ATO 1

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Estamos tão perdidos, que não enxergamos a única verdade, vinda de nosso mentiroso coração.

Estamos tão perdidos, que não enxergamos a única verdade, vinda de nosso mentiroso coração

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     Londres, janeiro de 2010.

     Dr. Feen era magro, de cabelos loiros, curtos e uma barba malfeita. Estávamos sentados em cadeiras confortáveis, um de frente para o outro em seu escritório refinado. Ao nosso lado, uma extensa janela que dava para a vista do centro da cidade. Os olhares não desviavam um do outro. Não tinha dúvidas que aquela consulta era no mínimo suspeita.

     — Foram incontáveis noites em que eu acordava encharcada de suor. Sempre resultado dos mesmos pesadelos, dos mesmos dilemas — Minhas costas doíam naquela cadeira de madeira, então pressionei minha mão direita sobre as costelas e as deixei rente ao corpo.

     — Imagino que esses pesadelos se resumem a uma só coisa, Srta.Moon — Afirmou Dr. Feen, dando mais um gole em seu café expresso.

     — Pandora. Só me chame assim.

     — Claro, como queira. Eu, em particular, tenho um certo apego pelo seu caso. Como saiu daquele orfanato?

     — Saí com um gosto amargo. Um sentimento de perca. Eu realmente fracassei em todos os aspectos dessa jornada, doutor.

     — Depois de tantos anos você ainda se lembra de todos os acontecimentos? — Ele curvou a coluna com o intuito de aproximar nossos olhares. Ajeitou seus óculos grandes e aguardou.

     — Infelizmente — suspirei, olhando para além da janela.

     — Você ficou órfã por ter matado seus pais quando criança. Consegue resgatar essas lembranças? — questionou após dar mais um gole de seu café.

     — Não matei ninguém. Também não sei o que aconteceu exatamente naquela época, mas sou inocente. Sei disso — franzi a testa e apertei os punhos sobre a mesa — Essas perguntas estão me aborrecendo. Melhor ir direto ao ponto. O que você quer?

     — Pois bem. Eu a chamei aqui para voltarmos ao ano em que você tornou-se uma irrecuperável. Seu depoimento será importante para o projeto que estou desenvolvendo. Se está aqui agora é porque também tem interesse sobre o assunto. Podemos começar?

     — Certamente.

     — Certamente

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I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now