deles quer em um relacionamento íntimo, como enviar flores, dizer “Eu te amo”, caminhar juntos, ir ao cinema, viajar, fazer carícias, ter um tempo para ouvir um ao outro, etc...

“É importante que os dois parceiro discutam suas listas e gerem uma terceira lista de coisas que cada um pode fazer para aumentar a intimidade entre eles”

Ela falou logo na primeira sessão quando percebeu que estávamos tendo dificuldade principalmente com isso: comunicação.

As pessoas com síndrome do espectro autista muitas vezes não entendem por que é importante para as pessoas neurotípicas que eles expressem amor e carinho. Uma das razões é que uma característica comum deles é a extrema sensibilidade ao toque. Coisa que eu descobri que Liu tinha logo no começo do nosso namoro.

No casamento tivemos essa dificuldade em relação ao toque, pois o mesmo não se sentia confortável quando eu inocentemente pressionava  as mãos forte sobre as suas costas, às vezes sem querer eu acabava o arranhando e isso era algo que o incomodava demais. Lembro-me que no começo ele não me relatou  e sempre que nós ia ter relações íntimas ele prendia minhas mãos no topo de minha cabeça para evitar o tal toque. Eu até gostava da dominação dele ao meu corpo, porém ficou muito repetitivo aquilo. Como esposa queria  tocá-lo durante a nossa intimidade, por isso às vezes havia conflito entre nós. Eu queria que ele soltasse as minhas mãos e Liu  não fazia. Essa e outras coisas se tornaram meio que um conflito constante sobre o nosso relacionamento. 

Mas graças a Deus agora com essa ajuda da terapeuta estamos evoluindo. Lentamente mas estamos.

Compartilhando informações

O pediatra vienense chamado Hans Asperger,  no ano de 1944,  descreveu pela primeira vez na história um conjunto de padrões comportamentais apresentados por alguns de seus pacientes, predominantemente do sexo masculino, que se apresentavam com os sintomas que hoje denominam o transtorno homônimo.

Em seus estudos o médico constatou que as crianças apresentavam o desenvolvimento da linguagem e a inteligência normais mas possuíam um comprometimento grave na capacidade de comunicação, nas habilidades sociais e na coordenação motora.

  Embora muitas crianças tenham este diagnóstico logo após os três anos de idade,  a maioria só é realmente confirmada mais tarde, entre os 5 e 11 anos de idade.É importante dizer também que as crianças portadores dessa síndrome são totalmente capazes de levar uma vida diária normal porém com uma tendência mais forte à imaturidade social.Por isso acabam se relacionando de forma melhor com pessoas adultas do que com os seus pares. É por isso também que muitas vezes são considerados estranhos ou um tanto quanto excêntricos

Meu Anjo Azul #2/ Segunda EdiçãoWhere stories live. Discover now